sexta-feira, 5 de março de 2021

Dilemas de Alices - 2021 - 2

  

Recentemente, assisti diversas discussões, entre nervosas, no fundo desconexas e seguidamente primárias.

Façamos uma relação pelo menos duas, para depois um tratamento mais longo.

1


O confuso dilema “nazismo de esquerda”.

Essa discussão pode ir de sofisticada mas na verdade confusa, nervosa mas repleta de falsas dicotomias, impregnada de ‘ideologismos’, e sempre, permeada da muito comum visão de graduação entre “preto e branco” e ― como seguidamente já percebi ― apenas nuances de cinza, num problema que é de multidimensionalidade (por analogisa, cores mil e até sons e cheiros).

Devo a citação na revista “Filosofia” (Ciência e Vida, um horror de subtítulo), onde um especialista em questões relacionadas ao tema (pois é vasto) coloca a questão simples, aproximadamente: “o nazismo é de direita, mas nem propriamente ‘de direita’, assim como é ‘de esquerda’, mas não propriamente o que sedefinido como a esquerda’.

Poderia fazer analogias com um espaço cartesiano de variáveis x, y e z, mas prefiro a divertida analogia com uma discussão de altura, para algo como jogadores de vôlei ou basquete, com a largura conveniente para seguranças, e volume dos peitorais (ou infelizmente a barriga) para fisiculturistas ou mínima saúde de indivíduos.


Há aspectos do fascismo que foram voltados aos trabalhadores ― relacionados com uma demagogia e um populismo muito típicos ― aspectos esses que nossa própria (brasileira) legislação trabalhista e estruturas sindicais herdaram, assim como pode-se perceber em Getúlio Vargas a influência profundas de tais aspectos, e especialmente no seu filhote mais problemático nazismo as relações com industriais e os conhecidos comportamentos de escolherem-se “príncipes da indústria”, e não é por poucos motivos que Hitler citava seguidamente em seus discursos a imagem de força e resistência para o povo e forças armadas alemãs do “aço da Krupp”.


Parte da desgraça de abastecimento e eficiência da máquina de guerra alemã se deveu (para sorte do mundo) a essas relações íntimas do regime com interesses dos industriais alemães. A contrapartida, que foi o “eisenhowerismo” desde técnicas e esforços. abastecimento e padrões ― quebras temporárias de patentes ― especialmente dos EUA são a exata posição também “não tão à direita”.


Anote mentalmente “estatismo” nesse momento.

O confronto bélico direto com o liberalismo inglês e simultaneamente a traição aos primeiros momentos de acordos com o mundo soviético são uma clara evidência da trama complexa que tenta ser agora simploriamente reduzida a “isso é de esquerda”, “isso é de direita”.

Em suma, há berreiro simplicista de ambos os lados que se apegam a tal discussão.

A (verdadeira e clara) maluquice de ambos os lados se expressa em começar-se a dizer que “direita” no caso inclui uma associação com um cristianismo continental europeu durante a Segunda Guerra Mundial ― como coisa se hindus e muçulmanos não tivessem feito enormes esforços e sacrifícios por suas então relações (e submissão) com o Império Britânico ou o então regime capitalista “dito de direita” chinês, predominantemente entre budista e confucionista não tivesse todo o fronte asiático oriental para também seus esforços.

Pior ainda é ouvir e ler de alguns “elementos” da “dita esquerda” brasileira a pérola sobre os nobres esforços do “eixo Alemanha, Itália e Japão lutando contra o domínio anglo-saxão”.


Jamais nos esqueçamos do que a charge abaixo representa. Garanto que os poloneses nunca esquecerão:


Bernard Partridge - punch.photoshelter.com  



2 


Há alguns meses chegou às minhas mãos interessante texto com críticas à ironia do meu sempre contatado “conhecido do Twitter” “Socialista de iPhone”.




O velho textinho que não há problema algum em um socialista twittar de iPhone (origem da ironia) [Problema 1] e somado que o que seja um celular é um produto da ação do estado, portanto, “fruto do socialismo” [Problema 2, e grave].


Primeiro que “celular” não é iPhone (iPhone é um dos celulares), iPhone tem o aspecto paradoxal marxista (ui!) de “fetiche da mercadoria”, e como produto orientado pela “angústia do não ter” caracteriza-se pelo valor agregado do luxo, da distinção de quem o consome frente aos demais.

Poderíamos alongar aqui páginas, mas prefiro mudar para a analogia “socialistas de Rolex” (prefiro Omega, uma piada embutida que poderei desenvolver adiante com interessante lição de Jarbas Passarinho a um alto funcionário do governo).


Relógios de “mola” um dia foram um investimento estatal para determinação das longitudes. [Nota Cronômetro Marítimo]  Não é por isso que é fruto de uma ação do estado (ou pior ainda de um “socialismo”) você desejar ter e poder ter um relógio de luxo.

É a hipocrisia de você pregar a igualdade e ter um relógio de luxo a questão aqui, e no nome do “Socialista de Rolex”.

Mude-se para celular no lugar de relógio e a ironia continua poderosa como sempre foi.

Por outro lado, na verdade não interessa o produto e sequer seu valor, pois o erro maior está em que “estatismo”, ação coordenada do estado, o keynesianismo mais radical (e verdadeiro) nas medidas anticíclicas e o extremo do “eisenhowerismo” não são “socialismo”, muito pelo contrário.


Aliás, misturar um termo e um conceito com o outro é uma completa tolice.

Pegando o “eisenhowerismo”, exemplo mais extremado, poucas coisas são mais decisão de uma sociedade democrática, liberal e capitalista que apropriar-se de todos os bens de consumo de alumínio (por exemplo), controlar toda a produção de alumínio, quebrar todas as patentes necessárias, e prover a cada poucas horas essa sociedade coordenada dentro de um território (uma nação) para no seu esforço contra o inimigo (e pouco interessa se essa sociedade é política e economicamente como o seja) despejar nela bombas numa escala de varrer cidade nos aviões produtos finais da cadeia de produção industrial, pois trata-se da mesma questão vasta e muito profunda que atormentava Lenin, a “empresa de uma libra”, que é a ação de um povo, expresso primeiramente por poupança, na exigência de suas vontades, e não “de seus príncipes”.


“Este negociante tem uma concepção consideravelmente mais profunda, mais "marxista", do que é o imperialismo do que certo escritor indecoroso que se considera fundador do marxismo russo e supõe que o imperialismo é um defeito próprio de um povo determinado …”



B-29s fazendo seu capitalista, estatal e democrático trabalho, a serviço de uma nação 

e suas vontades,numa fase da guerra que nem se necessitava mais pintura nas 

aeronaves, dada a supremacia aérea absoluta. - br.pinterest.com 



Confusão de termos, turbidez de conceitos, desconhecimento do que seja no fundo o estado, e infantil e desreferenciada implicância tola com uma ironia da qual não se tem escape: socialista, ainda mais se latino-americano, não pode sequer fumar caros charutos cubanos, só lamento, os pregos de sua hipocrisia de suas testas não sairão com berreiro em texto tolo.



Notas


Cronômetro Marítimo


Um grande estímulo para melhorar a precisão e a confiabilidade dos relógios foi a importância de uma cronometragem precisa para a navegação. A posição de um navio no mar poderia ser determinada com razoável precisão se um navegador pudesse se referir a um relógio que perdeu ou ganhou menos de cerca de 10 segundos por dia. Este relógio não poderia conter um pêndulo, o que seria praticamente inútil em um navio oscilante. Em 1714, o governo britânico ofereceu grandes recompensas financeiras no valor de 20.000 libras para quem pudesse determinar a longitude com precisão. John Harrison, que dedicou sua vida a melhorar a precisão de seus relógios, mais tarde recebeu somas consideráveis ​​sob a Lei da Longitude.


Em 1735, Harrison construiu seu primeiro cronômetro, que melhorou continuamente ao longo dos trinta anos seguintes, antes de submetê-lo a exame. O relógio teve muitas inovações, incluindo o uso de rolamentos para reduzir o atrito, balanças ponderadas para compensar a oscilação do navio no mar e o uso de dois metais diferentes para reduzir o problema de expansão do calor. O cronômetro foi testado em 1761 pelo filho de Harrison e ao final de 10 semanas o relógio estava com erro de menos de 5 segundos. 


en.wikipedia.org - Clock - Marine chronometer 

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