segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Pressões econômicas - 2


Após analisarmos a pressão exercida pelo volume de crédito sobre a população em Pressões econômicas, lançaremos a mesma analogia com a “pressão fiscal de Frank” o método a outras variáveis da Economia, comparando a situação brasileira com a de diversos países.

Antes, algumas considerações matemáticas.

Podemos definir facilmente a pressão fiscal de Frank como sendo:




Onde:

PFF = pressão fiscal de Frank
CTPIB = carga tributária sobre o PIB (em porcentagem, por exemplo)
PIBPC = PIB per capita


Como o valor da carga tributária sobre o PIB é expresso normalmente em percentagem, e o PIB per capita é um valor em dólares para a imensa maior parte dos casos na casa dos milhares de dólares ano, é conveniente para fácil leitura e interpretação acrescentar um multiplicador que torne o valor fácil de ser lido, como mil, 10 mil, 100 mil ou até um milhão ou ainda valores maiores (ou ainda contra um escolhido que seja tomado como 1, ou 100, a gosto).





Percebemos desde nossa primeira análise que se a pressão fiscal de Frank analisava uma variável expressa sobre o PIB em relação ao PIB per capita, qualquer outra variável de mesma natureza, como foi feito primeiramente com o volume de crédito sobre o PIB, poderia ser igualmente analisada e comparada com as de outras nações.
Deste modo, podemos generalizar nossas analogias para a simples equação:


Onde VPIB passa a ser uma variável qualquer que seja expressa em relação ao PIB, convencionalmente, em nosso caso, expresso em percentagem.

Observemos agora que temos, desdobrando as variáveis nas variáveis que as produzem:




Aqui, eliminaremos a aplicação de porcentagem na fração V/PIB e temos P como a população.

Pela simples divisão de frações, temos:





O que poderá se tornar útil para diversas outras variáveis.
Assim, atacaremos agora o problema da pressão da dívida pública federal.



Dívida pública






Para o formato planilha: docs.google.com



Para uma fácil visualização destes dados, vejamos um gráfico de colunas comparativo:




Observemos que nossa “pressão” para esta variável é superior a da Grécia, com valor de PIB per capita nos nossos atuais valores aproximadamente maior.duas vezes.

Países de proximidade com nosso nível de riqueza, como Turquia e México, não tem pressão em nossa escala, e nenhum dos ricos, mesmo o altamente endividado Japão compara-se com nosso caso (e possui perfil de amortização de dívida no tempo muito mais longo que o nosso).

Destaque-se os EUA, que mesmo com sua colossal dívida em volume, equivalem à situação de Alemanha, da Bélgica ou da França, um tanto melhor que a situação espanhola, e apresentam PIB
per capita mais alto que todos estes países.

Destaquemos novamente que não consideramos aqui, como foi feito com a análise do volume de crédito, que não consideramos o peso que teria a taxa de juros, o que já foi alertado então que impede que comparemos de maneira mais direta o endividamento da população brasileira com o do Reino Unido, com suas muito mais baixas taxas de juros anuais e maior alongamento no tempo de pagamentos.



O peso da previdência



Aqui, colocaremos os dados em ordem crescente da pressão, e perceberemos uma grave situação.





Para o formato planilha: docs.google.com



Observemos que até um país rico como a Itália, com o típico estado de bem estar social europeu, a pressão não atinge sequer 7, e em nações de perfil de população “velha”, como Alemanha e Japão, caracteristicamente bem administrados, o valor não atinge 4. Novamente países de PIB per capita similar ao nosso, como México e Turquia, circula a pressão entre 3 e 4. Mesmo casos conhecidos como críticos como a Grécia chega a pouco mais de 11, e nosso caso, com PIB per capita muito menor que a maioria destas nações, atinge 15.



O quadro fica catastrófico quando vemos novamente um gráfico de colunas:




Se fizéssemos o somatório destas duas pressões, pelo menos para países constantes nas duas análises, para realmente termos um quadro comparativo mais amplo, teríamos o seguinte cenário:



País
Somatório das pressões
Japão
73,4
Grécia
91,0
Itália
46,4
Alemanha
22,5
EUA (2016)
20,1
Brasil (2016)
95,3
Espanha
31,3
México
49,1
Turquia
55,0
França
27,3



Em gráfico:




Notemos que nenhum dos países, de ricos a de nosso nível aproximado de riqueza per capita, mesmo a Grécia, nos supera nesta soma, o que seria óbvio pelos dados anteriores, mas mesmo com ponderações no multiplicador, ainda sim teríamos uma situação que não é comparável aos outros casos apresentados, e ainda podríamos somar as pressões fiscal e de crédito já mostradas..

Um acréscimo final, e mais um alerta



O que está vindo no horizonte do Brasil é uma situação similar a da Grécia nos recentes anos, mas observando que a Grécia é um país de economia menor e mais rico per capita (PIB US$ 246 bi / per capita US$ 22,3 mil), e sendo so Brasil uma economia bem maior e mais pobre per capita (US$ 2,141 tri / per capita US$ 10,3), podemos ter o cruzamento de um problema maior em escala (2141/246=8,7 vezes maior) e muito mais intenso em pressão sobre a população (22,3/10,3=2,16) ou seja, aproximadamente um “problema produto” de escala e pressão 8,7x2,16 =~18,8 vezes maior.

Não será por falta de meus avisos.

Dixi et salvavi animam meam”










Neste artigo, recomendamos observar o gráfico abaixo, que mostra outra questão no campo previdenciário, que é a parcela idosa da população, que nos mostra num caso único e anômalo:





quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Economia em combustão, em chamas, em cinzas… - 1


Reflexões mercadológicas etílicas

(Uma ironia, é claro. Texto a partir de uma postagem no blog Bolha Brasil .)

Em 2009 os EUA alteraram sua tributação para a importação de etanol e não sabendo manter minha boca fechada em determinados círculos, apresentei a hipótese, em meio ao perigoso ambiente de patriotas relacionados com o setor de energia de que (os EUA) não estavam fazendo aquilo pois necessitavam importar, mas sim porque já estavam se preparando para exportar.

Explico didaticamente: Uma analogia com a relação de comprador-vendedor de que “abro as portas de minha fábrica para você como fornecedor”, mas apenas para poder alegar que não estou precisando e disponho de um excedente, e então, já que estou sendo uma parceiro tão “legal”, quando você precisar, deve comprar de minha empresa.

Perceberam o sadismo?






Detalhe: eu já estava (junto com muitos, óbvio) a par do desenvolvimento do etanol celulósico, de questões de logística e armazenagem que são importantes na escala do processo para o milho, etc.

Aqui, devemos lembrar dos mantras de negação nacionais típicos, como: Leia-se: “milho tem altos custos”, “milho é inviável”, “cana é perfeita para o etanol”, etc.

Na verdade, eu ainda tenho o relatório do Departamento de Energia dos EUA, quanto a biocombustíveis, com previsões até 2022, e sei de ondas e ondas de capacidade de produção no campo que estão se somando no horizonte dos EUA.


Detalhe: Em 2008, as pesquisas totais em produção de etanol no Brasil montavam quanto muito uns R$ 50 milhões. Nos EUA, já atingiam US$ 1,4 bilhões. E parte disso era feito em território brasileiro, pois eles pesquisam também no uso de palha de cana e qualquer fonte de celulose.






A represa perigosa

Eis que veio a era de usar a Petrobras tanto para manter a inflação contida como, em contra-peso, de captar recursos para investimentos no pré-sal, e como “marisco” da terrível situação, entre um oceano revolto de uma economia com outros mecanismos de pressão em preços, e um rochedo das finanças internas em forte alavancagem e erros e mais erros, com ventos fortíssimos do cenário de preço de barril de petróleo, a casa veio à baixo, arrastando uma boa fração das usinas, fazendas e todo um dominó dos caldeireiros aos comércios e serviços diversos relacionados ao enorme ramo do etanol de cana.

Pois bem, se acham que já viram debate meu onde fui um chato além do habitual e aturei ofensas, nem sabem o que são certas posições e diversos adversários, ainda mais se o bolso deles está amarrado a certos sonhos, ainda que no fundo, completamente ilusórios.

Agora, mesmo lidando com outras coisas, ainda que no setor de energia, sou atropelado por notícias, e vou em busca de certas referências, que ao fim permitam-me dizer:

Não foi por falta de meus prudentes avisos.


O catastrófico rompimento

Importação de etanol atinge recorde no mês de fevereiro - www.abag.com.br

Destaco:

“As importações brasileiras de etanol bateram recorde no mês passado. No total, foram adquiridos 259.097 metros cúbicos (m³) em fevereiro, segundo dados do governo federal, contra 215.595 m³ em janeiro deste ano. No mesmo mês de 2016, 40.675 m³ entraram no País.

No entanto, de acordo com informações da consultoria Datagro, no mês passado, as aquisições do biocombustível chegaram a 205.734 m³, o equivalente a um aumento de 28,34% em comparação com janeiro.”

ANP: importação de etanol pelo Brasil cresce 403% no primeiro trimestre do ano - Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência do Brasil - agenciabrasil.ebc.com.br

Destaco:

“O diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Aurélio Amaral, disse que para um país produtor de cana e maior produtor de açúcar do mundo, o Brasil importou muito etanol no primeiro trimestre. “Foi uma elevação de 403% nos primeiros três meses do ano”, disse Amaral. Na visão do diretor, o aumento chama atenção, mas, ele ponderou, que, por questões tributárias, que influenciam a formação do preço no mercado, e de infraestrutura, o Brasil virou um país importador de derivados.

“Estamos importando muita gasolina também em uma quantidade muito grande, quase 70% de aumento, porque o nosso parque de refino não dá conta. Temos grandes desafios de infraestrutura para resolver. É isso que a ANP vem trabalhando de forma a subsidiar, com estes estudos, o governo para que a gente possa formular política para ir buscar superar este gap [lacuna]”, disse após participar da apresentação dos dados do mercado de combustíveis no Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no centro do Rio.”


Gritos de ajuda ao rei

Claro que nesse momento, surgiram os que querem a “ajuda do rei”:

Usineiros pressionam por alta na tarifa de importação de álcool - Joel Silva - 26.abr.2017/Folhapress - - www1.folha.uol.com.br

Destaco:

“Insatisfeitos com a alta acelerada da importação de etanol dos EUA, os produtores de cana-de-açúcar pressionam o governo para que eleve as barreiras contra o combustível que vem do exterior.”

““O Ministério da Agricultura será o advogado do setor produtivo na Camex. O principal argumento é que as importações quadruplicaram neste ano, até junho, ante o mesmo período do ano passado, o que levou o Brasil, pioneiro global no uso do etanol como combustível, a ser pela primeira vez na história importador líquido. Ou seja, importa mais do que vende no exterior.”


Pausa para meditações: Mercado é lixa, é pedra de amolar, é abrasivo,. não é pomada.


“O poder de regular a economia é o mesmo poder de distribuir favores.” - Jason Brennan


Mais pressão no alambique

U.S. Net Ethanol Exports Hit 52-Month High; China is Top Market for Second Straight Month - www.ethanolrfa.org

Destaco:

“U.S. ethanol exports totaled 95.5 million gallons (mg) in April, a slight 300,000 gallons higher than March and the highest monthly volume since December 2011, according to government data released today. China was again the top destination receiving 34.5 mg of U.S. product in April. India (14.6 mg) nosed out Canada (14.5 mg) as the second-largest export market. Those top three customers accounted for three-fourths of all U.S. ethanol exports in April. Year-to-date ethanol exports reached 344.9 mg, meaning the industry is on pace to ship slightly more than 1 billion gallons in 2016.”




Entendamos de uma vez por todas: os EUA, no que tange aos seus homens de negócios e suas associações, não são dotados do menor “bolivarianismo” em suas almas.


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Alguns comentários sobre criptomoedas


Como meio de troca

Como moedas que são, criptomoedas são meios de troca. Quando se exemplificam certas questões em Economia, didaticamente, citam-se os maços de cigarro nas prisões, logo, meios de troca não necessariamente tem de ser o que seja uma “moeda física”, e tanto que muito do que hoje permite circulação de moeda no mundo são apenas registros contábeis.

Em tratando-se de registros contábeis, o modo de “livro razão” (no caso distribuído e portanto seguro) das diversas criptomoedas, especialmente o Blockchain ("Cadeia de Blocos") do bitcoin funde a segurança com a informatização de uma contabilidade de moeda fiduciária. Aqui um ponto positivo poderoso destas tecnologias.

Voltando às carteiras de cigarro, a história está cheia de vales, anotações, letras, medidas de subdivisões do estado, como os lendários e influentes até no vocábulo “pila” (de Pilla, membro do poder executivo de um período) do governo do Rio Grande do Sul. Logo, criar “moedas alternativas” e paralelas não é nenhuma novidade em termos econômicos. Aqui, também, a História da Economia está repleta de imensos erros, mas não seria um caso direto no caso das criptomoedas. Os problemas podem surgir, mas sua colocação no mercado “per se” não é fonte de problemas.



Blasting News


Moedas como investimento

Aqui começam os problemas diretos. 

Não existe “investir”, no sentido propriamente dito de “investimento”, em moedas. Existe especular, aproveitar flutuações, decisões governamentais, até informações privilegiadas que podem produzir ganhos em câmbio. 

Moedas,sendo meio de pagamento, de troca, não produzem dividendos, não rendem por si juros, não possuem réditos (aluguéis, juros, salários, os clássicos, até comissões e rendimentos, divisão de lucros gerados, etc). Não existe uma rúbrica que está acumulando capital ´produzido pela existência de uma moeda, a ser num momento debitado e remunerando que a possui, aliás pois a moeda é quem “prota” este pagamento. 

Como especulação que acabamos de demonstrar, aplicar capital em moeda e contar com sua valorização num período, portanto, implica em riscos.

Agora, uma verdade universal em Economia, que vale para tulipas, imóveis, diamantes, ouro, até mesmo terra, a “mercadoria que não se fabrica mais” de Mark Twain: não existe bem que permanentemente valoriza, em termos absolutos, reais (pois relativos, nominais, relacionados à inflação ou graves alterações cambiais, não é jamais valorização.

Isto, por si, já produz risco, e implica em necessárias perdas à alguém se outros num momento ganharam, pois a própria questão implica em que todos não podem permanentemente ganhar.

Disto, surge outra questão, que se mostrará ainda mais evidente.


O fator deflação

Imaginemos um EUA, a maior economia ‘de nação’ do mundo, que tivesse emitido - somado ao colocado em contas, digamos 1 bilhão de dólares em 1900. Como pelo início do século XX sua população sequer chegava a 100 milhões de habitantes, podemos fazer que cada estadunidense teria 10 dólares. Passados estes aproximadamente 100 anos, com população a mais de 300 milhões, hoje cada estadunidense teria aproximadamente 3,3 dólares. Logo, ou o poder de compra de cada dólar teria de ter se elevado, o que corresponde aos bens ficarem nominalmente mais baratos, ou a população teria, num ponto médio entre valorização da moeda e até plena redução do poder de compra da moeda, ficado mais pobre. Logo, por motivo que me parece óbvio, a moeda tem de ser fornecida à população, para uma economia crescente até no volume desta população, mesmo com poder de compra per capita estático. 

Aqui, podemos desconsiderar a necessidade sutil de uma leve inflação para a economia mostrar-se saudável, um dos pontos um tanto contra intuitivos da ciência econômica moeda, e já veremos o motivo básico.

Assim, se uma criptomoeda afirma-se de emissão por definição limitada, ela é essencialmente deflacionária, e terá de nominalmente, valorizar-se, o que não implica de forma alguma valorização real, pois a maçã da esquina, o saco de batatas, etc, não necessariamente será produzido em tempo correlato por valor mais e mais barato, e terá de se instalar um processo deflacionário.

Nesse processo, ainda mais destrutivo que um processo inflacionário, quem possui a moeda não a troca, não consome, pois amanhã, por motivo inexorável, esta terá ainda maior poder de compra, e quem não a recebe em contrapartida na troca, não a tendo, “encalha” com seus bens, sofre “paradeiro” em seus serviços, e não cobre seus custos, pois está sem receita. A Espanha do período colonial, com despejo de remessas de ouro entre garimpado e roubado, mais roubado, em uma economia abundando de moeda, é o exemplo clássico, e o seu colapso sempre deve ser lembrado. Portanto, um tanto de inflação. mínima, estimula o consumo.

Como bem ensinam os austríacos: moeda não é riqueza. 

Explicando, os bens e serviços são riquezas.

A consequência do acima é que especialmente bitcoin é uma moeda intrinsicamente deflacionária, e como tal, destinada a apresentar problemas e limitações como sistema de troca, e proibitiva para países, até por necessários controle de câmbio com suas desvalorizações, em caso de necessidade ou simples fomento de exportações.

Portanto, por diversos motivos acima apresentados, não existe problema profundo em criptomoedas como meio de troca, não existem riscos muito diferentes de outros sistemas, podem existir aplicações dentro do criminoso, como existe com as notas de mil dólares há décadas entre traficantes de cocaína, não existe “investimento” nestas moedas, existem especulações oportunistas e com seus riscos, afirmações diversas podem estar escondendo esquemas financeiros Ponzi, “pirâmides”, pois um momento de colapso matematicamente virá a quem jura que uma valorização pode ser permanentemente sustentável, e existem limitações definitivas, economicamente, para que se apresentem como verdadeiras moedas, inclusive, se globalmente aceitas.


Notas

Rédito: Numa definição mais profunda, a remuneração de um ente econômico. Para a natureza, expressa em uma área de terra, o aluguel; para o trabalho, o salário; para o capital, o juro. Uma definição mais ampla pode ser encontrada em: knoow.net - Rédito

Os fenômenos de alternância de inflação por déficit e deflação por excedente de moeda em metais nobres da Espanha pode ser consultado em: en.wikipedia.org - Price revolution