terça-feira, 23 de março de 2021

Dilemas de Alices - 2021 - 4

  

1


Preservar esse “colar”, que é ― no fundo ― de gargalhar:


pt.wikipedia.org - Mais-valia absoluta e relativa


“Karl Marx chamou a atenção para o fato de que os capitalistas, uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de trabalho, podem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro: estender a duração da jornada de trabalho mantendo o salário constante - o que ele chama de mais-valia absoluta; ou ampliar a produtividade física do trabalho pela via da mecanização - o que ele chama de mais-valia relativa. Em fazendo esta distinção, Marx rompe com a ideia ricardiana do lucro como "resíduo" e percebe a possibilidade de os capitalistas ampliarem autonomamente suas taxas de lucro sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra. Produção de mais-valia relativa é um modo de incrementar a produção do excedente a ser apropriado pelo capitalista. Já a mais-valia absoluta consiste na intensificação do ritmo de trabalho, através de uma série de controles impostos aos operários, que incluem da mais severa vigilância a todos os seus atos na unidade produtiva até a cronometragem e determinação dos movimentos necessários à realização das suas tarefas. O capitalista obriga o trabalhador a trabalhar a um ritmo tal que, sem alterar a duração da jornada, produzem mais mercadorias e mais valor que sem esses controles.” ― NETO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política

 

www.gestaoeducacional.com.br 



Algumas notas iniciais para alguns pontos


a) O alongamento da jornada de trabalho permite uma maior produção (a princípio), que pode resultar em excesso de produção, e como o mercado consumidor não pode ser “empurrado”, a não ser com crédito que gera outro problema pela alavancagem), chegará ao momento em que mais produção não implica sequer em faturamento, geração de caixa, quanto mais algum lucro.  


Conceito fundamental que tem de ser nos dogmas das ‘Alices’ quebrado: jamais a produção por si gera a riqueza. O que gera a riqueza é a produção “puxada” pelo mercado consumidor, que adquire bens e serviços, necessitados e desejados, inclusive com o sacrifício de seu trabalho e poupança, mesmo com uma carga posterior de juros (onde surge o estrangulamento pela alavancagem já citado). 



Adoro as apresentações e infográficos para explicar uma tolice.


b) Mais trabalhadores produzindo mais per capita implica em menos trabalhadores necessários para a mesma produção, o que entra em contradição com mais massas de trabalhadores produzirem a “apropriação do lucro”, pois “apenas da exploração das massas vem a riqueza”.


c) É banal de perceber que o “manter o salário” constante é uma simplória mentira, pois historicamente os salários sempre cresceram, e destacadamente nas nações mais primordiais na revolução industrial. 


Como o salário é um “rédito”, é evidente que a mão de obra pode ser adquirida por outro empresário ou empresa por uma maior oferta de salários aos mais qualificados ou motivados (que é o trabalhador desejado por alguém), de onde a manutenção dos salários com aumento da carga horária de trabalho pode implicar em fuga para um concorrente, e novamente, tal entra em contradição com a “riqueza oriunda da exploração”.


Observação: note-se que o rédito que é o salário de um trabalhador também corresponde à possibilidade (não à garantia) da geração de algum lucro a partir do trabalho desse profissional, que será, provavelmente, maior à medida que este produza (por isso que ele é desejado), mas não há aí garantia de coisa alguma quanto a lucro, pois além de ser uma entre diversas variáveis que formam os preços e destes a receita, pode ocorrer do trabalhador receber seu salário em meio a um quadro geral de não geração de lucro, quanto mais de algum prejuízo, e por isso, exatamente, que o que diferencia os ganhos do trabalhador do empresário (o dito “capitalista”) é o juro, no diferencial de tempo para ocorrer a respectiva receita (rédito) respectivamente do trabalho e do capital. (Aqui, as primeiras críticas do valor-trabalho e da análise da questão estão no trabalho de Eugen Böhm-Bawerk.) 


 

Na trivial Wikipedia:


“A teoria positiva do interesse de Böhm-Bawerk também argumentou que os trabalhadores trocam sua parte do preço final por salários mais certos pagos pelo empresário. Os empresários, afirmou ele, desistiram de um trabalho assalariado mais seguro para assumir o papel de empreendedores. Em outras palavras, ele afirmava que os lucros compensavam o empresário pela disposição de assumir riscos e esperar para receber uma renda.” - en.wikipedia.org - Criticisms of the labour theory of value  



Nota histórica: os limites da carga de trabalho diária para os trabalhadores foram estudados pelos japoneses pós-guerra, por necessidades de sua recuperação econômica e reconstrução do país, e ficou bem estabelecido que acima de certos limites, mesmo com os desejos de maiores ganhos por parte dos trabalhadores em questão, o quadro todo torna-se improdutivo, pelas limitações orgânicas e psicológicas.

Essa questão de um limite da capacidade horária máxima dos trabalhadores tem íntima relação com a questão dos retornos decrescentes em Economia.

Como disse uma certa pessoa que sigo no Twitter:

“Nove mulheres grávidas não produzem um filho em um mês.”


Adoro as apresentações e infográficos… Idem.



d) Se passa a existir uma mecanização num concorrente, é evidente que há a (sua) redução de custos, e uma empresa que empregue mais mão de obra passa a ter menos competitividade.

Mesmo no período de uso extensivo de mão de obra barata da China, por exemplo destacado, começaram a surgir concorrentes mais mecanizados, como no Vietnã (e em paralelo com mão de obra ainda mais barata, como Bangladesh, amostra clara que salários, mesmos nesses casos, sobem de valor ao longo do tempo), ou mesmo concorrência geral oriunda inclusive de países altamente industrializados, com a nova revolução industrial, a Indústria 4.0, que tornaram a simples oferta de mão de obra barata inútil (setores destacados nesse campo são os produtos de consumo de massa, como baterias e aparelhos de barbear, onde o conceito dos EUA de “produção industrial” ganha forte presença).

Observação: “Produção Industrial” nesse contexto não significa algo produzido numa indústria, mas o tipo de industrialização que basta a entrada de matérias primas e insumos num extremo da unidade de produção (a entrada) e o produto fica disponível no outro extremo da unidade pronto para a distribuição (a saída), sem contato com mão de obra, produção totalmente entre automatizada e robotizada.

Se não existe a necessidade de mão de obra para gerar a riqueza - sendo essa a afirmação marxista, e tal é claro - passa a não existir a geração de riqueza dispensando crescentemente mão de obra, seja entre concorrentes, seja num setor inteiro da produção industrial.


As massas, necessariamente, tem de se deslocar para outros setores no qual a mecanização se faz ainda distante no tempo.

A afirmação de que esse desemprego produz mais mão de obra barata por essa via é igualmente falaciosa, pois não haverá, crescentemente, a necessidade de mão de obra em todo o setor.


Esse dilema geral, de crescentes massas que não são mais necessárias como mão de obra, para o cenário da Indústria 4.0 / Nova Revolução Industrial ainda não está resolvido.



Pacote de jujubas para quem perceber o erro dentro do erro nesse slide.



e) O afirmar que a percepção de que o lucro não seja um resíduo, conforme bem tratado por David Ricardo chega a ser hilária.

Por acaso, digamos, não ocorrem os sinistros, as catástrofes, as tragédias?

Como, apenas por essa percepção da instabilidade da natureza para a atividade humana, o lucro poderia ser considerado absoluto ou inexorável em sua obtenção? Como poderia ser determinado por ações dos empresários / capitalistas, se como vemos, a própria capacidade de expandir-se sua geração se mostra claramente limitada pelo mercado que consome (que por sinal, em amplo, é a própria massa dos trabalhadores que ‘sacrificam-se’ para gerar sua renda e consumir, seja por suas necessidades, seja por seus desejos)?

f)Como pode, dentro da própria definição de geração de riqueza por apropriação dentro dos dogmas de Marx e outros, o lucro poder ser expandido “sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra’? Não é a própria maior exploração que geraria mais riqueza / apropriação de lucro?


g)Além da contradição de mais trabalho contra mecanização, há a contradição de que com mais controles e eficiência, há menos trabalho (o que é correlato com mecanização), pois a mecanização reduz o esforço individual dos trabalhadores. 


Observação: Alguém acha que não tem relação a capacidade das máquinas a vapor frente à capacidade dos escravos romanos na pavimentação de estradas, ou mesmo a estruturação de todo um maquinário sobre trilhos na construção do canal do panamá frente à própria ironia dos canais cavados com colheres para gerar mais ‘empregos’?


A automatização aumenta a produtividade cada vez mais eliminando a ação da mão humana, e assim como a robotização, alivia o desgaste e elimina os erros nas atividades repetitivas, permite o trabalho continuado além da capacidade humana e sem suas pausas necessárias, permitindo até o trabalho sem iluminação, superioridade evidente frente ao biológico.

Surge aí a contradição ser afirmada nas entrelinhas do texto mais trabalho per capita com menos empregados, quando na verdade sequer os trabalhadores e suas funções já existem ou sua necessidade de faz mínima, dependendo do segmento da produção e mercado.

 

h)Novamente surge o “produzir mais gera mais lucro”, como se o mercado não fosse, para qualquer item que se imaginar, saturável, e como se essa própria expressão de superprodução não gerasse por si prejuízo, como se não houvesse aí mais que o dilema entre lucro contábil e lucro econômico, mas também a simples noção de que um estoque pode implicar em incapacidade de honrar compromissos assumidos com alavancagem, ou simples esgotamento da liquidez necessária para manter a própria estrutura de produção.


i)Geral, e em paralelo: o “desemprego estrutural” gera menos renda, e com menos renda, menos consumo, e logo, menos aquisições de bens e contratações de serviços, de onde a geração de caixa dos “capitalistas” fica no geral reduzida, e portanto, o lucro volta ao estado de resíduo, quando não de inexistente e prejuízo, de David Ricardo. O cheiro de teoria conspiracionista tola é evidente.



Extra 


Observemos o parágrafo:


A mais-valia relativa, por sua vez, está mais relacionada ao avanço da ciência e da tecnologia. Por exemplo, se o empresário não consegue mais aumentar a sua produção a partir de uma maior exigência sobre seus funcionários, ele busca melhorias tecnológicas que façam com que o processo seja mais otimizado e acelerado, gerando mais lucro com menos recursos. Mais uma vez, porém, o trabalhador não receberia nenhum bônus pela participação nesse processo. Pelo contrário, aos poucos, acabaria sendo substituído pelas máquinas.” - www.gestaoeducacional.com.br  


O empresariado não vai em busca de novas tecnologias na medida que não consegue maior resultados de seus funcionários. Muitas vezes, primeiro, a tecnologia vai em busca do empresariado, e sempre mostrando que pode produzir mais resultados que a mão de obra direta (sempre, no fundo, “braçal”). Os trabalhadores são excluídos nesse processo pois deixaram então de ser uma ferramenta de geração de lucro, e sim um gerador de ineficiência e maiores custos.


Esses produtores de novas tecnologias, por sua vez, vão em busca de seu mercado pelo seu próprio desejo (e necessidade, óbvio, pois investimento tem de ser coberto em seus custos e metas de lucros) de colocar seu produto no mercado.


Economia e até simples Contabilidade “marxista” não distam muito de um terraplanismo seja econômico, seja contábil / financeiro.

 

 

2



William N. Spencer. The Fallacy and Failure of Communism, Socialism, and Keynesian Economics: Academic Research and Study to Make America Great Again. - www.barnesandnoble.com  


“A contratação, demissão, retenção, compensação e controle de funcionários no local de trabalho americano é a esfera e o domínio da Gestão de Recursos Humanos. Mas quem, ou o quê, realmente controla o departamento de Recursos Humanos? 


Mas, é claro, a economia americana iô-iô, [NdT: de ‘sobes e desces’] é tanto um indicador importante quanto um indicador atrasado do que é bom e ou ruim, do certo e ou errado, da vida na América corporativa. 


E nada afeta mais o fluxo da economia americana do que nosso grande e poderoso governo americano. Tirando para sempre mais e mais dinheiro dos “ricos” ― isto é, qualquer pessoa com emprego e salário ― e canalizando esse dinheiro para o abismo profundo da burocracia governamental; principalmente com o propósito de recompensar amigos políticos (capitalismo de compadrio), o que impede que essa enorme quantidade de dinheiro flua para as empresas americanas e, eventualmente, para os trabalhadores americanos.”

  

segunda-feira, 22 de março de 2021

Crise de dívida - 12

   

Crise da dívida latino-americana

 

Traduzido de: en.wikipedia.org - Latin American debt crisis

 

A crise da dívida latino-americana foi uma crise financeira que teve origem no início dos anos 1980 (e para alguns países a partir dos anos 1970), frequentemente conhecida como “A Década Perdida”, quando os países latino-americanos chegaram a um ponto em que sua dívida externa excedeu sua capacidade de pagamento, e eles não foram capazes de pagá-la.


 

As 4 sub-regiões comuns na América Latina.



Origens


Nas décadas de 1960 e 1970, muitos países latino-americanos, notadamente Brasil, Argentina e México, emprestaram grandes somas de dinheiro de credores internacionais para a industrialização, especialmente programas de infraestrutura. Esses países tinham economias em expansão na época, então os credores ficaram felizes em fornecer empréstimos. Inicialmente, os países em desenvolvimento normalmente obtinham empréstimos por meio de rotas públicas como o Banco Mundial. Depois de 1973, os bancos privados tiveram um influxo de fundos de países ricos em petróleo que acreditavam que a dívida soberana era um investimento seguro. [1]  O México tomou empréstimos contra as receitas futuras do petróleo com a dívida avaliada em dólares americanos, de modo que, quando o preço do petróleo despencou, o mesmo aconteceu com a economia mexicana. 


Preços do petróleo bruto no México de 1861 a 2011. 



Entre 1975 e 1982, a dívida latino-americana com os bancos comerciais aumentou a uma taxa anual cumulativa de 20,4%. Esse aumento do endividamento levou a América Latina a quadruplicar sua dívida externa de US $ 75 bilhões em 1975 para mais de US $ 315 bilhões em 1983, ou 50% do produto interno bruto (PIB) da região. O serviço da dívida (pagamentos de juros e amortização do principal) cresceu ainda mais rápido com o aumento das taxas de juros globais, atingindo $ 66 bilhões em 1982, ante $ 12 bilhões em 1975. [2]  


História 


Quando a economia mundial entrou em recessão nas décadas de 1970 e 1980 e os preços do petróleo dispararam, isso criou um ponto de ruptura para a maioria dos países da região. Os países em desenvolvimento se viram em uma crise desesperada de liquidez. Os países exportadores de petróleo, cheios de dinheiro após os aumentos do preço do petróleo de 1973-1980, investiram seu dinheiro em bancos internacionais, que "reciclaram" uma parte importante do capital como empréstimos a governos latino-americanos. O forte aumento dos preços do petróleo fez com que muitos países buscassem mais empréstimos para cobrir os altos preços, e até mesmo alguns países produtores de petróleo contraíram dívidas substanciais para o desenvolvimento econômico, esperando que os preços altos persistissem e lhes permitissem saldar suas dívidas. [1]  


À medida que as taxas de juros aumentaram nos Estados Unidos da América e na Europa em 1979, os pagamentos da dívida também aumentaram, tornando mais difícil para os países mutuários saldar suas dívidas. [3]  A deterioração da taxa de câmbio com o dólar norte-americano fez com que os governos latino-americanos acabassem devendo enormes volumes em suas moedas nacionais, além de perder poder de compra. [4]  A contração do comércio mundial em 1981 fez com que os preços dos recursos primários (a maior exportação da América Latina) caíssem. [4]  


Embora a perigosa acumulação de dívida externa tenha ocorrido ao longo de vários anos, a crise da dívida começou quando os mercados internacionais de capitais perceberam que a América Latina não seria capaz de pagar seus empréstimos. Isso ocorreu em agosto de 1982, quando o ministro das Finanças do México, Jesús Silva-Herzog, declarou que o México não seria mais capaz de pagar o serviço de sua dívida. [5]  O México declarou que não poderia cumprir os prazos de pagamento e anunciou unilateralmente uma moratória de 90 dias; também solicitou a renegociação de prazos de pagamento e novos empréstimos para cumprir suas obrigações anteriores. [4]  


Na esteira do default soberano do México, a maioria dos bancos comerciais reduziu significativamente ou suspendeu novos empréstimos para a América Latina. Como muitos dos empréstimos da América Latina eram de curto prazo, uma crise se seguiu quando seu refinanciamento foi recusado. Bilhões de dólares em empréstimos que antes teriam sido refinanciados, agora venciam imediatamente.  


Os bancos tiveram que reestruturar de alguma forma as dívidas para evitar o pânico financeiro; isso geralmente envolvia novos empréstimos com condições muito estritas, bem como a exigência de que os países devedores aceitassem a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI). [4]  Houve várias etapas de estratégias para desacelerar e encerrar a crise. O FMI decidiu reestruturar os pagamentos e reduzir os gastos do governo nos países devedores. Mais tarde, ele e o Banco Mundial encorajaram a abertura de mercados. [6] [7]  Finalmente, os EUA e o FMI pressionaram pelo alívio da dívida, reconhecendo que os países não seriam capazes de pagar integralmente as grandes somas que deviam. [8]  


No entanto, alguns especialistas de posições econômicas heterodoxas como Stephen Kanitz atribuem a crise da dívida não ao alto nível de endividamento nem à desorganização da economia do continente. Eles dizem que a causa da crise foram os limites de alavancagem, como as regulamentações bancárias do governo dos EUA que proíbem seus bancos de emprestar mais de dez vezes o valor de seu capital, uma regulamentação que, quando a inflação corroeu seus limites de empréstimo, os obrigou a cortar o acesso dos países subdesenvolvidos para a poupança internacional. [9]  


Efeitos 


A crise da dívida de 1982 foi a mais grave da história da América Latina. As receitas e as importações caíram; o crescimento econômico estagnou; o desemprego atingiu níveis elevados; e a inflação reduziu o poder de compra das classes médias. [4]  Na verdade, nos dez anos após 1980, os salários reais nas áreas urbanas caíram entre 20 e 40 por cento. [6]  Além disso, o investimento que poderia ter sido usado para tratar de questões sociais e pobreza estava sendo usado para pagar a dívida. [1] 


Panfleto chileno pedindo protesto, incluindo um 

“panelaço” em 1983. 



Em resposta à crise, a maioria das nações abandonou seus modelos de economia de industrialização por substituição de importações (ISI) e adotou uma estratégia de industrialização voltada para a exportação, geralmente a estratégia neoliberal incentivada pelo FMI, embora houvesse exceções como Chile e Costa Rica, que adotaram estratégias reformistas. Um maciço processo de saída de capitais, principalmente para os Estados Unidos, serviu para depreciar as taxas de câmbio, elevando, assim, a taxa real de juros. A taxa de crescimento real do PIB para a região foi de apenas 2,3% entre 1980 e 1985, mas em termos per capita a América Latina experimentou um crescimento negativo de quase 9%. Entre 1982 e 1985, a América Latina pagou US $ 108 bilhões. [4]  


Fundo Monetário Internacional 


Antes da crise, países latino-americanos como Brasil e México pediram dinheiro emprestado para aumentar a estabilidade econômica e reduzir o índice de pobreza. No entanto, à medida que se evidenciava a impossibilidade de saldar as dívidas externas, os empréstimos cessaram, interrompendo o fluxo de recursos antes disponíveis para as inovações e melhorias dos anos anteriores. Isso tornou vários projetos inacabados inúteis, contribuindo para problemas de infraestrutura nos países afetados. [10] 


Durante a recessão internacional da década de 1970, muitos dos principais países tentaram desacelerar e conter a inflação em seus países aumentando as taxas de juros do dinheiro que emprestaram, fazendo com que a já enorme dívida da América Latina aumentasse ainda mais. Entre os anos de 1970 a 1980, os níveis de dívida da América Latina aumentaram em mais de mil por cento. [10] 


A crise fez com que a renda per capita caísse e também aumentou a pobreza, à medida que o fosso entre ricos e pobres aumentou dramaticamente. Devido à queda na taxa de emprego, crianças e jovens foram forçados ao tráfico de drogas, prostituição e terrorismo. [11]  A baixa taxa de emprego também agravou muitos problemas como homicídios e crimes e tornou os países afetados lugares indesejáveis ​​para se viver. Tentando freneticamente resolver esses problemas, os países devedores se sentiram pressionados a devolver constantemente o dinheiro que deviam, o que dificultou a reconstrução de uma economia já em ruínas. 


Os países latino-americanos, sem condições de pagar suas dívidas, recorreram ao FMI (Fundo Monetário Internacional), que disponibilizou dinheiro para empréstimos e dívidas não pagas. Em troca, o FMI forçou a América Latina a fazer reformas que favorecessem o capitalismo de livre mercado, agravando ainda mais as desigualdades e as condições de pobreza. [12]  O FMI também forçou a América Latina a implementar planos de austeridade e programas que reduziram os gastos totais em um esforço para recuperar da crise da dívida. Essa redução nos gastos do governo agravou ainda mais as fraturas sociais na economia e interrompeu os esforços de industrialização. Os esforços do FMI efetivamente objetivaram transformar a economia da América Latina abruptamente em um tipo de economia capitalista de livre comércio, que é um modelo econômico preferido pelos países ricos e plenamente desenvolvidos. [13]  


A taxa de crescimento da América Latina caiu drasticamente devido aos planos de austeridade do governo que restringiram mais gastos. Os padrões de vida também caíram junto com a taxa de crescimento, o que causou intensa raiva do povo em relação ao FMI, um símbolo de poder "externo" sobre a América Latina. [13]  Líderes e funcionários do governo foram ridicularizados e alguns até dispensados ​​devido ao envolvimento e defesa do FMI. No final da década de 1980, as autoridades brasileiras planejaram uma reunião de negociação da dívida onde decidiram "nunca mais assinar acordos com o FMI". [14]  O resultado da intervenção do FMI ocasionou maior aprofundamento financeiro (Financeirização) e dependência dos fluxos de capitais do mundo desenvolvido, além de maior exposição à volatilidade internacional. [15]  A aplicação de programas de ajuste estrutural acarretou altos custos sociais em termos de aumento do desemprego e subemprego, queda dos salários e rendas reais e aumento da pobreza. 


Níveis de dívida externa de 2015


A seguir uma lista da dívida externa para a América Latina baseada em um relatório de 2015 do The World Factbook, dados estimados em 31 de dezembro de 2014. [16]



Posição

País – Entidade

Dívida Externa

(US$ bilhões)

24

Brasil

535,4

26

México

438,4

42

Chile

140,0

45

Argentina

115,7

51

Colômbia

84,0

52

Venezuela

69,7

60

Peru

56,8

79

Cuba

25,2

83

Equador

21,7

84

República Dominicana

19,7

86

Costa Rica

18,4

88

Uruguai

17,5

93

Guatemala

15,9

94

Panamá

15,5

95

El Salvador

15,460

103

Nicarágua

10,250

106

Paraguai

8,759

108

Bolívia

8,073

117

Honduras

7,111



Referências


1.Ferraro, Vincent (1994). World Security: Challenges for a New Century. New York: St. Martin's Press. - www.worldcat.org  


2.Institute of Latin American Studies (Latinamerika-institutet i Stockholm). The Debt Crisis in Latin America, 1986. p. 69. - books.google.com.br  


3.Schaeffer, Robert. Understanding Globalization, Rowman & Littlefield, 2003. p. 96 - books.google.com.br 


4.García Bernal, Manuela Cristina (1991). "Iberoamérica: Evolución de una Economía Dependiente". In Luís Navarro García (Coord.), Historia de las Américas, vol. IV, pp. 565–619. Madrid/Sevilla: Alhambra Longman/Universidad de Sevilla. ISBN 978-84-205-2155-8  


5.Pastor, Robert A. Latin American Debt Crisis: Adjusting for the Past or Planning for the Future, Boulder, Colo. : L. Rienner 1987. p. 9. - librarysearch.lse.ac.uk 


6.Felix, David (Fall 1990). "Latin America's Debt Crisis". World Policy Journal. Vol. 7 (No. 4): pp. 733–71. World Policy Journal. - www.jstor.org   


7.Devlin, Robert; Ricardo French-Davis (July–September 1995). "The great Latin American debt crisis: a decade of asymmetric adjustment". Revista de Economía Política. 15(3). - repositorio.cepal.org  


8.Krugman, Paul. Obstfeld, Maurice (2007). International Economics: Theory and Policy. Pearson Education. - course.sdu.edu.cn 

Nos nossos arquivos: [ Krugman Obstfeld - International Economics ]


9.Kanitz, Stephen. "Brazil: The Emerging Boom 1993–2005 Chapter 2". brazil.melhores.com.br.  


10."Encyclopædia Britannica Online School Edition". Encyclopædia Britannica. Retrieved 21 May 2012.  


11.Ruggiero, Gregory. "Latin American Debt Crisis: What Were Its Causes And Is It Over?". AngelFire. Retrieved 15 May2012. 


12.Ghosh, Jayati. The Economic and Social Effects of Financial Liberalization: A Primer for Developing Countries. Working Paper. United Nations, Department of Economics and Social Affairs, 2005. - www.un.org  


13."Latin American debt crisis". ABC-CLIO. Retrieved 22 May 2012. 


14.Pastor, Manuel Jr. (1989). "Latin America, the Debt Crisis, and the International Monetary Fund". Latin American Perspectives. JSTOR. 16 (1): 79–110. doi:10.1177/0094582X8901600105. JSTOR 2633823. S2CID 144458701


15.Palma, Gabriel. The Three Routes to Financial Crises: The Need for Capital Controls. SCEPA Working Paper. Schwartz Center for Economic Policy Analysis (SCEPA), The New School, 2000. - ideas.repec.org  


16.The World Factbook, 2015. - www.cia.gov - www.skyhorsepublishing.com