terça-feira, 23 de março de 2021

Dilemas de Alices - 2021 - 4

  

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Preservar esse “colar”, que é ― no fundo ― de gargalhar:


pt.wikipedia.org - Mais-valia absoluta e relativa


“Karl Marx chamou a atenção para o fato de que os capitalistas, uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de trabalho, podem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro: estender a duração da jornada de trabalho mantendo o salário constante - o que ele chama de mais-valia absoluta; ou ampliar a produtividade física do trabalho pela via da mecanização - o que ele chama de mais-valia relativa. Em fazendo esta distinção, Marx rompe com a ideia ricardiana do lucro como "resíduo" e percebe a possibilidade de os capitalistas ampliarem autonomamente suas taxas de lucro sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra. Produção de mais-valia relativa é um modo de incrementar a produção do excedente a ser apropriado pelo capitalista. Já a mais-valia absoluta consiste na intensificação do ritmo de trabalho, através de uma série de controles impostos aos operários, que incluem da mais severa vigilância a todos os seus atos na unidade produtiva até a cronometragem e determinação dos movimentos necessários à realização das suas tarefas. O capitalista obriga o trabalhador a trabalhar a um ritmo tal que, sem alterar a duração da jornada, produzem mais mercadorias e mais valor que sem esses controles.” ― NETO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política

 

www.gestaoeducacional.com.br 



Algumas notas iniciais para alguns pontos


a) O alongamento da jornada de trabalho permite uma maior produção (a princípio), que pode resultar em excesso de produção, e como o mercado consumidor não pode ser “empurrado”, a não ser com crédito que gera outro problema pela alavancagem), chegará ao momento em que mais produção não implica sequer em faturamento, geração de caixa, quanto mais algum lucro.  


Conceito fundamental que tem de ser nos dogmas das ‘Alices’ quebrado: jamais a produção por si gera a riqueza. O que gera a riqueza é a produção “puxada” pelo mercado consumidor, que adquire bens e serviços, necessitados e desejados, inclusive com o sacrifício de seu trabalho e poupança, mesmo com uma carga posterior de juros (onde surge o estrangulamento pela alavancagem já citado). 



Adoro as apresentações e infográficos para explicar uma tolice.


b) Mais trabalhadores produzindo mais per capita implica em menos trabalhadores necessários para a mesma produção, o que entra em contradição com mais massas de trabalhadores produzirem a “apropriação do lucro”, pois “apenas da exploração das massas vem a riqueza”.


c) É banal de perceber que o “manter o salário” constante é uma simplória mentira, pois historicamente os salários sempre cresceram, e destacadamente nas nações mais primordiais na revolução industrial. 


Como o salário é um “rédito”, é evidente que a mão de obra pode ser adquirida por outro empresário ou empresa por uma maior oferta de salários aos mais qualificados ou motivados (que é o trabalhador desejado por alguém), de onde a manutenção dos salários com aumento da carga horária de trabalho pode implicar em fuga para um concorrente, e novamente, tal entra em contradição com a “riqueza oriunda da exploração”.


Observação: note-se que o rédito que é o salário de um trabalhador também corresponde à possibilidade (não à garantia) da geração de algum lucro a partir do trabalho desse profissional, que será, provavelmente, maior à medida que este produza (por isso que ele é desejado), mas não há aí garantia de coisa alguma quanto a lucro, pois além de ser uma entre diversas variáveis que formam os preços e destes a receita, pode ocorrer do trabalhador receber seu salário em meio a um quadro geral de não geração de lucro, quanto mais de algum prejuízo, e por isso, exatamente, que o que diferencia os ganhos do trabalhador do empresário (o dito “capitalista”) é o juro, no diferencial de tempo para ocorrer a respectiva receita (rédito) respectivamente do trabalho e do capital. (Aqui, as primeiras críticas do valor-trabalho e da análise da questão estão no trabalho de Eugen Böhm-Bawerk.) 


 

Na trivial Wikipedia:


“A teoria positiva do interesse de Böhm-Bawerk também argumentou que os trabalhadores trocam sua parte do preço final por salários mais certos pagos pelo empresário. Os empresários, afirmou ele, desistiram de um trabalho assalariado mais seguro para assumir o papel de empreendedores. Em outras palavras, ele afirmava que os lucros compensavam o empresário pela disposição de assumir riscos e esperar para receber uma renda.” - en.wikipedia.org - Criticisms of the labour theory of value  



Nota histórica: os limites da carga de trabalho diária para os trabalhadores foram estudados pelos japoneses pós-guerra, por necessidades de sua recuperação econômica e reconstrução do país, e ficou bem estabelecido que acima de certos limites, mesmo com os desejos de maiores ganhos por parte dos trabalhadores em questão, o quadro todo torna-se improdutivo, pelas limitações orgânicas e psicológicas.

Essa questão de um limite da capacidade horária máxima dos trabalhadores tem íntima relação com a questão dos retornos decrescentes em Economia.

Como disse uma certa pessoa que sigo no Twitter:

“Nove mulheres grávidas não produzem um filho em um mês.”


Adoro as apresentações e infográficos… Idem.



d) Se passa a existir uma mecanização num concorrente, é evidente que há a (sua) redução de custos, e uma empresa que empregue mais mão de obra passa a ter menos competitividade.

Mesmo no período de uso extensivo de mão de obra barata da China, por exemplo destacado, começaram a surgir concorrentes mais mecanizados, como no Vietnã (e em paralelo com mão de obra ainda mais barata, como Bangladesh, amostra clara que salários, mesmos nesses casos, sobem de valor ao longo do tempo), ou mesmo concorrência geral oriunda inclusive de países altamente industrializados, com a nova revolução industrial, a Indústria 4.0, que tornaram a simples oferta de mão de obra barata inútil (setores destacados nesse campo são os produtos de consumo de massa, como baterias e aparelhos de barbear, onde o conceito dos EUA de “produção industrial” ganha forte presença).

Observação: “Produção Industrial” nesse contexto não significa algo produzido numa indústria, mas o tipo de industrialização que basta a entrada de matérias primas e insumos num extremo da unidade de produção (a entrada) e o produto fica disponível no outro extremo da unidade pronto para a distribuição (a saída), sem contato com mão de obra, produção totalmente entre automatizada e robotizada.

Se não existe a necessidade de mão de obra para gerar a riqueza - sendo essa a afirmação marxista, e tal é claro - passa a não existir a geração de riqueza dispensando crescentemente mão de obra, seja entre concorrentes, seja num setor inteiro da produção industrial.


As massas, necessariamente, tem de se deslocar para outros setores no qual a mecanização se faz ainda distante no tempo.

A afirmação de que esse desemprego produz mais mão de obra barata por essa via é igualmente falaciosa, pois não haverá, crescentemente, a necessidade de mão de obra em todo o setor.


Esse dilema geral, de crescentes massas que não são mais necessárias como mão de obra, para o cenário da Indústria 4.0 / Nova Revolução Industrial ainda não está resolvido.



Pacote de jujubas para quem perceber o erro dentro do erro nesse slide.



e) O afirmar que a percepção de que o lucro não seja um resíduo, conforme bem tratado por David Ricardo chega a ser hilária.

Por acaso, digamos, não ocorrem os sinistros, as catástrofes, as tragédias?

Como, apenas por essa percepção da instabilidade da natureza para a atividade humana, o lucro poderia ser considerado absoluto ou inexorável em sua obtenção? Como poderia ser determinado por ações dos empresários / capitalistas, se como vemos, a própria capacidade de expandir-se sua geração se mostra claramente limitada pelo mercado que consome (que por sinal, em amplo, é a própria massa dos trabalhadores que ‘sacrificam-se’ para gerar sua renda e consumir, seja por suas necessidades, seja por seus desejos)?

f)Como pode, dentro da própria definição de geração de riqueza por apropriação dentro dos dogmas de Marx e outros, o lucro poder ser expandido “sem dependerem dos custos de simples reprodução física da mão-de-obra’? Não é a própria maior exploração que geraria mais riqueza / apropriação de lucro?


g)Além da contradição de mais trabalho contra mecanização, há a contradição de que com mais controles e eficiência, há menos trabalho (o que é correlato com mecanização), pois a mecanização reduz o esforço individual dos trabalhadores. 


Observação: Alguém acha que não tem relação a capacidade das máquinas a vapor frente à capacidade dos escravos romanos na pavimentação de estradas, ou mesmo a estruturação de todo um maquinário sobre trilhos na construção do canal do panamá frente à própria ironia dos canais cavados com colheres para gerar mais ‘empregos’?


A automatização aumenta a produtividade cada vez mais eliminando a ação da mão humana, e assim como a robotização, alivia o desgaste e elimina os erros nas atividades repetitivas, permite o trabalho continuado além da capacidade humana e sem suas pausas necessárias, permitindo até o trabalho sem iluminação, superioridade evidente frente ao biológico.

Surge aí a contradição ser afirmada nas entrelinhas do texto mais trabalho per capita com menos empregados, quando na verdade sequer os trabalhadores e suas funções já existem ou sua necessidade de faz mínima, dependendo do segmento da produção e mercado.

 

h)Novamente surge o “produzir mais gera mais lucro”, como se o mercado não fosse, para qualquer item que se imaginar, saturável, e como se essa própria expressão de superprodução não gerasse por si prejuízo, como se não houvesse aí mais que o dilema entre lucro contábil e lucro econômico, mas também a simples noção de que um estoque pode implicar em incapacidade de honrar compromissos assumidos com alavancagem, ou simples esgotamento da liquidez necessária para manter a própria estrutura de produção.


i)Geral, e em paralelo: o “desemprego estrutural” gera menos renda, e com menos renda, menos consumo, e logo, menos aquisições de bens e contratações de serviços, de onde a geração de caixa dos “capitalistas” fica no geral reduzida, e portanto, o lucro volta ao estado de resíduo, quando não de inexistente e prejuízo, de David Ricardo. O cheiro de teoria conspiracionista tola é evidente.



Extra 


Observemos o parágrafo:


A mais-valia relativa, por sua vez, está mais relacionada ao avanço da ciência e da tecnologia. Por exemplo, se o empresário não consegue mais aumentar a sua produção a partir de uma maior exigência sobre seus funcionários, ele busca melhorias tecnológicas que façam com que o processo seja mais otimizado e acelerado, gerando mais lucro com menos recursos. Mais uma vez, porém, o trabalhador não receberia nenhum bônus pela participação nesse processo. Pelo contrário, aos poucos, acabaria sendo substituído pelas máquinas.” - www.gestaoeducacional.com.br  


O empresariado não vai em busca de novas tecnologias na medida que não consegue maior resultados de seus funcionários. Muitas vezes, primeiro, a tecnologia vai em busca do empresariado, e sempre mostrando que pode produzir mais resultados que a mão de obra direta (sempre, no fundo, “braçal”). Os trabalhadores são excluídos nesse processo pois deixaram então de ser uma ferramenta de geração de lucro, e sim um gerador de ineficiência e maiores custos.


Esses produtores de novas tecnologias, por sua vez, vão em busca de seu mercado pelo seu próprio desejo (e necessidade, óbvio, pois investimento tem de ser coberto em seus custos e metas de lucros) de colocar seu produto no mercado.


Economia e até simples Contabilidade “marxista” não distam muito de um terraplanismo seja econômico, seja contábil / financeiro.

 

 

2



William N. Spencer. The Fallacy and Failure of Communism, Socialism, and Keynesian Economics: Academic Research and Study to Make America Great Again. - www.barnesandnoble.com  


“A contratação, demissão, retenção, compensação e controle de funcionários no local de trabalho americano é a esfera e o domínio da Gestão de Recursos Humanos. Mas quem, ou o quê, realmente controla o departamento de Recursos Humanos? 


Mas, é claro, a economia americana iô-iô, [NdT: de ‘sobes e desces’] é tanto um indicador importante quanto um indicador atrasado do que é bom e ou ruim, do certo e ou errado, da vida na América corporativa. 


E nada afeta mais o fluxo da economia americana do que nosso grande e poderoso governo americano. Tirando para sempre mais e mais dinheiro dos “ricos” ― isto é, qualquer pessoa com emprego e salário ― e canalizando esse dinheiro para o abismo profundo da burocracia governamental; principalmente com o propósito de recompensar amigos políticos (capitalismo de compadrio), o que impede que essa enorme quantidade de dinheiro flua para as empresas americanas e, eventualmente, para os trabalhadores americanos.”

  

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