quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Idéias "Brilhantes" IV

Conjuntos Habitacionais em Áreas de Várzea


Emblemática foto de Nelson Antoine/Foto Arena/AE




Os recentes acontecimentos no Jardim Pantanal (só o nome já dá um retrato perfeito do problema) apresenta um conjunto de questões das ocupações urbanas brasileiras e de sua economia.

1.Migrantes pobres ocupam ilegal e irregularmente (como se as duas coisas não fossem sempre associadas) regiões desocupadas, que eram até então desocupadas principalmente por não serem fácil e economicamente habitáveis (e as duas coisas normalmente são associadas).
2.Prefeitura contrói conjuntos habitacionais e provê infraestrutura nestas regiões.
3.Dado que proveu infraestrutura (pelo menos num nível aparente) por este agora civilizado espaço cobra impostos.
4.Na primeira intempérie (e aqui, pouco me interessa tratar no momento que seja tal fruto de mudanças climáticas) a infraestrutura se mostra limitada a um planejamento apenas para um quadro ótimo (aquele no qual desconsidera-se qualquer risco).
5.Dado o quadro de tragédia, espera-se (contando mais uma vez com o quadro ótimo) que a natureza resolva o problema por si (coisa que a história tem mostrado que não ocorre, ainda mais sob a marcha entrópica da natureza, que abomina/elimina o que chamamos de obras, progresso, civilização, etc).
6.Nem procura-se em meio à tragédia, apresentar ao menos soluções paleativas, como bombeamento temporário, drenagem, canalização, início de obras para conter-se, mas apresenta-se algo denominado "realocação".

Prefeitura de SP vai remover famílias de áreas alagadas - Famílias atingidas receberão bolsa aluguel para deixarem suas moradias


Aqui, tenho de perguntar então, para que a "infraestrutura implantada"?

Lembrando, embora óbvio, que toda a mudança de traçado em um projeto (e cidades o são, numa definição ampla e profunda, ainda que milenares) ocasiona incremento de custos, logo, futuro implemento de receitas, e portanto, aumento de tributos, e estes, para serem cobertos, exigem geração de riqueza, logo, mais trabalho.

Guardemos que agora teremos, ou "realocados", ou "adaptados a novos paradigmas" (ou expressão igualmente corrompida, que represente os que habitem numa exótica Veneza, cercados de esgoto diluído em rio poluído, por todos os lados), e estes dois estados não implicarão de forma alguma em não surgirem novos migrantes.


Impacto Ambiental




Ouvi hoje na Band News FM que reuniram-se, incluindo o ministro dos esportes (não me perguntem com que finalidade) para discutir ampliações no aeroporto de Viracopos, devido à Copa do Mundo de Futebol.

Outro conjunto de questões:

1.O aeroporto tem de ser ampliado, não interessa se será para a entrega de um Oscar em Santa Bárbara do Oeste.
2.Não tem de se "discutir" sua ampliação, tem de se executar um projeto de ampliação. Tal é questão de engenharia, seja ela qual for.
3.Sem recursos disponíveis hoje em caixa, pouco interessa que tenha uma ocupação irregular no local onde será feita a pista, impacto ambiental coerente ou não (já abordo este ponto), "salões e lojas, restaurantes e cinemas" a mais (o lendário "shopping com pista nos fundos", dos pilotos - que é normalmente dito "...com pistinhas nos fundos").

Sem recursos, e ação sobre estes, não se construirá conjuntos habitacionais para os invasores, há muito plenamente estabelecidos (aliás, em condições melhores que os de Jardim Pantanal).

Sem recursos, e ação sobre estes, não se removerá seguramente exóticos jequitibás, ou sabe-se lá que gambás raríssimos, e tampouco deixarão de entrar em vilas onças pardas, ou cobras.

Sem recursos, e ação sobre estes, não haverá nem uma poltrona a mais nas atupetados salas de embarque subdimensionadas que todo mês frequento.

Sem recursos, e ação sobre estes, aliás, é universal que todo sistema não submetido à ação racional tende ao caos, máxima da Física aplicada à Administração.

E com recursos ou sem, com ação ou sem, o transporte aéreo continuará a crescer acima do crescimento vegetativo da população, acima do crescimento da média da logística num quadro mais geral e acima da economia (e tal é mundial, por convergência, e a busca da eficiência é o maior dos motores de tal processo).

Agora, retornando ao ambiental, por favor, não sejamos ridículos.

O que mais conduz ao impacto ambiental numa grande obra, como um ruidoso aeroporto, uma grande fábrica (excluída desta análise a questão se produz ecológicas sandálias de palha ou perigosíssimos compostos de mercúrio) ou um civilizado shopping center em seu estacionamento (um dos focos da discussão em Viracopos), seja ele horizontal ou vertica, ou ainda subterrâneo, não é a obra em si, e sim, a pressão que está sendo exercida no ambiente por, somente em São Paulo, milhar de carros emplacados por dia.

Pouco interessa se vão ser colocados em área, empilhados em edifícios ou escondidos discretamente em baixo da pista. Ainda sim, queimarão toneladas de combustível e produzirão tonaladas de compostos (e tais não são agradáveis como nossas hipotéticas sandálias de palha).

Logo, não adianta discutir o estacionamento como impacto ambiental ou impecilho para a inexoravelmente necessária ampliação do aeroporto de Viracopos. Tem-se decombater, antes, a principal causa do impacto ambiental, e se vai ser este populoso impacto colocado num ecológico prédio, pátio ou subsolo, é questão posterior, pois se não for construída nenhuma destas ecológicas e perfeitas garagens, os não ecológicos automóveis vão ser enfileirados nas não ecológicas estradas e seus acostamentos, e vão continuar gastando combustível e produzindo poluição e talvez aquecimento global, passando em cima de raros gambás ou atropelando migrantes onças, esperando vagas para levar e trazer pessoas (e parece que estas não podem ser reduzidas) das apertadas ou então amplas salas de espera.

Bolsa Família (sem "próximo passo")

Recomendo, para mais fotos como estas, ver o trabalho de Pedro Martinelli em Veja

Muito bem, sou keynesiano até as moedas na niqueleira. Motiva-se população até cavando buracos e depois os recobrindo.

Mas não adianta coisa alguma esmola (e este é o exato termo) sem o próximo passo na direção de geração de renda (aqui, Confúcio já representava magistralmente a questão com o "ensinar a pescar").

Sem uma construção permanente de geração de riqueza, no que defino como "construção de fatores geradores"*, uma população que recebe um complemento de - senão apenas a única - renda, apenas tomará tais valores e os repassará a quem lhe fornece mercadorias e serviços, e concentrará renda em ciclo permanente (sustentado por estado provedor, não fomentador e controlador), perpetuando pobreza.

*Se aqui quiserem colocar pupunha, caju, dendê, babaçu, fábricas de TVs de LCD ou apenas calçados populares, pouco interessa.

Como a pobreza não me parece atrativa, gerará migração para onde possível (que é sempre preferível na riqueza que o certo na pobreza) renda possa ser obtida.

Como habitarão pobres não onde, como disse lá no início, seja fácil e economicamente habitável, buscarão novos "Jardins Pantanal". Aliás, como em Campinas, no mesmo dia, nas notícias locais da mesma rádio afirma-se, reclama-se que ocupam margens de córregos (talvez, inclusive, onde no futuro seja necessário construir um segundo aeroporto, ou algo do mesmo porte e necessidade).

Tal como os ciclos climáticos, este ciclo se perpetuará, tão simples e claramente quanto isso.





mt62.spaces.live.co

Um adendo: existe uma falácia recorrente de que ao ceder-se valores, pais e parentes de crianças colocadas em atividades terríveis e completamente inviáveis como quebrar basalto para produzir brita sem nem ao menos adequadas ferramentas, contando com a força de suas mãos e braços, irão ser retiradas de tal desgraça (mais uma vez, o termo adequado é este) pois a renda da família agora é suficiente. Sim, parte será retirada. Mas parte, será lá mantida, para aumentar a renda da família.

Esta falácia, e muitas outras similares, parte do absurdo que o ser humano seja intrinsecamente bom, inclusive com seus mais próximos, mesmo sob relações de parentesco, e que contenha-se em seus desejos de consumo, ou ambições.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Idéias "brilhantes" III - Metrôs para a Copa


(Simplesmente não resisti colar esta imagem nesta blogagem.)

Recentemente, em visita à Porto Alegre, cidade que habito/habitei desde 1969, o que já é um bocado de experiência, assisti aos desabafos de políticos e jornalistas sobre o abandono do projeto de um metrô "para a Copa do Mundo" para esta cidade. Ouvi toda a "grita" (em gíria da minha geração para a situação) sobre o abandono da obra por não se poder ser realizada "a tempo" da Copa (segundo consta, o motivo principal desta brilhante decisão).

Analisemos alguns pontos:

1.Se um necessário metrô para Porto Alegre não começar a ser construido AGORA, começará QUANDO?

2.A Copa ao que me parece, passará, como parece evidente que passou para Montevideu (e pelo visto, há mais de 50 anos). Mas tal como Montevideu, Porto Alegre continuará lá, e crescendo, e tal como hoje, com mais habitantes que Montevideu.

3.Se é necessário HOJE um metrô para Porto Alegre, o que se dirá daqui a 10 anos, e aqui, pouco interessa mais carros, ou nenhum carro, por mudança completa dos paradigmas de transporte individual e coletivo em nossas cidades. Se tornará necessário um metrô, e isto é o que interessa.

Note-se que podemos substituir Porto Alegre por qualquer cidade, nos argumentos acima, e o problema continuará. Nem tratemos de discutir casos muito mais graves, como São Paulo, que apresenta um metrô que é fração mesmo de cidades de não mais alto padrão econômico, como a Cidade do México, e muito menos que metrópoles globais, ou mesmo cidades menores que ela de países mais ricos, como Paris ou Londres. Posso pular também outras cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte.

Por outro lado, decide-se somar (ou seria socar) ônibus ou estreitar avenidas (pois é isso que feito, por fim) para colocar corredores exclusivos para ônibus aproveitando somente ÁREA e não o pouco explorado VOLUME das cidades. Nem se faz necessário tratar das questões ambientais.

Aqui, trato de uma questão mais "macro": se não forem iniciadas HOJE expansões da infra-estrutura brasileira em TODOS os modais, seja ferroviário, seja transporte urbano, sejam estradas "de rodagem" mesmo, sejam portos, qualquer ilusão de crescimento sustentado por longo período será mais cedo ou mais tarde estrangulado por inúmeros gargalos, independentemente de uma Copa, uma Olimpíada ou seja lá que evento global for.

Observemos o que me parece uma banal verdade que obras de infraestrutura são feitas para a economia, e não para um evento.

A questão é tão grave que hoje, na maior metrópole do país, há uma fração significativa de trabalhadores que chegam a gastar 4 horas em deslocamento, e paradoxalmente, seu próprio deslocamento causa este desperdício, pois transporte goza de determinados sinergismos. Tal tempo, que é mercadoria de estoque limitado e fluxo inflexível gera custos, e tais tem de ser cobertos, ou encarecendo proibitivamente as mercadorias brasileiras, esmagando sua competitividade, ou reduzindo a já estrangulada renda do trabalhador brasileiro, em duas frentes, de seus próprios custos no deslocamento e dos preços do que consome. E tal questão não será minimizada por uma ou várias Copas.

Assim, voltando a nos concentrar num metrô, e este nem necessita ser o de Porto Alegre, repito e deixo bem claro, a data na qual tem de ser iniciada sua construção já passou, e agora, pouco interessa qual cidade brasileira vai estar coberta de obras, mesmo se tiverem de fazer grandes desvios belos ônibus de seleções de futebol.

domingo, 25 de outubro de 2009

Idéas "brilhantes" II - Roletas russas



Há anos atrás, em fervorosa e desagradável discussão com certas pessoas, em questão importante inclusive na minha vida, além de ser uma questão de negócios, logo dinheiro, cunhei a seguinte frase, que coloco em cada momento adequado, em qualquer discussão, sobre qualquer assunto, quando detecto que a quase patologia que ela mostra surge, em meio às variáveis em análise:

Tem gente mais preocupada se a sela do jóquei está macia e esquece que o cavalo está com a pata quebrada.

Devomos, em qualquer atividade, em especial as relacionadas, em suma, com dinheiro, em focar-se nos problemas principais, os mais nevrálgicos.

Nesta questão. assisti ao longo de mais de vinte anos a empresários e profissionais diversos discutirem horas sobre uma conta mensal de motoboy de não mais de R$ 1000 e não perder quinze minutos discutindo sobre o valor de um frete semanal de R$ 2000 com uma transportadora. Assisti horas de negociação sobre etiquetas de 3 centavos e não metade do tempo sobre o custo de uma matéria prima de R$ 5 na mesma unidade de produto. Exemplos poderia citar até esta blogagem ocupar horas de sua leitura. Logo, sejamos coerentes.

Aqui, para melhor ilustrar e tornar o texto mais leve, vale a pena também citar a Lei de Murphy, em seu campo chamado "Reuniologia":

Lei de Old e Khan

A eficiência de uma reunião é inversamente proporcional ao número de participantes e ao tempo gasto nas deliberações.

Que sempre cito modificada em:

A duração de uma reunião é inversamente proporcional à sua importância.

Pelo motivo mais profundo do argumento aqui colocado, nem tão nas entrelinhas, mantenho o foco de todo meu trabalho em preços e custos, área que muito me rendeu, a conceituação permanentemente em observação do que chamo de custo gerador, do que inclui-se dentro do conceito de fatores geradores, na dificuldade, de fornecedores nevrálgicos, no levantamento de custos, dos custos predominantes, percentualmente significativos, na formação de preço, da fusão de valores necessários, antes dos desejados, da preponderância do financeiro sobre o marketing puro. Em outras mais resumidas palavras, que a melhor maneira de se fazer um negócio muitas vezes é não fazê-lo.

Seguir em caminho contrário, como gosto de dizer, é jogar roleta russa com o tambor do revólver com apenas uma câmara vazia. Para revólver de 6 tiros, troca-se uma probabilidade, a grosso modo falando*, de 1/6 por uma de 5/6 de enfiar-se uma bala na cabeça. Ou seja, é a opção probabilisticamente mais favorável de se cometer erro grave, quano não um desastre completo.

*Meu lado engenheiro e minha paixão por Física me obriga a ser exato, e considerar variáveis envolvidas que à primeira vista pareçam totalmente despezíveis, outro de meus problemas com inúmeros administradores. Sempre deve-se considerar a tendência dos sistemas ao caos, os erros do humano, ou como falo em outras palavras em especial em levantamento de custos: lâmpadas queimam, logo, o mundo não é ideal, mas real.

Agora, uma nota: no Rio Grande do Sul, chamamos catracas, como as de ônibus, ou de portas de empresas, de "roletas".



Como exemplo do contrário, são simplesmente hilárias brilhantes iniciativas de em país que possui escolas que nem teto possuem, pretender-se controlar a presença de estudantes em escolas com roletas eletrônicas, como foi pretendido pelo então Ministro da Educação, Tarso Genro, e pelo visto, perpetuada recentemente por seu sucessor:

CAUSA OPERÁRIA NOTÍCIAS online

Note-se que até a "extrema esquerda" concorda comigo. Logo, quando visões de mundo completamente antagônicas concordam, é bem provável, senão certo, que alguém contrário a ambos esteja errado.

De maneira mais sutil em termos estatísticos e probabilísticos, e muito do que seja Economia, com letra maiúscula, implica em distribuições de riqueza gerada, e nesta, pagamento de salários. Claro que aqui refiro-me aos sofridos professores, que invariavelmente, em lento mas inexorável processo, por serem fatores nevrálgicos em educação, tenderão os melhores a buscar melhores (mais rentáveis ao menos) profissões, nem mesmo carreiras, e restarão os piores, que se sujeitam a valores vis, e as piores condições, com ou sem catracas para controlar presença de quem seja.

Para encerrar esta, é conveniente esquecer-se momentaneamente a sela do jóquei, e tratar da saúde do cavalo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Idéias "brilhantes" I - Trem bala fazendo goma

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Os governos brasileiros primam por terem idéias que sarcasticamente chamaria "brilhantes". E aqui, o "brasileiros" significa qualquer nível de governo sobre solo brasileiro.

Dentre diversas coisas que os dois últimos governos federais tem tido como destacados projetos, alguns casos merecem molduras.


Trem "Bala"

Nada mais perfeito que ligar quaisquer duas das maiores cidades brasileiras por meio de trem, sendo que numa primeira etapa, ligar dentre estas, as duas dentro da chamada "região metropolitana estendida": São Paulo, chave para todo o desenvolvimento brasileiro, e Campinas, cidade que conhecendo bem, sei que será por muitos anos chave para o crescimento econômico do Brasil, seja pela posição, seja pela área, seja pelo parque educacional e de pesquisa, seja pelo parque industrial e tecnológico, seja por seu aeroporto (e nenhuma das cidades entre elas é menos importante).

Como já disse, gosto de números e cálculos simples. Campinas dista de São Paulo 90 km. Mas façamos 120 km, para efeito de desvios e manobras, para o deslocamento de um trem entre elas.

Para esta distância, considerando 4 paradas intermediárias, e aqui não quero saber se serão a grande e importante Jundiaí ou as pequenas Caieiras ou Cajamar, entre as quais o trem teria uma velocidade média de apenas 150 km/h (o antigo trem entre estas cidades alcançava 100 km/h, e qualquer trem alcança hoje esta velocidade). O trem faria aceleração e desacelerações de 10 km a velocidades médias de 75 km/h (na verdade, faz em menos). O que proponho é um modelo harmonioso de paradas. Um raciocínio de trem metropolitano, não um raciocínio de "trem bala".

Os tempos resultariam no seguinte:



Notemos que o tempo total seria de pouco mais de uma hora e meia, com pequenos problemas, especialmente de embarque e desembarque entre as cidades.
Agora coloquemos dados similares para um trem de alta velocidade ("bala") com até algumas vantagens nas paradas e reduzindo a distância, pelo traçado mais retilíneo:




Notemos que com tal conjunto de vantagens, ainda sim a redução teórica de tempo se daria de 92 para 35 minutos. Pode parecer muito, mas em termos de custo é completamente inviável, pois em função de uma redução de pouco menos de uma hora, ao invés de um preço de passagem próxima a de uma passagem de ônibus (hoje na faixa de 20 reais) passa-se a exigir-se uma passagem na faixa de uma passagem de avião nas melhores ofertas (só para se ter idéia, uma passagem Porto Alegre-Campinas pode ser comprada na faixa de 69 a 100 reais, e para uma distância de mais de 800 km, e um tempo de viagem de pouco mais de uma hora).

Mesmo fazendo uma ligação Campinas-São Paulo diretamente, por trem "bala" e esquecendo completamente as cidades intermediárias e sua importância em recursos humanos para a economia da região (lembrando, finalidade exata de um trem de alta velocidade, que não é adequado à cargas, a não ser a custo elevadísssimo com enormes problemas de logística), o tempo da viagem propriamente dita pode ser calculado em apenas 20 minutos. E não traria grande vantagem ao modelo de trem mais convencional.

Fazendo o mesmo cálculo para uma ligação direta por trem "bala" entre São Paulo e Rio, e considerando um distância de 400 km, obtem-se pouco mais de 80 minutos. Nenhuma vantagem em tempo frente ao transporte aéreo, e nada possível ainda em termos de custo para um grande volume de usuários que mesmo com passagens a menos de 50 reais nas ofertas mais agressivas do transporte aéreo abandona o transporte rodoviário, e não abandonaria quando em viagens emergenciais, sem ofertas promocionais, por simples renda.

Nem tratamos aqui de questões de topografia, curvas extremamente limitadas ou projetos de remodelações urbanas, em túneis mais longos que linhas de metrô através de cidades que nem metrô possuam.

Assim, o que recomendo é o modelo norteamericano de trens de relativamente alta velocidade (100 a 150km/h), mas que aproveite as relíquias da malha ferroviária anterior, não necessite nem curvas de grandes raios, nem túneis insanamente longos sob áreas urbanas, não sofra com variações de altitudes que chegam a até 800 metros (as quais já são por si inadequadas para trens de alta velocidade), nem desapropriações inexecutáveis a custo e prazos razoáveis (com os eternos conflitos de indenizações, ainda mais na lerda/sobrecarregada justiça brasileira).


E cá entre nós: não temos nem malha significativa para carga, e queremos ter malha de trens de alta velocidade para passageiros?



Anexos

           O trem bala no Brasil é inviável não só pelo custo, mas também pela infra- estrutura de um modo geral. As estações, os trilhos, os fios, ... (página expirada)
          Onde destacamos:

Os professores chamam a atenção para a ocupação atual da ponte aérea Rio-São Paulo, um dos corredores nacionais mais rentáveis de transporte de passageiros: 57%. "Obviamente, algumas companhias conseguem a totalidade em alguns horários, mas não todo o tempo. Tomando isso como referência, uma taxa de mais de 90% não nos parece viável, mesmo com uma taxa de eficiência bem alta, a não ser que fosse elevado o valor da tarifa. Mas aí o projeto perderia em competitividade de preços."

          Onde destacamos:

Os professores do Ibmec-RJ fizeram uma simulação para uma taxa de ocupação do trem-bala entre 40% e 50%. "A tarifa que se precisaria cobrar para garantir a rentabilidade seria próxima a R$ 1 por quilômetro, o dobro do que está sendo pedido", diz Ozório. Ele lembra que isso determinaria uma passagem final em torno de R$ 400. "Seria R$ 100 a mais do que a tarifa média da ponte aérea, o que criaria outra dificuldade de competitividade."

Três slogans emitidos por mim no Twitter: 

  • País que tem peste de pobre não pode ter ainda trem de rico.
  • País que tem pobre no hospital no chão e não em maca não pode ter ainda trem de rico.
  • País que tem esgoto no meio da rua onde pobre mora não pode ter ainda trem de rico.

Extras

1) Relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União aponta como impossível estabelecer-se quanto custará o projeto entre São Paulo e Rio, devido a estudos geológicos para a obra apresentarem-se insuficientes, com a realização de apenas 4,4% da quantidade mínima de sondagens necessárias às estimativas para o custo da obra.

Custo do trem-bala é imprevisível, diz TCU; Folha de São Paulo

2) A construção de linhas de transmissão de energia elétrica não foi prevista no estudo para a aprovação da viabilidade do trem-bala, propiciando com isto um corte no custo de pelo menos R$ 1 bilhão, em um total de R$ 33,1 bilhões. Tal questão foi apontada por um dos grupos interessados no projeto durante os recentes pedidos de esclarecimento ao edital.

Soma-se à falta de linhas de transmissão de energia  a questão apontada por estudo de Marcos Mendes, consultor legislativo do Senado, mostrando que foi excluída a reserva de contingência do projeto, que em projetos de grande porte, podem representar até 30% do valor do projeto.

Dimmi Amora; Edital omite custo de energia do trem-bala; Folha de São Paulo

Tais fatos me levaram a acrescentar outro aforismo no Twitter:
  • A velocidade teórica do pretendido trem bala só é superada pela sua produção de micos.
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Tais

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - II


Algumas notas iniciais

Todos que me conhecem sabem de duas coisas sobre minha visão em economia:

Não acredito que sem a modificação dos indivíduos, se modifique o todo (e isto já poderia ser acrescentado às minhas "confissões").

Não gosto de intervenção e participação alguma além da execução da lei e de investimentos temporários, em épocas de crise, do estado no mercado.

Aqui, poderia escrever também: todos sabem do quanto odeio a participação do estado na economia.

Mas explico mais detalhadamente, afirmando que o estado pode investir em infraestrutura em toda e principalmente na maior escala, mas imediatamente deve vender tais ativos, recapitalizar-se e "reciclar" tal volume de investimento, ou formar reservas. Pensar o oposto conduz ao nosso passado, onde o governo brasileiro tinha até fábricas de zíperes.

Antes de continuar, lembrando um amigo meu, Jorge, um representante de calçados, já falecido, num papo de bar, e duas de suas muitas frases lapidares:

-O brasileiro para aprender que lugar de papel amassado é no lixo, vai levar 30 anos. (Ele falou esta frase em 1989, e ao que parece, pouco mudou.)

-O estado não tem de sair da economia, tem de sair do governo. (Discordo completamente, e vou muito mais longe e fundo, mas a ironia continua válida).


Um pouco de História

No histórico do Brasil, no equipar de suas forças armadas, já passamos por períodos de possuir excelentes fábricas de blindados, como a Engesa, fabricante dos bem sucedidos Cascavel, um carro de reconhecimento mecanizado, Urutu, um veículo blindado para transporte de tropas e o de certa maneira amaldiçoado pelo contexto carro de combate pesado ("tanque") Osório.

Ainda sobrevivente do período é a Avibras, fabricante do lançador de misseis terra-terra Astros II - aqui, na Wikipédia - que encontra similar no norteamericano M270.

O Urutu (ou modernizado, ou similar) seria extremamente útil nos nossos conflitos urbanos, especialmente quando o exército tiver de apoiar as polícias militares porque nossas guardas municipais (e não só elas) fizerem alguma bobagem, ou quando os traficantes de drogas/milícias desejarem estabelecer subestados/estados alternativos, como seguidamente vemos no Rio, nos quais veículos com peças de artilharia são inadequados e um tanto perigosos, e se impedidos de serem periogosos, completamente inúteis e de uma intimidação desagradável aos olhos do mundo e antes disso completamente desnecessária.

O Cascavel (ou modernizado, ou similar, novamente) seria extremamente útil, aí sim, em missões de reconhecimento, e na destruição de bases, laboratórios e pistas de pouso de traficantes, em especial na savana amazonense, em apoio às atividades da polícia federal ou das estaduais.

O Osório (idem) seria a última linha de defesa, pois ao que parece, não temos pretensões de atacar nossos simpáticos vizinhos Uruguai, Argentina e Paraguai (talvez a não ser no desejo de alguns após determinadas partidas de futebol), os únicos terrenos nos quais tal tipo de veículo seria útil.

Alerto que os parágrafos acima continham um tanto de sarcasmo, pois determinadas idéias de nossa doutrina de defesa nacional beiram a loucura, e antes destas aplicações bélicas, nosso exército necessita de caminhões para levar desde água até medicamentos em catástrofes.

Devemos lembrar que há antecedentes de tentativas de implementação da industrialização de blindados brasileiros, exatamente adequados às nossas necessidades, como o Tamoyo, com os critérios que aqui defendo de alto índice de nacionalização, ausência de importações e compatibilidade com os outros equipamentos já existentes.



Nota importante: Na verdade, no passado recente já foi incapaz de levar água em regiões sob seca, de onde deve-se perguntar como faria para em tempo de guerra, pois se não é capaz de levar água, não é capaz de levar coisa alguma para tropas em ação.

Sem verba, Exército deixa de levar água para vítimas da seca; Outubro de 2007

Sem verba, Exército deixa de levar água para vítimas da seca; Outubro de 2009

(Notem a repetição da manchete.)

PI: Exército aguarda verba para levar carros-pipa a 58 cidades; Setembro de 2009.

Qualquer idiota é um estrategista, o problema é logística. - Eisenhower

Sem falar apenas em logística e intendência, o exército e as demais forças armadas brasileiras precisam até padronizar seus fuzis.

O exemplo a ser seguido, maximizando os recursos e minimizando os custos, é o do exército soviético na 2a Guerra Mundial, com filosofia "uma arma pessoal, um tanque, um avião" de Stalin e seus subordinados, em contraste com o caos de fabricantes, peças, calibres e modelos dos alemães. Por exemplo muito adequado, a razão deste problema alemão estava, antes de tudo, numa necessidade inicial do partido nazista de agradar a inúmeros industriais alemães.

Entendam os responsáveis pela defesa de nosso país que equipamentos militares não são linhas de veículos de um fabricante de automóveis, e mesmo nestes, a minimização de plataformas e a padronização de componentes hoje é um foco em administração de alto nível.

Armas e PIB

Tratemos também de lembrar que o desenvolvimento de armas também levou Israel, por exemplo, a ter um PIB da ordem de 232 bilhões, enquanto a poderosa Arábia Saudita, com suas imensas reservas de petróleo, possui um PIB de 396 bilhões e nenhuma indústria significativa.

Ou seja, com imensos recursos minerais, o país mais rico da região possui PIB apenas 1,7 vezes maior que outro industrial e agrícola, mas com uma população mais de 3 vezes maior (24,7 contra 7,4 milhões), logo, renda mais baixa.

Um exemplo de veículo pesado desenvolvido especificamente para o território israelense e exclusivamente por sua indústria é o Merkava. Deve-se destacar também a enorme variedade de equipamentos militares e munições desenvolvidas pela IMI (Israel Military Industries Ltd.), então Israel é um exemplo a ser seguido, não só em iniciativa, quanto em método.

Consequências do desenvolvimento de armas

Devemos observar que o desenvolvimento de equipamento militar, levando ao desenvolvimento de materiais, leva ao desenvolvimento de, entre outros, equipamentos, materiais e tecnologias para atividades em ambientes extremos, entre eles, o de prospecção de petróleo.

Logo, os países industrializados, por tal motivo, são aptos a desenvolver as mesmas tecnologias que a muito custo e de maneira bastante independente desenvolvemos.

Mas também o desenvolvimento de equipamentos militares poderia se beneficiar do desenvolvimento da indústria de equipamentos de petróleo (e inclusive, em paralelo, da indústria naval) e produzir um sinergismo com esta.

Assim, neste jogo, não pode-se perder, mas claro que tal tem um custo.

Este custo, sob qualquer análise, é coberto a médio e longo prazo pela geração de empregos e pelo imenso volume de profissionais "chão de fábrica" especializados que formaríamos: soldadores, lixadores, torneiros, especialistas nas áreas de fundição, montadores, etc. Uma diferença contábil ainda em aberto seria e deve ser sempre coberta por uma cota de sacrifício do estado, pois esta é sua finalidade ultima em economia.

Devemos também, voltando à questão da proteção de nossas reservas marítimas, nos lembrar quais sejam nossas real e legalmente.

Explico.

Observações sobre algumas questões legais

As águas territoriais brasileiras são de 200 milhas. Uma plataforma holandesa, por exemplo, situada a 201 milhas do litoralk brasileiro, explorando o pré-sal não estará de forma alguma violando nosso território. O estado brasileiro é proprietário de todos os recursos minerais sob nosso território "da superfície até o cenro da Terra" (em contraste com outros países, onde seria o proprietário do terreno, como os EUA ou a Malásia) e pouco interessa nesta argumentação (tanto num caso quanto noutro) se o recurso mineral flui ou não (aqui, recomendo assistir o excelente filme Sangue Negro, There Will Be Blood de 2007). A posição de nossa hipotética plataforma holandesa seria legal, e qualquer ação brasileira sobre esta plataforma seria ilegal.

Afirmar que a plataforma holandesa "suga" nossas reservas seria o mesmo que afirmar que uma plataforma brasileira situada a 199 milhas "suga" reservas que sejam internacionais.

O que garante com segurança nossas reservas marítimas é a capacitação tecnológica única da Petrobrás para águas profundas, e cá entre nós basta isso. Para extrações em águas internacionais, provavelmente seria desenvolvidos recursos idênticos aos da Petrobrás, que não são coisa alguma transcendentes aos recursos de outros países, obviamente com destaque para os altamente industrializados.

E aqui devo destacar que exatamente a clareza e correção deste argumento está em que a Petrobrás depende de fornecimento de equipamentos, materiais e componentes externos aos parque industrial brasileiro, exatamente por nossa incapacidade de produzí-los.

Nestas prospecções e extrações em águas internacionais a Petrobrás seria chamada como parceira, mas antes, esperemos pela viabilidade, que até agora, tem-se mostrado um enorme problema, ainda mais com reservas significativas de mais baixo custo espalhadas pelo mundo, e sempre contndo com um horizonte possível de um abandono da extração massiva de combustíveis fósseis devido ao efeito estufa e a redução dos custos de outras alternativas.

Portanto, o nosso, e o também não nosso petróleo pré-sal está seguro sob quilômetros de rochas, e não serão forças armadas que irão tirá-lo de lá, nem utilmente protegê-lo.

Finalizando

Mas chega de falar em equipamento militar e foquemo-nos em economia, e o estado nesta, neste campo. Defendo com unhas e dentes que o governo brasileiro deveria ter dado integral apoio não aos empresários e investidores da Engesa, mas ao conjunto de recursos tecnológicos, materiais e humanos desta empresa (sem falar em diversas outras), em suma, sua capacidade, em todos os sentidos.

Toda atividade de desenvolvimento militar permeia a sociedade com inúmeros avanços: metais, materiais diversos, eletrônica, software de computadores. Seria, portanto, vital a longo prazo a preservação deste conhecimento e formação contínua de profissionais (ou nossos dirigentes acham que bancadas de universidades formam engenheiros plenamente em qualquer campo? Idem para formação técnica média).

Portanto, voltando à minha repulsa pelo estado na economia, corrijamo-nos: depende.

Agora, depois do leite derramado, temos de "comprar leite no exterior", e pouco gerará de sólido e futuro em nosso país tal iniciativa, e o custo disto será o mesmo ou maior, e os resultados em qualidade e eficiência, um tanto discutíveis (sem falar de zero de empregos em produção direta e sistemistas).

Logo, a marcha para o insano continua, e ainda não aprendeu-se que lugar de papel amassado é no lixo, e cá entre nós, discordando de determinadas nuances da economia libertária (com a qual inclusive em boa parte concordo), prefiro torneiros mecânicos e soldadores bem empregados que catadores de papel no aspecto gerar renda para suas famílias e para pagar impostos para o estado que quer (e tem de) se armar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - I

Alguns fatos recentes me espantam.

Um país que tem um volume enorme de pobres, que possui problemas de contrabando de carros roubados, drogas e descaminhos variados em suas fronteiras, que tem de patrulhar suas águas costeiras até para questões ecológicas, parte para dois sonhos exóticos, para não chamá-los de delirantes:

1-Ter submarino nuclear (se não, mais de um) somado à uma frota de submarino de patrulha.

2-Ter aviões caça de interceptação supersônica (ponto que já tratamos) somado à compra de relativamente grande número de helicópteros.
Analisemos este primeiro projeto do ponto de vista econômico e militar, e ainda demos algumas pinceladas sobre a compra de helicópteros.

Segundo citações do próprio governo federal, os contratos referentes à compra de helicópteros e submarinos alcançarão R$ 22,5 bilhões, ou US$ 12,5 bilhões na cotação de hoje. O número por si só já é um problema, mas ainda mais quando percebe-se que é aproximadamente 0,63 % de nosso PIB de US$ 1,981 trihões.

Embora possa parecer uma porcentagem insignificante, mesmo esquecendo as prioridades que nosso governo tem em outros campos e mesmo com manutenções mínimas de nossas insignificantes forças armadas*, seria o mesmo que os EUA gastarem quase 16% de seu colossal orçamento militar com apenas dois tipos de equipamento.

*Sim, são insignificantes para nosso território e população, basta ver os EUA, Canadá, China, Índia, Austrália e Rússia, países que apresentariam um espectro completo destes dois ítens, e ainda mais variado PIB.

Falando-se em Rússia, o delírio armamentista soviético sem correspondente geração de riqueza tem muito a nos ensinar, a começar, entendendo todo o implicado e representado na foto abaixo.



Alega-se também que tal aquisição mobilizaria 44.800 trabalhadores e mobilizaria os setores naval, químico, elétrico, eletrônico, metalúrgico, de telecomunicações, mecânica pesada, motores, informática, construção civil, transporte, tecnologia de informática, armamentos e munição.

1o) Como coisa que este número fosse mais que 0,39 % da massa de desempregados de 11,454 milhões da nação (aqui, o termo nação é perfeito, para lembrar que um país com seu povo habitante assim se chama).

Logo, não parece que 0,39 % de solução temporária seja motivo para 0,63 % de problemas.

2o) Como coisa também que o que apresentaremos somente para a marinha a seguir, e ainda mais o que pretendemos apresentar para as forças terrestres, sem falar no já tratado para nossas forças aéreas, e somemos aqui os helicópteros não fosse mobilizar os setores naval, todos em conjunto não fossem mobilizar o setor químico (pois quem fabrica explosivos fabrica tintas, corantes, plásticos e fármacos) e a lista se repetiria banalmente pela lista toda apresentada por nosso Ministro da Defesa, pois parece-me mais que claro que ao se produzir coisas aqui, e ao mesmo custo global aproximado, e de mesma natureza, se obteria os mesmo resultados.

Mas com uma pequena mas vital diferença.

Ao se mobilizar a produção mais pulverizada de equipamentos simples e necessários imediatamente, também formamos parque industrial para abastecer outros países (muito mais numerosos) que destes equipamentos simples necessitem, e permanentemente.

Assim, mais uma vez, relembro por meio deste exemplo macro o que deve-se lembrar no dia a dia, tanto de empresas ou instituições quanto de nossas vidas pessoais, e destes, também em governos. Algumas perguntas sempre devem ser feitas: -para que serve? -quanto trará de retorno? -podemos comprar? -não existe alternativa melhor?

Este texto, a partir deste ponto, lembrando nosso anterior, poderia se chamar "a garoupa que pretende se tornar tubarão".

Mas mais que tudo, esta argumentação de que nosso país necessita de submarinos é simplesmente ridícula e a analisaremos, e assim demonstraremos.

Seria extremamente mais útil, aliás, útil, nada mais, a construção de algumas poucas fragatas, algumas corvetas e para diferenciar uma escala menor, muito mais necessária, uma grande quantidade de barcos de patrulha, de preferência, com boa velocidade.

Não esqueçamos de navios de reabastecimento e navios hospital.

Nossos problemas são muito mais de barcos trazendo maconha enlatada e descaminhos diversos, sem falar de contrabando de armas que com uma marinha como a dos EUA, que por sinal, nem deveria ser colocada como problema, pois insolúvel, e o então simplesmente ridículo argumento de proteger nossas reservas de petróleo teria algum mínimo nexo.

Explico melhor em poucas palavras: Se os EUA quiserem tomar conta pela força de nossas reservas, o fariam mesmo se nossa marinha crescesse até o tamanho da marinha inglesa, e pouco interessaria se um, dois ou todos nossos novos submarinos fossem nucleares.

Os números simples e claros estão no meu artigo Poder militar dos EUA.

Mas não temos de nos preocupar com nações ricas, pois estas considerariam muito mais proveitoso (e barato) apenas comprar nossas reservas, e não tomá-las. Nações mais pobres (e convenhamos, tirando em renda per capita, a China já o deixou de ser há muito) seriam mais perigosas.

Aliás, em função de comprar nossas reservas, e ao que parece é isso que queremos fazer com estas, vender, poderíamos terceirizar nossa defesa, em razão exatamente de parcerias de defesa, como o fazem Arábia Saudita, em destaque, e diversos outros países do Oriente Médio.

Mas também convenhamos, ninguém nunca atacou reservas sob o solo, quanto o mais, reservas sob o mar, e muito menos, quando a principal e quase monopolista empresa em tecnologia de exploração de petróleo nestas condições seja do país a ser atacado.

E antes de nos preocuparmos com tal bobagem, tratemos de tirar o petróleo dali, viavelmente, e isto já é assunto para outro artigo.

domingo, 27 de setembro de 2009

O sabiá que quer se tornar harpia

Desde a administração de nossas finanças pessoais, passando por empresas de qualquer tamanho e até governos, devemos escolher prioridades. Em administração de empresas em crise, defendo o foco em fornecedores/prestadores de serviço prioritários, que chamo de nevrálgicos, os mais, como defino, "geradores principais", pois eles sustentarão o fluxo de despesas no tempo, e não outros.

Um estado qualquer não é diferente. Aliás, destaque-se, nenhum estado por mais rico que seja não é diferente.

Um país que carece desde alimentos para frações de sua população, sistema de saúde público, segurança (no sentido policial) e dentro apenas destas três variáveis não consegue respectivamente: gerar renda para seus cidadãos para que não tenha que se preocupar com sua alimentação, nem com sua saúde a não ser em escala de epidemias e tampouco manter estruturas policiais capacitadas e bem pagas, logo não pode ainda pensar em se estabelecer com o potência regional, nem mesmo quando antes disso, necessite ao menos ter controle sobre suas fronteiras.

Recentemente vemos o governo brasileiro, que definamos, não é propriamente o Brasil, enveredar por planos de compras mirabolantes de caças supersônicos e submarinos.

No campo da força aérea, passamos já por opções de compras de Sukhoi Su 35* (estimativas de 45 a 65 milhões de dólares).

*Como coisa que nosso país tivesse mínima necessidade de interceptação de algum bombardeio pesado de grande altitude/velocidade das forças armadas dos países desenvolvidos, e como coisa principalmente que tais caças não seriam primeiro destruídos em solo por dezenas de bombas inteligentes destas mesmas forças agressoras, ainda que em balanço em combate conseguissem abater significativo número de atacantes. Este apontamento vale para todos os caças que apresentaremos.

Passamos por compras de F16 de valor de até 18,8 milhões de dólares, pelo Mirage 2000-5Br (23 milhões de dólares) e pelo JAS-39 Gripen (40 a 61 milhões de dólares). JAS-39_Gripen

Recentemente, estreitaram-se as opções entre o F18 (29 a 57 milhões de dólares), o Gripen (40 a 61 milhões de dólares), inclusive com a proposta de ser fabricado em território brasileiro, com a Embraer, e destacadamente no jogo político (como se isso intereressasse a fundo em estratégia militar e compra de equipamentos) Rafale (82 a 93 milhões de dólares).

Portanto, vemos que o orçamento unitário variou de 18 a 93 milhões, o que para 36 caças significaria de 0,6 a 3,3 bilhões de dólares.

Sempre confiei em números simples e claros, em modelos simplificados.

Com este valor de dinheiro, poderia se fabricar em território brasileiro o AMX ou o Mako Em quantidade de 38 a mais de 200 unidades, ou ainda no mínimo 60 Super Tucano e parar-se de pensar em delírios como o de enfrentar apenas em F16 (sem contar os restantes) mais de 1200 unidades dos EUA (o que me lembra a banal idéia, de como qualquer industrial de pequeno porte, ao invés de comprar maquinário novo, comprar usado da empresa maior que o disponibiliza para sua renovação de equipamento) e tratar de fazer o que necessitamos, que é forçar ao solo, capturar e até abater aeronaves de motor a pistão de traficantes de drogas e armas, descaminhistas e contrabandistas diversos, vigiar pistas de pouso destes e outras questões menores, como até a pacífica inicialmente vigilância de desmatamento de nossas florestas.
E ao que me parece, este volume de dinheiro ficaria predominantemente em nosso território e poderia gerar emprego para que o governo federal tenha de se preocupar menos com alimentação, menos com segurança pública e até se dedicar a gastar em saúde, onde ao que parece, já tem problemas bem maiores de seus cidadãos do que com bombas de qualquer de seus vizinhos, embora tenha com balas perdidas de armas de guerra e granadas em suas próprias cidades.



Voltando ao campo do ambiental e ecológico, se tal não o fizermos desde já, mais cedo ou mais tarde as nações mais poderosas do mundo se unirão, talvez por motivos exatamente nevrálgicos de sobrevivência, e imponham pela força das armas que tratemos de cuidar de nosso quintal, antes que tenhamos de cuidar do quintal dos outros.

O sabiá deve cuidar de seu ninho, antes de tentar ser a poderosa harpia em caça.

A seguir, pretendo tratar das forças terrestres de um estado que nem consegue alimentar, quanto mais pagar suas tropas dignamente, e esqueceu que sem desenvolvimento e produção de equipamentos e materiais militares, não se fabrica nem uma máquina de café expresso que se apresente, e obviamente, também não um avião supersônico de combate.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Confissões



Lembrando de Agostinho de Hipona, aquele que é chamado pela influência da Igreja Católica de Santo Agostinho, abro este blog, onde colocarei minhas observações sobre questões de Economia, Mercado e Finanças, assim cmo também sobre inseparáveis questões em Política, por confissões de meus credos nestes campos. Ao longo de suas edições, voltarei a colocar outras, ainda em elaboração.

Acredito que o sistema econômico capitalista é o único capaz de globalmente gerar riqueza, mas acredito que somente o faz quando foca-se na distribuição da riqueza gerada entre as classes que naturalmente forma.

Acredito que a economia está destinada ao desastre se mais que o capital e o trabalho, não respeitar a natureza e conservá-la, pois toda a riqueza advém fundamentalmente, pelo trabalho, dela.

Acredito que os maiores ganhos econômicos se dão quando simultaneamente o capital privilegia no global a distribuição dos ganhos aos trabalhadores em todos os seus níveis e quando fatores ecológicos são tratados como fundamentos para a sustentabilidade de uma atividade a longo prazo.

Acredito que quanto maior a velocidade de liquidez desde a classe alta, proprietária dos meios de produção, para a classe média, administradora dos meios de produção, e (e desta) para a classe trabalhadora basal, propriamente dita, sustentáculo final da pirâmide social e única em contato com o ente econômico natureza, maior a distribuição e conjuntamente a geração de riqueza.

Acredito que o valor das mercadorias e serviços não podem ser estabelecidos por qualquer critério único e simples, e tem de incluir o imponderável e o subjetivo, o desejo pelo seu consumo ou requisição.