quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Economia em combustão, em chamas, em cinzas… - 1


Reflexões mercadológicas etílicas

(Uma ironia, é claro. Texto a partir de uma postagem no blog Bolha Brasil .)

Em 2009 os EUA alteraram sua tributação para a importação de etanol e não sabendo manter minha boca fechada em determinados círculos, apresentei a hipótese, em meio ao perigoso ambiente de patriotas relacionados com o setor de energia de que (os EUA) não estavam fazendo aquilo pois necessitavam importar, mas sim porque já estavam se preparando para exportar.

Explico didaticamente: Uma analogia com a relação de comprador-vendedor de que “abro as portas de minha fábrica para você como fornecedor”, mas apenas para poder alegar que não estou precisando e disponho de um excedente, e então, já que estou sendo uma parceiro tão “legal”, quando você precisar, deve comprar de minha empresa.

Perceberam o sadismo?






Detalhe: eu já estava (junto com muitos, óbvio) a par do desenvolvimento do etanol celulósico, de questões de logística e armazenagem que são importantes na escala do processo para o milho, etc.

Aqui, devemos lembrar dos mantras de negação nacionais típicos, como: Leia-se: “milho tem altos custos”, “milho é inviável”, “cana é perfeita para o etanol”, etc.

Na verdade, eu ainda tenho o relatório do Departamento de Energia dos EUA, quanto a biocombustíveis, com previsões até 2022, e sei de ondas e ondas de capacidade de produção no campo que estão se somando no horizonte dos EUA.


Detalhe: Em 2008, as pesquisas totais em produção de etanol no Brasil montavam quanto muito uns R$ 50 milhões. Nos EUA, já atingiam US$ 1,4 bilhões. E parte disso era feito em território brasileiro, pois eles pesquisam também no uso de palha de cana e qualquer fonte de celulose.






A represa perigosa

Eis que veio a era de usar a Petrobras tanto para manter a inflação contida como, em contra-peso, de captar recursos para investimentos no pré-sal, e como “marisco” da terrível situação, entre um oceano revolto de uma economia com outros mecanismos de pressão em preços, e um rochedo das finanças internas em forte alavancagem e erros e mais erros, com ventos fortíssimos do cenário de preço de barril de petróleo, a casa veio à baixo, arrastando uma boa fração das usinas, fazendas e todo um dominó dos caldeireiros aos comércios e serviços diversos relacionados ao enorme ramo do etanol de cana.

Pois bem, se acham que já viram debate meu onde fui um chato além do habitual e aturei ofensas, nem sabem o que são certas posições e diversos adversários, ainda mais se o bolso deles está amarrado a certos sonhos, ainda que no fundo, completamente ilusórios.

Agora, mesmo lidando com outras coisas, ainda que no setor de energia, sou atropelado por notícias, e vou em busca de certas referências, que ao fim permitam-me dizer:

Não foi por falta de meus prudentes avisos.


O catastrófico rompimento

Importação de etanol atinge recorde no mês de fevereiro - www.abag.com.br

Destaco:

“As importações brasileiras de etanol bateram recorde no mês passado. No total, foram adquiridos 259.097 metros cúbicos (m³) em fevereiro, segundo dados do governo federal, contra 215.595 m³ em janeiro deste ano. No mesmo mês de 2016, 40.675 m³ entraram no País.

No entanto, de acordo com informações da consultoria Datagro, no mês passado, as aquisições do biocombustível chegaram a 205.734 m³, o equivalente a um aumento de 28,34% em comparação com janeiro.”

ANP: importação de etanol pelo Brasil cresce 403% no primeiro trimestre do ano - Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência do Brasil - agenciabrasil.ebc.com.br

Destaco:

“O diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Aurélio Amaral, disse que para um país produtor de cana e maior produtor de açúcar do mundo, o Brasil importou muito etanol no primeiro trimestre. “Foi uma elevação de 403% nos primeiros três meses do ano”, disse Amaral. Na visão do diretor, o aumento chama atenção, mas, ele ponderou, que, por questões tributárias, que influenciam a formação do preço no mercado, e de infraestrutura, o Brasil virou um país importador de derivados.

“Estamos importando muita gasolina também em uma quantidade muito grande, quase 70% de aumento, porque o nosso parque de refino não dá conta. Temos grandes desafios de infraestrutura para resolver. É isso que a ANP vem trabalhando de forma a subsidiar, com estes estudos, o governo para que a gente possa formular política para ir buscar superar este gap [lacuna]”, disse após participar da apresentação dos dados do mercado de combustíveis no Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no centro do Rio.”


Gritos de ajuda ao rei

Claro que nesse momento, surgiram os que querem a “ajuda do rei”:

Usineiros pressionam por alta na tarifa de importação de álcool - Joel Silva - 26.abr.2017/Folhapress - - www1.folha.uol.com.br

Destaco:

“Insatisfeitos com a alta acelerada da importação de etanol dos EUA, os produtores de cana-de-açúcar pressionam o governo para que eleve as barreiras contra o combustível que vem do exterior.”

““O Ministério da Agricultura será o advogado do setor produtivo na Camex. O principal argumento é que as importações quadruplicaram neste ano, até junho, ante o mesmo período do ano passado, o que levou o Brasil, pioneiro global no uso do etanol como combustível, a ser pela primeira vez na história importador líquido. Ou seja, importa mais do que vende no exterior.”


Pausa para meditações: Mercado é lixa, é pedra de amolar, é abrasivo,. não é pomada.


“O poder de regular a economia é o mesmo poder de distribuir favores.” - Jason Brennan


Mais pressão no alambique

U.S. Net Ethanol Exports Hit 52-Month High; China is Top Market for Second Straight Month - www.ethanolrfa.org

Destaco:

“U.S. ethanol exports totaled 95.5 million gallons (mg) in April, a slight 300,000 gallons higher than March and the highest monthly volume since December 2011, according to government data released today. China was again the top destination receiving 34.5 mg of U.S. product in April. India (14.6 mg) nosed out Canada (14.5 mg) as the second-largest export market. Those top three customers accounted for three-fourths of all U.S. ethanol exports in April. Year-to-date ethanol exports reached 344.9 mg, meaning the industry is on pace to ship slightly more than 1 billion gallons in 2016.”




Entendamos de uma vez por todas: os EUA, no que tange aos seus homens de negócios e suas associações, não são dotados do menor “bolivarianismo” em suas almas.


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