terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Protecionismo, um tiro no pé

 

"O protecionismo é como trancar a si mesmo em um quarto escuro. Embora o vento e a chuva sejam mantidos lá fora, também o serão a luz e o ar" - Xi Jinping 



www.sinaldetransito.com.br 



De um antigo diálogo em alguns desses blogs da vida, aproximadamente lá por 2011.


Por essa época, um deputado (Mendonça Filho) apresentou projeto para derrubar um aumento de 30% no IPI de carros importados, levantando bons argumentos


Projeto susta aumento de IPI de carros importados - 22/09/2011 - www.camara.leg.br 


Sabemos que desde os tempos de Collor a concorrência com veículos importados vinha estabelecendo novos padrões de preço e qualidade para a indústria brasileira.


Somando a uma postagem nossa anterior, o preço dos automóveis no Brasil é 130% superior ao dos EUA, 94% ao realizado no México e 74% maior do que o valor de venda na Argentina. 


Discutíamos na época se esse aumento de IPI viria a melhorar o desempenho da indústria brasileira. Carros tem uma certa subjetividade como produto, um afeto e apego, e faz parte da cultura do mercado consumidor brasileiro sempre tem como “sonho de consumo” adquirir um carro melhor. 


É quase uma unanimidade que carros importados são melhores que os nacionais, ou, no mínimo, há uma oferta de mais carros melhores no exterior que os ofertados na média pelo mercado nacional. Mais uma vez concluímos que o Governo deve ter se dobrado à pressões das três grandes montadoras nacionais. 


Como observado por um dos envolvidos no diálogo, esse IPI só serviria para institucionalizar o velho "esquema carroça" (Collor criou seu jargões, e talvez estes tenham se tornado permanentes na nossa cultura para estudar o mercado brasileiro), e levantava-se dúvidas de se Volks, GM e Fiat venderiam fora o produziam (e ainda produzem) aqui.


Analisamos à época que os carros mexicanos e argentinos, em compensação, muitos importados exatamente por montadoras estabelecidas no país, com diversas vantagens nas operações, obteriam uma boa fatia do mercado.


Em paralelo, percebíamos que o setor de autopeças iria ter de se esforçar para dar conta das demandas superaquecidas do mercado.


A importação de carros tinha, na verdade, fomentado a instalação de novas montadoras no Brasil, até por custos logísticos, por uma tendência geral de globalização da produção e distribuição desta grande indústria. O aumento do IPI iria retirar a necessidade do carro nacional concorrer, e consequentemente, os avanços de tecnologia, economia e até de design, desnecessários.


Um editorial sobre o tema, que gerou a conversa, à época:


A volta do cacoete do protecionismo (Editorial) - Nos nossos arquivos: docs.google.com 


É de se observar, que passada quase uma década, o pânico já se estabelece, e invariavelmente, se cai em contradições com “defesa de uma indústria nacional”:

É hora de agir para reconstruir a indústria - 

Não se devem repetir políticas protecionistas, mas expor o setor e toda a economia à competição - Editorial - 07/04/2019 - oglobo.globo.com 


Copiado em:  wiy.com.br  


Nos nossos arquivos: docs.google.com 


Rio Grande do Sul, Bahia, uma disputa, muita ideologia, alguma política e a Ford



Assisti no Rio Grande do Sul o governo PT entrar em atritos com a Ford na implantação de sua unidade de grande escala de produção na cidade de Guaíba (notemos a proximidade com o território argentino).

Houve um momento que chegou a ser feito um “ultimato” por parte da montadora, algo como “em tantos dias, ou aprovam o projeto ou o abandonamos”. Nesse momento, houve a mentalidade “quem a Ford pensa que é?!” - como coisa que não fosse das maiores montadoras / empresas do mundo - e após isso, em poucos dias, a montadora recebeu a fatal para o estado do RS proposta da Bahia, e como vemos, fundamental até para a própria estratégia da empresa na América do Sul, e futura vantagem para a Argentina.

Houve naquele momento a irracionalidade de perder-se algo que nunca se teve (um volume de arrecadação, com certo período de incentivos) e depois jamais passar a ter uma coisa que um dia poderia se ter tido.



“A receita que você nunca teve não vai ser perdida ao continuar a não tê-la.” 



O óbvio, e pior ainda se esquecemos das alterações no futuro:


Ford pagou R$ 200 milhões em impostos na Bahia no ano de 2019 - 12 de janeiro de 2021 - politicalivre.com.br


A peça chave, todos sabemos, para a transferência do projeto para a Bahia foi Antônio Carlos Magalhães.


Fábrica da Ford na Bahia gera atrito entre ACM e FHC - 07 de Julho de 1999 - www1.folha.uol.com.br 


ACM diz que brigou para levar Ford à BA - 23 de setembro de 2000 - www1.folha.uol.com.br


É de se destacar a posição logística em termos de Brasil vantajosa da Bahia, e a interação de fornecimentos com o pólo de Camaçari.

Devemos lembrar, só para entender os sinergismos de uma montadora e o que poderia propiciar apenas à cidade de Guaíba quando vemos o que ocorreu com Gravataí, mesmo com uma unidade de produção da General Motors bem menor.

Não são apenas os empregos e impostos da unidade de produção central, e também não se encerra nos sistemistas, mas até o bares, restaurantes e lojas de quaisquer bens triviais de consumo para as famílias dos trabalhadores que entrarão num equacionamento de uma industrialização desse porte.

Devemos lembrar que estão envolvidas as estratégias globais da Ford, suas novas plataformas e modelos que passarão a ser seus produtos carro-chefe (sem trocadilhos), e adiante, fugindo de uma Miopia em Marketing, a alteração de todos os paradigmas da indústria para os carros elétricos.



É uma decisão de negócio global, diz especialista sobre saída da Ford do Brasil - 11 de janeiro de 2021 - www.cnnbrasil.com.br 


Destacamos:

“Segundo Bacellar, não é de hoje que a montadora, além de não apresentar bons resultados nas operações no país, também tem se deparado com grandes desafios em nível internacional.


“Quando ela fechou a fábrica de São Bernardo, há pouco tempo, no mesmo ano ela também tomou a decisão nos Estados Unidos, que é um mercado pujante, de restringir o seu line-up, focar em modelos de veículos que eram mais rentáveis”, disse.


“Não é uma decisão específica no Brasil, é uma decisão de discussão de negócio global. A Ford precisava muito focar investimentos na China e precisava deslocar investimentos para poder viabilizar essas estratégias de negócios. É um mix de elementos.” ”


Por que a Ford decidiu trocar o Brasil pela Argentina? - economia.estadao.com.br


Destacamos:

“Isso porque, nos SUVs, é possível acrescentar um maior volume de ferramentas tecnológicas. “Nesse século, o carro vai ser um computador sobre rodas. O movimento da Ford segue essa tendência. Não tem como embarcar muita tecnologia em um Fiesta, porque o preço não comporta.”


Saída da Ford do Brasil reflete mudanças na indústria automotiva - diariodonordeste.verdesmares.com.br 


Destacamos:

“As transformações da indústria automobilística para atender novas demandas de mercado vêm provocando rápidas mudanças na estratégia das montadoras, que agora enfrentam o desafio de aumentar a competitividade ao mesmo tempo em que têm de fazer grandes investimentos em desenvolvimento e pesquisa. Os carros elétricos e autônomos, por exemplo, já são uma realidade nos Estados Unidos e Europa e em breve estarão no Brasil, impactando toda a cadeia do setor.


Os analistas dizem que a indústria automobilística vem tentando se reinventar no mundo todo, e uma das alternativas é focar nos veículos elétricos e híbridos, processo que exige elevados investimentos. A corrida para chegar a produtos viáveis nos mercados globais está deixando para trás empresas e países que entraram tarde, ou ainda nem participam dessa disputa, avalia Cássio Pagliarini, da Bright Consulting.


A perspectiva é que nesse cenário apenas incentivos fiscais não sejam mais suficientes para atrair investimentos no setor, que dependerá cada vez mais de infraestrutura e, sobretudo, de mão de obra qualificada. O fim da produção da Ford no Brasil e, consequentemente, de sua subsidiária Troller, no Ceará, apontam para essa tendência.”



Sobre a América Latina, somemos:

Indústria automobilística recua na América Latina


Situação da indústria na região tem perdido fôlego, à exceção do México, que tem sua produção alavancada com a recuperação dos Estados Unidos


15/10/2014 - exame.com 


Grandes montadoras perderam R$ 22 bi em 4 anos na América do Sul


Entre o início de 2014 e dezembro de 2017, Ford, GM e Volks tiveram perdas bilionárias. Para voltar ao azul, estão se reestruturando


01/03/2018 - exame.com 

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