Faremos aqui uma releitura de um texto de Stephen Kanitz sobre a questão do volume de dívida pública em relação ao PIB, seu perfil no tempo, com algumas observações:
E se a Relação Dívida/PIB Ultrapassar 100%? Estaremos Fritos?
A relação Dívida de um país como % do seu PIB tem sido usada sistematicamente por aqueles que querem disseminar pânico no setor financeiro, provavelmente ganhando com isto.
Você investiria em títulos do governo Brasileiro, se a dívida ultrapasse 100% do PIB?
Você exigiria um juro estratosférico para continuar financiando um país cuja dívida está prestes a ultrapassar 100%?
Como esta previsão ao lado?
Imaginem dever mais do que o PIB.
Quando o Brasil chegou a [uma dívida de] 60% do PIB em 1986, boa parte sendo uma dívida externa mais de 40 economistas brasileiros entre os quais Prof. Celso Furtado, Prof.a Maria Conceição Tavares, Prof. Paulo Nogueira Batista propuseram a Moratória da Dívida Externa, por considerá-la impagável.
Conseguiram a Moratória e uma década perdida.
O erro ou engodo sendo cometido é fácil de desmascarar.
Uma dívida é paga ao longo de 20 a 30 anos, especialmente se for de um país.
Dividir uma dívida a ser paga ao longo de 20 anos, pelo PIB de um único ano, é obviamente um erro monumental.
Multiplicar o PIB por 30 anos, seria uma fórmula mais apropriada, adequando a dívida ao seu prazo de pagamento.
Neste caso daria uma relação Dívida/PIB bem menor, aliás, 97% menor.
Uma dívida que chega a "100%" do PIB, na realidade é uma dívida de somente 3,3% do PIB de 30 anos, isto se não houver crescimento.
Se o PIB crescer 3% ao ano, algo razoável, então o número cai para 1.8% do PIB médio destes 30 anos.
Observação desse editor: Um dos problemas é que nosso crescimento médio tem ficado bem abaixo desse crescimento “razoável”.
Citemos:
“Segundo as expectativas de mercado para o PIB de 2020 (-6,5%), a taxa média real de crescimento do PIB da década já está no território negativo (-0,1%). Ao se considerar as últimas (junho/20) projeções do FMI (-9,1%), a média da década atual passaria para -0,3% a.a..”
Década cada vez mais perdida na economia brasileira e comparações internacionais
Os últimos sete anos (2020, inclusive) foram desastrosos do ponto de vista de crescimento econômico, pelo somatório dos três fatores (forte recessão, recuperação lenta e gradual e coronavírus)
02/07/2020 - portal.fgv.br
Retornando ao texto de Kanitz:
Entre pagar 100% em um único ano e 1,8% por ano por 30 anos há uma enorme diferença, mas quem não lê artigos escritos por Administradores e Contadores jamais ficará sabendo disto.
Você consideraria sensato comprar uma casa e morar nela já, comprometendo 1,8% da sua renda por ano ?
Você romperia como todos os Bancos Americanos lhe financiariam por 30 anos a juros de 3% ao ano ? É o que Celso Furtado e outros fizeram.
Este indicador está novamente sendo veiculado na imprensa mundial, relativo a dívida "colossal" dos países Europeus e dos Estados Unidos
A dívida americana é de 360% do PIB, mas em 30 anos com um PIB e impostos crescentes, representa somente 7,5% por ano.
E 7,5% é bem mais confortável do que 360% pago em um único ano, que obviamente nunca é o caso.
Que Bancos, Hedge Funds e Especuladores contratem consultores para disseminarem pânico com estatística cientificamente apuradas, com o intento de aumentar os juros e a volatilidade é fácil de entender.
Tem professores acadêmicos morrendo de fome que se prestam a tudo, até mentir.
O que não entendemos é ver jornalistas econômicos comprometidos com a ética e apuração correta dos fatos, republicarem um engodo destes tão fácil de detectar.
Dívidas são pagas ao longo de vários anos, e não um ano só.
Além do fato que PIB nem é o indicador apropriado, mas para isto é necessário entender um mínimo de Administração e Contabilidade, que deixaremos para mais tarde.
Extras
1
Mas...
O problema do fluxo crescente, de balanço não nulo, em permanente déficit
Tenho ao longo dos últimos anos feito anotações sobre o crescimento da dívida em relação ao crescimento do PIB, sempre apontando para um colapso da dívida.
Um comentário simples e direto nesse artigo de Stephen Kanitz:
“A dívida não se paga em um ano, mas o serviço da dívida é cobrado todo ano. E o Brasil não consegue pagar nem isso (por isso não temos superávit nominal).
Se o país chegar ao ponto em que não pode pagar o serviço da dívida, declara moratória.”
Amostra de anotações do ano de 2017:
Dívida pública sobe 0,32% em abril e fica em R$ 3,23 trilhões - agenciabrasil.ebc.com.br
0,32%/m o que corresponde a índice de 1+(0,32/100)=1,0032 que dá um índice anual de 1.0032^12=1.039 que corresponde a 3,9%, “colado” na inflação.
Destaque-se do artigo:
“Com relação ao estoque da Dívida Pública Federal Externa, captada do mercado internacional, houve aumento de 0,81% sobre o estoque apurado em março, encerrando o mês de abril em R$ 121,28 bilhões (US$ 37,92 bilhões). "A variação ocorreu principalmente devido à desvalorização do real frente às principais moedas que compõem o estoque da dívida externa", diz relatório do Tesouro.”
“De acordo com o Plano Anual de Financiamento (PAF), a dívida pública poderá fechar este ano entre R$ 3,45 trilhões e R$ 3,65 trilhões.”
Esta é a dívida líquida, a bruta é muito maior e o relatório ainda não foi divulgado.
No último:
“A DBGG (Governo Federal, INSS, governos estaduais e municipais) alcançou R$4.527 bilhões em março (71,6% do PIB), elevando-se 1,0 p.p. do PIB em relação ao mês anterior.”
R$4,527 trilhões / 206 milhões brasileiros (2017) = R$ 21.975 por cabeça
2
2.1
“Antes da pandemia, o rombo previsto nas contas públicas era de R$ 115 bilhões, segundo o estudo “Impacto Fiscal da Pandemia: Andando sobre Gelo Fino”, coordenado por Marcos Lisboa. O déficit agora estimado de R$ 1,2 trilhão representa um aumento de dez vezes em relação às projeções anteriores. Se nada for feito, a insolvência será inevitável e, junto com ela, virá o encolhimento do mercado e crescimento da pobreza. O Brasil, neste momento, é uma nau à deriva que está indo firmemente em direção a um iceberg.”
O Brasil caminha para a insolvência
Aumento da dívida pública e queda do PIB se combinam de maneira dramática por causa da crise do coronavírus e podem levar o País ao colapso econômico a curto prazo
Vicente Vilardaga - 22/05/20 - istoe.com.br
2.2
“Déficit nominal
O setor público consolidado registrou um déficit nominal de R$ 1,015 trilhão em 2020, o Banco Central. Em 2019, o resultado nominal havia sido deficitário em R$ 429,154 bilhões. O montante de 2020 equivale a 13,70% do PIB.
O resultado nominal representa a diferença entre receitas e despesas do setor público, já após o pagamento dos juros da dívida pública. Em função da pandemia do novo coronavírus, que reduziu a arrecadação dos governos e elevou as despesas, o déficit nominal tem sido mais elevado nos últimos meses.”
Setor público tem rombo de R$ 702,95 bi em 2020, equivalente a 9,5% do PIB
Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues - 29/01/2021 - economia.uol.com.br
O antigo "ame-o ou deixe-o" já pode estar virando "suporte-o ou deixe-o".
3
Devo urgente a tradução:
en.wikipedia.org - Debt crisis
Nenhum comentário:
Postar um comentário