sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O eterno retorno dos têxteis


“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.” - Karl Marx


shirtoid.com


É interessante que uma parcela significativa do que foi a Revolução Industrial girou em torno da produção de tecidos.

Sobre eles, em parte, e para eles, o Império Britânico estendeu suas garras até à força sobre todo o planeta, conduzindo guerras ou outras nações à guerras.

Com o crescimento da economia estadunidense, a produção de têxteis e de confecções também deslocou-se para esse país, destacadamente New York, com amostra de tal expansão no trágico acontecimento marcante do incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist e, como exemplo excelente de determinado processo evolutivo econômico, a predominância global clara da marca de jeans Levi’s, até nossos dias, dentre as marcas mais estimadas do planeta, que digamos, é uma herança desse período.

Evidentemente, os tempos de mão-de-obra de baixo custo nos EUA - e não só lá * - ficaram há muito para trás, e a produção deslocou-se, por aquilo que em Adam Smith define-se como “a permanente oferta da mão-de-obra” **, para evidentemente a China, depois a Índia, o historicamente miserável Bangladesh, e em certas especialidades, como vemos aqui em calçados, o Vietnã (aqui, percebemos a relação do tema em Economia com o que seja o campo do marketing de varejo com o conceito de “linha mole”). Temos os casos especializados do Paquistão, com material esportivo e num caso pessoal, de bela camisa da grande marca estunidense citada acima, de onde se percebe que a coisa se amplia “em leque” e como já tratei alguma vez,  surpresa de ver chuteira de grande marca esportiva alemã, em modelo profissional, ser produzida na Indonésia.

* Como sempre digo: qual pai alemão quer hoje que sua filha vá costurar camisas ou seu filho vá pregar saltos em sapatos?
** E ainda problema irresolvível para a Economia desde seus tempos.

Claro que nesse processo da migração da produção em conduzida pela oferta de mão-de-obra e mecanismos até estatais de explorá-la, ocorrem processos de desemprego, como ocorreram entre os ingleses com a ascensão dos EUA e recentemente, como tem sido causado na China devido ao Vietnã em confecções.[ Nota 1 ][ Nota 2 ]

Anotem Laos e Camboja, talvez no futuro lembrem-se de olhar alguma etiqueta, como a que muito me fez feliz ao confirmar a minha previsão da entrada pesada de Bangladesh definitivamente no jogo. Nem falemos dos muitos países da África.[ Ver Observações 1, 2 e 3]

Percebamos que o processo que foi a revolução industrial repete-se instalando nesses países industrialização de fibras - uma indústria não muito limpa e já um tanto desagradável às nações ricas - os teares e por fim, com massas de miseráveis sempre prontos a sentar-se em frente à máquinas de costura, algo muito distante ainda de ser atacado pela robótica, para obter salários melhores - ou pelo menos, num primeiro momento, apenas o que seja um salário.

Onde entra o Brasil na história nesse texto?

Em algum momento no tempo perdido em algum ponto dos parágrafos acima com listagem de países onde se estabelece a produção aos moldes da revolução industrial, reciclando-se em novas terras, e muito mais em novas massas de desprovidos, talvez desesperadamente tentando produzir algodão para abastecer o que será colocado com enorme agregação de valor novamente, dias depois, nas prateleiras e cabides de seu comércio.



Post scriptum

Exemplo: China é desafio gigantesco para indústria têxtil, diz BNDES - exame.abril.com.br




Notas
1

Gao Zitan; Uma vez a fábrica do mundo, indústria têxtil da China cada vez mais desfavorecida - www.epochtimes.com.br

Destaco:

“Segundo o Daily Telegraph, a Adidas alegou que pagou 130 dólares por mês para trabalhadores cambojanos que fizeram os produtos da empresa alemã para os Jogos Olímpicos de Londres, um salário muito mais baixo do que o que a Adidas tinha pagado a seus trabalhadores chineses em Suzhou, China. Eles teriam ganhado 472 dólares (3.000 yuanes) por mês, segundo o Securities Daily.

Devido ao elevado custo diferencial, países como Bangladesh, Vietnã, Mianmar, Camboja e Índia são agora locais preferidos para fabricação de roupas. Grandes marcas ocidentais estão se ajustando de acordo.

Não só as empresas ocidentais estão movendo sua produção, a mídia estatal informou que junto com as marcas internacionais, marcas de roupas chinesas também estão se mudando do Delta do Rio Pérola para o Sudeste Asiático.”

2
US, Vietnam pushing TPP may impact China's textile industry - www.wantchinatimes.com

Destaco:

“On a July 7 visit to the White House, Vietnamese Communist Party chief Nguyen Phu Thong held talks with US president Barack Obama covering the Trans-Pacific Partnership (TPP), the 12-nation free trade plan that Obama hopes to implement as a legacy of his two-term presidency.

As the US and Vietnam join hands in pushing the trade partnership, China's export industries, the textile sector in particular, could be affected, reports the China Business News.

In TPP negotiations, the US insists on the "yarn forward" principle applied to the textile trade, which requires that only fabric produced from yarn made by a TPP country will qualify for duty free status.

The 11 countries with which the US is negotiating the TPP are Australia, Brunei, Canada, Chile, Japan, Malaysia, Mexico, New Zealand, Peru, Singapore and Vietnam.

In line with the "yarn forward" principle, the US might ask Vietnam to reduce textile imports from China, according to the analysis.”




Observações
1

Nesse ponto, embora com todos os problemas que tenha com o “melancianismo” e um tanto de sutis falácias de “A História das Coisas”, concordo com o “deslocamento a produção para os mais pobres”: www.youtube.com

2

Pulemos por agora “outros problemas”:

China, Índia, Bangladesh e Vietnã estão na lista dos que mais exploram crianças no setor têxtil - www.fides.org

KATHY CHU; Varejistas de roupa sofrem com o outro lado da mão de obra barata - http://br.wsj.com/articles/SB10001424127887323744604578473522953935886

Destaquemos:

“No Vietnã, há dois anos, a Human Rights Watch descobriu que fábricas contratadas tinham repassado trabalhos que vão desde o processamento de castanhas de caju à produção de vestuário da americana Columbia Sportswear Co. para usuários de drogas em centros de detenção administrados pelo governo. A Columbia Sportswear informou que não autorizou essa produção e rompeu o contrato com a fábrica vietnamita logo depois de ter sido informada. “

3

Sobre África, notemos que em Economia, seguidamente certas estradas para o inferno são pavimentadas com as melhores intenções, e sobre o que eu afirmei, não é só eu que faço profecias (do óbvio):

Doações de roupas usadas estão destruindo a indústria da moda africana - www.sindicatodaindustria.com.br


Destaquemos:

"“É importante observar e entender o comportamento de compra do consumidor africano e as necessidades do varejo para adaptar os nossos produtos, serviços e esforços de merchandising.”Não satisfeita de explorar a mão de obra barata e abundante de países como China, Índia, Bangladesh, Camboja, Myanmar, Romênia e Vietnã, a indústria do fast fashion está agora de olho na África pois o continente é a fronteira final do comércio global de roupas, o último continente com mão de obra abundante e barata ainda não explorado.""

Acréscimos
1

Seguidamente, me pego rindo sozinho:

Marta Morales; Camboja: trabalhadores da confecção exigem aumento de salários -


Destaco a parte final, que é uma pérola de tentar tratar o problema exatamente com o inverso do que seria sua solução, fora o absurdo frente á simples e clara História:

“Mas, ao mesmo tempo, estes países vão deixando de lado seu caráter social essencialmente agrário e surge uma classe operária cada vez mais numerosa. Superexplorada e ainda muito atrasada, mas conforme as palavras de Marx “o capitalismo cria em seu desenvolvimento sua própria sepultura”.

Uma classe operária que começa a fazer suas primeiras experiências de luta, formando sindicatos, fazendo greves e manifestações, reivindicando aumentos salariais. São os primeiros passos de trabalhadores muito jovens que, partindo de um ponto muito baixo e da luta por reivindicações elementares, poderão ir avançando, em um caminho de vitórias e derrotas, para a construção de um polo sindical e político na perspectiva de lutar e construir um futuro socialista, que derrote este capitalismo cada vez mais desumano em que vivem, com toda crueza, na própria carne.”

2

Por certa ironia, só fui ler hoje (04/09), e realmente, horrorizei-me.

29 pode vir a ser uma garoa fina, e a única sorte que temos é que hoje tem-se muito mais mecanismos de atenuar diversos danos que lá ocorreram.

“A China, por sua vez, vem socorrendo seu mercado de ações em queda com uma intervenção sem paralelos que inclui financiar bancos, que por sua vez emprestam dinheiro para a compra de ações.”

James Saft; Pobres commodities: uma classe de ativos sem apoio de um banco central; Reuters, Nova York - Publicado no Valor de 13/08/2015. - www.abece.org.br

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