quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dilemas de Alices

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Quem são as  Alices



Eu costumo chamar de Alices todos aqueles que acreditam piamente no Comunismo/Socialismo, na economia completamente planificada, na igualdade absoluta de ganhos e comunhão das iniciativas, na bondade absoluta do homem, nata, que apenas é corrompida por sua educação, pelo meio onde vive.


Claro que Alice, aqui, é uma citação ao autor inglês Charles Lutwidge Dodgson, sob o pseudônimo muito mais famoso de Lewis Carroll, com seus mundos amalucados onde sua pequena heroina enfrenta uma série de dificuldades.






Alices acreditam que os homens podem ter todos suas diferenças solucionadas pelo simples diálogo, pelo debate calmo e tranquilo, e que, já que todos são como definem bons, chegar-se-á a um mundo harmonioso, em que todos tenham sua cota de trabalho, ganhos e vivam felizes, eternamente, sem nenhuma corrupção.

Alices acreditam também em curiosa falácia, de que onde existe riqueza, esta foi gerada pelo roubo das misérias de alguém, de que a concentração de riqueza, por si e simplesmente, nasceu do impor-se a pobreza a alguém, muito bem tratado pelo trecho de escritor Percival Puggina, que já critiquei pesadamente noutros pontos (Scientia est Potentia; Bóson de Higgs, Big Bang, Moral), mas aqui, acerta na mosca:

 

Refiro-me à ideia de que a economia funciona como um deserto, onde a areia muda de lugar conforme o vento, formando dunas e depressões, mas a quantidade de areia permanece imutável. Logo, se há acumulação é porque, em algum lugar, se formou uma depressão. É por causa desse raciocínio infantil que as esquerdas atribuem a pobreza à existência da riqueza.



Zero Hora, edição de 3 de janeiro de 2010. Na íntegra, disponível em: contextopolitico.blogspot.com.




Ultimamente, as agora definidas Alices, que tanto se dedicam a apresentar todas as mais brilhantes soluções para o mundo, normalmente sentadas em seus típicos bares bebendo as mais capitalistas cervejas, dedicaram-se à outra falácia, de que o Capitalismo implica necessariamente em destruição do meio ambiente, o que pretendo tratar noutra blogagem, mais adiante.


Alices também se dedicam a repetir o mesma enorme desfile de basófias de O Capital, de Marx, até com a exótica álgebra simplória e infantil em custos, que pretendo também tratar posteriormente.


Mas aqui, tratarei de apresentar um conjunto de “dilemas” que enfrentam as Alices, com versões minhas para demonstrações simples, na forma de fábulas, que mostram o absurdo que é Alices considerarem que suas soluções, repito, simplórias e infantis, possam trazer luz e paz ao mundo, e inclusive, gerar a riqueza que pretendem, harmoniosamente, dividir.


Antes, devemos citar que todas as tentativas, mesmo na maior escala e no mais amplo espaço de tempo, de economias minimamente planificadas resultaram em enormes fracassos, quando não, nas mais brutais ditaduras e oligarquias, quando não, mesmo dentro da miséria, nas mais absolutas e pontuais concentrações da riqueza gerada, como vastamente se evidenciou no século XX e ainda assistimos neste século, ainda que relegadas a pequenas áreas pitorescas que chamam a si mesmas de nações, embora se comportem como arcaicos feudos.






Dilema da motivação


Ou, porque, num mundo de Alices, estas podem não ver muita viabilidade em trabalharem a mais.

Num mundo de Alices, felizes com sua absoluta igualdade, digamos que surja a motivada Alice que pretenda ter o a mais, em dispor de qualquer coisa a mais que as Alices que a cercam.


Definindo, Alices, que são seres que necessitam de pouco, ficarão aqui limitadas a desejar apenas peixes e bananas, e poucas roupas “no corpo”, o mínimo dos mínimos, para viverem, pois afinal, quem é Alice tem de se contentar com o essencial. Portanto, a Alice motivada aqui apenas deseja, por exemplo, uma banana a mais após seu peixe, em cada refeição. 


Notemos que as Alices tem de ser, por suas próprias definições de mundo, livres, e portanto podem, perfeitamente, desejar um incremento em sua sobremesa, embora enfrente a divisão certa de seus ganhos, com todas as demais Alices.


Pois esta Alice, que digamos produza qualquer coisa a mais, imediatamente, terá de dividir todos seus ganhos com as Alices que a cercam, enfrentará o dilema que tem de se motivar para dividir, e todo seu esforço, na coerência do ”mundo de Alices”, apenas gerará a fração que lhe cabe de seu acréscimo ao todo.


Por uma via mais matemática, num grupo de n Alices, a Alice motivada, e ambiciosa, apenas gererá para si o seu, sejamos cruéis, lucro, com o incremento de L/n. De seu esforço, o grupo inteiro receberá seus ganhos, em L*(n-1)/n no total e banais [L*(n-1)/n]/n por cabeça.


Digamos que a Alice motivada, mais motivada ainda, pretenda o L inicial, que agora chamamos de L1. Este L obtido, resultante, poderá ser chamado L2. Assim, a Alice motivada terá de produzir um L igual a L2=n*L1 para que resulte de saldo em suas mãos L1, nada mais simples.


Por outro lado, adiantemos, as Alices não motivadas, que podem ser todas as Alices que imediatamente cercam a Alice motivada, não necessitarão fazer esforço extra algum para ter seus ganhos, o que consideremos, desde já, injusto, mas aqui, esconde-se outro dilema, que logo apresentaremos.


Logo, como parece-me simples perceber, a situação mais cômoda, e natural, para todas as Alices*, seja esperar que todas as Alices, simultanamente, motivem-se o mínimo, para que todas, sem exceção, tenham o mínimo ganho com exatamente o direto e proporcional esforço.


*Menos a pobre Alice mais animada, que ficará frustrada de não poder ter ganhos proporcionais a seu trabalho extra, e infelizmente, proporcional apenas a um trabalho médio.


Logo, mais uma vez, o mundo de Alices só pode pensar em rumo aos ganhos com o esforço distribuído, harmônico, de todas as Alices, equilibrada e igualmente motivadas, pois sabemos que Alices acreditam piamente que o ser humano seja intrinsecamente bom, e não podem, para o sacrifício de uma única Alice em cada amostra que tomemos, pensar em progredir pelo esforço individual.

Mas claro que no meio disto encontra-se um problema...




Dilema da desmotivação


Ou, porque, num mundo de Alices, estas podem ver mais viabilidade em trabalharem a menos.

Claro que uma Alice que faça menos, que seja desmotivada, ou simplesmente, como naturalmente ocorrente no humano, incapaz fisicamente ou ainda, a contra-gosto das Alices, vagabunda, preguiçosa  ou até desonesta, é coberta em seus ganhos pelo esforço alheio, global.


Sua inatividade, deixemos apenas nisto, é coberta, mitigada, numa taxa de, digamos, déficit de produção, D, pelo esforço harmonioso de todas as demais Alices, em D/(n-1), e inclusive, pelo L de uma incauta e inocente Alice motivada.


Logo, cada Alice que não produza, conduz as demais, para todas terem os mesmos mínimos ganhos, a produzirem de maneira melhor, mais rápido, mais eficientemente, com mais qualidade, para que compensem a Alice improdutiva. Nada mais simples, novamente.


Claro que uma Alice improdutiva, ao ser observada pelas suas Alices próximas, gerará a mentalidade em outra Alice que também pode ter suas atividades diminuídas pela diluição de seus déficits entre todas as demais, e logo, teremos mais e mais Alices produzindo menos. Até, porque, simplesmente, qualquer Alice próxima considerará a situação injusta.


Como se dizia na Alemanha Oriental: "Nós fingimos que trabalhamos e eles fingem que nos pagam."


Assim, num mundo de Alices, é impossível pois inviável a motivação, exatamente porque é condutor o pensar de Alices sobre o mundo à desmotivação, ou, como vimos anteriormente, à uma motivação que não seja recompensada justamente.


Mas claro que este meu humilde e simplista raciocínio é uma enorme falácia, pois sabemos que todos os seres humanos são bons, justos, igualitários e vêem, permanentemente, sempre o bem de todos, igualmente, isentos de cobiça, avareza, preguiça, etc, não é mesmo?


Acredito que já respondi a isto aqui: Pitacos III, tratando de segurança pública.


Aqui, a questão toda remete a Adam Smith e os fundamentos da Economia. Os seres humanos não tornam-se cervejeiros e padeiros para beneficiar seus clientes, e sim, para buscar seus próprios benefícios. Não exercem suas atividades com busca de maestria, qualidade, para o bem de quem servem, e sim, em busca de maximizar seus próprios ganhos. Logo, podemos dizer que todos visam seus maiores lucros por seus próprios interesses, e primariamente, jamais pelo conjunto da sociedade.



Agora tratemos de outro dilema, com termos e situações não muito agradáveis, que espero, não venham a ferir olhos mais puritanos, mas os fatos do mundo real são perceptíveis na esquina mais próxima, ou mesmo, dentro das mais finas casas noturnas, ou ainda, em algum refeitório de alguma faculdade de sua cidade...






O "dilema das duas putas"



Duas meninas, num mundo de justas e igualitárias Alices, desejam comer, novamente, ao invés de uma banana por dia, duas.


Como seu sistema "igualitário" lhes limita as bananas, caem na prostituição.

(Tanto faz, aqui, colocar-se duas meninas pobres de país capitalista rasgado, pois o argumento, por fim, chegará ao mesmo resultado.)


Só, que infelizmente, uma é linda, e a outra, um bagulhão horrendo.


Claro que num mundo de utópicas Alices, todas serão igualmente estéticas e desejadas, o que sabemos, aqui, é uma desonestidade intelectual de minha parte.


Em poucas semanas, a bonita, descobre que está sofrendo duas coisas ao mesmo tempo, e "vamos no popular e até no populacho": dando demais, pois conseguir bananas para pagar seu programinha é fácil, e perdendo a oportunidade de, cobrando mais caro, ganhar mais bananas.


A mucréia descobre outros problemas: está dando muito de vez em quando, e reclamam que cobra uma banana, e até querem, por dois programas, pagarem uma banana.


A bonitinha, imediatamente, sobe o preço de seus serviços, e tem ganhos com isso imediatos, e percebe que, linda como é, pode ainda cobrar mais caro.


A feinha, imediatamente, passa a cobrar meia banana, e consegue fazer mais programas por dia, conseguindo exatamente a quantidade de bananas que deseja.


Conclusão: o custo de serviços e mercadorias possui subjetividades, e não é diretamente relacionado com o trabalho dispendido, nem mesmo quando envolve o próprio corpo do trabalhador.


Logo, Marx e todos os custificadores dos bens e serviços por proporcionalidades sobre o trabalho, única e exclusivamente, estão errados.


Até subjetividades do mercado, além da procura (oferta e demanda) por determinado bem, influem nos seus custos, e logo, valoração.


Lembrando o comediante Bill Maher, a bela garotinha norteamericana não se prostitui porque seu trabalho no Kentucky Fried Chicken é horrível, e sim, porque 'fazer um programa' (Bill Maher usa termos um tanto mais pesados) com o Colonel Harland Sanders é mais rentável.

Mas claro que neste dilema fui desonesto intelectualmente, pois como vimos sempre quando economias planificadas foram implantadas, a prostituição desaparece por completo, e a sociedade se toma de uma moralidade que envergonharia a Londres de Carroll. Mas se houve e há prostituição em qualquer nação sob uma economia pretensamente planificada, algumas Alices mais voluntariosas em sua argumentação berrarão que jamais o Comunismo foi realmente implantado, e nestas nações apenas houve a exótica coisa que chamam de "capitalismo de estado" - mais uma falácia a ser tratada. 

Como dizem meus amigos mais antigos, quase todos adolescentes no início dos anos 70 e 80, e com um conjunto de gírias típicas: Ah...Tá!

Carroll e a verdadeira Alice, quando o autor parece explorar,  como amplamente mostrou em sua vida, outros dilemas das pobres famílias vitorianas.





O "dilema da fábrica de agulhas"



Alices, num harmonioso mundo de Alices, custificado pelo seu trabalho, em região desgraçadamente ruim para a produção agrícola e diversos outras atividades, descobrem que em seu território possuem ferro de excelente qualidade, de origem meteorítica e um ótimo basalto abrasivo.


Como mesmo no mundo de Alices, perfeito e lindinho, equilibrado e bem nutrido, Alices passam frio, tem de usar roupas no frio, apesar de sua, como sabemos, perfeita moralidade e despreocupação com o nu, pois Alices são seres, além de naturistas, isentos de desejos carnais descontrolados, e muito respeitosas.


Então, as Alices de tal terreno desafortunado, começam a produzir agulhas excelentes, pois Alices, como vimos, tem de costurar suas parcas roupas, que por sinal, não são eternamente duráveis (guardemos bem este ponto).


Em troca de suas agulhas, as Alices, isoladas em seu meio hostil, mas magníficas mestres na produção de agulhas, recebem bananas e alguns peixes, pois Alices vivem com pouco, e se contentam com quase nada, recordemos.


Mas para serem abastecidas, as Alices agulheiras tem de produzir as agulhas que o mercado de Alices, perdão, as necessidades de Alices exigem. Como toda Alice é paga pelo seu trabalho, direta e proporcionalmente, as Alices agulheiras trabalham pouco, pois sabemos que o mundo das Alices em pouco tempo, se entupiu de agulhas, e elas tem pouca procura.


Como o mundo das Alice sé equilibrado e bem distribuido proporcionalmente, sempre alfinetemos, as Alices agulheiras não podem sair de sua região desgraçada, e tem de continuar produzindo agulhas, logo, para lá ficarem e não perturbarem com migrações o mundo das Alices, tem elas de serem subsidiadas pelas demais Alices, e receber uma certa disproporcionalidade entre o trabalhado e as agulhas produzidas, logo, seu trabalho, a agulha, passa a ter um valor maior, proporcionalmente ao trabalhado, que, por exemplo, das Alices fabricantes de enxadas, que por sinal, nisto nem são tão boas assim.


Logo, o valor de uma mercadoria é determinado não pelo trabalho exercido, mas até pelas necessidades de quem tem maestria no produto que faz, e por imposição da própria demanda do mercado, e por estabelecimento de cobertura de custos no tempo, independente do que se produz, pois quem vive come, e se come, gasta...


O custo das mercadorias colocado ao mundo não depende só do trabalho exercido, e pode ser determinado pelas necessidades e desejos de quem o produz.



O paradoxo das "Alices sem estado"



Eis que o mundo tornou-se perfeito, lindinho e cor de rosa, com chuva de mel e nuvens de algodão doce. Pois as Alices implantaram seu lindo sistema e o mundo ficou feliz e colorido, com sorrisos resplandecentes em todos os rostos.


E todas as Alices dividiam seu quinhão, e comungavam da mesma mesa, e nada se disputava.

Não necessitavam as Alices de quem as protegessem, pois Alices são perfeitamente morais e justas. Logo, as Alices não precisavam de estado, nem de sua polícia, nem de sua ordem, nem de seus exércitos, nem de quem os mantivesse treinando e alimentados!


Mas como as Alices são humanas, não tardou para surgir, no meio das Alices, Franciscos e Giovanis (buscando personagens de debate onde apontou-se este dilema), e estes começaram a roubar, pois não se contentavam com o quinhão trivial de Alice, e cobiçavam mais!


E as Alices correram em desespero, e reuniram-se, e encontraram suas Alices mais aptas e fortes, e foram em busca de Franciscos e Giovanis.


Mas os Franciscos e Giovanis se reproduziam, pois é da natureza do homem ser, numa taxa bem razoável, mau e ambicioso, e as Alices tiveram que manter sua força de Alices protetoras e vigilantes, permanentemente em serviço, e tal força cresceu, e mantinha protegendo as Alices dos Franciscos e Giovanis que já formavam nações independentes, e buscavam pela força, ampliar seu espaço de Franciscos e Giovanis, ambiciosos e cheios de cobiça.


E eis que as Alices, tinham de se manter com uma força vigilante, e uma força treinada, armada e preparada, e esta tinha de ser alimentada, e Alices fortes e valentes comem muitas bananas e peixes (pois somente isto basta às Alices), e logo, as Alices tinham de se organizar para produzir o que sustentasse e mantivesse em tão brava tarefa as bravas e corajosas Alices, e chamaram a isso, “estado Alice”, e este, mantinha a liberdade das Alices terem seu permanente quinhão dividido, e manterem a coleta da chuva de mel e seu céu limpo, com nuvens de algodão doce.


Moral: Para manter até a liberdade de se pretender não se ter estrutura organizacional como o estado, paradoxalmente, necessita-se de estado, pois é da natureza do homem ter de ser vigiado e contingenciado no mal, pois o mito do homem ser bom, só existe na cabeça dos ingênuos.


Logo, como sabiamente disse Esopo: Os maus só se detém pela força.


E como força, em última instância, só se exerce pela violência, esta deve ser do domínio de todos os cidadãos, sob a forma daquele que detém o monopólio da violência sob leis, que é o que chamamos de estado.


Por fim, torna-se óbvio que o humano não pode viver sem a coletividade organizada e mantenedora das leis que é o estado.


Para entender de onde brotam estas ideias que chamo de “brilhantes” sobre a anulação do estado e a ‘perfeita coordenação entre os homens’, recomendo:


Ana Selva Castelo Branco Albinati; J. Chasin: a ontonegatividade da politicidade em Marx


Com boa literatura a ser também consultada.


E agora, minha versão de um clássico sobre o tema, e que muito tirou o sono até de Lenin.

V. I. Lenine; O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo
Algumas das únicas formas e modos de estado que existem no pensar das Alices.


O dilema da "empresa de uma libra"



Alices igualitárias, reunidas para a produção de digamos, martelos, trabalham e produzem, comungando de sua maravilhosa e equilibrada relação cooperada.


Pelos seus belos e excelentes martelos, as Alices marteleiras ganham suas bananas e seus peixes, estáveis e proporcionais aos martelos produzidos, tão necessários ao mundo das Alices.


Eis que vizinha à fábrica de martelos, existe uma fabrica de botas, tão necessárias às Alices, que são trabalhadoras e muito caminham, e necesitam proteger seus frágeis pezinhos.


Mas as Alices boteiras nunca conseguem dispor do couro, dos cadarços, da borracha que necessitam para produzir botas a valor em peixes e bananas o suficiente. Sempre há um déficit na produção, uma incompatibilidade de escala com sua necessidade mínima de peixes e bananas, por mais que as Alices boteiras sejam laborosas e eficientes.


Eis qua as Alices marteleiras, reunem-se e sabendo de sua capacidade, passam a produzir ainda mais martelos, e dispondo de um excedente de peixes e bananas, começam a integrar-se na produção de botas, até porque as Alices boteiras necessitam de seus pequenos martelos de sapateiro.


Obs.: Claro, que aqui, as Alices burlarão a injustiça de seus sistemas, mostrados nos dilemas da motivação e desmotivação.


Assim, as Alices marteleiras obtém uma participação na indústria de botas, e dispõe de botas para seu pesado trabalho de metalurgia, e consolidadas com as Alices boteiras, todas tem mais ganhos em peixes e bananas.

Assim, unidas e mais poderosas, com controle da produção de ambas nas mãos das sempre mais rentosas em bananas e peixes Alices marteleiras, partem, para pelo mesmo processo de participação, iniciando com um mínimo excedente em bananas e peixes, obter controle, participação e melhorias, além de obviamente ganhos, em mais empresas de Alices, que por mais igualitáras que pensem ser, descobrem que por simples liberdade, por um excedente disponível de seus peixes e bananas, podem, até para o bem de outras Alices, com seus mínimos ganhos diferenciais, melhorar a vida de todas as Alices em conjunto.


Todo o trabalhador, com o excedente que seja de "uma libra" de seus ganhos, ao participar do mercado de empresas de capital aberto, pode obter a posição, já pela sua união, de ser o controlador dos meios de produção, deixando de ser o simples trabalhador, e passando a ser, como todos no sistema, o destinatário final dos lucros.


Logo, num sistema de empresas de capital aberto, fiscalizado rigidamente pelo estado, o sistema de participações em capital permite que o trabalhador seja a origem e o destino final de toda a geração de riqueza. 

Aqui, é interessante lembrar onde o Equilíbrio de John Forbes Nash vem encontrar e enfrentar Adam Smith, e seus ambiciosos cervejeiros e padeiros, que realizam bem seus ofícios, e percebemos que os maiores ganhos para todos advém de cada um buscar o melhor para si E para todos, e portanto, tem de colaborar para a sociedade inteira se desejarem ter continuados seus ganhos.

E nesta ação, no controle destes impulsos e sua harmonização na sociedade, na geração de justiça, mais uma vez, necessita-se do estado, como vimos acima.

O mundo de Oliver Twist, de Charles Dickens, que parece ter se ficado como a única relação existente entre capital e trabalho, na cabeça de toda Alice.





Terminando, por hora, da obra de Lenin citada acima, destaco:


Este negociante tem uma concepção consideravelmente mais profunda, mais "marxista", do que é o imperialismo do que certo escritor indecoroso que se considera fundador do marxismo russo e supõe que o imperialismo é um defeito próprio de um povo determinado ...


O "império de bases" que é a maior economia do planeta, que são os EUA, que funciona em forte associação com diversas nações, que mesmo com a fragmentação relativa que hoje o mundo apresenta, posterior à biporalização da Guerra Fria, exatamente nasce dos interesses do homem comum, do cervejeiro e padeiro da esquina, na coordenação de seu poderoso estado, em busca de mais riquezas, com suas “libras” economizadas e reinvestidas.


Mas a questão de porque considero que esta marcha não terá fim, ainda exige de mim muitos consertos num esboço, e deixarei para adiante, voltando, agora, a me concentrar em diversas Alices e seus dilemas.
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quem casa ainda quer casa

Anotações sobre o déficit habitacional




Números apresentados na imprensa revelam um déficit existente de 5 milhões de moradias e uma necessidade de 1,2 milhão de moradias novas por ano para o Brasil atender sua população crescente. Este segundo número é formado com as famílias ingressantes no mercado de habitações, conjuntamente com o crescimento da população propriamente dito*.

* Explico: uma família formada por um casal e dois filhos, digamos adolescentes, ocupa uma casa. Outra família similar, ocupa outra casa. Os filhos destas famílias, ao amadurecerem, passarão a necessitar de mais uma residência, independente de tais famílias aumentarem ou não o número de seus constituintes.

Considerando um abatimento de 500 mil moradias do déficit para, portanto, sua anulação em 10 anos, e atendendo-se a demanda, se chegaria a 1,7 milhão de moradias a serem necessariamente construídas pelos próximos 10 anos.

Devemos ter em conta que nas cidades, crescentemente temos tomado ou área de produção agrícola, hortifrutigrangeira, ou áreas de preservação ambiental (se não são, até deveriam ser) para a construção de habitações. E quem habita, segundo me consta, trabalha, e necessita, somados aos serviços e abastecimentos diversos, dos quais depende, de áreas para prédios e instalações destes.

Abordei este problema da escala das atividades humanas, e nestes, a escala crescentes das cidades em uma blogagem de cunho científico:

A escala das nossas cidades

Aqui, esquecerei estes “pormenores” e me concentrarei na questão custos.

Podemos considerar que se solucionaria este problema com foco em economia de área pela construção de prédios, e não em imensos subúrbios distantes de pequenas casas (o que somente pelo argumento ecológico, já se faz necessário).

Assim, poderiam ser construídos edifícios de 40 andares, com 1 apto por andar, de 20 andares de 2 aptos por andar, 10 andares com 4 aptos por andar e finalmente, fechando nossos forçados exemplos, 5 andares com 8 aptos por andar.

Acredito que neste ponto já fica óbvio que em termos de habitação popular, sempre se obterá os menores custos com relativamente menores custos estruturais, e menores custos de instalações das utilidades”, no popular: “água e luz”, quando não gás. Logo, menos altura e invariavelmente, perdendo em área.

Logo, acho que fica entendido que no meio deste forçar de números surge um futuro ponto de equilíbrio no qual, para efeitos de economia do próprio, digamos município, exista um ótimo entre uma curva de custo por altura da edificação e poupar-se a área, contra um custo da unidade em função de ter-se de construir-se em mais e mais altura e os crescentes custos que isto acarreta. Noutras palavras, chegará o dia que se tornará necessário os mais pobres habitarem em torres, até para a melhor distribuição dos custos entre todos.

Mas voltemos aos nossos atuais necessários edifícios.

Teríamos, assim, um edifício médio (que expressaria muito bem a distribuição de renda brasileira) de 40 aptos por prédio. O que nos levaria a 42 mil prédios pelos 5000 municípios, ou 8 prédios por município. Tão simples e direto quanto isso seria o mercado de construção pelos próximos 10 anos. Mais altura, mais custos, a serem descarregados sobre todos, ainda que com concentrações de tal carga de despesas. Mais área, invariavelmente, mais custo para todos, independente de uma concentração da carga de custos da habitação a ser construída na família que nela habite.

Consideremos que cada uma destas unidades habitacionais (pouco importa sua “geometria” no espaço) custe R$ 20 mil. Chegaremos, assim, com um número de 5 milhões de “devidas” unidades, de R$ 100 bilhões de reais, que terão de ser distribuídos, óbvia e evidentemente, a um valor de idênticos R$ 20 mil por família até minimizados R$ 500 reais por habitante brasileiro (estimando uma população de 200 milhões - com a tristeza de aqui incluir crianças e aposentados, quando não inválidos dependentes).

Mais uma vez noutras palavras, caro leitor, potencialmente, todos nós já devemos “meia televisão razoável”, para que todos, hoje, habitemos. Pois ainda que apenas da família beneficiada por habitar tal teto saia o dinheiro para pagá-la, toda a economia brasileira terá de prover tal renda, dentro dos próximos n anos.

Já para quem “casa e quer casa”, ou apenas um lar queira, a cada ano, temos hoje de prover 1,2 milhão de unidades, aos mesmos 20 mil reais, que resultam em 24 bilhões de reais, que nos leva a 120 reais. Devemos, pois, gerar 1 celular barato este ano. Hoje. Agora

Como gosto de dizer: nada mais simples, nada mais cristalino.

Assim, finalmente, mais e mais necessitam nossos líderes de meus amigos e colegas da área da engenharia civil, da arquitetura, do urbanismo, e sempre, invariavelmente, das finanças, pois discursos vazios quaisquer que sejam, ou leis por mais bem intencionadas que sejam, vão solucionar por si, em meio aos caos natural das massas, os números simples acima.

Pois quem casa ainda quer casa, e temos, todos, de sustentar tal necessidade.

O problema do homem instruído não participar da política é acabar sendo governado por seus inferiores. - Platão



Em tempo:

I

Na mesma data da publicação desta blogagem o jornal O Estado de São Paulo publicou artigo apontando que nos próximos 14 anos o déficit habitacional alcançará números que levarão a absurdas taxas de aproximadamente uma família por hora passando a morar precária ou irregularmente na capital paulista, incluindo a ocupação de áreas de risco, o que levará o déficit habitacional de 130 mil unidades a ser multiplicado por um fator de quatro.

SP cogita Cohab com elevador contra déficit habitacional

O artigo aponta uma necessidade futura de 740 mil novas moradias até 2024, e apresenta que uma solução seria a construção de prédios populares com elevadores.

Aqui, devo apresentar o concito do que defino como “custos acessórios”. Um prédio, se possui a sempre presente escada e seus corredores, possui esta escada e corredores como consequência direta de ser prédio e ter altura. Já o acréscimo de mais andares conduz a ter como custo acessório a instalação de elevadores. Numa exemplificação simples, do mundo empresarial, a contratação de mais um vendedor interno numa empresa implica em sua mesa e um telefone, entre outros, independente de seus custos de mão-de-obra.

São também custos acessórios da construção de prédios a instalaçãod e utilidades, como água, eletricidade e esgotos, a contrução de infraestrutura, como as indispnsáveis ruas, suas calçadas e iluminação,e assim, até a urbanização completa. Logo, todo custo de uma habitação gera uma cascata de custos acessórios.

O artigo apresenta que tal conta seria repassada para o Estado e União, o que vem a coincidir com minha afirmação de que todo este custo será, inexoravelmente, distribuído pela população.

Antes de mais números, e que se repetem, apresentemos outro artigo.


II

O mesmo jornal, em 27 de setembro, apresenta e reforça noutro artigo que a cidade de São Paulo necessitará investir R$ 58 bilhões nos próximos 14 anos para evitar que o déficit habitacional atinja 740 mil unidades, o que leva a um custo de mais de R$ 78 mil por unidade, o que mesmo cortado a metade, pega os valores de nosso custo para com o déficit habitacional e multiplica por praticamente 2, nos conduzindo a termos de gastar R$ 1000 com tal necessidade.

O déficit habitacional da capital


O artigo coloca que o investimento anual tem sido de R$ 1,5 bilhão por ano, o que “empurra” para 2048 a solução para a população de baixa renda.

Seriam necessários para este déficit ser transformado em construção de residências uma área de 39 km², mas apenas dipõe-se de 17 km², o que vem também a convergir para minha argumentação de que onde antes haveriam 1000 casas, teria de se construir 500 sobrados, onde pensaríamos em 100 prédios de 3 andares, tem-se de colocar agora 50 prédios de 6 andares, e consequentemente, os acessórios elevadores e seus custos, e assim por diante.

O artigo apresenta que o programa Minha Casa, Minha Vida (que poderia, pela minha análise, se chamar também “Sua Casa, Nossa Dívida”) prevê R$ 34 bilhões para 1 milhão de residências, o que aproximadamente concorda com os custos que apresento acima.

Também o artigo apresenta que o déficit de 130 mil residências em São paulo contrasta com, somente no centro da cidade, 40 mil unidades ociosas. A questão é que tal ociosidade pode, ainda mais a futuro, esconder outro tipo de custo, o que defino como “custo acidental”, aquele similar ao empresarial do caminhão, que dando uma inocente ré, derruba a guarita da segurança, que por sua vez, não estava no seguro (o que na verdade, pouco interessa, pois seguros custam). São aqueles custos que inexoravelmente ocorrem no tempo, pois a natureza, no tempo, é perversa.

Assim, muitos destes prédios, aqui planilhados como ociosos, podem se enquadrar no condenados, e vir a fazer parte dos custos de unidades novas, com seus custos acessórios.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

De moeda em moeda

Estes dias, ao visitar determinado shopping, em determinada loja de material esportivo, deparei-me com belo tênis, de boa marca (a chamaremos de marca F) a 79,90 reais (ou valor com estes ridículos centavos sobre o algarismo 9), que arredondaremos para 80 reais.

Como este valor era pequeno, cheguei a iniciar o processo mental (e sempre o ato econômico o é) de uma compra por impulso. Mas mal iniciou, recordei-me que possuo um número significativo, diria excessivo, de pares de tênis. Mesmo sendo o valor de forma alguma pesado no meu orçamento, e como digo, requerendo apenas cortar umas 16 cervejas ao longo de uns dois ou três meses, no que ganharia até saúde, resolvi abandonar esta compra. Devemos aqui apontar que os 80 reais continuaram no meu bolso, e as cervejas, ao longo de dois ou três meses, ainda não foram bebidas.



Complementando esta história trivial, devo destacar que é observável que as diversas marcas "de topo" de calçados esportivos, as chamemos A, F, N, P e R; sempre colocam nos seus distribuidores ofertas, na atualidade, numa faixa de 150 reias. Noutras palavras, dispondo-se de 150 reais, sempre sai-se de uma loja com um tênis destas marcas líderes.

Os modelos de topo destas marcas flutuarão acima de 300 reais, e irão até 800 reais, digamos (estes valores, no que apresentaremos, pouco interessam). Então, pelo valor de 300 reais (mais que razoável), levará a que quem compra um tênis na faixa de 150 reais manter em seu bolso 150 reais (desde que, obviamente, disponha também de 300, no início do processo de compra - o primeiríssimo passo de todo projeto é a provisão).

Então, um consumidor que realize uma operação de economia banal como esta, seja em 10 ítens diferentes, seja em 10 vezes do mesmo ítem de consumo (por exemplo, 10 tênis ao longo de 5 anos, nada de anormal), 'imediatamente' , na décima compra, terá uma reserva de 1500 reais, ou, ao longo de, como colocamos, 5 anos, terá disponíveis 1500 reais, e aqui desprezaremos ganhos em juros.

Com estes 1500 reais poderá adquirir uma televisão LCD, ou um bom home theater, ou, mais que importante, qualquer coisa do valor que desejar, ou ainda mais imprtante, qualquer coisa que necessitar, seja em bens, seja em serviços.

Mas avancemos sobre trivialidades financeiras, com outro caso, a partir de um diálogo com o filho de um amigo.

Similarmente, um consumidor que possua uma moto, digamos de valor original de 15 mil reais e tenha o desejo de trocá-la por uma mais sofisticada.

Nota: Notemos que o valor, aqui, multiplicou-se absolutamente por 100, e em termos de custos, quase sempre, pouco interessa a natureza do valorado/calculado, mas sim, o valor. Noutras palavras, num cálculo financeiro, pouco interessa que sejam 100 pares de tênis ou uma moto, igualmente, serão 15 mil reais, com seus ônus certo sobre o caixa e o talvez bônus da aquisição que deste gasto resulte.

Para tal, colocaria esta moto a venda (o vulgo "dar de entrada") e financiaria outra, do dobro do valor, em digamos, 60 vezes (mais uma vez, 5 anos). Com isto, ainda que sua atual moto seja considerada como sendo nova, e valendo 15 mil reais (hipótese por si só um absurdo), ainda teria um saldo a liquidar de 15 mil reais, os quais, com misericórdia por uma contra-argumentação, considerarei que pagarão pelos 5 anos mais 50% de juros totais, elevando o preço do bem para mais 15+7,5=22,5 mil reais. Mas sejamos ainda mais misericordiosos, e coloquemos 33% de juros (no exato, 1/3 do valor pelo período), e somemos só 20 mil reais.

Notemos, rapidamente, que cobrimos 50% do valor a pagar à vista, mesmo nas hipóteses forçadas que colocamos, e ainda devemos 66% (2/3) por pagar.

Sinceramente, custo demais por tempo inútil. Então, banalmente, recomendei que o filho de meu amigo poupasse durante 5 anos, incorporasse os juros ganhos para, digamos, um tocador de mp3 (pois aqui, apresento sempre técnicas de marketing, associando um desejo com outro, visando causar, na verdade, um desejo de compra, a "angústia do não ter") e sem mínimo sacrifício sobre o projeto original - tirando, obviamente, o tempo de espera - trocasse exatamente pela mais atual moto, com o maior ganho no período, com os menores custos. Lembrando que desprezamos, sejamos honestos, a manutenção, mas lembrando que em contrapartida, uma moto nova também os terá, e se de valor mais alto, estes serão de correspondente valor mais alto. Existem variações mais intrincadas e delicadas nestes quesitos. Ou alguém, "cartesianamente", dirá que a manutenção de um fusca 1980 será sempre mais alta que um BMW do ano passado?

Recebi como alternativa, no meio deste diálogo, o argumento que poderia entrar num consórcio coligado com a revenda da moto, e ser sorteado. Claro que o alertei, que ao menos que eu esteja enganado (modo ironia ativado), aquele que é sorteado num consórcio, além de ter de pagar as taxas de administração e invariavelmente juros no tempo (e estes sempre são no tempo, e se tempo existe, sempre serão cobrados), ao ser sorteado, ainda terá de quitar o bem sorteado, pois consórcios não são loterias.

Mais saiamos dos custos, e vamos para as receitas, as fontes do caixa.

Este meu amigo, cujo filho possuia (lembrando: o convenci!) tais desejos de consumo, possui um hotel (entre outras fontes) no segmento popular, com diárias na faixa mais baixa do mercado da região, iniciando por diárias de 20 a 25 reais, por quartos com banheiro no corredor. Mesmo com negócio com bastante seletividade (embora sejamos claros, exista mercado para tudo), e operando basicamente com trabalhadores de empresas, como chamo "chão de fábrica", de manutenção e instalações, resolveu partir para uma remodelação deste negócio levando-o a quartos com banheiros individualizados, para cada quarto, seguindo orientação da secretaria da indústria e comércio da cidade em questão, para o bairro em questão. No termo, 'uma adequação'.

Para esta adequação, desativou, inicialmente, digamos 5 dos então quartos, e iniciou-lhes reformas. Esqueçamos que tal reforma implica em custos. Estes 5 quartos, a não estarem ativos, implicam em até 100 reais por dia de não faturamento, não implicando a ocupação média anterior. Considerando uma ocupação média que nos leve a 50 reais por dia, ao final de uma inatividade média de 5 quartos sob reformas durante 30 dias (um tempo até curto para um reforma desta escala) teremos um não 'caxeamento' de 1500 reais. Logo, como afirmei para este meu amigo, esta reforma, esquecendo-se 'patologicamente' os seus próprios custos, resulta no mesmo que pegar uma TV LCD e levá-la para a calçada, ateando-lhe fogo.



Logo, por todos os ângulos, as TVs de LCD podem ser compradas, assim como qualquer coisa, de moeda em moeda. Como já disse, prefiro as contas simples e claras.

Mas no que interessa estas histórias e casos "domésticos" para uma visão mais macro de economia, ou mesmo nossa vida econômico-política.

Copie os fragmentos de textos acima, substitua tênis por trens, quartos por logísticas de estradas, portos e aeroportos, acrescente 6 zeros ou mais, e terá os mesmo números e questões que flagelam o país, nos gargalos da infraestrutura, nos gastos com pagamentos de juros, que levam à incapacidade de investimento, o crescente deficit das conta públicas, os salários crescentes exigidos pelas categorias mais altas do estado, e teremos as mesmas respostas, e no não seguí-las, os mesmos problemas, e mais cedo ou mais tarde, como tratei no texto anterior, "certo dia chegará", e advirá a inoperacionalidade, que pode ser proporcional - na escala nacional - ao tênis que não se compre quando se necessite, a entrega da moto não paga, o atraso na conta de água de um pequeno hotel popular, ou, pelos mesmos zeros acrescentados, a compra de vacinas que não se efetuará, a não cessão de crédito numa compra externa, até a apreensão de uma carga, o corte de um fornecimento de uma matéria prima, ou mesmo, a exigência de imprimir-se ou digitar-se dinheiro sem correspondente riqueza gerada.

Inclui-se, aí, como iniciativa perigosa, a reativação da "conta movimento", tentando-se, por malabarismos contábeis, gerar crescimento totalmente baseado em promessas, ou crédito, como se queira, e não em fatos sólidos.



Prefiro, sinceramente, escolher não comprar um tênis (pode substituir, se a escala for a necessária, por um trem), ainda que este me agrade e implique apenas em tomar menos cervejas, por alguns meses (pela escala, pode substituir por gabinetes de senadores com dezenas de acessores). Ou, para comprá-lo, quando este for necessário, juntar moeda a moeda. E nisto, não necessitamos substituição alguma, em qualquer escala.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Quando certo dia chegar...

Mais uma vez, se exercita o STF para um aumento em seus salários.

STF vai propor reajuste de 14,7% em salário de magistrados



O valor em si aos "supremos" não é o problema, nem em seu total anual, insignificante para uma economia da escala da brasileira e o correspondente (e pesado) orçamento da união. A questão é a cascata consequente de outros aumentos.

Soma-se a este já não pequeno problema que o Brasil caracteriza-se por uma das maiores defasagens entre baixos e altos salários, incluindo-se aí os salários dos funcionários públicos. A esta primeira soma de problemas que realizo, acrescente-se que o orçamento do estado em seus diversos níveis encontra-se estrangulado por gastos excessivos com folha de pagamentos, tanto de ativos como inativos, e a futuro esgueirando-se por um gargalo inexoravelmente se aproximando (quando já não causando pressão) da infraestrutura.

Assim, nesta marcha perigosa, chegará o dia, que aliado a posição perigosa na curva de Laffer*, com o espantar de consumidores (perdão, contribuintes - o correspondente para o estado do que sejam os clientes das padarias e cervejarias de Adam Smith), o estado atingirá o momento terrível em que, mesmo com taxas de juros das mais altas do planeta, ao colocar títulos no mercado, não conseguirá, ou obter confiabilidade a longo prazo, ou rentabilidade possível de ser gerada. Curiosamente, estas duas coisas são quase inseparáveis.

Noutras palavras, não adiantará oferecer o maior dos rendimentos prometidos num tempo razoável, ainda sim, seus títulos não serão atrativos.

Se o leitor acha que tal situação não ocorre, reveja atentamente o âmago das notícias sobre os países europeus, recentemente metidos em enrascadas de endividamento superior ao seu PIB (ainda que o problema diretamente não seja este, e sim, superior à sua capacidade de geração específica para o honrar de títulos).

*Que já abordei duas vezes por prismas relacionados, quanto à convergência para uma região sem margens de manobra - ou graus de liberdade, como preferirem - e quanto ao ônus da concentração tributária determinadas variáveis.


Sendo mais teórico, modelar, como aprendemos a dizer quando estudamos Física, John Kenneth Galbraith apresenta em 'Crônicas de um eterno liberal' a "teoria do golpe". Um golpe colapsa por pelo menos uma de três variáveis, quando não, combinações destas: número de vítimas, valor das operações e velocidade das operações.
 
Explicando: necessita-se cada vez mais pessoas para sustentar a "pirâmide milionária", o que revela-se óbvio pois a determinado valor do número de níveis de relacionamento esgotar-se-á a população humana. Mas pode-se burlar esta progressão insana com aumento do valor das "cotas". Pouco interessa, pois chegará o momento em que mesmo que a população da Terra for de ricos com fortunas da escala de um Carlos Slim Helú somado a um Bill Gates, o que daria mais de 100 bilhões de dólares, ainda sim, o sistema colapsaria.
 
Por outro lado, pode-se também fazer operações mais rápidas, e não tardará a fração de tempo na qual as operações, seja com pessoas crescentes, seja com valores crescentes, chegar a tempos ínfimos e irrealizáveis.
 
Logo, chegará o dia que o sistema, que é desequilibrado - e aqui o termo não refere-se a psicologicismos e sim ao termo relacionado com o que seja ponto de equilíbrio em contabilidade de custos (e noutras áreas correlatas) - colapsará, e tal marcha é inexorável a não ser com mudanças de rumos.
 
Se acha o leitor que tal conceito é distante do possível em escala de estado - ou achando que a emissão de títulos que mais cedo ou mais tarde não podem ser honrados não se trata de "um golpe" - não nos esqueçamos que para compensar deficits, o governo brasileiro em outras datas nem imprimia mais dinheiro problematicamente (como o lendário caso alemão de 1923, na pré-história da operação com moedas pelos estados), mas só o "digitava", e mesmo assim, a não confiabilidade da população nos levou a inflações de 86% ao mês (se o valor não foi este, pouco interessa, bastaria mais tempo no mesmo modus para chegarmos a este valor por dia, e tal é perfeitamente possível, ainda que intolerável e insustentável por qualquer governo são, ou cuidadoso com a própria segurança).

Nota 1: O termo "golpe" é mais suave e pode até esconder uma ingenuidade. O termo estelionato já caracteriza o crime descarado. Acredito que nossos dirigentes são similares ao pequeno empresário, que infantil e tolamente, compra por 1, vende por 2, jura que tem 100% de lucro e esquece ou nem sabe que tem 1,01 de despesas relacionadas no período. Pode compensar isso por até longos períodos de tempo, mas ou perceberá a inviabilidade, ou falirá.

Nota 2: O termo "lucro", ainda que tenha uma definição a meu ver necessariamente estrita, pode ser usado em diversas situações, mas devo alertar que mesmo o mais independente e solitário camelô, ao dizer que compra por 1 e vende por 2, e obtém 1 "de lucro", nada mais é que mais um iludido sobre como realmente se dê o jogo dos custos, pois, ao que eu saiba, aquele que vive come, e pelo que me consta, não existe algo como um almoço grátis.
 
Mas no meio desta tratativa até diria primária sobre o que seja equilíbrio em fluxo de caixa, que nada mais é que o mesmo raciocínio que um quitandeiro tem de ter com suas receitas e despesas, apenas acrescido de zeros, citei o problema da infraestrutura...
 
O governo poderia não pagar 30 mil reais para nossos "supremos togados". Poderia pagar 60 mil, ou mesmo 300 mil. Bastaria, ao poder pagar equilibradamente, e no longo tempo**, fazer a economia dobrar***, e pagar hipotéticos 60 mil, ou mesmo acrescentar um zero ao nosso PIB, logo, até ao seu orçamento, e portanto, pagar 10 vezes mais aos seus mais importantes juízes.
 
** E tempos longos em governos são tudo, pois países são limitações geográficas de fenomenologias histórico-políticas, e como digo e repito, História é aquele conjunto organizado de tudo que se deve evitar.

*** O método "único tiro" de Collor, e mais que dele, de Zélia Cardoso de Mello, baseava-se num recolhimento do meio circulante para os empíricos 17% do PIB que habitualmente não são inflacionários, pois estávemos na casa dos 34%. O problema é que ao devolver este volume de meio circulante, necessariamente, para não retornarem como algo acima dos 17%, a economia teria de estar de tal tamanho que os 34% anteriores, mais as correções, e digamos, alguns ajustes, teriam de se tornar novos 17%. Como se vê, o tiro foi um tiro no pé, e a História acumula um exemplo de algo que não se deve repetir.
 
Para tal, basta, façamos uso de "números grossos", manter crescimentos de 5% ao ano por 20 anos, ou por 90 anos (e ainda ficar com alguns "geometrismos" da progressão de reserva para minha argumentação, pois seriam necessários, respectivamente, pouco mais de 14 e 47 anos).
 
Mas não conseguirá nem chegar a manter tal ritmo de crescimento, se ao necessitar de expansões na faixa de 15 a 20 % ao ano somente para o transporte aéreo de passageiros, insistir em apenas recolher dinheiro numa ponta e pagar empregados noutra - sejam eles os faxineiros da mais remota unidade da Polícia Rodoviária Federal ou mesmo o mais reluzente mármore dos seus palácios do poder judiciário. Pode também, além do faxineiro, pagar o eminente homem de notório conhecimento jurídico que pisa no mármore, só mudará o beneficiado pelo pagamento, não a natureza da despesa.
 
Tão simples e claro quanto isso.
 
 
 
Da mesma maneira que uma empresa, um governo deve formar reservas (que podem ser, como digo, estáticas ou dinâmicas****) visando cobrir deficits de uma abertura ou ampliação, ou um período de carências de qualquer tipo.
 
**** Por "reservas estáticas" podemos definir o que seja uma poupança, ou num caso governamental, reservas internacionais. Por "reservas dinâmicas", podemos dizer um adicional de contribuição, grosseiramente (e até erroneamente), lucro, que permita o investimento ou cobertura pretendido, gerando-se no tempo, e até sendo consumido permanentemente, no fluxo de caixa.
 
 
 
Da mesma maneira que empresas enfrentam sazonalidades e períodos que uma determinada distribuição caótica das receitas, que podem se somar aos acidentes e imprevistos que geram despesas, igualmente caóticos, os governos também o enfrentam. Vejamos as recentes secas e os incêndios na Rússia, ou as enchentes na China e Paquistão, ou ainda, o colapso econômico de algum país vizinho, seja importador (em suma gerador de caixa) ou exportados de matérias primas e componentes (que por sua vez igualmente serão, por fim, gerador de caixa).
 
 
Para estes períodos, apresento os dois gráficos a seguir. O primeiro, pode ser entendido facilmente, por exemplo, como o que custará a ampliação de todo um asfixiado parque aeroportuário, ou, noutra escala, também por exemplo, o que custará o período de incorporação de alunos numa "academia de ginástica" recém aberta.
 
Sempre que nos situamos operando abaixo da linha do ponto de equilíbrio, operamos no prejuízo, e queimamos reservas (o que pode ser nas empresas o capital de giro ou a forçada capitalização pelos sócios, ou ainda, endividamento), e mesmo na melhor das hipóteses, geramos um passivo a ser coberto pelas aparentes rentabilidades e sobras futuras (quando não um passivo a ser honrado). Mais que nunca, caixa é fato, e lucro é teoria.
 
Desejando um estado contruir um enorme aeroporto a cada 10 anos (melhor ainda, como necessita-se, 5) necessitará apertar seus faxineiros, e certamente ainda mais, seus juízes (para não dizerem que estou perseguindo o necessário poder judiciário, poderei citar aqui deputados, senadores, ministros e secretários, e até os seguranças do palácio que desejarem, ou mesmo, especificamente, os veículos funcionais da empresa estatal que cuida do transporte aéreo, ou a agência que a tudo afirma-se que vigia, pouco interessa, os números, no fim, serão frios e cruéis como sempre são).
 
Já num caso sazonal, temporário, e tal pode ser uma crise num continente, num setor de negócios ou mesmo na simpática e agradável academia do bairro citada acima, o gráfico será o abaixo, que na verdade, é o mesmo acima, apenas considerando-se um sistema de fluxo de caixa mais estabilizado e não partindo de um 'momento zero'.
 
Mas notemos, que qual seja a modelagem, o dia de repor-se, de cobrir-se, de sacrificar-se, e até do golpe em andamento colapsar, chega, e pouco interessam desejos a plena análise improdutivos, seja do proprietário da academia, seja do ministro que lida com os aeroportos, seja do presidente que a alguém queira apenas agradar, seja do juiz e até mesmo que seja da lei que se proclame como justa.

 
Jamais houve uma lei, conquanto honesta, que impedisse um crime. - 'OG' Mandino
 
Que eu parafraseio em:
 
Jamais houve jogo com valores que, ainda que bem intencionados, se desequilibrados, não rumem para a falência ou o golpe.


Como disse e repito, tão simples e claro quanto isso.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Esquerdadas I


Uma interessante pregação dos esquerdistas é que regimes comunistas fazem bem aos países onde foram implantados (ou impostos). E aqui definamos esquerdistas não como aqueles que propõe uma melhor divisão da riqueza, mas aqueles que proponham uma estatização completa dos bens de capital, uma política de partido único - como se tal fosse 'política' - em outras palavras, cada uma das linhas da cartilha comunista de moldes Leninistas (outras cartilhas mudam no político, mas pouquíssimo no econômico e convergem para o desastre de sempre, e quando não, para tropeços e uma aterrissagem até suave numa volta aos "padeiros de Adam Smith").


Devemos deixar bem claro que regimes que "puxam à esquerda", como muitos dos governos europeus e até mesmo, sob determinados aspectos, o brasileiro, em nada guardam no profundo com o que seja realmente um 'governo de esquerda' propriamente dito.

Hoje, um governo de esquerda propriamente dito é o governo cubano, que já começa, na própria liberalização de barbeiros e cabelereiros (quase gargalho ao usar este exemplo) a convergir para uma liberalização de seu patológico estatismo, por simples inoperacionalidade. Já o Vietnã é uma miniatura da China, com suas fábricas de tênis que são exportados inclusive para nosso Brasil, em larga escala. A Coréia do Norte, anacronicamente, é um sistema feudal travestido de um regime comunista, e tornou-se, ironicamente, uma exótica "monarquia stalinista".

É curioso que alguns defensores do, sejamos diretos, comunismo, pregam que a história mostra que a implantação de sistemas comunistas, inclusive pulando o detalhe da implantação de regimes totalitários, tragam o bem comum.

Faria uma analogia com o uso de esteróides anabolizantes. É óbvio que num primeiro momento, os ganhos de força/volume muscular/velocidade são "benéficos". O problema é o 'pós'.

Como os, como chamo, "esquerdinhas" adoram dizer, vamos aos fatos:

A Rússia era uma monarquia feudal, agrícola e atrasada ao ponto de possuir até exóticas escravidões "brancas" antes da revolução de 1917. Com 50 anos de comunismo, com até brutais políticas de mecanização do campo e 'eletrificação' da produção, os soviéticos mantiveram durante um bom tempo a vanguarda em diversos campos tecnológicos, como na corrida espacial* (e ainda mantém o antigo bloco, como, por exemplo, na fabricação dos maiores aviões de carga do mundo). Até feitos sem grande utilidade prática, como a construção da maior bomba nuclear de todos os tempos, de 57 megatons - que ironicamente, deixou meses os soviéticos sem nylon para qualquer fim em função da confecção de seus paraquedas.

*O próprio programa espacial soviético não foi focado jamais na geração de riqueza, temos de definir, consequente, como nas comunicações, e prestou-se apenas para um paralelo do programa militar e propaganda.

Mas o 'pós' este surto de produção e riqueza, que se deve até a imposição dos programas, métodos e objetivos do estado, mostrou claramente suas consequências e o quanto escondia.

Caminho completamente diverso trilhou a China, que passou de colônia inglesa (entre outras nações europeias), a estado paupérrimo enfrentando os japoneses - num perídodo no qual contou mais uma vez com sua já longeva boa relação com os EUA, do qual já dispunha quando era divivida em sem número de colônias e presenças exploratórias das nações européias, a um estado falido e anômalo, que a conduziu, exatamente pelos mesmos motivos russos, à revolução. O diverso se dá quando, mais uma vez com boas relações com os EUA, e a meu ver o maior de todos os méritos de Nixon, conduziu-se para deixar o caminho já não producente do comunismo, passando a ser um estado capitalista por excelência (lógica e somente, no econômico), com fortíssima presença e atuação do estado na economia, mas com abertura total às economias do mundo (ainda que sob, repito, rígida atuação, participação e controle do estado) e tornando-se, sob toda a análise, o parque industrial do primeiro mundo.**

** Do qual só não se torna quando economias menos prudentes tentam ir na contra-mão, tentando enfrentar sua capacidade inigualável de produzir bens de consumo.

No meio deste processo, a China também construiu bombas atômicas, satélites e adiante, já sobre o que chamo de "um novo mandarinato usando a cor vermelha e não a amarela", perpetuou, com continuidade, e agora propulsionada pelo capital, tecnologia e intercâmbio de informações com os países ricos, tais programas. Mas onde antes produzia para seus cidadãos apenas feios trajes padronizados azuis acinzentados, permite que tenham a liberdade tanto de produzir quanto de usar ternos das grifes ocidentais. Onde antes não permitia mais que bicicletas aos seus "camaradas", agora tem problemas com suas ruas engarrafadas de carros esportivos europeus, para os mais abastados, e modelos populares, e tanto carros para os "capitalistas" quanto os trabalhadores, geram riqueza para todos na teia de circulação de riqueza.