terça-feira, 18 de maio de 2010

Ruínas de Atenas e mais alguns escombros

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Estado provedor

Repetidas vezes já escrevi aqui que o estado provedor é um caminho perigoso. Noutra escala, é o mesmo que o empresário que converge certos excedentes de caixa* para despesas de apresentação/representação**, e não para os fatores geradores de caixa.

O estado que inicia o prover de rendas mensais, em outras palavras: salários, bolsas, pensões, não tardará a ter amarras de todas as escalas sobre sua capacidade de investimento. Não contente em sobrecarregar-se de débitos permanentes e crescentes de caixa (pois as pessoas envelhecem e obrigatoriamente se aposentam, quando não, natural e infelizmente, tornam-se incapazes), chegará o momento que produzirá gargalos os mais diversos, especialmente de infraestrutura, e disto não tardará a barrar sua, agora já obrigatoriamente como crescente, carga tributária necessária (aquela que necessita para cobrir suas despesas).

Um estado assim, não tardará também a não se direcionar para a "zona do abismo" da curva de Laffer, não tendo mais margens de manobra para buscar um caminho de correção, pois a população (último real gerador de tributos) será arredia a fornecer mais recursos.

*E até o próprio caixa como um todo, sem critérios de proporcionalidade sobre o que possa ser lucro.
**Exemplos: carro novo e confortável, casa de campo e praia, barco de pesca, etc. Na verdade, a lista dos desejos e sonhos de consumo é sempre potencialmente infinita, e a relação dos realizáveis pelo caixa é sempre limitada, enquanto os fatores geradores são sempre perigosamente frágeis.


Benesses desmedidas

Não contente um estado de prover massa de trabalhadores estatais em áreas além do necessário pela população, normalmente, incha seus conroles, ultrapassando os princípios de economia que regem a implantação de controle, como: "os controles devem ser implantados até o nível que seu custo seja viável frente à economia pelos controles gerada".

Noutras palavras, implantar uma estrutura de controle que custe 1 bilhão por ano, mas que gere uma economia (ou poderia ser uma receita) de 999 milhões é claramente inviável. Noutras palavras ainda, um estado deve inchar-se em serviços, jamais em burocracias. Ainda noutros termos triviais, o estado que provê milhares de funcionários de saúde e defesa civil, não terá problema algum até de aumentar sua carga tributária, já um estado que atupeta-se de prédios de escritórios para manipular papelada de "trabalho aparente"***, não conseguirá produzir mais um centavo de carga tributária de sua população a partir de determinado ponto.

***Aquilo que parece trabalho, tem jeito de trabalho, gera volume de informações como trabalho, possui gente agitada e estressada como se estivesse trabalhando, mas não é trabalho.




Viver além do real e possível

Como bem foi dito pelo governo alemão, que sejamos sinceros, é o que faz "o euro ser o marco com um nome mais simpático", a Grécia tem de aprender a "viver dentro de sua realidade" (engraçado que esta frase é ouvida por filhos de seus pais, pelo mundo a fora). Lembra-me o que digo sobre finanças, em que vale algo parecido como o conhecido livro pueril de auto-ajuda  "Tudo Que Eu Devia Saber Na Vida Aprendi No Jardim de Infância" de Robert Fulghum.

Este estado, sempe amarrado à sua classe política e a oligarquia que produz, não tardará ainda em começar a emitir títulos crescentemente, e mais uma vez, como inúmeras outras situações de diversas escalas, iniciar uma marcha para a inoperacionalidade.

Aqui, percebamos que o Brasil possui uma situação que me parece perigosa. Vejamos, na forma de aparentes silogismos:

1.O estado é deficitário, e emite títulos.
2.Para ter atratividade para seus títulos, necessita manter taxas de juros, mesmo em meio a uma crise internacional, a valores altos.
3.Qualquer movimento de consumo, que eleva o PIB, ou melhor, gera realmente riqueza, gera inflação.
4.Esta inflação é gerada mesmo em meio a uma das mais altas taxas de juros do mundo.
5.Ao elevar a taxa de juros para controlar a inflação, o estado piora, inexoravelmente, sua situação potencial no tempo.

Acredito que aqui posso encerrar o conjunto de passos e ligar o (5) ao (1). Estamos, na verdade, sem quebrar a situação de (1), num círculo vicioso, e não num virtuoso, que só surge quando considera-se o (3) isolado. Mais uma vez, noutras palavras, o fluxo de débitos e créditos, valores, deve convergir para o equilíbrio, e só se expandir alinhado com o crescimento da economia, se este houver.

Como ensinaram por diversos caminhos meus pais, e eu talvez estivesse há pouco saído do jardim de infância e hoje trago para meus presentes dias: se disponho de 100, posso comprar uma cerveja de 10, se disponho de 1000, é conveniente beber um vinho de no máximo 50, e se disponho de 10000, talvez seja a hora de comprar um whisky de 200. Notemos que as proporções não são as mesmas, pois como aprendi com meus amigos argentinos "a previdência é uma virtude", e devemos crescentemente formar reservas.

A razão de reservas terem de ser crescentes é que as demandas possíveis, emergenciais e operacionais, a medida que a escala dos processos cresce é de taxa de crescimento ainda maior. Isto é válido para nós, em nossos crescentes imóveis e caros, por exemplo, como para nações.

Exemplifico: numa empresa pequena, uma emergência é trocar um pequeno motor de uma máquina. Numa grande, um maquinário de valor superior ao faturamento mensal . Num pequeno país, com poucos milhões, se contrói uma via para ônibus na maior das suas cidades. Numa das cidades de um grande país, o imprescindível metrô custará bilhões, e será apenas um paleativo para os problemas em pauta.

Mantenhamos sempre em mente a máxima: a medida que os sistemas se ampliam aritmeticamente, as variáveis a serem controladas crescem geometricamente, os problemas possíveis exponencialmente e as combinações entre eles fatorialmente (e estas taxas de crescimento aqui apresentadas podem ser exageradamente otimistas).




Revoltas e frustrações

É humano que após um período sob determinado estado benevolente, de 'assistência plena do berço ao túmulo', entre outras concepções, ou como prefiro, de assistência do útero ao túmulo, ao serem cortadas determinadas variáveis, especialmente as benesses extras ao básico e julgado necessário que eram oferecidas, as massas se revoltem e exijam a manutenção do que é insustentável, e na verdade nunca foi sustentável.

Esta é a grande diferença entre a maneira da população estadunidense e europeia encarar as mudanças de paradigmas do que seja o que o estado lhes provê. Como os estadunidenses estão acostumados (não confundir com apáticos ou conformados) a cortes e demissões, e um determinado nível baixo de securidade estatal, a geração de prejuízos por revoltas é baixo, um nível de anarquia ocorrente é baixo, e sejamos simples, quebram-se poucas coisas.

Em contrapartida, a reação da economia propiciada pelas ações do estado, como viu-se nas massivas demissões federais durante o início do período Clinton, levam a economia a responder positivamente após um determinado período de tempo, que é o que se evidencia agora, por outras vias e a partir de outras questões, mas com o mesmo "motor".

No quadro mais amplo, especialmente no tempo, a situação estadunidense se revelará mais estável, e as frustrações apenas momentâneas. Em termos cartesianos, a curva de bem estar da população estadunidense é mais suave, e tem-se mostrado, excetuado alguns tropeços, constantemente crescente.

A Grécia, Portugal e Espanha, ao tentarem burlar um certo fluxo natural destes processos, e atingirem padrões mais holandeses (citando o clássico 'tratamento holandês', padrão do "paraíso europeu"), deram agora tropeço que parece-me, sem retroação a níveis bastante difíceis, literalmente impossíveis de não causarem extrema revolta, e ao longo de anos, todo um quadro de sacrifícios generalizados entre toda a europa - sem falar de uma óbvia concentração direta sobre as nações envolvidas - visando cobrir os custos de recuperação, aquilo que é as vezes chamado de "divisão de prejuízos".




Paranóias

Tenho de admitir que acho as hipóteses de que a Europa rume para regimes autoritários uma paranóia sem fundamento (como toda a paranóia).

A Europa rumará para uma austeridade nas finanças públicas, e devido a atuações de seus bancos durante o pré-crise subprime, a um ainda maior rigor no controle do sistema financeiro, que em paralelo com a loucura da alavancagem acelerada, crescente e múltipla, mal lastreada e nem isso, foi ainda mais insana, com destaque para a supostamente séria neste campo Islândia, que o maior causador do problema, que foi, evidentemente, os EUA. Mas a zona do euro em si teve seus próprios e específicos pecadilhos, pois explosões de crédito e relacionada contrução civil, como se evidenciou em Portugal.

Como foi muito bem dito em painel de opiniões sobre a questão: após a bebedeira vem a ressaca, após o carnaval vem a quarta-feira de cinzas, ao que eu somo que após a glória da Grécia e os triunfos de Roma, podem vir as ruínas de situações econômicas equilibradas e poderes mal conduzidos.


Manifestação do partido nazista em Nuremberg e Love Parade em Berlin.



Mais uma ideia brilhante

Como um exemplo do que um amigo consultor chama de "psicopatia financeira", e que deveria cair na série de minhas blogagens "ideias brilhantes", a 'pensão para jogadores de futebol defensores da seleção brasileira'*(4), trata-se de algo tão insano que poupo-me de qualquer comentário além do seguinte: pelo mesmo raciocínio e sobre as mesmas premissas, deveríamos estender tais valores a praticantes de basquete (que no passado foram bicampeões mundiais), no futuro, os grandes contingentes de toda a geração do vôlei brasileiro, com sua excelência já de décadas e evidentemente, também aos claramente desprovidos praticantes de hipismo e vela, após passar por todos os demais esportes.

*(4) Note-se que parece que a pátria de chuteiras não precisa nem mesmo da definição de qual esporte seja, quando trata de "seleção".



Crescimento e sustentabilidade
Seguidamente tenho me pronunciado sobre a impossibilidade de se sustentar crescimento apenas sobre consumo. É claro que Economia é um campo que é multivariável, o que no inverso é um permanente erro dos "marxistas e anexos". Por similaridade banal, se uma criança cresce, não quer dizer que tenha de obrigatoriamente aumentar de peso.

Mas quando se percebe que o consumo no varejo cresce a anualizados 16%, em números mais que chineses, e o PIB aponta para perigosos pois excessivos 7%, alguma coisa me diz que a população estará perigosamente se endividando, e talvez o sistema não consiga se sustentar num ponto adiante.

Quando os imóveis, com pesado crescimento de seu financiamento/crédito, elevam seus preços, é sinal que ainda existe "otários" que dizem SIM e concordam com assinar contratos, enquanto "espertos" (serve o termo "malandros") percebem a ainda reserva de "otários" e elevam seus preços, pois o mercado, obviamente, está permitindo tal coisa. O rompimento deste processo cíclico se dá quando o primeiro "otário", resolve dizer NÃO e torna-se um "esperto", e só aceita assinar um contrato quando lhe for oferecida a mercadoria imóvel pelo valor correspondente na mercadoria crédito, que é a mercadoria dinheiro disponível no futuro. Se é que vai querer trocar dinheiro, presente e futuro, por isso.

Até aqui, enrolação minha sobre oferta e procura. Mas dois problemas se avizinham no horizonte, sempre: quando não puder se oferecer mercadoria imóvel a não ser que exista a mercadoria crédito, pois a mercadoria dinheiro no presente não exista - e presente é sempre o futuro chegando, ou quando o sistema, na necessidade de gerar algum balanço operativo*(5), aceitar carnês de pagamento..., perdão, contratos, como hipotecas para mais financiamentos e empréstimos para manter alto consumo, que garante emprego, e tivermos nua versão local, uma crise subprime, talvez que venha a ser chamada "o dia em que não aceitei o seu papagaio ruim pelo meu bem sólido e bom".

*(5) aquela coisa que volta e meia faz surgir aquilo que chamamos lucro, que é, em suma, o que vai propiciar PIB e outras coisas típicas dos economistas que significam geração de riqueza.


Um dia, a festa termina, a bebida acaba, e a ressaca começa, quando não, numa quarta-feira de cinzas no pior dos dias de chuva.

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