quarta-feira, 30 de março de 2011

Falácias de Alices (V)

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A divisão "social" da terra

Se uma terra é "improdutiva", o é por vários motivos:

Por exemplo:

1)Seu proprietário é um desmotivado, e não a usa para gerar mais riqueza para si.
2)Seu proprietário é motivado, mas não possui recursos para explorá-la (falta de capital ou crédito) ou no momento, não é viável cultivá-la (que pode, tecnicamente, incluir pasto para os diversos gados) - aquilo que devemos entender por mercado.
3)Não possui clientes (inquilinos, arrendatários) para explorá-la, ou estes caem nos casos acima.

E assim por diante, quase ad infinitum.

Logo, não existe, desde um primeiro momento, o possuir terra e não explorá-la.


O típico ânimo dos que querem terra, talvez copiável, veremos nesta blogagem, pelos que não possuem bancos ou siderúrgicas (vidacheiadesomefuria.blogspot.com).

Deve-se perguntar, antes, se a mercadoria em questão não seja a própria terra, que neste caso, comporta-se como um estoque, e tem-se de esperar que apareça o viável comprador, o preço pretendido/viável, ou a condição de mercado (ter quem a compre).


Compre a terra, eles não a estão fazendo mais. - Mark Twain


Mas abordemos este problema por outras vias.

Digamos que exista uma terra, produtiva, de 50 x 50 km, 2500 km quadrados, uma enormidade. Duas vezes a área da cidade de São Paulo. Mas é produtiva. Curiosamente, esta terra é vizinha de outra igual, improdutiva. Esta sua irmã é dividida, usemos números simples, entre 2500 "sem terra", ficando cada um deles com 1 km quadrado.

A terra maior, ao comprar um defensivo agrícola, digamos 2500 quilos, o fará com um preço D e frete F. Logo terá um custo de defensivo C=D+F.

As terras menores, comprarão, até pelo mesmo preço por quilo, o mesmo defensivo, mas obrigatoriamente, pelo custo dos fretes, a um frete pouco maior, digamamos 10%, de frete. Teremos assim C'=D+1,1.F, que obviamente, é maior que C.

Poderíamos dar a questão por encerrada aqui, mas claro que Alices poderiam argumentar que os proprietários dos 2500 lotes de quilômetro quadrado poderiam fazer sua compra cooperativada. Eu perguntaria se, em não havendo administração uníssona, nos diversos problemas que adviriam dos acertos de distribuição, formas de pagamento, n problemas em 2500 cabeças a se coordenarem, conseguiriam até a eficiência de tempo do produtor latifundiário?

Exemplifico: poderíamos ter, mesmo dentro de cada "lote" (termo adorado por Alices para o recurso terra), conflitos entre irmãos, separações de casais, conflitos de herança entre filhos e viúvas(os), etc, múltiplas combinações de diversas incompatibilidades. As situações são sempre reais, não ideais.

Lembrando Delille:

O destino faz os parentes, a escolha os amigos.

Abrindo um pequeno parênteses, assim como o destino faz os parentes, a biologia trata de fazer a vida ser uma doença sexualmente transmissível, e a igualdade entre o tamanho dos lotes teria de ser definida em função de núcleos familiárias ou do tamanho das famílias? E se as famílias aumentarem ou diminuirem (sim, a vida é uma doença com 100% de taxa de mortalidade) ao longo do tempo, o lote de uma família de 5 pessoas que passou a ter 4 teria de ser reduzido?

Não existe divisão igualitária possível no econômico, infelizmente.


Mas tratemos doutro ponto.

O latifundiário (aquela palavra que Alices odeiam) poderia comprar 5 colheitadeiras, a um custo de, digamos, 500 mil reais, pagos em 10 parcelas, com juros de 2% ao mês, lastreado pela sua área de terra enorme. Aliás, poderia garantir o pagamento com safra, pela sua própria escala.

Já os minifundiários, jamais comprariam um única colheitadeira pelo mesmo preço, condições, prazo e juros, sejamos diretos. Jamais poderiam ter um lastreamento da mesma escala e segurança. Teriam de se coordenar para fazer o mesmo, e novamente, os mesmo problemas de coordenação apresentados acima.

Mas sejamos ainda mais detalhistas.

O latifundiário, poderia, digamos, ter enormes ganhos mensais de (sejamos novamente usuários de números fáceis) 2,5 milhões de reais por mês. Os minifundiários, já teriam de ter, pela mesma proporção, ganhos de 1000 reais, e aqui, serei sincero, usei de uma proveitosa desonestidade intelectual, pois acabei de mostrar que os minifundiários terim um renda pequena, e desprezei que teriam custos maiores.

Claro que o latifundiário, ao apresentar custos menores e ganhos maiores, poderia ter preço mais competitivo em seus produtos, e exatamente "queimando suas gorduras", reduzí-lo ainda mais, frente ao preço dos minifundiários, e o mercado lhe compraria pois sempre, em se tratando de mesma qualidade, ainda mais em produtos agrícolas.

Noutras palavras, e de maneira simples, pode reduzir seus custos passando a ter ganhos de 2,4 milhões por mês, jogando esta redução como uma redução de seus preços.

Claro que aqui Alices diriam que onde um ganha, agora 1000 estão ganhando.

E eu diria que estão crassamente errados!

Se a área mantém 1000 trabalhando para os minifundiários, manteria número tendente a este, de maneira economicamente viável, como rabalhadores rurais do grande latifundiário, que certamente, até pelas margens possíveis proporcionadas pelos menores custos e maiores vendas, mais bem remunerados que os pequenos proprietários,que aqui, paradoxalmente, não podem pagar qualquer trabalhador que seja com seus pequenos ganhos.

Mais uma vez, não se pode produzir riqueza a dividindo, só lamento.

A tragédia da vida é que nos tornamos velhos cedo demais e sábios tarde demais. - Benjamin Franklin

Mas há um pequeno detalhe ainda a colocar.

Toda atividade econômica possui, além do seu ponto de equilíbrio financeiro, aquele no qual a riqueza produzida cobre os custos no tempo, possui um equilíbrio mercadológico, que é aquele que permite com que se obtenha preços competitivos, como vimos acima, sustentáveis no tempo, que mantém, nisto, o equilíbrio financeiro.

Assim, as capacidades de absorção de custos acidentais (como uma enchente), o corte de faturamento (causados, p.ex., pela enchente) de um empreendimento maior sempre será maior.

E aqui surge um paradoxo: as propriedades menores, no caso acima, terão de agir exatamente como a propriedade maior, cooperativadas, e inclusive, na sua escala, tender  ganhos entre seus componentes que estabeleçam-se para tender a mesma situação de custos (equilíbrio), da propriedade maior, inclusive, tendo ganhos tao pequenos (digamos) quanto julgam que possuem os empregados da propriedade maior.


Sejamos bem claros que nesta apresentação, não estou dizendo para que não se distribua a produtores aptos, verdadeiros "sem terra", propriedades de traficantes e produtores de drogas, sonegadores, devedores contumazes de empréstimos agrícolas, políticos com enriquecimento ilícito, etc. Logo, o problema é de inteira responsabilidade do poder judiciário e de sua execução pelo executivo (a permanente redundância em se tratando do que é - o dever - público).

Para evitar as críticas, não faça nada, não diga nada, não seja nada. –  Elbert Hubbard


O que não se pode afirmar, é que ao existir terra, e "não seja produtiva", se a distribua sem critérios econômicos aqueles que afirmam não a possuir, pois se não, pela própria impossibilidade de se distinguir exatamente as diferenças de atividades econômicas quato à geração de riqueza, teríamos de distribuir bancos, siderúrgicas, refinarias de petróleo e até, para exemplo no limiar do absurdo, bordéis.

Toda a divisão de forma cartesiana, euclidiana de bens, nos moldes maoístas/stalinistas, é sob toda análise, uma injustiça e um incoerência.

Analisemos também,o que seria o "sem terra". Por uma definição ampla, eu sou um sem terra. Por uma definição estrita e diria um caso justo, o desapropriado para a construção de uma barragem é um sem terra, e deve ser ressarcido. Mas o agricultor incompetente, que administrou mal seu negócio, e perdeu a terra até por dívidas tributárias prejudicando toda a sociedade (sejamos claros, mesmo com cargas e leis tributárias respectivamente asfixiantes e insanas), deve ficar sem terra, da mesma maneira que o inadimplente com seu caro carro que estava acima de sua capacidade de pagamento deve ficar sem carro.

Se você ama alguma coisa ou alguém , deixe que parta. Se voltar é porque é seu , se não é porque jamais seria . - William Shakespeare

Além disso tudo, é claro que para sustentar estas pequenas unidades de produção agrícola, serão usadas verbas públicas, e aí terei de perguntar porque o trabalhador urbano, o industriário, o comerciário ou mesmo o lixeiro da pequena cidade terá de pagar com o suor de seu trabalho para manter aquele que se colocou na atividade agrícola, com o ganho injusto de uma propiredade, quando for comprar se saquinho de feijão ou seu chinelo de borracha, ou ainda o leite de seus filhos, que por sinal, podem ser de maior número que o do dito agricultor.

Logo, não há argumento, ainda mais passando pelo dilema oriundo do paradoxo sorites, que separe o que seja algo "produtivo e improdutivo", ainda mais, em considerar que em havendo excedente de algo, tenha, de por si, ser distribuído entre os que não o tenham.

As palavras verdadeiras não são agradáveis, e as agradáveis não são verdadeiras. - Lao-Tsé


A (grande) propriedade privada - I

Interessnte que existem aquelas Alices para as quais toda a propriedade privada é roubo. Curiosamente, estas, as mais radicais, são incapazes de abrirm as portas de suas casas para as massas de desabrigados de nossas cidades, assim como, pelo que sei, jamais alguma chegou todo mês e distribui metade - ao menos - de seu salário com as mesmas massas maltrapilhas que pelo visto não gosta de ter dentro de sua casa. Existem também aquelas que concordam que a horta de um plantador de tomate de periferia urbana*, o carrinho de um pipoqueiro*, o baldinho com flores da florista que nos até atormenta nos bares que frequentamos* não caracteriza-se por ser uma propriedade que seja roubo. Seriam, no seu modo de ver, "propriedades privadas justas". Mais um caso interessante de paradoxo sorites como falácia.

* Todos casos que utilizei como argumentação em Falácias de Alices (II).




A produção extensiva, industrializada, e a de pequena escala. A segunda jamais conseguirá ser competitiva, tanto em custos quanto preços, quanto a primeira.


Abordemos a questão pelo próprio paradoxo sorites.

Digamos que n cultivadores de tomates reunam-se e formam uma cooperativa. Evidentemente, parece-me lógico que a soma de partes que não são roubo formam um somatório que também roubo não pode ser. Digamos que dentre estes, passem a existior aqueles que não desejam ter seus lotes de terra, mas apenas cultivar, tratar e colher a de outros, em troca de seu salário (aquele tipo de coisa que pelo que consta, o mundo "comunista", ops, "capitalist de estado" da URSS, passado da China e ainda hoje em Cuba e Coreia do Norte nunca pagou decentemente a seus trabalhadores rurais). Assim, passarão os cultivadores de tomates a formar dois grupos (e poderiam ser g grupos), os admnistrdores das áreas e os , digamos, cultivadores. Evidentemente nenhum dos dois rouba, nem mesmo, ao possuírem algo mais num grupo que o outro (um possui terras, e o outro, ferramentas e metodologias, por mínimo exemplo).

O que interessará, por fim, será a remuneração. E aí surge uma das mágicas do sistema capitalista. Os cultivadores, se não bem atendidos em suas necessidades/desejos, podem perfeitamente deslocar sua capacidade de trabalho, que é sempre relacionada com sua capacidade de gerar lucro a quem quer que seja, para outros proprietários, perdão, administradores de área de cultivo.

Assim, a posse da terra, pura e simples, não pode ser considerada roubo.

Ms digamos que no mesmo processo acima, recomecemos, mas partindo de dois lotes de terra com duas cooperativas, agora, já sob um determinado grupo de "proprietários". Estes se fundem numa propriedade maior, que pelos mesmos raciocínios acima, não poderá ser considerada roubo.

Assim, o tamanho da propriedade agrícula, por si, não pode ser considerado, pura e simplesmente, roubo.

Na próxima blogagem, tratarmos de uma argumentação semelhante, mas com o que chamaria de "um crescente carrinho de pipoqueiro".



Perde merecidamente o próprio quem cobiça o alheio. - Fredo




Extras

1)

A dívida pública mobiliária federal interna do País cresceu 2,82% em fevereiro em relação a janeiro, atingindo R$ 1,586 trilhão, segundo informações do Tesouro Nacional em 24 de março deste ano. No mês anterior, o governo fez uma emissão líquida no valor de R$ 27,25 bilhões e a apropriação de juros somou R$ 16,24 bilhões. Segundo o Tesouro, o estoque da dívida pública federal, incluindo também a dívida externa, cresceu 2,63% em fevereiro, para R$ 1,672 trilhão.

Neste ritmo, este valor, se anualizado, fará a dívida pública mobiliária federal interna crescer a aproximadamente 39,6% e o estoque da dívida pública federal aproximadamente 36,5%.

2)

Há certa Alice pitoresca, professor de filosofia de ensino médio (curiosidade: isto realmente existe?), que diversas vezes enveredou por tentar pregar sua fé utópica, florida e doce-algodonada comigo. Numa destas tentativas, apresentou uma argumentação que julgaria "brilhante" (percebam a ironia) sobre as privatizações, destacadamente, da telefonia.

Lembremos que antigamente, tínhamos baratíssimos telefones e alta tecnologia, distribuídos até para os mais pobres de nós, não é mesmo? [mode sarcasmo off]

Mas a coisa fica mais divertida quando tratamos seus mantras:

Ou, talvez, não estaríamos pagando a 2° maior tarifa telefônica do mundo.
E com ela, arrecadando um balaio de impostos e ficando quietos sobre isso. porque é melhor para nossa alma oculta de estado estufado, devendo até os ossos, jogando populismo para tudo que é lado feito uns irresponsáveis e empregando até a mãe, de preferência, sem a dita senhora bater o ponto. 

Pelo mesmo motivo, a Petrobras, que é uma estatal, castiga os corpos de Alices estatistas o mesmo valor record frente ao mundo de combustíveis, e as estatais do setor elétrico, a tarifa de energia.

Mas aí, claro, as Alices, felizes, pagam valores absurdos pois faz "bem à nação".

Mas obrigado, em nome de toda a classe petroleira, pelo gordos salário da Petrobras, e pelos gordos salários das terceirizadas. Idem para as demais estatais. Pelos jetons dos conselheiros! Pelos valores absurdos pagos até por um parafuso! Pelo metanol comprado do Chile!

E mais que tudo, pelos contratos enormes de consultoria! Etc, etc...(sic)

Pois afinal, como disse sabiamente Crowley, não existe caminho para a fortuna rápida que nascer um otário a cada minuto.

Muito obrigado!

Agora, insignificantes escravos da demagogia barata, pagando tudo isso, inclusive para mim, com seus salários (e árduos suores) de Alices, abram um livro de Custos, um de Contabilidade e talvez até um de Economia, bem básicos, antes de escrever mais tolices que só será enfiada novamente nas suas almas atormentadas escrevendo bobagem sem nexo até em matemática elementar.

Obs.: Os termos, no dito "debate" foram um tanto outros, e dignos da mais desbocada de nossas comédias em teatro.

Como digo: Abram um livro de custos, leigos que não sabem fazer mínimas contas! Ou, como dizemos à todos os crentes, desde o criacionismo biblicista até as utopias infantis: Vão estudar!

Fantástico, que no meio da pregação barata, o personagem até chegou a afirmar que elevar a cotação do dólar (por si e isolada) melhoraria nossa situação.

Claro que explicar esta barbaridade que não resiste ao custo nem do diesel para levar o saco de arroz para nossos mais pobres bolsões, em sólida teoria econômica, como adoro dizer, lhufas.

Defender com a mesma sólida teoria econômica política de juros e endividamente público, com juros tendendo a 12,5% para este ano, aquilo que pode nos enterrar junto e sob o vomitar de tolices do "guru" econômico do governo, junto com a "atual suprema mandatária", igualmente lhufas.
Para eu ver o resultado disto, basta eu esperar o tempo passar.

No meio de suas pregações, claro que Alices esboçam que uma distribuição de renda produzida diretamente (e autoritariamente) pelo estado - e mais meia dúzia de coisas que "a gente" considera - e prova - nula ou improducente - seja, quando refutada, contra-argumentada ou repelida, a "expressão de todo o mal". Pois Alices tem um vício desgraçado na falácia da falsa dicotomia (todo aquele que a mim se opõe, se sou o bem, é o mal), e portanto, tudo aquilo que não é "nosso populismo barato" e "de nosso governo", que vai enterrar no tempo a população inteira no pior dos buracos, tem de ser tratado quase com ímpetos de um exorcismo.

Alices, quanto mais lemos as tolices que escrevem, mais sabemos merecerem ter as normais profissões mal pagas em que se limitam, e ainda por cima, 'achando-se sábias'.

Chega a dar pena (minto!) humilhá-las em público, ainda mais com sua ignorância em mais em meia dúzia de campos.

Agora, contemos os dias, pois não se darão dois anos e tropeçará a economia, com as Alices agarradas em desespero a seu modelo de governinho demagógico e estúpido desde seus princípios.
A não ser que as providências de austeridade e o que chamo de "rigidez contábil" sejam implementadas.

Aquilo que sabemos ser o certo, mas que é, para criança mimada que é toda a Alice, "o mal".

Tão certo quanto o Sol se levanta todas as manhãs...


3)

Alices seguidamente se manifestam-se em jogral. Quando uma encerra seus versos sacros, outras passam a pronunciar os seus.

Exemplo no mesmo episódio acima:

Lula super carismático(1) e capaz(2) acabou levando o país para onde queria(3) e agora o Brasil vai se tornando um país(4).

Analisemos:

(1) Sim, como todo populista.
(2) Piada, pura e simples
(3) = (1)
(4) Aguardemos para ver onde a coisa termina.

Mas aqui, por favor, Alices deveriam usar pátria, que é uma país, com um povo, logo, uma nação, sob leis, que infelizmente, não foram cumpridas, e se acha que está conduzindo a ser "um país", lamento: wishful thinking, pois otimismo algum salva deficit crescente e como sempre, esperança é um mal que se traveste de virtude.

No populismo demagógico de Lula estão as raízes da própria desgraça de sua maneira de se estabelecer no poder e do próprio povo brasileiro, de buscar soluções fáceis para seus dilemas.

4)

Com a recente carência de etanol no mercado brasileiro (preço alto) e mais algumas "operações correladas", o Brsil conseguiu, de uma vez só:
1.Deixar de ser exportador de gasolina (agregadora de valor) em troca de petróleo para produzir diesel (transporte de cargas e coletivos) para ser importador.
2.Passar a ser importador de etanol de quem pretendia que fosse seu maior cliente (EUA).
3.Passar a acrescentar água indiretamente pelo etanol hidratado, pois o etanol anidro possui maior custo.
4.Trocar parcialmente uma matriz renovável por uma matriz fóssil.
E só quem paga tudo isso (e inclusive sofre com o ambiental/saúde) é o único pagador final de todos os custos, o brasileiro médio, que inclusive, continua a comprar os mesmo carros que entopem nossas cidades e simultaneamente, pois é de sua natureza, requerem mais combustíveis.
Não diria uma catástrofe, mas um quase fiasco.



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segunda-feira, 21 de março de 2011

Custos ocultos e desejos de consumo

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O custo do assistencialismo

Já tratei de assistencialismo em Discussões sobre custos, mas aqui, acrescentarei um detalhe. Independente da obrigatoriedade para a motivação ao trabalho, da cobrança do tornar-se o assistido independente em tempo hábil, todo assistencialismo que não visa  a geração de riqueza adiante no tempo está destinada a gerar, no balanço final, mais pobreza que o estado anterior.

Expliquemos.

Mesmo no caso do keynesianismo mais radical, numa primeira etapa de "cavar-se buracos e cobrir-se depois", tem-se sempre de ter em vista mais adiante a cobertura dos custos destes programas. Evidentemente, Economia não é Contabilidade, onde, a exemplo da imagem que já apresentei, ao ter-se uma superfície coberta de areia, ao deslocar-se um volume de um local, abre-se um buraco. Mas para "fatias" estreitas de tempo, um modelo de partidas dobradas, completamente contábil, pode ser aplicado. Ao retirar-se das porções mais ricas da sociedade um determinado volume de capital, e repassá-lo às massas mais pobres, este mesmo volume é apenas transferido, porém, esta própria operação gera custos, e portanto, torna a sociedade um tanto mais pobre, enfrentando o que chamo de "o atrito dos custos", com minha peculiar maneira de ver a Economia com metáforas de Física.

Assim, independente das classes mais abastadas absorverem num primeiro momento o repasse, e adiante o transferirem, como custo, obviamente, às massas consumidoras de serviços e produtos que administrem (ou possuam), o custo burocrático, operacional, e mesmo fugas de capital (para não citar diretamente corrupção), serão absorvidas por toda a sociedade, e pelo mesmo mecanismo de repasse dos mais ricos, pago apenas pelos mais pobres.

Assim, todo assistencialismo, quando não focado no futuro enriquecimento (pois me parece que seu objetivo é tornar pobres menos pobres), leva ao empobrecimento geral de uma sociedade.



O trabalho nos livra de três grandes males: o tédio, o vício e a pobreza. - Voltaire


Novas necessidades

Jamais encontrei um homem que não tivesse mais desejos do que necessidades. - Voltaire

Chegada a virada do século XIX para o XX, os publicitários novaiorquinos perceberam que a capacidade de produção dos bens estava se tornando superior às necessidades do mercado a serem atendidas,  e também, que os preços dos bens estava diminuindo (exatamente pelo mesmo aumento da escala de produção).  Marx observou este fenômeno, e supôs um inexorável colapso do sistema capitalista, na verdade, um erro de premissas.

A partir desta percepção, os publicitários, ligados aos grandes "aristocratas industriais", desenvolveram a permanente oferta de novos (repito, novos) bens, que passariam a ser as novas supostas, relativas, subjetivas, "necessidades". Vide todo o mercado de objetos de bazar, das cozinhas aos banheiros, os eletrodomésticos, as mirabolantes engenhocas, aquelas com as quais "seus problemas acabaram".

Somou-se a isto a obsolescência programada, a permanente mudança de arquitetura. Cito como exemplo a caríssima placa de som que certa vez comprei, que ao trocar de micro, digamos, o restante da máquina, era inadequada (incompatível é o termo do ramo) para ser instalada na nova arquitetura. Aí se somam gabinetes, fontes, etc. Nem necessitamos falar de desastres do passado, como o falecido "vídeo disco". Perceba-se a correria às lojas pelos novos pads e celulares, quando a maior parte dos usuários, sabemos, usa as mesmas funções do celular de 5 anos atrás e nem mesmo tem uso para todas as funções do pad que acabou de ser julgado "obsoleto".

Não só se necessita hoje da "angústia do não ter", mas da "angústia de não ter o que você nem sabe se necessita".


-nos os bens, quer os peçamos ou não, e afasta de nós os males mesmo que os peçamos. Esta oração me parece bela e segura. Se nelas encontras algo a censurar, não o escondas. - Platão



A insustentabilidade da crescente produção

Nos anos 50, em pleno baby boom, a Warner produziu um desenho animado com Patolino e Gaguinho, no qual Patolino é o vendedor de ações, e o Gaguinho, nada mais natural, o provável cliente.

Após mostrar que ao comprar ações, mais produtos são produzidos mais baratos, para que mais trabalhadores tenham seus empregos, maiores salários e comprem bens, Gaguinho pergunta com uma sabedoria que julgo perfeita:

-Mas quando isso termina?

Ao que Patolino responde, com a insânia típica de uma era de ufanismo desmedido:

-Nunca.



O calor perdido como limite

Claro que toda a produção de bens tem limite, mesmo numa escala forçada como a dos ambientes de ficção científica, universos imaginativos típicos de otimismo e abundância, basta ver os recursos de materiais, energia e conforto das ficções mais utópicas (evidentemente, as distópicas rumam por um pessimismo mesmo a partir de nosso estado de coisas).

Nosso consumo de energia está superando em crescimento a escala da economia. Para cada , digamos dólar que geramos de riqueza, gastamos um tanto  mais que antigamente, para cada dólar, de energia, em diversas formas. Num exemplo, enquanto a economia chinesa cresce 10%, seu consumo de energia dispara na direção de 20%. O próprio Brasil apresenta este dipo de defasagem entre o crescimento da economia e energia.

No caso do Brasil, basta ler este artigo:

Consumo de energia no País cresce 6,5% em janeiro - economia.estadao.com.br

Para mais dados, recomendo:

World Energy Demand and Economic Outlook


O problema é que a entropia, a segunda lei da termodinâmica, determina que parte desta energia, em cada etapa, sempre se transformará em calor. Stephen Hawking  trata disto, em O Universo numa Casca de Noz, e já mostra que tal levará a superfície do planeta, no ritmo que estamos, nos p´roximos 600 anos, a atingir a temperatura que chamamos, em Física e Engenharia, de "ao rubro". Coloquemos aqui que esta temperatura corresponde a uns 600°C, mas acredito que parece óbvio que bastam uns 50°C, a desagradável temperatura de uma sauna.

Tratei do tema, de um ótica mais científica, aqui: Humanidade Como Força Geológica II - A escala da produção de energia

Tal como uma colônia de bactérias (o que, cladisticamente, somos) nos comportaremos dentro de uma curva s. Talvez com um longa fase estacionária, e procurando fazer de tudo para não cairmos numa fase de "morte".




Assim, o equilíbrio entre o ente natureza e o ente capital, operados pelo ente trabalho, terão de tender a sustentabilidade, até por barreiras intransponíveis pela simples biologia. Logo, o capitalismo evidentemente tem limites em sua marcha, e teremos de mudar muitos de nossos hábitos e limitar muitos de nossos permanentes novos desejos de consumo. Teremos, por irônico que possa parecer, de nos tornarmos mais econômicos.

A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por não planejar.  - John L. Beckley

De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra. François Mauriac




Extras

Desconfia dos pequenos gastos: são os arroios que formam os grandes rios.

Contrair dívidas é o mesmo que fazer dos outros donos dos nossos atos. 


Benjamin Franklin

1)

Os preços dos alimentos responderam por 60% do aumento da inflação pelo índice IPCA, que atingiu 0,83% em novembro de 2010, maior resultado pelo IBGE em mais de cinco anos. Os alimentos subiram 2,22 %, o maior aumento em 8 anos. Ítens sem possibilidade de choque de oferata apresentam aumento acumulado de 11,02 % para empregados domésticos, 8,47% para refeições, 6,64% para escolas, 7,47% para passagens de ônibus urbanos e 6,24% para planos de saúde.

2)

Também em novembro, o Itaú-Unibanco realizou um leilão de direitos de crédito de 450 imóveis. A inadimplência apresenta uma curva clara:

De 1 a 2 anos: 1,5%
De 3 a 4 anos: 6%
Acim de 10 anos: mais de 8%.

8% dos contratos já apresentam atrasos de 3 prestações; 12% para até 5 prestações atrasadas.

Notemos que este quadro se configurou num período de aumento de renda e baixo desemprego.


3)

Ainda neste período de novembro, republico:

Originalmente publicado na página do mandato do deputado Ivan Valente - http://www.ivanvalente.com.br/

sexta-feira, 19 de novembro de 2010


Governo estimula a farra dos rentistas internacionais e depois reclama de “guerra cambial”


Por Rodrigo Ávila, economista

O governo brasileiro está preocupado com a chamada “guerra cambial”, ou seja, a desvalorização de moedas por parte de governos como os EUA e China. Isto dificulta as exportações brasileiras e barateia as importações, gerando grande rombo nas contas externas e destruição da indústria nacional. Como consequência, o setor que mais tem gerado empregos atualmente é o de serviços, e não o industrial.

Na última semana, o FED (Banco Central Norte-americano) decidiu injetar mais US$ 600 bilhões na economia, o que gerará mais desvalorização da moeda americana.
Porém, a grande desvalorização do dólar frente ao real tem sido, na verdade, estimulada pelo governo nos últimos anos, por meio do estabelecimento das maiores taxas de juros do mundo, que atrai dólares do mundo inteiro. Em 2006, o atual governo isentou de imposto de renda os ganhos dos estrangeiros com a dívida interna. Agora, assustado com o enorme fluxo estrangeiro, tenta tributá-lo com o IOF.

Além dos juros, os investidores também ganham com a desvalorização do dólar. Isto porque, quando o dólar cai, eles podem remeter a seus países de origem mais dólares do que trouxeram originalmente, visto que o dólar se desvalorizou frente ao Real. Este lucro adicional também é obtido por bancos brasileiros que tomam empréstimos lá fora a juros baixos para aplicar em títulos da dívida brasileira.

E quem banca este ganho? O Banco Central, que compra os dólares dos investidores e fica com o “mico”, ou seja, o dólar, que tem se desvalorizado. Por outro lado, o BC acumula uma montanha de reservas internacionais em dólares e as aplica principalmente em títulos da dívida dos EUA, que não rendem quase nada, e ainda financiam as políticas estadunidenses. Esta política gerou um prejuízo gigantesco ao Banco Central em 2009: R$ 147 bilhões, que segundo a chamada “Lei de Responsabilidade Fiscal”, tiveram de ser cobertos pelo Tesouro.

Se, por um lado, o BC diz que as compras de dólares são necessárias para se tentar evitar mais desvalorização do dólar, por outro lado analistas do próprio mercado financeiro reconhecem que esta política estimula ainda mais os investidores a trazerem dólares para o Brasil, pois têm a certeza de que o BC irá comprá-los, coisa que ninguém mais quer.

Dívida pública

Agora, boa parte destes R$ 600 bilhões injetados na economia americana virão para o Brasil, para ganhar com a dívida interna, e serão comprados pelo Banco Central, que novamente fará tudo que os EUA mais desejam: comprar mais títulos da dívida dos EUA, financiando as políticas estadunidenses, como o salvamento de bancos falidos.

Para acabar com esta farra dos rentistas e combater de verdade a “guerra cambial”, é necessário reduzir significativamente as taxas de juros, controlar os fluxos de capitais – impedindo que os especuladores internacionais venham aqui para lucrar às custas do povo – e, principalmente, auditar a dívida pública, repleta de graves indícios de ilegalidades, conforme mostraram as investigações da recente CPI da Dívida na Câmara dos Deputados.




O ajuste fiscal continua

Em sua primeira semana como presidente eleita, Dilma Rousseff se manifestou sobre medidas a serem tomadas na esfera econômica de seu futuro governo. Já no primeiro discurso após a divulgação dos resultados eleitorais, Dilma garantiu aos rentistas, “acima de tudo”, o “compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados”. A proposta orçamentária para 2011, encaminhada pelo próprio governo Lula ao Congresso, em agosto, garante metade do orçamento para juros, amortizações e refinanciamento da dívida pública.

Segundo Dilma, o superávit primário deve ser mantido em 3,3% do PIB nos quatro anos de seu governo, de forma a permitir a redução da dívida pública. A idéia seria permitir que a taxa de juros real caia para 2% ao ano, sob a justificativa de que, com medidas de “austeridade fiscal”, a inflação seria contida e o mercado se convenceria do compromisso do governo com o pagamento da dívida.

Porém, o país pratica altíssimos superávits primários há mais de uma década e continuamos a praticar a maior taxa de juros do mundo.

Tudo indica, portanto, que os rentistas seguirão atendidos em suas demandas, enquanto a população seguirá sofrendo com o ajuste fiscal. Neste sentido, uma das medidas que pode ser implementada pelo governo Dilma é o Projeto de Lei Complementar 549/2009, originário do Senado, que congela o salário dos servidores por 10 anos. O PLP limita o crescimento do gasto com pessoal à inflação mais 2,5% ao ano (ou o crescimento do PIB, o que for menor), o que mal cobre o crescimento vegetativo da folha, e impede a necessária expansão dos serviços públicos no país.

Apesar deste PLP já ter sido rejeitado por unanimidade em maio deste ano na Comissão de Trabalho da Câmara, ele segue a sua tramitação, e ainda pode ser aprovado em Plenário.

4)

De: http://tukascaletti.blogspot.com/2010/11/mais-imposto-o-estado-de-spaulo.html

sábado, 20 de novembro de 2010



Mais imposto - O Estado de S.Paulo

Desde o início do Plano Real, há mais de 15 anos, a história do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) tem sido a história do aumento disfarçado da carga tributária. É cada vez maior a fatia de sua renda que o trabalhador brasileiro precisa entregar para a Receita Federal. Mesmo nos anos em que o Fisco - sempre implacável quando se trata de buscar meios para assegurar o crescimento real da arrecadação - aceitou a contragosto a imposição legal de corrigir a Tabela do IRPF, muitas vezes a correção não foi suficiente para evitar o aumento da carga tributária. Mas o pior para os contribuintes é quando nem essa correção insuficiente lhe é assegurada, como, a persistirem as regras atuais, acontecerá em 2011. O aumento do imposto será muito maior.


Muitas vezes, nos últimos anos, o contribuinte teve de lutar para evitar que o Leão avançasse cada vez mais sobre sua renda. Na década passada, no período de consolidação do Plano Real - cujos efeitos para a renda de todos os brasileiros foram, indiscutivelmente, benéficos -, a Receita rejeitou todas as formas de correção da Tabela do IRPF alegando que o objetivo do plano era justamente a desindexação da economia. Manteve, porém, a correção de suas receitas.


Para os contribuintes, a argumentação seria aceitável se a inflação tivesse desaparecido. Mas, embora baixa, ela continuou a existir, de modo que boa parte do aumento da renda auferida por eles era apenas reposição da inflação passada. Como a Tabela do IRPF não foi corrigida entre 1996 e 2001, muitos trabalhadores isentos do recolhimento passaram a recolhê-lo, mesmo que, em termos reais, sua renda não tenha crescido; os que já recolhiam sofreram aumento da alíquota. Ou seja, para os trabalhadores, a carga tributária aumentou por simples omissão da Receita e do governo.


Desde 2002, a Tabela do IRPF tem passado por correções, mas de maneira espasmódica. Houve correção em alguns anos, mas não em outros. A regra em vigor em 2010 foi definida por uma medida provisória editada no fim de 2006 e que se transformou em lei em 2007. A lei estipula a correção da Tabela do IRPF de 4,5% ao ano até 2010. Para 2011, não há nenhuma correção prevista. (Em 2008, foram criadas duas novas alíquotas, de 7,5% e 22,5%, que continuarão valendo no próximo ano.)


A não correção da Tabela do IRPF resulta em distorções expressivas, com a taxação cada vez mais pesada justamente para os que ganham menos, como mostram estudos que o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco) tem feito com regularidade. O mais recente, cujas conclusões foram publicadas pelo jornal O Globo, mostra que, se a tabela tivesse sido corrigida de acordo com a inflação acumulada entre 1995 e 2010, um trabalhador com renda mensal de R$ 2.500 recolheria mensalmente ao Fisco R$ 11,26; com as correções apenas parciais da tabela, ele é obrigado a recolher R$ 101,56. Em termos porcentuais, a comparação é assustadora: esse contribuinte paga 800% mais do que pagaria se a tabela tivesse sido corrigida totalmente. Em 2011, se nada mudar, o adicional será maior.


Para resistir às pressões dos contribuintes pela correção da tabela, a Receita alega que a medida implica "renúncia fiscal", isto é, a concordância do governo em abrir mão de uma receita certa. Mas esta é uma receita que o Fisco só consegue obter utilizando artimanhas contra o contribuinte - pois a não correção da tabela não passa de um ardil tributário -, razão pela qual não se pode falar em "renúncia". Se a tabela fosse corrigida, o Fisco não estaria abrindo mão do que é seu, mas simplesmente deixando de arrecadar o que não é devido.


Do ponto de vista fiscal, se o governo enfrenta dificuldades, é porque gasta demais e não tem mostrado disposição de reduzir suas despesas. Do lado da arrecadação, os números mostram que, com ou sem correção da Tabela do IRPF, a receita com esse tributo cresce continuamente. Nos nove primeiros meses de 2010, as pessoas físicas já recolheram R$ 13,04 bilhões, ou 7,3% mais, em termos reais, do que o arrecadado com o IRPF em igual período de 2009.


5)

A recente visita de Obama trouxe mais uma vez à luz o debate sobre os subsídios ao etanol de milho dos EUA.

Aliás, assunto que vem sendo martelado há tempos na imprensa:

Esquenta a discussão sobre subsídios ao etanol nos EUA


Fim do protecionismo aos produtores americanos reduziria o preço do etanol em 12 centavos de dólar por galão em 2011, revela estudo - 11/10/2010 - veja.abril.com.br


Deixemos algumas coisas bem claras:

1.Se produzir álcool barato fosse apenas o único negócio viável, não se produziria bebidas destiladas caríssimas pelo mundo a fora. Exemplificando, os escoceses não produziriam whisky, os estadunidenses não produziriam bourbon e sour mash, diversos países da europa não produziriam as mais caras vodkas, etc.
2.Do acima, percebo que a cadeia de produção de etanol dos EUA é muito mais geradora de riqueza que a brasileira. O produtor é mais bem pago, o trabalhador igualmente e mesmo assim, o consumidor economiza, pois nos EUA, se tal não ocorresse, também na questão de independência e ambiental, o etanol não seria consumido. Como exemplo disso, por este motivos, os suecos consomem álcool de conhaque (de uvas), caríssimo, pelos motivos ambientais, e pagam por isso.
3.Igualmente, é muito mais flexível, pois eu, por exemplo, nem caldo de cana tomo, e sei que todos que venham a me ler não comem cana, nem algumas de suas partes.
4.Também, a estrutura do etanol de milho é adaptável em boa parte à produção de etanol celulósico, que usará a palha do milho, a grama cortada dos campos de golfe, a grama dos jardins, etc, nova onda tecnológica na área, que os EUA dominam e até avançam para outros campos, e nós, não.
5.Os EUA comprarão etanol brasileiro,  mais cedo ou mais tarde, simplesmente pois sua demanda cresce, e dele necessitará.

E sejamos diretos e claros: os EUA já dominam a produção de "bioquerosene" para jatos, existe até documentário da Discovery sobre o tema. O que querem, é mercado, e talvez, parque industrial para suas patentes, longe de poluir ou gerar custos em suas terras.

Para saber mais: Biocombustíveis, um Knol meu sobre o tema, até com referências sobre "bioquerosene".


6)

Claro que não tardaria para eu ter de fazer um "em tempo" nesta blogagem.

O governo, o único culpado, acaba de fazer com que o etanol torne-se iniável na maior parte do território brasileiro, com exceção, se não me engano, do mato Grosso.

Se não conseguimos nem atender nossas necessidades a custo viável, como, ou para quem, vamos conseguir exportar?

Com alta de 30% em um ano, etanol passa de R$ 2 em Curitiba - http://www.intelog.net/

Etanol chega já custa dois reais - http://www.ifronteira.com/

O fenômeno já dava seus sinais há tempo:

Etanol terá reajuste esta semana - 05/01/11 - http://www.udop.com.br/

http://www.ifronteira.com/


-Você saqueou inúmeros castelos ingleses, perturbou a vida das pessoas e as forçou a abandonar seus lares. Já pensou em abrir um banco? - Um juiz para Hagar, "O Horrível", hilário personagem de Chris Browne

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sexta-feira, 11 de março de 2011

Esquerdadas II

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Uma afirmação típica de Alice:

"Se o Brasil tivesse passado por uma experiência comunista no começo da década de 60, hoje ele estaria brigando pelos primeiros lugares na economia mundial, teria autonomia em relação às questões militares e teria um incentivo à educação e à responsabilidade social que não possui hoje!

Resultado: passar por experiências comunistas fazem bem ao país, mesmo que depois voltem ao capitalismo, eles não voltam como párias mundiais, eles voltam marcados no mapa como países importantes!

A história mostra a verdade: seja vc capitalista ou não!" 
 


Se gastos militares, somente, adiantassem alguma coisa em economia...



Curiosamente, todos os países que adotaram o modelo econômico comunista quebraram, se enterraram nas piores situações econômicas e passaram a ser capitalistas.

Com exceções, evidentemente, de potências econômicas e tecnológicas, onde grassa a riqueza e o desenvolvimento em todos os campos, como Cuba e Coreia do Norte.

A pregação da fé tosca e conjunto de meias verdades quando não de mentiras inteiras das Alices é simplesmente irritante. 

Alguns outros exemplos:
 
"...afinal eles ganham muito dinheiro com a desigualdade econômica entre as classes"

"Os ricos adoram os pobre (sic)! Quanto mais pobres existirem no mundo melhor! É por isso que eles nunca colaboram com campanhas de controle de natalidade! Quem os ricos vão explorar se não existirem pobres o suficiente?"

Falacinhas, e não tão pequenas assim. Já as tratei longamente em Para onde vai o lucro?, mas recapitulemos alguns pontos, e com eles, complementemos argumentações que julgo que ficaram pendentes.

Para se gerar riqueza a riqueza precisa circular, não necessariamente ser retirada das classes mais baixas para as mais altas. Tanto isto é uma basófia clara em economia que despreza-se simplesmente (e sem a mínima vergonha) que o volume total de riqueza cresça.

Explico matematicamente. Se mil pobres proletários ganham mil patacas por seu árduo trabalho, e com isto, mesmo na absurda argumentação dos marxistas, permitem que um selvagem capitalista viva nababescamente com um milhão de patacas, ao se dobrar a riqueza global gerada, este poderia ter ganhos de 2 milhões e seus escravizados 2000 mil patacas, sem que para ter-se as malditas dois milhões de patacas, tivessem os infelizes trabalhadores de passar a não ganhar pataca alguma. (Q.E.D.) A afirmação dos marxistas, contabilmente, pode parecer coerente, mas à luz de mínima economia, é uma tolice completa, pois parte de premissas errôneas.

Exemplificando - para não afirmarem as Alices que mantive-me apenas no teórico - tendo-se uma mina, que é produtora do equivalente a 2 milhões de patacas seja do que for (como por exemplo, o cancerígeno carvão dos tempos de Dickens), pela própria argumentação dos marxistas propicia míseras 1000 patacas aos mineiros (que podem, para facilitar nossos cálculos, serem mil), e destes, explorados milhão de patacas ao proprietários. Bastam até pás maiores, vagões maiores, elevadores mais rápidos, explosivos mais potentes, bombas que removam mais água, menos acidentes* e a quantidade de minério em dobrando, propiciar carvão equivalente a 4 milhões de patacas, e todos ganharão mais.


Mesmo com os suspeitos sorrisos, qual dos grupos de trabalhadores será o de melhores condições de trabalho, vida e maior renda? O mineiros da época de Mao ou as pobres exploradas produzindo brinquedos para o vil e capitalista ocidente?

*Curiosamente, com exceção das ridículas pás maiores, exatamente isto que ocorreu na mineração, até sua gigantesca escala de hoje, com paradoxalmente, menos trabalhadores a serem explorados, pois como já vimos, o valor não advém diretamente do trabalho humano (a falácia basal do "valor trabalho"). O que pode ser visto banalmente pela crescente mecanização/automatização, pois se o valor fosse originário somente do trabalho do explorado, a solução para a maior geração de lucro seria a maior contratação de explorados, e não a mecanização. Claro, que aqui, Alices, incluindo Marx, desenvolveram a ideia de uma crescente redução do lucro, o que se faz em pó até pela História, com a multiplicação permanente do tamanho das Economias capitalistas, mesmo partindo dos quadros mais miseráveis e desprovidos de recursos naturais a serem explorados, vide Japão pós-guerra e Coreia.


A miserável Seul.

Mantenhamos nossa linha de discurso...

Mas pensemos assim, e colocando a coisa em períodos longos de tempo, se a classe mais baixa está sendo exaurida, como poderia gerar ainda mais riqueza?

A economia é plenamente geradora de riqueza quando estabelece-se equilíbrio entre os entes capital, trabalho e natureza.

As relações do primeiro com o segundo geram distribuição de renda. Com o terceiro geram crescimento sustentável.

Aqui, Marx e outros estavam errados, só lamento. Mas sustentemos estes pontos:

Massas de trabalhadores explorados (sem remuneração adequada) e concentração de riqueza nas mãos apenas de um grupo, sem mobilidade vertical alguma, levam às revoluções, vide desde a queda da União Soviética até as recentes revoltas nos países árabes. Pouco interessa aqui religião ou o contexto estatizante/liberal. As massas não atendidas nas suas necessidades, no básico, e nos desejos, nos detalhes, não tardarão a tentar tomar o poder.

Natureza explorada ao extremo acaba por se exaurir, mesmo no renovável, vide madeira no Haiti, vide, mais banalmente, petróleo vendido por demais barato na Indonésia (sem correspondente e equilibrada substituição por outra fonte de riqueza).


A desertificação do Haiti, fruto não do rico em florestas Canadá poupar-se e do gigante em consumo de madeira EUA dele extrair uma única tábua, mas causada pela ignorância de seu povo e irresponsabilidade de seus líderes.

A Indonésia de produtor passou a importador, e com isto, não gerou riqueza significativa. O Japão jamais foi produtor, no sentido mais amplo da palavra, e tornou-se em pouco tempo, a segunda economia do planeta, mesmo após a devastação da 2a Guerra Mundial. Em suma, os recursos naturais não são garantia de coisa alguma em Economia.


A maravilhosa distribuição de renda cubana estampada nas habitações de Havana, talvez por não poder vender seus produtos em troca da vil moeda dos EUA.

Como digo: As noções de Alices do que seja a economia pararam nos tempos de Charles Dickens, e o que seja Economia, nunca passou do clássico triunvirato de raciocínios errôneos sobre premissas falsas e conceitos obscuros.

Alices seguidamente afirmam, por exemplo, que ao se gastar dinheiro com, por exemplo, projetos espaciais, ou mais pitorescamente ainda, com caríssimos telescópios, e claro, seus objetos favoritos, especialmente de seus líderes mais destacados, como os caríssimos charutos, os nobres destilados e os mais luxuosos carros, corta-se recursos de atividades voltadas à problemas sociais, ou saúde, ou qualquer coisa do gênero, de necessidade, até concordamos, mais imediata.

Este tipo de argumentação "não gastando nisso, aplicar-se-á naquilo" é o típico de "ARGHumento" infeliz de quem não estudou uma única linha que preste de "Moedas & Bancos", o básico do básico de Economia.

Parece até que ao se "gastar" dinheiro com um Saturno V (ou o modelo mais caro da Mercedez, como os líderes cubanos) e este ir em direção a Lua (ou do palácio da capital para o palácio de campo, no caso da limusine do "comandante"), o dinheiro terá sido queimado debaixo de seus propulsores (ou para acender o caríssimo charuto ou para fazer o potente motor do carro do líder do partido mover-se).


As necessidades básicas do líder cubano e seus companheiros, pois afinal, ele tem de se deslocar confortavelmente.
O dinheiro está lá, nos fornecedores e prestadores de serviço do projeto Apollo (assim como na revendedora de carros alemães, no fabricante de finos charutos e rum), e recirculam na Economia.

Para valor "sumir", ser "gasto", realmente, uma das poucas formas pelo humano é na Guerra e seu gritante desperdício, ou graças "a deus" com as catástrofes. E mesmo assim, a questão não é tão simples, vide a securitização.

Embora, me pareça claro, que poucas coisas geram mais riqueza para determinados setores que a guerra, nem muito menos, gere mais trabalho para as massas, exatamente pois a guerra é o mais insano dos consumismos, assim como duvido que se construa mais em uma cidade do que quando ela é destruída por terremotos, enchentes, etc.

Nem mesmo esta brutal quatidade de querosene, ao ser queimada, deixou de fazer circular riqueza na economia.

O problema é confundir o que seja desperdício e prioridades no gasto público, com "circulação de riqueza" e a sua correlata distribuição de renda.

Portanto, Alices, quando consideram dinheiro como um bem simples, degradável de maneira simplória, como uma laranja, chupável, comível e da qual joga-se fora o inútil bagaço, estatelam-se na lama da própria ignorância e não possuem argumento contábil algum, além de ficarem esperneando em bobagens que podem ser refutadas em dúzia de linhas, e deveriam tomar vergonha na cara e abrir um livro de Economia, o qual pode ser dos bem básicos.

Sobre o clássico papinho "comunistóide" de que as "multis" ou governos impedem a África de enriquecer ou ter "alimentos baratos" (sabe-se lá o que seja esta bobagem), basta parar de dizer tontices até bem intencionadas e entender que não pode haver alimento mais barato que os africanos venham a produzir com seu próprio trabalho.

Tão simples e claro quanto isso, como sempre.

Agora, se não geram riqueza o suficiente para se sustentar, como vão se comportar como um mercado a ser interessante para empresas, exatamente na mesma medida que nenhum presidente de empresa é débil mental de não buscar atender um mercado que pague imediatamente por seus produtos?

Logo, aí reside outra imensa mentira.

A África (ou parte da Ásia) é pobre porque não produz riqueza nem para si, e tanto isto é fato que partes da África produzem riqueza em rendas per capitas mais altas que o Brasil, como aquele país mesmo, por exemplo, em que "Noço Guia" disse que ficou impressionado, pois "nem parecia a África".

Este tipo de argumento é tão idiota que a Coreia, repitamos sempre, paupérrima ainda na Guerra da Coréia e mais miserável ainda na 2a Guerra Mundial, ultrapassou a renda brasileira em um índice de 2, em aproximadamente meio século.

Logo, o problema é interno, pois não se explora quem não possui coisa alguma a ser explorada, nem mesmo, seu trabalho.


Mesmo contabilmente falando, dentro da falácia dos marxistas, o que poderia esta população da Somália propiciar a ser explorado pela gigantesca economia dos EUA, Japão e Europa, além das aceleradas em crescimento outras economias do mundo. Sempre, a justificativa de que o crescimento de uns produz miséria de outros, e apenas disto vive, mostra-se uma tolice (imagem de keilartegia.blogspot.com).


E pouco interessa riqueza mineral ou extrativista, pois se isso somente resolvesse, a Nigéria não seria a enorme catástrofe social que é (e lembremos, mais uma vez, a Indonésia). Logo, o problema não pode ser analisado e tratado monolinearmente, em sim, com diversas dimensões.

Ou seja: o mesmo erro primário de Marx, se perpetuando entre leigos ingênuos que nunca estudaram Economia que preste - economia não é um jogo de soma zero.

Explico com mais detalhes: a Nigéria era grande produtor de café, cacau e madeira. Mal descobriu o petróleo, se atirou com ímpeto e cobiça de toda sua população para explorar esta riqueza. Afundou-se na pior das crises, e nunca mais saiu dela. A Noruega, era rica em madeira, pesca e determinadas indústrias. Ao descobrir o petróleo e gás, tornou-se rica em petróleo e gás, continuando a ser rica em madeira, pesca e nas mesmas e novas indústrias.


Oslo e Lagos, exemplos dos contrastes que o desenvolvimento, em todo seu sentido, propicia.

Qual seria o seu segredo? Aquele capital (embora marxistas pulem este detalhe) que se inclui dentro do que chamamos "desenvolvimento", formação cultural, técnica, e até "bom senso" de sua população e líderes. Por isso, somam, e não trocam, suas fontes de riqueza, e a multiplicam.

Quaisquer respectivas semelhanças e diferenças com nosso Brasil, e seu saltar para um foco no extrativismo mineral, a produção agrícola, a extração do insensado petróleo pré-sal, não foram, neste texto, meras coincidências. O mesmo foco distorcido, por outras vias, que um povo que pretende ter jatos supersônicos para caçar improváveis ofensores, ou submarinos para proteger suas ainda nem extraíveis reservas de riquezas costeiras, e não possui caminhões e estradas para levar água a seus flagelados pelo clima.

Mas tal tema de nossas prioridades distorcidas, já tratei aqui:

O sabiá que quer se tornar harpia

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - I

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - II


Frase de meu orkutiano personagem pregador, "Francisco, O Herege", normalmente envolvido com debates com criacionistas, por pura diversão, que pode, perfeitamente, ser usada para a imagem que se tem hoje, da administração federal brasileira (e talvez o seja ainda por muito tempo):

Vigiai, pois se examinares o fundo do poço, encontrareis a alça de uma alçapão, e subterrâneos terríveis vos serão mostrados.
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Apêndices

Recentemente, assisti um documentário da NatGeo sobre o maglev chinês, que apontava que o custo Shangai-Beijin (um tanto mais de 1000 km) custará 33 bilhões de dólares. O trajeto Shanghai–Hangzhou (uns 170 km) custará 5 bilhões.

Dúvida que me atormenta: como raios nosso trem relativamente convencional, embora chamado de "bala", no infeliz trajeto que terá, custará o valor que está sendo apresentado?

(Coloquei outras questões em Extras 1.)

Variáveis a serem consideradas:

1.Nossa mão de obra não é do mesmo custo da chinesa.
2.Nossos recursos de construção não são os mesmos da China (escala implica em menores custos).
3.Nossas questões de desapropriação não são as mesmas dos chineses (uma das relativas vantagens de estados autoritários neste tipo de obra).

Future Trains – MagLev (National Geographic – MegaStructures)

Uma das coisas que parece se consolidar é o número de estações, que cai na questão que aponto no primeiro artigo em que tratei disto, de que inúmeras cidades não seriam apropriadamente atendidas, e exigiria uma estrutura secundária de transporte, talvez tão cara quanto os atuais ônibus para se deslocar de um ponto a outro, exatamente a ser atendido pelo trem de alta velocidade. Nada mais coerente, portanto, que um trem convencional, que faça o mesmo trajeto dos N ônibus hoje em operação, e a custo menor.

Com excelente infográfico:

Trem-bala prevê sete estações obrigatórias - g1.globo.com

Claro, que exatamente por meu raciocínio ser simples e basear-se em atender a população, e não gerar-lhe mais esforços, não reclamo da questão sozinho:

No caminho do trem-bala, 38 cidades e muita resistência - www.estadao.com.br


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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Falácias de Alices (IV)

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A falácia do capitalismo como antiecológico


A afirmação das Alices é que o o capitalismo causa e implica necessariamente em poluição e destruição do meio ambiente.

Como coisa que para atender a produção de bens, ou mesmo permitir determinado nível populacional*, e nesta população permitir determinado nível de consumo, os meios de produção num sistema comunista não destruiriam o meio ambiente.

Aliás, a existência humana destrói o ambiente por si, apenas podemos discutir em que nível/escala tal fenômeno ocorre.

*Sem tratar do detalhe que a no passado marxista China já era o país mais populoso do mundo.

Mas no passado, curiosamente, os regimes totalitários com arremedos de sistemas socialistas foram os maiores destruidores de seus ambientes.




Sumgayit, no Azerbaijão, na antiga União Soviética, afetou uma população de 275 mil, com produtos químicos orgânicos, petróleo e metais pesados, incluindo mercúrio, de suas unidades petroquímicas e complexos industriais.



Sumgayit

Sim, pois repetimos, mesmo Alices necessitam polímeros, combustíveis, calefação e até tintas anticorrosivas para seus navios, carros e estruturas, mesmo num cinza mundo sem as burguesas cores consumistas.


Já Linfen, na China, mesmo desde seu período maoísta, afeta uma população de cerca de 3 milhões, com fuligem (pois combustões e seus resíduos sólidos num mundo de Alices devem ser uma fenomenologia química capitalista burguesa), monóxido de carbono (pois as combustões incompletas não reparam nas flâmulas vermelhas dos trabalhadores unidos), óxidos de nitrogênio (pois o básico da química não se importa com mantra de união entre as classes trabalhadoras), dióxido de enxofre (pois o maldito enxofre pouco se importa com os símbolos a serem escolhidos para os trabalhadores das indústrias, do campo e burocratas), compostos orgânicos voláteis (que não se importam com a opinião do comissário do partido designado para a quadra onde fica a fábrica), arsênico e chumbo (pois as estrelas que os produziram e a história da vida ao tratar estes elementos como tóxicos não se preocupou com o materialismo dialético). A fonte da poluição desta região deve-se especialmente à produção de automóveis e às emissões industriais, pois também os trabalhadores mais qualificados no mundo de Alices sempre preferiram melhores acomodações em seu transporte, e mesmo com os párias andando em sujos trens, igualmente precisavam desde tintas até graxa para mantê-los andando.
Esta cidade era o maior centro industrial da extinta União Soviética, com mais de 40 fábricas, destacando-se as de implementos agrícolas (pois Alices também tem de plantar eficientemente). Entre os produtos mais danosos à saúde encontrados em Sumgayit estão borracha sintética (Alices necessitam diversas impermeabilizações), o cloro (Alices também tratam água), o alumínio (também cozinham seus peixes em panelas e constroem aviões), os detergentes (Alices limpam suas panelas e até suas cozinhas) e pesticidas (pois ao que parece, besouros e outros insetos pouco se lixam para o mundo feliz das Alices). Esta cidade apresenta uma das taxas de mortalidade infantil mais altas do planeta e é recorrente o nascimento de crianças com câncer (pois células contaminadas mesmo de Alices tendem a se comportar como bem entendem), deformações e síndrome de Down (pois mutações não se preocupam muito se quem as porta é capitalista selvagem ou comunista de carteirinha).

O lugar é o centro da indústria chinesa de carvão (energia é também, repetimos, necessidade de Alices) e, também, uma das regiões mais populosas do país (Alices também, necessariamente, se reproduzem ao longo do tempo). Os últimos anos fizeram explodir os índices de bronquite, asma, pneumonia e câncer de pulmão (alices respiram, mesmo sob as ordens contrárias do mais tirano dos ditadores). A arsenicose, doença que aflige quem toma a água local (cujo teor de arsênico é considerado irresponsável pela OMS), já é uma epidemia (água tóxica, como a que ocorre também no capitalista e miserável Bangladesh, não é atributo do sistema econômico, e sim, da geologia; já governos irresponsáveis são atributos humanos, e independem do sistema econômico sobre o qual atuam).

A cidade de Taanyng, também na China, principalmente pela mineração e abrigar a maior indústria de chumbo do país (já em atividade na era maoísta, pois Alices podem até não pintar com tóxicas tintas seus bens, mas necessitam de baterias), ocasionou haver 140 mil pessoas afetadas por chumbo e outros metais pesados, com todo o equipamento usado pelos trabalhadores estando obsoleto e não havendo controle sobre a poluição. O ar na região tem 10 vezes mais partículas de chumbo do que a média chinesa, que já não é baixa. Os casos de encefalopatia e envenenamento de crianças por chumbo são os mais comuns na cidade.

Já em Dzerzhinsk, na Rússia, com uma população afetada de 300 mil pessoas, produtos químicos tóxicos, incluindo como gás sarin, além de chumbo e fenóis, relacionados com a indústria de armas químicas, desenvolvida durante a Guerra Fria, mesmo com o fim da União Soviética, fez com que a cidade se mantivesse como uma das principais produtoras de substâncias químicas da Rússia, entre eles uma toxina chamada TEL (tetraethyl lead, chumbo tetraetila), sendo que a isto se soma que mais 300 mil toneladas de lixo radioativo foram enterrados no subsolo da cidade durante os últimos 70 anos. O índice de mortalidade era 260% maior que o de natalidade na região, com expectativa de vida de 42 anos para os homens e 47 para as mulheres, em 2003.



Dzerzhinsk

Também na Rússia, Norilsk, com 134 mil afetados por dióxido de enxofre, níquel, cobre, cobalto, chumbo, selênio, fenóis e sulfeto de hidrogênio, oriundos da mineração, acumulados desde que a cidade foi fundada em 1935 como campo de trabalhos forçados (Ah! a liberdade dos regimes totalitários, fase transitória de toda meta de Alices!) e abriga, atualmente, o maior complexo de processamento de metais pesados do planeta. O resultado é uma população com altos índices de câncer de pulmão, bebês prematuros e com doenças respiratórias crônicas, elevando a níveis alarmantes as taxas de mortalidade.

Poderíamos aqui perfeitamente pular por pura economia de texto o incidente de Chernobyl, Ucrânia, fruto acima de tudo de um desenvolvimentismo irresponsável.

O contraste entre Chernobyl e uma usina nuclear da pequena e rica Bélgica. Deve-se observar a ausência do abrigo blindado típico que guarda o reator e o "ciclo primário". Os soviéticos, em razão de pretenderem construir o mais rapidamente possível seus reatores, simplificaram o abrigo do reator para um prédio menos resistente e não propriamente hermético.


Governos socialistas/comunistas nunca deram muita atenção às preocupações com a poluição ambiental. Isso é devido, principalmente, à falta de opinião pública pressionando por qualidade de vida. A Alemanha Oriental era de níveis de poluição assustadores, levando a depois da reunificação, a Alemanha precisar desativar dezenas de fábricas herdadas simplesmente porque seria economiacamente inviável sua conversão aos níveis "ocidentais" de controle da poluição.

Uma fonte e leitura recomendada:

De onde tiro:

No artigo Environmental disaster in eastern Europe , publicado em 2000 pelo Le monde diplomatique diz o seguinte:

Ao optar pelo desenvolvimento econômico através de uma industrialização a todo pano e agricultura intensiva, a União Soviética e os países da Europa Oriental mostraram pouco interesse pelo meio ambiente. A bacia do mar de Aral foi transformada em uma vasta plantação de algodão, enquanto atividades nucleares se concentraram no mar de Barents, apesar da fragilidade dos ecossistemas locais...

(A crise)
Foi agravada por uma obstinada centralização que ignorou condições locais...

Controle de poluição do ar, tratamento de água e modernização do aparato produtivo foram todos negligenciados. Grandes extensões de terra foram severamente danificadas pela coletivização da agricultura, e o uso maciço de irrigação causou vasta erosão e salinização do solo.

Políticos e cientistas aderiram ao princípio da biosfera “auto-purificável”...

Sobre a estatização como solução para o ambiente, deste texto, também:Ao invés de uma longa teorização, talvez a seguinte brincadeira ajude a entender a questão. Sabe qual é a diferença entre empresas estatais e privadas? O governo só consegue controlar as últimas.


O manejo altamente mecanizado e sustentável das florestas da Finlândia, dentre as maiores fontes de riqueza deste país.


A falácia maior nisto está em que uma economia planificada não pode prescindir de bens, e por menos que estes sejam por indivíduos ou em sua coletividade (como prédios e trens, que são obviamente distintos de roupas e calçados) ainda sim necessita-se estrutura extrativista e industrial par tais demandas serem atendidas.

Se são atingidas, por mais igualitariamente que sejam distribuídas, o seu total produzido, para uma mesma média de atendimento nas massas, exigirá o mesmo total de extração e produção.

O que interessará nisto, não será a distribuição, mas sim o modus como a natureza, nesta extração e processos industriais, é tratada.

Expliquemos isso com um exemplo simplíssimo e bem ao gosto de Alices: a quantidade de couro necessária para produzir 1000 sapatos para 500 pessoas é fundamentalmente a mesma necessária para produzir 499 sapatos para 499 pessoas e mais 501 sapatos para uma única burguesa viciada em sapatos.


Como sempre, Alices consideram que se alguém compra uma grande quantidade de bens, não houve pagamento aos trabalhadores que os produziram, ou que, mais anomalamente, seu valor irá somente para quem controla sua produção, sem passar também riqueza para seus trabalhadores (closet da cantora Mariah Carey)

Claro que aqui, alguma Alice precipitada poderia afirmar que não consideramos a variável ritmo, ou taxa, a velocidade de consumo e produção no tempo. Nisto, concordamos que não é o mesmo alguém que compre 500 sapatos em 50 anos de alguém que os compre a 500 por ano. Mais vacas por menos tempo seriam necessárias para produzir tal couro.** Mas curiosamente, enormes taxas de consumo, como as que se evidenciam nos países mais ricos, levam a um enorme mercado ou de reciclagem ou de bens usados. Bastaria citar as notórias lojas de roupas usadas de New York, mas prefiro dizer que o elevado consumo de automóveis no Brasil nos últimos anos foi que levou exatamente a existir uma cascata de automóveis de inversamente proporcionais idade e preços, comercializados para as parcelas mais pobres da população.

Dizemos sempre: não se pode tratar questões econômicas monolinearmente, muito menos, de maneira simplória.

** Como coisa que vacas para produzir couro fossem, após seu couro ser removido, cremadas e mais nada dela se aproveitasse, como por exemplo a inútil carne, aquela mesma que mais e mais, nos países pobres, tem se destinado aos anteriormente vazios pratos.

Por simples busca de lucros e pressão da sociedade livre e do estado que a representa em nível maior, as empresas tendem a se tornar, como a história do capitalismo evidencia, ecologicamente responsáveis, vide a recuperação das florestas da Suécia e a despoluição do Tâmisa e dos rios da Alemanha, berços da industrialização.

O rio Tâmisa, atualmente.


Na verdade, quem se torna ecologicamente responsável é a sociedade, pouco interessando o sistema de partilha e até mesmo a harmonia na distribuição das riquezas em que opere.

Esta falácia típica das Alices, e hoje muito em moda, pela análise que faz de como o mundo econômico gira (e tem necessariamente de girar) e pelas pseudosoluções que apresenta, me lembra a máxima:

Para todo problema complexo, há uma resposta clara, simples e errada. - H. L. Mencken

Sobre o "capitalismo e sua marcha para a destruição do ambiente", recomendo, mesmo com o esquecimento nas entrelinhas de que não necessariamente mesmo a acumulação de bens é relacionada diretamente com a destruição do ambiente:

Daniel Cohen; A PROSPERIDADE DO VICIO: UMA VIAGEM INQUIETA PELA ECONOMIA

De uma de suas resenhas: Para onde o capitalismo nos conduz? A humanidade pode evitar o colapso ecológico? Narrativa vibrante em que história, política e meio ambiente se fundem para mostrar que o modelo econômico baseado na obsessão pela prosperidade está ultrapassado.

Devo destacar que a prosperidade não é relacionada diretamente com a despreocupação com o ambiente e nem mesmo com sua degradação, pois muito da riqueza do mundo capitalista já pode ser vista hoje sendo oriunda da reciclagem e do manejo ambiental racional (que em termos ambientais é um sinônimo de sustentável).

Claro que as decisões da sustentabilidade passam pela mobilização das massas e sua representatividade política. Aliás, novamente sobre a obra acima:

Os desafios da economia são claramente políticos e Daniel Cohen demonstra isso de forma brilhante. - Le Monde


Antes de tratarmos mais um tanto a falácia da capitalismo como intrinsecamente antiecológico, abordemos com exemplo que julgo didaticamente perfeito, uma questão sobre valor.


A relativa valoração dos bens

Sobre o valor dos bens não depender o trabalho e poder depender também do desejo, sempre considero como exemplo ilustrativo, como mais evidente de que o valor dos bens pode ser expresso pelo desejo de adquiri-lo, e não pelo simples trabalho e nem mesmo pelos matertiais mais o trabalho, pelo caso das revistas em quadrinhos, ou para os mais idosos, "gibis".


Uma revista em quadrinhos, numa banca próxima de sua casa, custa em torno de R$ 5 reais, ou arredondemos a maior, 3 dólares. Mesmo as revistas mais caras, graphic novels, de altíssima qualidade gráfica e encadernação, novas, podem chegar a valer, digamos, R$ 300, ou aproximadamente, coloquemos ainda a maior, US$ 200. Já uma revista rara, peça de colecionador, mesmo que equivalente em qualidade a trivial da banca, hoje em venda, de US$ 3, pode chegar a ser comercializada por milhares de dólares, exatamente pelo desejo de quem a queira possuir, sua estima, a leve a julgar justo pagar este valor.





Um exemplo de negociação de alto valor envolvendo uma trivialidade como revistas em quadrinhos pode ser visto aqui:

NICOLAS CAGE VENDE SUA COLEÇÃO DE QUADRINHOS


O ator Nicolas Cage vendeu sua coleção pessoal de gibis, incluindo uma cópia do primeiro número de 'Superman', de 1938, num leilão, por mais de US$ 1,6 milhão, anunciaram na sexta-feira os organizadores do leilão.

Os 400 gibis da coleção, formada ao longo dos anos por Cage, foram vendidos na noite de quinta-feira a diversos compradores num leilão organizado pela casa Heritage Auctions, de Dallas, no Texas, em conjunto com a Casa da Moeda de Kansas City.

"Ele tinha um ótimo faro para encontrar objetos de qualidade", disse o presidente da Heritage Auctions, James Halperin, falando da coleção de Cage.

A cópia do gibi número um de Action Comics, 1938, trazendo Superman em sua primeira aparição, foi vendida por US$ 86.2 mil - mais de US$ 15 mil acima do valor estimado, disseram os organizadores.

O livro de histórias em quadrinhos Detective número 38, de 1940, trazendo a estréia de Robin para acompanhar Batman, rendeu quase US$ 121 mil.
 



Agora, algumas frases coletadas pela internet, diria de uma semi-Alice, que nos levará a fundir alguns conceitos aqui apresentados, a falácia anteriormente apresentada e o que seja o consumo/consumismo, além de um erro comum sobre o que seja dinheiro:
No fim, os bens e produtos que uma pessoa planeja adquirir usando o dinheiro são apenas materiais supérfluos,...

Observemos que podemos dizer, inclusive dependendo da quantidade, comida e água, por exemplo. Pois é evidente que estadunidenses, canadenses, japoneses e europeus poderiam viver perfeitamente com a quantidade de água bebida pelos etíopes, e com a pouca comida dos sudaneses, no limiar da sobrevivência. Claro que tal seria perfeitamente ecológico (embora as mais nocivas ao ambiente, a longo prazo, tenham se mostrado as populações miseráveis). Mas não forcemos tanto o argumento.

Novamente nosso personagem:

...mesmo que possuam um valor pessoal,..

Toda valoração a um bem, se desejado, é pessoal, vide o exemplo poderoso dos "gibis" acima. Poderia ser pago com trabalho, colheita ou minério extraido por uma Alice com sua picareta, ainda sim, seria valorado pessoal e intransferivelmente. Se vai ser expresso tal valor em um contrato chamado dinheiro, é uma questão posterior.

Dinheiro é um representativo de mútuos contratos e confiança.

E claro que nosso personagem continua seu discurso com uma, na verdade, "pérola":

...supervalorizados pelo poder da demanda.

Pode-se fazer propaganda ad eternum e ad nauseam de um bem ou serviço, se não atender as exatas necessidades e desejos das massas, não gerará riqueza alguma. Também não adianta baixar preços a zero de outros bens e serviços, não gerarão demanda até por "elasticidades", além da óbvia não-necessidade.

Explico: o clássico sal, que não interessando quanto custe, limita-se no seu consumo. Polainas (spats) também, só vendem ao teatro, televisão e cinema. Relhos de conduzir cavalos também são inúteis a um mundo de carros e transporte de massas, como bem apresentado pelo personagem Lawrence Garfield, representado por Danny DeVito, em Com o Dinheiro dos Outros (Other People's Money, 1991), por mais perfeitos que tenham sido produzidos por seu último grande fabricante.

Quote: You know, at one time there must've been dozens of companies making buggy whips. And I'll bet the last company around was the one that made the best goddamn buggy whip you ever saw.




E o fechamento deste "batalhador contra o vil sistema que utiliza-se de dinheiro e gera o consumo":

...Tudo usado apenas para fazer o sistema funcionar.

Não existe atividade humana coletiva sem fatos econômicos. A facilitação das trocas por dinheiro é uma questão posterior a isso.

Sempre devemos proceder devagar com o andor que o santo da Economia além de ser de barro, quando tratado com cuidados simplórios, mostra-se oco. Repetimos: Não trata-se eventos em Economia de forma linear (isso assim resulta naquilo assado), invariavelmente acaba surgindo desde bobagens ingênuas até erros colossais, vide o colapso soviético.

A geração de riqueza a ser potencialmente distribuída está diretamente ligada à iniciativa pessoal e intransferível do enriquecimento (o humano que não se contenta com o que tem), e quem busca atender as necessidades e desejos das massas, invariavelmente gerará riqueza. Por outro lado, se a renúncia a qualquer desejo fosse razoável, invariavelmente, sistema econômico algum seria construível, e riqueza alguma seria gerada.

Portanto, ambição é boa? Sim. Comedida e equilibrada em muitos sentidos, mas excessiva, não podemos afirmar que o será.

Distribuição das riquezas é boa? Sim, mas se exagerada, sem contrapartida de esforço, gera invariavelmente à inatividade, e desta, como para todo sistema, sobre o qual não se atua, tende ao caos.***

Observe-se que nem Marx e outros, com seus devaneios e suas falácias, conseguiu regredir a humanidade a um nível de atividade e organização menor que as mais igualitárias organizações humanas (e nem tanto) que são as tribais, primitivas.

Logo, toda atividade humana visa um determinado nível de progresso, e portanto, necessita da produção de bens e oferta de serviços.

Se vai se chamar a isto de cacique, ou vai chamar de estado, ou noutro campo, vai chamar de índio que faz flechas com excelência, ou vai chamar de grande empresa multinacional, é só uma questão de escala.

*** Claro que um excessiva ambição, ou uma totalização dos bens e serviços harmoniosamente distribuídos entre a população que destrua a natureza (e este destrua é que é a questão) não é uma coisa boa.
A meta sempre deve ser o equilíbrio dos entes já em equilíbrio capital e trabalho com o mais fundamental dos entes, sobre e a partir do qual se processa toda a fenomenologia econômica, que é a natureza.

Em tempo, expliquemos dois pontos:

1) Necessita-se planejamento, por menor que seja, para a compra de qualquer coisa, e mesmo seu consumo.

Aplicar conceito diferenciador, fronteira, entre o desejado e o necessário é uma "falácia de aplicação" do paradoxo sorites (um tratar-se como estritamente qualificável e quantificável algo que é contínuo e "fractal").

Explico: sob determinado nível de aperto financeiro, um pai de família terá de planejar até a quantidade de arroz, por exemplo, a ser comprada, ou mesmo, ser baixada de seu estoque (que em termos mais domésticos pode ser chamado de "dispensa"), ou mesmo de ser plantado e tratado para ser colhido.

Reforçando o argumento e demonstrando onde entra o paradoxo sorites: Arroz é evidentemente necessário, mas quanto? Um carro para entregas é obviamente necessário a um independente florista, mas pode-se afirmar que não o seja a um vendedor? Um carro com capacidade de 400 kg de carga é necessário a determinado negócio, mas pode-se afirmar que um com capacidade de 600 kg, o que permite uma determinada folga, é supérfluo? Tendo-se este carro, não pode-se ir com ele, "superfluamente", a um local de lazer? Neste lugar, não pode-se comer um mais sofisticado risoto, feito com o mesmo necessário arroz?

Pouco interessa, aqui, se tal vai ser comparado a um executivo de Wall Street que comprou um SUV de 300 mil dólares que está apertando sua renda pela demanda de combustível e manutenção que exige.

Exatamente por estes casos não terem intrínseca diferença, contabilmente falando, uma aplicação de sorites  que seja distinto da mesma apresentada sociedade primitiva "onde só se consome o necessário" é falaciosa.



2)A riqueza acumulada é exatamente a disponível para o investimento, e exatamente o SUV caríssimo comprado é o que sustenta a saída da miséria do pai de família que não tem dinheiro para comprar arroz para seus filhos.

Identidades (igualdades) de receitas e custos em Economia mostram que toda argumentação por "não consumo" (uma argumentação "à esquerda"), como se tal fosse um poupador em si da natureza, ou pelo consumo como sustentáculo único do econômico ("à direita"), é uma falácia ou uma simplificação imensamente tola.


De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra. - François Mauriac


EXTRA

A marcha para a inoperacionalidade - casos


No artigo onde tratei da marcha para a inoperacionalidade, deixei de apresentar claros casos, com passos dos fenômenos do fluxo de caixa.

Aqui, mostrarei a partir de uma pequena empresa, comercial, extremamente simplificada, com custos tributários considerados insignificantes e lançáveis nos custos fixos a cada mês, sem perdas em cobranças, etc, como tal processo se dá. Podemos dizer que poderia se tratar de uma loja de doces ou uma tabacaria qualquer.

Caso 1
Mostremos primeiro uma empresa equilibrada e lucrativa, que compra bens a um valor total de 20 mil (o meu "gerador"), acresenta sobre eles uma marcação de 50%, o que lhe leva para um faturamento posível (e no nosso caso igual ao que entra em caixa, o meu "caxeamento") de 30 mil, de onde gera uma contribuição de 10 mil, que debitado de um total de despesas no mês de 9500, resulta em 500 de um lucro, pelo menos num primeiro momento, de óbvios 500.



Notemos que numa situação desta, o ciclo poderia se manter ad eternum, e a cada ano, propiciar 6 mil de acumulação. Uma reserva razoável para um negócio desta escala.


Caso 1a

Evidente que havendo mercado, o negócio modelar acima descrito poderia reciclar seu capital obtido em novas compras, em aumento do disponível para vendas.



Nesta marcha, em poucos meses, certamente, teríamos uma empresa de muito maior porte. Evidente que aqui fizemos uma nova simplificação, considerando, de maneira completamente irreal, que aumentos de vendas manteriam as despesas fixas estáveis. Mesmo para períodos de tempo tão curtos quanto três meses, e numa escala tão pequena de movimentação, tal não se mostra algo mais que uma idealização.
Agora, comecemos a piorar a situação.

Caso 2

Com uma pequena modificação do acima, que poderia ser a simples compra parcelada de um carro, mesmo um veículo relacionado intimamente com a existência da empresa (um carro de entregas pode ser considerado perfeitamente um capital/custo gerador), poderíamos levar, mesmo um valor primariamente considerado como lucro, a zero:



Uma situação destas é ainda sustentável ad eternum, ou até temporária, mas notemos que sumiu uma liquidez, uma formação de reservas, e seria, sempre, um considerar perigoso que o mundo comporte-se idealmente, sem nenhum risco.

Agora, apresentemos o ingênuo erro de alguns:


Caso 3

Digamos que até pode temor, um incauto pequeno empresário compre menos num mês, mas que imprudentemente, não se aperceba que agora, gerará menos contribuição para pagar seus custos mensais, que mantiveram-se constantes, e no outro mês, disporá de menos volume para comprar, e tal ciclo perverso progredirá. Notemos que aqui, fiz uma redução de apenas 6% no volume de compras. Algo tão pouco como em 100 caixas de tabacos variados, ou doces, cortar uma meia dúzia.

Em um ano, a situação torna-se insustentável, e mais nenhuma compra ou o popular "pagamento de contas" é possível.


Se o leitor acha que tal caso não surge em grande escala, percebam que grandes redes de varejo já colapsaram por falta de produtos na prateleira, tentando enfrentar volumes enormes de despesas fixas sobre suas costas, e companhias aéreas já tentaram com menos aviões (aquilo que banalmente se percebe que é onde se colocam passageiros que pagam as passagens) as mesmas estruturas que possuiam para muitas aeronaves. Os casos que apresentamos só aparentam ser simplórios, para serem didáticos, mas mudando-se os zeros e colocando-se outras variáveis, são idênticos mesmo aos de maior escala e complexidade.


Caso 4

Mas digamos que outro empresário similar, proceda, mesmo com compras em volume correto, a descontos exagerados e imprudentes, ou colocação de preços que apenas aparentemente não são vis. O popular "rasgar preço". Observemos que novamente em um ano, a situação torna-se insustentável, e apenas tirei 3% da margem, em "valores grossos", ou os mesmos 6%.



Lembrem-se disso quando propuserem descontos "de apenas 10%" às suas listas de preço.

Evidentemente que descontos geram vendas, mas como tratamos neste artigo, sobre outro ponto, nem sempre preço trará proporcionais e compensadoras maiores vendas. Existe sempre uma margem necessária a qualquer operação comercial, e sempre nesta margem, a partir de um volume comprado/produzido, existem riscos na realização, na busca da contribuição.


Caso 5

Agora, voltemos ao carro comprado parcelado, e digamos que ao invés de ser lançado dentro de um "antigo lucro", um primeiro balanço operativo já garantido como obtido e permanentemente gerado, com plena segurança (em suma, um excedente no caixa), se coloque um adicional de despesas de 100, como por exemplo um modelo mais potente que o necessário, ou com um não tão bem estimado inicialmente custo de impostos, despesas de manutenção e mesmo de simples combustível.



Apenas com 1% a mais de despesas, novamente em um ano, o sistema novamente colapsa.

Notemos que por ajustes dos valores por índices, na verdade todos os casos desastrosos acima são de mesma natureza, matematicamente falando, um desequilíbrio entre o gerador (o que se compra), o gerado (a contribuição possível) e os custos que fluem no tempo.

Um caso que poderia se ainda apresentar, e que deixarei mais detalhadamente para o futuro, é do gerado, do contribuído, num tempo inadequado. Necessitaria se gerar, nos exemplos acima, 9500 em um mês, e por volume de vendas, apenas se gerou 9400. Novamente, tem-se um colapso num determinado tempo.



Hofstadter’s Law

Lembrando a irônica lei de Hofstadter:

É sempre necessário mais tempo que o previsto, mesmo quando se leva em conta a lei de Hofstadter.

Unindo com a máxima popular que tempo é dinheiro. Acrescentando a econômica que dinheiro custa dinheiro no tempo, podemos chegar a:

É sempre necessário  mais tempo e dinheiro que o previsto, mesmo quando se leva em conta que já se considerou folga de tempo e reservas de dinheiro.

Poderia chamar isso de 'corolário de Quiumento a Hofstadter', sem a mínima, por hora, modéstia.

Por isso que em toda operação em negócios, considera-se uma margem de ganhos, folgas de tempo e reservas de caixa, o que chamo "marginalidades" (de margens), e por este mesmo motivo que o caso 2, de uma empresa estritamente equilibrada, é sempre um "andar sobre o fio da navalha".

Note-se que em todos os trágicos casos acima, a perigosa marcha se iniciou, inexoravelmente, na manutenção de um ciclo vicioso, no primeiro mês, nada mais que um primeiro trôpego passo.

A imagem do "andar no fio da navalha", a perigosa operação sempre em margens mínimas.
Na verdade, o governo brasileiro dos últimos 16 anos sempre operou sobre o resultado apertado ou no endividamento (PANORAMA - Blog de MÁRIO ARAÚJO FILHO).