quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Falácias de Alices (II)

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Quanto vale a "mais-valia"


Sinceramente, não vejo a mínima necessidade de analisar profundamente o erro, o conjunto de premissas falsas que é a "mais-valia" dos marxistas com a profundidade (até porque nem seria apto a tal) que já fizeram economistas, desde Boehm-Bawerk , passando por tantos outros, sem falar do enorme estrago que fizeram na pregação (pois apenas isto é) por uma economia planificada por parte de  Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek.

Parafraseando Marx, tudo que os marxistas dogmatizaram como sólido já se desmanchou no ar há décadas. O que restou, além da pregação e do wishful thinking, pode ser chamado por mim com um neologismo: falíceas, falácias de Alices, que normalmente, levam à falência nações inteiras.

Prefiro concentrar-me em determinados pontos, e com argumentos simples, muito mais focados em simples custos e no nosso trivial dia-a-dia, de atividades econômicas que se manifestam no nosso corriqueiro viver. Com isto, mostrar o quanto é mentira afirmar-se que "lucro seja roubo" ou, e pior, "o lucro advém da exploração que é a mais-valia", que o lucro só advenha do exatamente não-pago ao trabalhador, em relação ao valor unicamente definido pelo trabalho exercido sobre um bem.


A pirâmide do sistema capitalista, uma das muitas imagens da pregação marxista.

O cuidadoso plantador de tomates


Imaginemos um solitário plantador de tomates, em meio mesmo a um "mundo de Alices", de igualitária distribuição de terra entre os indivíduos. [Nota 1] Tendo sua terra de área igual a de qualquer outro, não poderia ser taxado de ter vantagens, inclusive, pois sabemos, e a própria história da agricultura e como sempre ela se distribuiu pelo mundo ensinou isto de maneira maravilhosa: a área, em si, não implica no sucesso ou no fracasso, nem mesmo na eficiência da produtividade agrícola. Noutros termos, pode-se ter uma área minúscula, e mesmo assim, produzir com excelência.

Como não tem empregados, trabalhadores agrícolas, não pode, pela definição marxista, explorar o trabalho de qualquer indivíduo, a não ser o seu próprio. Digamos que tenha, também, vizinhos, que igualmente, tomates plantem. Só que os seus são mais vermelhos, mais bem cuidados, com menos machucados, resultado de plantas com menos pragas, pois ele trabalha, nem necessita ser mais, mas melhor que seus vizinhos.

Logo, seus tomates podem ser apresentados ao mundo e atrairem mais compradores, e se desejar, exatamente pela sua sempre limitada produção, os apresentar como sendo mais caros que os de seus concorrentes. [Nota 2]

Logo, além de uma remuneração pelo trabalho igual a de seus vizinhos - pois lembremos que estamos num "mundo de Alices" e o 'preço-do-trabalho-com-tomates' é igual para todos - pode acrescentar um valor, pois os tomates, como claramente aqui vemos, não são de igual valoração.

Este adicional de valor recebido, será oferecido, e inclusive, disputar-se-ão os tomates, e aqui nasce a "mágica" da liberdade da atribuição dos valores por quem compra, pois é um ato de vontade próprio e intransferível, e mesmo no além das objetividades, nas completas subjetividades (qual o valor do tomate se mais vermelho apenas?), definido pela vontade e pelo desejo.

Então, ele, produz, pelo menos primariamente, veremos adiante, lucro, e ao que parece, não explorou ninguém.

Poderíamos acrescentar mais "entrelinhas", e tratar mais pontos neste exemplo, mas apresentemos outros exemplos, com algumas pequenas variações.

A propaganda, quando se presta a determinadas ideologias, nada mais quer ouvir de resposta que um estúpido eco.


O criativo pipoqueiro


Novamente, peguemos um isolado trabalhador, que produz pipocas estouradas, e as vende em sacos. [Nota 3] Ele não necessita plantar as pipocas, pois as pode comprar. A estes grãos, necessariamente, acrescenta óleo, sal, gás, etc. Notemos que nada difere de qualquer pipoqueiro. Mas por um lampejo de criatividade, decide subdividir seu "carrinho" em compartimentos estanques, além do clássico "salgada e doce", e acrescentar pimenta, ervas finas, páprica, "vinagre" (lembrando exótico gosto de minha ex-esposa), alho, etc.

Este adicional, que em custos mesmo da "exploração de outros trabalhadores", dando alguma linha para enforcar os marxistas, pode representar uns 5% no custo final do saquinho. Notemos, que finalmente, alguém elevou as vendas dos "pobres produtores até do mundo de Alices", de pimenta, ervas finas e outros condimentos, que até então estavam, parcialmente pelo menos, às moscas.[Nota 4]

Neste momento, encerra-se a "exploração", e novamente, inicia o "poder cobrar mais", e tal não necessita ser ligado, mais uma vez, vide similaridade com exemplo anterior, da exploração de qualquer trabalhador. Mas se tal diferencial de valor não for efetuado, e tem de o ser, pois até organizar as "malditas pipocas temperadas" (marxistas odeiam exotismos atrativos em produtos, vide as desgraças de seus produtos industriais, historicamente sem o mínimo atrativo), os mesmos trabalhadores que de maneira justa recebem pelos seus condimentos não o receberão.

Logo, aqui, podemos extrair uma máxima simples: o exotismo e até o luxo de produtos atrativos faz circular e gera riqueza. E como corolário, a simples produção de bens pela sua necessidade estrita conduz à estagnação econômica. Em caso de dúvidas, vide a França, com seus supérfluos perfumes e moda, cristais e objetos de decoração, nadando em miséria, e a opulenta e plena de fartura Cuba.


A demonização do "capitalista".


As idosas mas caprichosas vendedoras de flores



Existe produto mais inútil? Certamente poucos. Mas pergunte a uma mulher se não as deseja.


Toda área de bares, pelo Brasil a fora e até pelo mundo, tem aquelas simpáticas e as vezes até inconvenientes idosas, digamos no popular - velhinhas, vendedoras de flores, de mesa em mesa tentando socar suas rosas entre casais de namorados, quando não atrapalham um papo "em off" de colegas de trabalho de sexos opostos (ainda, que cá entre nós, não há oposição alguma aqui, mesmo neste caso, há concordância!) tratando do "pepino" que tem de ser resolvido, normalmente, até de uma Alice improdutiva que está "jogando bolas nas costas" no seu trabalho.

Independente desta senhora ter sua família que plante rosas, compre rosas, ou seja lá que forma for, disponha de rosas para comercializar - os casos anteriores já liquidam a questão de origem primária ou secundária - ela oferece o menos necessário dos produtos, que é simplesmente, uma simbolização de afeto, um "meme" de algo que representa, digamos, romance ou ternura. Inútil, sem serventia a não ser em exotíssimas e pouco nutritivas saladas. Uma flor que inclusive tem a planta espinhenta.

Pois bem. Definido que rosa é quase um lixo, perguntaria quem de vocês não pagaria até uns absurdos cem reais, sendo solteiro ou adúltero, não sejamos hipócritas, caso estivesse sentado conversando com a mais bela atriz de cinema ou televisão, modelo famosa, ou belíssima atriz de teatro do antigo bloco soviético? (Um exemplo para agradar alguma Alice que diga que só citei exemplos capitalistas, ligados ao consumo decadente da cultura ocidental.)

Claro que sim! E o equivalente em aceitar a capitalista rosa, mesmo da mais heterossexual e de típico comportamento feminino Alice do sexo dito frágil, pois é da natureza humana.

O mágico que ocorre aqui, é que por este ato inútil, fútil, romântico, piegas, até ridículo, é que a sua renda foi dividida com a velhinha, circulou. E esta senhora pode ser muito caprichosa em seus pequenos arranjos, e realmente embalar atrativas flores, dentro do universo de qualidade do inútil produto que estamos tratando, e merecer isto.

Assim, de uma inutilidade, no mais baixo patamar do que podemos definir como algo que seja necessário, pode nascer uma distribuição/circulação de renda, e a satisfação de todos os envolvidos (inclusive de você com sua companhia, seja dando a flor, seja a recebendo).

Mas notemos, que neste processo todo, a velhinha não foi explorada, pela similaridade com os exemplos anteriores, ninguém explorou, e mais que tudo, gerou lucro, pois numa determinada cadeia, que é a de produção de flores, que ainda acho que murcham e perecem, um novo ciclo de produzir flores tem de iniciar, e mais uma vez, mesmo pela absurda argumentação da mais-valia marxista, pela exploração do trabalho, alguém terá inclusive o que comer (incluindo, óbvio, a simpática, mesmo que seguidamente inconveniente, velhinha).


Mais algumas observações


Se a história pode ensinar-nos algo, é que a propriedade privada é ligada inextricavelmente com civilização.
Ludwig von Mises
1)

Encerrado estes simples exemplos, claro que aqui as Alices berrarão que nem todos podem ser pipoqueiros, plantadores de tomates e vendedores de flores, e tem de haver quem trabalhe em fábricas, imensas produções rurais, minas, escritórios, etc, para cruéis e desumanos patrões (Alices são melodramáticas, lembremo-nos).

Nada mais simples: trabalhe com a excelência do plantador de tomate acima, com a criatividade do pipoqueiro, ou com o carinho da vendedora de flores, e assim, cobre por isso, elevando seu lucro, pois obviamente, isso também causa o lucro de seu cruel patrão.

E quando este tão mau senhor lhe negar o justo, saia de suas oficinas, abandone seu capacete, largue sua picareta e rume para a dele concorrência, onde outro cruel senhor, que certamente quer que o seu patrão anterior vá à ruína ou vire seu trabalhador, e venda toda sua excelência, toda a sua criatividade, todo o seu carinho com seu trabalho, para ele, agora a preço justo, e com mais lucros para ambos.

Em suma, busque, mesmo dentro do que seja a absurda "mais-valia" dos marxistas, que a "mais-valia" que lhe roubam seja maior, mas em um "valor trabalho", igualmente maior, e com isso, mesmo em meio ao errôneo raciocínio marxista, lucre mais. Nada mais capitalista que isso, mesmo em meio ao mais pretendente à uma economia planificada dos mundos.

Infelizmente, lamento, num "mundo de Alices", isto não pode ser feito, pois o patrão é um só, e sempre será cruel igualitariamente, e certamente, o pouco lucro que for produzido, será exatamente do suor das Alices, e invariavelmente, concentrado num mesmo grupo (aquele mesmo que iniciou a dita "revolução"), que não disputa com ninguém coisa alguma, e só se locupleta da aparentemente imutável situação (até, claro, como dizem meus amigos "manos", "a casa cair" , como sempre).


2)

O grande David Ricardo trata o lucro como um resíduo, aquilo que sobra depois de todas as atividades. A meu ver o tempo tem mostrado que ele estava parcialmente certo, dependendo dos momentos e situações, especialmente a situação para a qual dizemos "tal mercado". Nos setores fortemente competitivos, "commoditizados" como digo em neologismo, nas pesadas logísticas, o lucro se estabelece como uma teoria, quase uma esperança bem planejada, e o caixa, como frio fato, e salvando-se todos os dedos após as perdas dos anéis, o resíduo é realmente considerável como lucro, pelo menos, por algum tempo...

Mas ninguém é maluco de afirmar que as fortunas de bilhões de inúmeros empresários do segmento de informática não foi uma determinada imposição sobre o feliz mercado se modernizando e ganhando eficiência, ou até jogando lúdicos jogos por puro lazer, ou mesmo trocando terabytes de informações como aqui fazemos, ou ainda sobre o infeliz mercado, o conduzindo a uma "angústia do não ter" por obsolescência programada, no limiar do crime, mesmo quando disfarçada de "modernização", "mudança de arquitetura", etc.

Aqui, von Mises demonstra claramente que no capitalismo ganha dinheiro quem consegue atingir a demanda das massas, até com computadores antes julgados inúteis ou impossíveis de serem operados pelo "homem comum", até com pouco sérios nomes de frutas.

Logo, embora continue defendendo que o lucro é teoria, caixa é fato, com todos os meus traiçoeiros dentes, também digo que lucro pode ser quando, no tapa, pegamos a fatia maior da pizza que é o mercado.



Notas

[Nota 1]: o "mundo de Alices é um conceito que desenvolvi para apresentar como premissa um mundo onde a riqueza já seja plena e harmoniosamente distribuída. Noutras palavras, é um mundo utópico onde tudo o produzido gera um valor tal que é imediatamente dividido entre todos os habitantes. O uso desta utopia, seguidamente, serve de base para mostrar porque em pouco tempo este status "desanda".

[Nota 2]: o pagamento não precisa ser em "dinheiro", como pensou brilhantemente Fidel ao julgar que nem dinheiro Cuba necessitaria, pois sua revoluçao seria perfeita*, e sim, como ironizo, com bananas e peixes, pois como mostrei anteriormente, Alices não necessitam em seu mundo utópico mais que isso.

* Por isso mesmo, deve ter colocado o gênio das finanças Che Guevara como presidente de seu banco central.

[Nota 3]: o exemplo de pipocas é mais que ilustrador pois poucos alimentos são mais inúteis que a pipoca, ou relacionados mais ao lazer. Você pode viver perfeitamente anos (até a vida inteira) sem comer pipoca. Mas porém, poucos hoje vão ao cinema ou assistem seus programas ou esportes sem a consumirem ao menos uma vez ao ano (e estou aqui "atirando por baixo"). As redes de salas de cinema hoje tem boa parte de seus lucros baseados na venda de pipoca. Mais uma prova que muito do que faz girar o mundo econômico não se dá pelo necessário, mas pelo desejado.

[Nota 4]: espanta-me que realmente Alices não entendam que exatamente o crescer de desejos atendidos pelas massa é que realmente acrescente riqueza, a geração de valor no linguajar de algumas autoridades de Economia.

Exatamente mais detalhes, maior diversificação, é que faz surgir, como aqui mostramos, o exemplo dos agricultures de especiarias, que num quilo de algum produto obtem muitas vezes o que seja apenas obtível com sacas e sacas de outros produtos. Aí já estaria uma solução para as pequenas propriedades, pois vemos que nos produtos mais extensivos, a História tem mostrado que as produções de pequenas propriedades tem se tornado crescentemente inviáveis.

Existirem carros como os Bugattis e os Zondas na casa dos 7 e 10 milhões de reais é um absurdo marxistoide tão grande quando a obviedade que exatamente este valor será o que parcialmente será pago ao trabalhador que o usina, solda, monta, pinta e regula. Logo, repitimos, o bem de luxo retira o capital de um porco capitalista e o distribui ao pobre proletariado. Esta questão fundamental tratarei pesadamente noutra blogagem

O desejo oculto de toda Alice.


Extras e Anexos

O monstro que está prestes a bater em nossa porta


Como Alices adoram trocar números, e de preferência, ainda fazendo com eles contas erradas, vamos tratar de algo atual, monstruoso, quase batendo à nossa porta, e que nos ameaça.

Quando LULA assumiu o Brasil, em 2002, devíamos (em reais): 

  • Dívida externa: 212 Bilhões
  • Dívida interna: 640 Bilhões 
  • Total de dívidas: 851 Bilhões
Em 2007 Lula veio a público afirmar que teríamos pago a dívida externa. O que é a priori verdade, só que ele não explicou que, para pagar a externa, ele aumentou a interna:

Em 2007 no governo Lula:
  • Dívida Externa = 0
  • Dívida Interna = 1.400 Trilhão 
  • Total de dívidas = 1.400 Trilhão

Ou seja, a dívida externa foi paga, mas a dívida interna quase dobrou.

Em 2010, percebemos que não se vê alardeia mais na mídia qualquer coisa a afirmada quitação sobre a Dívida Externa. O motivo é mais que simples. Temos, novamente, uma dívida externa.


Em 2010:
  • Dívida Externa= 240 Bilhões 
  • Dívida Interna =1.650 Trilhão 
  • Total de dívidas: 1.890 Trilhão, ou seja, a dívida do Brasil aumentou em 1 trilhão no governo Lula.

Deste endividamento que tem "surgido miraculosamente" o dinheiro que o Lula esteve gastando no PAC, Bolsa Família, bolsas para a educação em seus diversos níveis, verbas para a cultura, auxílio-reclusão a famílias de presos, etc.

Este volume de recursos não tem nascido de disponibilidades, do enriquecimento do estado, que propicia reservas que podem ser investidas.

É com dinheiro fruto de endividamento.

Durante o governo Lula foram pagos R$ 857 Bilhões a título de juros da Dívida Pública, ou seja, seis bilhões de reais a mais do total das dívidas externa e interna de 2002. Fonte: site Contas Abertas

Elaborado a partir do divertidíssimo blog Mujahdin Cucaracha, em linguagem clara e simples, mostrando a nua e crua verdade.

Para ler extenso material sobre isso, recomendo o árduo trabalho:

Amilton Aquino; Lula e a Dívida Pública

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/08/29/lula-e-a-divida-publica-parte-1/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/09/05/lula-e-a-divida-publica-parte-2/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/09/12/lula-e-a-divida-publica-parte-3/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/09/19/lula-e-a-divida-publica-parte-4/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/09/26/lula-e-a-divida-publica-parte-5/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/10/03/lula-e-a-divida-publica-parte-6/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/10/10/lula-e-a-divida-publica-parte-7/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/10/17/lula-e-a-divida-publica-parte-8/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/10/24/lula-e-a-divida-publica-parte-9/

http://visaopanoramica.wordpress.com/2009/10/31/lula-e-a-divida-publica-final/

E "direto na fonte":

Gráfico 4 - Evolução do Estoque da DPFe x Reservas Internacionais

http://www.stn.fazenda.gov.br/hp/downloads/Informes_da_Divida/Informe_DPFe.pdf

Tabela 'Evolução dos Principais Indicadores da Dívida Pública Federal'

Estoque da DPF em mercado (R$ bi): 1.600 (em 2009)

http://www.stn.fazenda.gov.br/divida_publica/downloads/Apresentacao_Relatorio_Divida_2010.pdf


Uma atualização

Políbio Braga On Line

Dívida pública federal aumenta 1,15% e chega a R$ 1,6 tri

A dívida pública federal (DPF) aumentou R$ 18,76 bilhões de setembro para outubro, passando de R$ 1,626 trilhão para R$ 1,644 trilhão, devido à emissão de títulos públicos e a apropriação de juros. Em termos percentuais, a alta foi de 1,15%.

A dívida pública mobiliária (em títulos) federal interna subiu 1,19%, passando de R$ 1,534 trilhão para R$ 1,552 trilhão. A dívida pública federal externa também subiu, encerrando outubro em R$ 92,21 bilhões, contra R$ 91,76 bilhões em setembro.




Os hálitos do grande monstro que já dão seus ares
no Palácio do Planalto



Juros reais de pouco acima de 5% ao ano, frente a juros internacionais de 0 a 1%. Impostos na casa de 35 a 36% do PIB, frente a 22% dos demais países emergentes, dívida pública bruta de 60% do PIB crescente frente a 40%  dos demais emergentes. (Carlos Alberto Sardenberg; Não é a Moeda; Estadão 08/11/2010)

Neste campo, nestes problemas, não adianta espernear contra os EUA e sua emissão de moeda. Repitamos: sua, pois em termos de dólares estadunidenses, dizem por aí que os EUA são absolutamente soberanos.[Nota 5] Como bem disse Mário Henrique Simonsen, inflação aleija, mas câmbio mata, e o governo não pode fazer coisa alguma frente a um mercado que só em termos de EUA é da ordem de dezena de vezes nossa capacidade econômica total, e em termos de emissão de moeda, teoricamente ilimitada. Na verdade, não podemos nem com a capacidade da China de comprar títulos da dívida estadunidense, e ao que parece, antes de nos preocuparmos com este câncer, nem mesmo estamos conseguindo frear a gripe intensa que é a questão de nossas importações desta mesma China, devastando nossas indústrias já a 20% de nossos bens de consumo.

Nossas pesadas importações tem detido aumentos de preços, que mais cedo ou mais tarde conduzem à inflação, pela apresentação de preços competitivos a nossos preços internos, mas os déficits fiscais tem levado à uma inflação propriamente dita por outras vias.

Os EUA, caracteristicamente prudentes, junto com todo o "mundo anglo-saxão" (com a exceção temporária da Austrália, mas já de volta aos eixos), junto com o "grupo germânico-nórdico", em questões de emissão de moeda, não sofre com inflações por "estúpida emissão", mas sofre com inflações de demanda, direi corajosamente, "pura". Para estes, abrir as portas às importações é solução. Nós sofremos nas duas pontas. Temos inflação a ser controlada por juros extorsivos, e mesmo com nossos valores, não o conseguimos a pleno por nosso estado deficitário e irresponsável - vide dívida interna, e ainda estamos a aleijar-nos, a asfixiar-nos, pela importação. Estamos entre a cruz e a espada, simplesmente isso.

[Nota 5]: Espernear com os EUA em termos econômicos tem a mesma validade de tentar bater com uma rosa num touro, ou imagem ridícula semelhante. Os EUA não se caracterizam por negociar. Sempre, impuseram suas vontades, muitas vezes, travestidas cinicamente de "acordos". E escrevam: a China, aprendeu muito com eles, e nitidamente, supera o mestre, especialmente em perversidade, pois nem mesmo se interessa em exportar apenas os negócios, exportando junto, até a massa de trabalhadores. Já quando importa os negócios, importa apenas sua "casca" tecnológica, organização e métodos e obviamente, capital, pois "nunca coisa alguma é o suficiente"*. O trabalho, é destinado à sua massa de "explorados" (não resisto a uma ironia plo marxismo). Adaptando livremente um estadunidense comentando o que seja a China: Se vocês acham os EUA ruins, aguardem pela China!

*Como bem me disse um professor do 'básico do básico' de Economia, anos atrás: pobre coitada da alma que se contenta com o que tem.


O pequeno monstro que já baterá à porta de Dilma



Já abordei que existem os custos tem uma característica de inexorabilidade. Desenvolvamos mais estes pontos, antes de delinear o pequeno monstro, na verdade, brotação do maior.

Como existe a ocorrência dos custos no tempo, especialmente se fixos, correntemente, no tempo, seja por reservas, seja por geração, será necessário honrá-los. Repitamos: os custos fixos são inexoráveis no tempo, e qualquer custo distribuído no tempo, em parcelas, amortizado, torna-se igualmente, ainda que temporariamente, um custo "tratável como fixo", e tem de ser coberto pela geração de caixa, e igualmente, nas vincendas, inexorável.

Em exemplos simples: todo mês existe um aluguel ou parcela de financiamento ou despesa de utilidade como água e energia a se pagar.

Mas existem custos que são acidentais, e as probabilidades, especialmente no atuarial, no relacionado com o modelável pela distribuição de Weibull, aleatória pois acidentalmente (sejamo até redundantes), será necessária sua correspondente provisão em caixa (reservas) ou seguro, pois inevitavelmente e inexoravelmente de maneira crescente no tempo, o custo em questão ocorrerá e será necessário cobrí-lo e consequentemente, haverá o débito do caixa. E aqui o lucro, que se fez aparentemente certo, torna-se novamente a esperançosa teoria. Repitamos: os custos acidentais são inevitáveis no mais longo do tempo, ou, noutras palavras, com exemplos simples, da menor para a maior escala, com o mais que trivial e diário, lâmpadas queimam, torneiras desgastam-se, um incêndio ou acidente acontece, enchentes ocorrem e seu empreendimento será alagado, ou seu frete de matéria prima ou de entrega será atrasado, e destes, sua geração de caixa será abalada.

Respirando e citando os investidores no arriscado mercado de ações: lucro bom é o que está no bolso.

Da mesma maneira, governos são obrigados inexoravelmente, no tempo, a repor as perdas salariais por inflação, que na verdade, nem será perda para o governo, que arrecada corrigido permanentemente em seus impostos pelos inflacionários preços.

Mas ainda dentro disso, tem os governos de lidar com os desejos, a ganâncias dos grupos, do corporativismo, e destes, a irreponsabilidade fiscal. Ao fazer iso, poderá somar além do inflacionário, que relaciona-se ironicamente com a marxista "luta de classes", e aqui serei até cruel, tem de cuidar para não somar mais custos inexoráveis ao seu já pesado fardo.

Sobre isto, rezar (pois não há outra coisa a fazer) para que não ocorram tragédias - custos acidentais, que não seja pego de calças (ou saias) curtas, sem reservas e sem mecanismos de securitização, pois em última instância, causará ou rombo no caixa ou processo inflacionário, o que sinceramente, no tempo, dará no mesmo.

Assim, cuidado, "Nossa Nova Guia", pois o governo Lula lhe deixa 52 bilhões de reais em contas a pagar, 29,5 bilhões em investimentos comprometidos apenas até outubro e 6 bilhões com a proposta de reajuste do Poder Judiciário e Ministério Público da União com "riscos" de aprovação, levando-a talvez até a ter de "suspender empenhos", que é uma expressão mais elegante para "calote". (Marta Salomon; Governo Lula deixa conta para Dilma; Estadão, 02 de novembro de 2010).

Com esta marcha, e seus também inexoráveis efeitos cascata, para escrever outra até bem revisada blogagem, só necessitarei preencher algumas lacunas, e reeditar a profecia que sempre represento com a frase "quando certo dia chegar...", relacionada sempre com a "marcha para a inoperacionalidade", que mesmo nos governos, mesmo na maior escala possível, ocorre, e seguindo a irônica lei de Murphy: Se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior estrago possível.

Contar aqui com riquezas ocultas, como o Pré-Sal, com a sua imediata geração, é para mim pensamento mágico e desprezar o poder previsório da Lei de Hofstadter:

É sempre necessário mais tempo que o previsto, mesmo quando se leva em conta a lei de Hofstadter.


Lítio da Bolívia e certas lembranças



Assisti chocado à imensa estupidez da Bolívia mostrada em 24/10 no Fantástico, que tenta desenvolver sozinha, a passos de tartaruga e escala de mussaranho a produção de lítio, hoje mais que procurado para baterias, e crescentemente, dado só por argumento principal os veículos elétricos.

Tudo em nome de um "nacionalismo". Triste sina, demorarão, como todo mau administrador, a descobrir que a menos flexível das variáveis é o tempo, e nele, todos os fatos econômico ocorrem, e a inexorabilidade dos custos, o implacável ponto de equilíbrio necessário em todas as atividades se manifestará. Sendo mais simplista, sempre o tempo passa, e quanto mais se demora a ter as receitas, mais se sofrerá com as despesas.

Tão simples é a situação da Bolívia (e outros) como o proprietário de determinado serviço, que necessitando de 200 clientes para se equilibrar, ao ter 190, acha que seu problema está solucionado, e ao ainda não ter 240, por exemplo, acha que exatamente por fatores aleatórios e caóticos, a distribuição caótica no tempo das procuras, não perderá 40 clientes e voltará a andar perigosamente sobre a navalha*. Os mesmos velhos problemas de "marginalidades", de ter reservas tanto de valor quanto de tempo, e como mostrou Alec MacKenzie, a finalidade de toda atividade econômica é por fim a geração de tempo. Mesmo na escala de estados. Mais uma vez, com acréscimo: lucro bom é o que está no bolso.

*Daí a linda imagem entre os profissionais de finanças do "equilibrista", símbolo de sua atividade.

Deste mesmo estado, a Bolívia, sofremos o duro golpe de nossas atividades sobre gás natural, até pela ingenuidade de acharmos que teríamo uma relação madura e confiável (e aqui, uma oculta redundância) como a que tem EUA e Canadá. A Bolívia não é  talvez por muito tempo não seja o (nem o de hoje) Canadá. E o Brasil não é o que seja os EUA, com sua enorme capacidade de pressão, sua multiplicidade de fontes e como lá em cima coloquei, sua quase ilimitada capacidade de colocar, mesmo com mínimos problemas internos, "fichas na mesa".

O tempo se encarregará de castigar a Bolívia com seu lítio "auto-suficiente", e mesmo, com seu gás, e quem pagará a conta disso, por fim, será seu povo. Que nos sirva de exemplo, antes de começarmos a negar a presença de extratores de riquezas, que poderiam imediatamente se posicionar em grande escala, e com a também imediata presença controladora de nosso estado, simultaneamente gerar riquezas, pelo simples pagar de tributos.


Elevação de custos não é inflação...
...pelo menos, no início



Complementando uma questão anterior, colocarei que mesmo para um produto de tão vasta influência como o petróleo, e até podemos ampliar para o conceito de energia, o aumento de um ítem e mesmo toda sua cadeia não implica em inflação "propriamente dita". A elevação do preço dos combustíveis pode levar as passagens de ônibus em até 30%, mas não implicará isso nos fretes por caminhão elevarem-se em mais de 25%, ou o transporte por trens em mais de 10%, ou o naval em mais de 5%. Mesmo em produtos onde o petróleo seja um custo ligado apenas aos fretes, pode não representar mais sua majoração que a majoração deste mesmo frete.

A influência deste encarecimento se dá apenas nas planilhas específicas, nas linhas  colunas específicas, nas células específicas, numa linguagem de planilhas de custos.

Quando a questão é propriamente inflacionária, todos, repitamos, todos os provedores de bens e serviços não é que modifiquem seus custos em si, mas querem que seus produtos e serviços sejam remunerados por mais moeda, excetuando-se, claro, os temerários, os ignorantes e os irresponsáveis (os quais, em termos de resultados financeiros, são praticamente idênticos).

O problema não está em quanto dinheiro está saindo do caixa para bancar a futura geração, mas o quanto realmente é a futura geração para posteriormente buscar cobrir aqueles custos 'em novo ciclo', e como sempre, manter aquele roubo, na mente das Alices, que é o lucro. Quem está em queda é o valor da moeda, e não em subida de um 'valor universalizado' está este ou aquele ítem.

Claro, evidente, que as situações deste tipo possuem graduações e interfaces, campos difusos onde a classificação é impossível, e como já tratei em ciência, podemos estar aqui tratando de "aristotelismos classificatórios", e concordo, por isso mesmo, que uma situação, quando bem definida, pode se transformar na outra, gradual e até em mutação, fazendo outra analogia com o científico. Por isso mesmo, quando o petróleo sobe, ou quando o câmbio sofre impactos de majoração e estamos em forte importação, como agora, tais fenômenos podem, realmente, virar o que podemos chamar de inflação, naquilo que os muito mais aptos que eu economistas chamam de inflação de custos.

Se esta inflação de custos for somada a uma inflação por demanda, e para manter a "felicidade causada pela demanda" o governo sofrer a tentação de começar a "pintar", ou ainda pior, "digitar dinheiro", a amorosa criatura da gravura acima (à direita) mostrará sua real natureza.

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