Chuva de dinheiro logo se escoa
Para certos detalhes de algumas das falácias tipicas de Alices, se presta muito o caso recente, na cidade de Fontoura Xavier, onde foi premiado um bilhete da Megasena, único, de um único apostador (concurso 1220), de pouco mais de 119 milhões de reais. Chamaremos o feliz ganhador de "Seu Zé".
Seu Zé poderá, com este dinheiro, pagar suas todas suas noticiadas dívidas, e já por isso fazer tal volume de dinherio circular pela cidade, que segundo consta, tem orçamento municipal oito vezes menor que o prêmio.
Notemos, que até aqui, por mais honesto que seja, por mais bem intencionado que pretenda ser, nada mais fez que cobrir os deficits de caixa alheios, sempre correspondentes a títulos não pagos, que já causou. Então, neste caso, não geraria, na mais ampla análise, riqueza alguma.
Poderia montar uma indústria, até diversa de seu noticiado pequeno frigorífico, que poderia, claro, ser ampliado. Poderia incrementar alguma produção agrícola ou pecuária. Com estes, poderia "mandar produtos para fora" de sua humilde comunidade.
Mas serviços e comércio em suas comunidade não necessariamente gerariam riqueza alguma, para o município, também na mais ampla análise.
Expliquemos e por uma via de indução ao absurdo: se tal fosse razoável, poderia se dizer que geraria mais riqueza ainda se um enorme complexo comercial e de serviços, como um shopping, geraria riqueza se lá instalado. Além da construção, das obras de acabamento e dos materiais de construção, que obviamente teriam de ser pagos, até localmente, a simples presença de redes de fast food, finos restaurantes, cinemas e lojas de diversas grifes não necessariamente jogariam a riqueza em tal município. Se isso fosse por si verdade, diversos shoppings, pelo Brasil a fora, em diversas cidades (e muito maiores que a pequena Fontoura Xavier), não teriam falido, junto com todas suas lojas.
Pois na verdade, não existe um sistema exato de reações a cada ação de colocação de bens e serviços a disposição do mercado. Simultaneamente, ou avançando no tempo, tem-se de ter O mercado. Pode-se "empurrar" um tanto, até com os 120 milhões do prêmio, mas como digo, "somente até ali". Um tanto, para gerar-se mais, terá de ser "puxado" pelo mercado.
Portanto, por mais intensa que seja a chuva de dinheiro (ou de qualquer riqueza), não tardará ela a se escoar, se não bem represada e o balanço de seus fluxos não for bem administrado.
Logo, voltando a nossa argumentação por indução ao absurdo, não necessariamente a construção de um "Cidade Jardim", de um "Iguatemi", conduz à geração de riqueza para uma comunidade, uma localização, um região, ou qualquer área onde encontrem-se pessoas, como digo, "monolinearmente". O mesmo vale para a extração de riqueza mineral em um país, a implantação de todo um parque industrial, uma robusta fase de produção agrícola, a formação de polpudas reservas monetárias internacionais (aqui, a Argentina e muito de seu passado é um exemplo perfeito). Em Economia, a ação A não implica no resultado B, pura, simples e diretamente.
Também não existe o inexorável resultado C, mesmo na ação A passando pelo resultado B, mesmo ao acaso, mesmo deterministicamente, e assim, ad infinitum e ad eternum.
Tal como uma "queda de dominós", as fenomenologias econômicas não se dão por surtos instantâneos de energia, em correlações mágicas de eventos fortuitos, e até são sujeitas, fazendo um trocadilho com cinema/literatura infanto-juvenil, à Desventuras em Série. Piorando este caos, a ação A não implica, mesmo em resultando no resultado B, que este se mantenha intocável e imodificável pelo tempo à sua frente.
Seu Zé de Fontoura Xavier poderá colocar valor na pouco rentável poupança, e mesmo com as altas taxas de juros hoje que a remuneram, não necessariamente obteria mais rendimento que colocando tal valor integralmente num perfeito negócio, exatamente o mais viável em sua comunidade. Sempre um fator de risco existe, e sempre, a resposta na forma de "absoluta segurança" (com aspas pois tal não existe) seria um caminho de mais alta liquidez, como depósito em instituição bancária, e aqui, mesmo poderia ser uma de um país socialista, estatal, o mecanismo econômico manter-se-ia, basicamente, o mesmo.
Lá, estaria a disposição, até apenas do dito confiável estado, e tal ficaria à mercê das atividades do humano no econômico, às perdas pela ação da natureza, ao sucesso e ao insucesso.
Ora, se fortunas acumuladas não se esvaissem, não haveriam famílias riquíssimas que faliram, assim como países com momentos de glória, como a colossal URSS, mesmo com todo seu controle rígido e centralizado, ou mesmo casos deploráveis, nos quais as mais férreas vontades não podem fazer por si mercados surgirem e se moverem, nem erguerem-se palácios do chão, como evidencia-se a olhos vistos, em Cuba (e notemos que lá, pelo alegado pelas Alices, trabalhador algum está sendo explorado para gerar riqueza).
Assim, voltando as nossas Alices e suas falácias, é uma das falácias permanentes e um erros teóricos dos marxistas afirmarem que ao se colocar pessoas no trabalho, e com os bens produzidos procederem-se a sua igualitária distribuição, que tal gerará no tempo, mais e mais novas riquezas e ainda por cima melhoria das condições de vida, pelo simples fato que não necessariamente o humano procederá ao bom trato de suas coisas, seja individual, seja coletivamente.
Sinteticamente, esta falácia das Alices pode ser expressa por: em se distribuindo riqueza, está se expandirá no tempo, ou 'se multiplicará'.
Esta ideia, apenas wishful thinking, entre os marxistas, é seguida sempre da ingênua ideia de que ao seu sistema planificado ser implantado, como encerra-se a exploração do trabalho pelo capital, que na sua argumentação é a única origem do próprio capital, a riqueza se expande, e necessariamente, distribui-se entre os agora iguais, e o único caminho será o progresso.
Se apenas jogar riquezas num mercado qualquer, se apenas colocar-se uma atividade em andamente, se tais acréscimos gerassem riqueza por si, mesmo na capitalista Fontoura Xavier, Seu Zé não teria gerado, no passado, já os problemas noticiados com seu frigorífico, e curiosamente, parece que todos nós, tirando os vegetarianos, necessitamos consumir carne. Por similaridade, bastariam os soviéticos produzirem trigo, bastariam os chineses de Mao produzirem porcos, e se estes exemplos não são suficientes, bastariam os cubanos produzirem todos os bens e serviços de que necessitam*. Aqui, não há diferença nenhuma entre 120 milhões, uns 100 mil reais de um pequeno frigorífico ou o pequeno conjunto de pedaços de metal, que foram barganhados por alguma porção de lentilhas, por alguma população de alguma vila primitiva, quando começou-se no mundo a acumular-se alguma riqueza, e gerar, a partir de um grupo de pobres coitados, nossa civilização.
*Aliás, deve-se sempre se perguntar para que Cuba necessita de dólares, se é a moeda de um país estrangeiro, e ainda mais, de seu maior "inimigo" (paradoxalmente, o maior e mais próximo cliente possível, e no consumo de açúcar, entre todos os bens que pode a mais rica sociedade do mundo consumir, maiores consumidores per capita que a maior parte dos possíveis clientes). Pelo argumento "moeda", bastaria possuir a sua. Pelo capitalista argumento que só emite-se moeda com lastro em riqueza, bastaria produzirem qualquer coisa. Logo, o problema é que seu sistema não pode gerar a riqueza de que necessitam, é ineficiente, incompetente e mal gerido, nada mais claro. Devemos também salientar, que por definição, e trataremos isto noutra blogagem, todo sistema comunista tem de ser economicamente fechado e autosuficiente, mas...
Noutras palavras, para fechar o que aqui foi tratado: para ter-se utilidade para o pequeno conjunto de pedaços de metal que se acumula, é necessário ter-se a porção de lentilhas. Para se plantar as lentilhas e obter-se pedaços de metal por elas, é necessário que alguém tenha acumulado pedaços de metal. Se os pedaços de metal forem excessivos, chegará ao ponto que ninguém desejará trocar mais coisa alguma por pedaços de metal. E ainda, se quem planta as lentilhas não desejar pedaços de metal, pouco interessará que se coloque em frente a este agricultor uma montanha de metal, talvez ele prefira trocar por qualquer outra coisa que necessitar ou desejar naquele momento. Como sempre, a fenomenologia econômica não é a cadeia monolinear falaciosa dos marxistas, mas uma teia intrincada e enorme de múltiplos e variados no tempo interesses.
Qual bem é mais necessário? Qual tem maior valor? Depende da necessidade, depende do desejo, depende do momento. |
Nota: Existe um texto, o qual não localizei, que trata de como um prêmio muito menor, dividido num "bolão", modificou significativamente a vida de uma pequena cidade. A questão é que, claramente, lá, tinha-se a ampla carência deste dinheiro, ligado a uma rede de necessidades e oportunidades no momento correto, em amplas relações com carências e oportunidades externas à cidade. Este texto não refuta de forma alguma o que aqui se apresenta, apenas, reforça. Se a presença apenas também de mercado externo fosse a solução de problemas econômicos, o México não teria sido pobre durante todo o tempo que foi, ao lado da maior economia do mundo, na mesma medida que o Canadá não seria rico como é, já contrariando a maior das falácias que as Alices pregam, de que a riqueza só advém da exploraçao da pobreza, mesmo na escala de países.
A seguir: o motivo porque "mais valia" é uma tolice colossal e exatamente por isso, dizer que o capitalismo, com o capital em acumulação, por viver da "mais valia roubada" tende a colapsar, é uma tolice ainda maior, e afirmar-se que tal seja "matematicamente demonstrável" é uma tolice que eclipsa as anteriores.
Um anexo
Minhas sugestões para um tratamento carinhoso desta fortuna (e na verdade, de qualquer quantidade de dinheiro):
Para adquirir-se qualquer bem, procede-se por três vias:
Acumule-se o valor V, em n parcelas de valor v até totalizá-lo e despreze-se os ganhos com os juros (se houverem) até obter-se o valor pretendido. No caso de remuneração desta acumulação (um nome mais amplo para aquilo que pareceria específico se dito poupança) com juros, a alteração no plano se daria pois o número de parcelas poderia ser reduzido para um n' menor que n, ou o valor da parcela poderia ser reduzida, para o mesmo número de parcelas para um v' menor que v ou ainda combinações, até variantes no tempo, de tais reduções, tanto em tempo, quanto em valor.
Para obter-se as n parcelas acima, ou o acúmulo do valor, o que é só uma questão da maneira como conduza-se o planejamento e a execução de tal projeto, tenha-se ganhos maiores que gastos (o que é uma análise instantânea no tempo do fenômeno fluxo de caixa). Observação: Um procedimento contrário a este, levará, inexoravelmente, a diminuir-se o V acumulado, afastando-se do bem ou serviço pretendido.
Para tomadas de valores em crédito, pois não quer-se seguir a metodologia acima, tenha-se ganhos maiores que juros j (o fenômeno fluxo de caixa analisado ao longo de um intervalo de tempo) e a parcela a ser honrada do valor tomado. Observação: Um procedimento contrário a este, levará, inexoravelmente, a aumentar o V onerado a pagar-se, afastando-se da liquidação da devolução do valor tomado em saldo a pagar, ou ainda, em aumentar o valor a ter-se de ter de saldo em cada período t, no balanço operativo de ganhos e gastos. Como sempre: não há almoço grátis.
Os juros a serem pagos são exatamente (e talvez maiores) os mesmos que seria ganhos se o projeto fosse executado no tempo, e não, trocado pelo bem ou serviço, hoje, em função de seu valor ser coberto adiante no tempo.
Assim, se 120 milhões rendem 600 mil por mês, desprezada a inflação (e isto é importantíssimo), recomendo "torrar" (e pode ser no que bem se entender), por exemplo, no máximo uns 300 mil por mês, sob pena de cair no caso que retratei em Atribulações tributárias e outras - A permanente erosão dos custos.
Resumindo estes métodos:
1)Acumular-se n vezes de v até somar V.
2)Para ter-se v a cada período t, em cada período t, ter sobra de v.
3)Se tomar-se em crédito V, pagando v+j a cada período t, deve-se atentar para também a cada t ter-se sobra de v mais j.
Nada mais simples, mas infelizmente, sujeito aquilo quedefine o crédito, que não é a capacidade financeira, mas o caráter*, coisa que as Alices, em sua ingenuidade, atribuem como perfeito em cada ser humano.
* Crédito não relaciona-se com capacidade financeira, mas com caráter. Máxima a ser repetida e decorada por todo profissional de atividade relacionada com cessão de crédito.
A única coisa que diferencia, na prática, o dinheiro de demais mercadorias é sua capacidade de permuta, que até recebe o termo, noutra caracterização, daquilo que chamamos liquidez, e por isso mesmo, até Cuba necessita de dólares (e necessitaria de qualquer moeda, inclusive a sua, se riquezas para lastreá-la produzisse, em quantidade suficiente). Mas na questão acumulação, apenas mudando de escala, a permanente busca pela formação de reservas aplica-se como norma desde a escala de indivíduos (já em suas primitivas lentilhas e pedaços de metal) até a escala de nações (e suas produções agrícolas, minerais e industriais e moderníssimas maneiras de operar suas reservas internacionais).
Talvez algum leitor mais desatento pergunte para que alguém que ganhou um prêmio de 120 milhões necessita se preocupar com acumular parcelas do valor de um bem, ou tomar empréstimos. Então, não leu os links anteriores e nem mesmo algumas "entrelinhas" do texto acima, nem entendeu que mesmo 120 milhões, não podem comprar um jato de 120 milhões e um, assim como também até podem comprar um jato de 35 milhões, e os desejos sempre se reproduzem mais rápidos que os recursos*, mas talvez o que sobre não sustente sua manutenção e as demais despesas, pois exatamente n x v acumulados vale para a acumulação de V, assim como gastar v em n vezes fulmina V, muitas vezes, mais rapidamente ainda pelo pagamento de j.
* Economia, mais que tudo, é a arte de conciliar os desejos infinitos com os recursos finitos.
Jamais encontrei um homem que não tivesse mais desejos do que necessidades. - Voltaire
Recomendo aqui, a leitura de De moeda em moeda e novamente, Atribulações tributárias e outras - A permanente erosão dos custos. Mesmo a décima reserva monetária internacional, como era a da Argentina após a 2a Guerra Mundial, não resiste (e não resistiu) à tal erosão.
Assim, mesmo na escala de países, esta conceituação de acumulação de reservas, de preferência no bem de maior liquidez, o dinheiro, não difere muito do simpático objeto abaixo:
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