quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Uma nova miopia, a tecnológica

 


Resumo


Uma analogia entre a clássica miopia em marketing e uma miopia quanto ao cenário da nova revolução industrial, o conceito de indústria "4.0", alguns exemplos e os problemas decorrentes de não adequação a novos paradigmas.



A agora já clássica miopia em marketing aponta que empresas não percebem as mudanças no ambiente de seus negócios, não percebendo as mudanças de produtos, a mudança de um perfil de preços, a mudança dos desejos de sua praça e, como se vê intensamente hoje, a não percepção da mudança nos canais por onde deve fazer sua promoção. Em mais fatores, poderíamos ampliar estas não percepções da mudança do ambiente, com mais e mais graus nessa miopia.


Tratamos de maneira análoga a miopia em marketing ambiental, onde as empresas não percebem o que chamamos de uma necessidade “V.E.R.B.O.” em seus produtos ― verdes, ecológicos, recicláveis, biológicos e orgânicos ― e mais amplamente, no próprio ambiente de sua existência, com mercado consciente, em suas relações com o estado representando uma população desse mesmo mercado, em sua concorrência com outras empresas de melhor imagem em questões ambientais.


Mas agora a nosso ver surge uma nova variedade de miopia, em que as empresas, apesar de produtos similares e sem modificações fundamentais no futuro mesmo mais distante, sem significativa variação de preço, sem mudança sequer do comportamento de consumo de sua praça e nenhuma mudança nos veículos pelos quais se dá a promoção, enfrentará mudanças de paradigmas de uso de tecnologia nos modos de produção, de atendimento à demanda, de fluidez no atendimento das variedades desejadas pelo mercado.


Entendemos que, por exemplo, uma chapa de vidro continuará sendo produzida pelo processo 'floating', ou ainda a embalagem de detergente continuará a ser produzida por sopro de uma massa de polímero, ou ainda seu conteúdo será produzido por formulação de compostos químicos em bateladas. Estes processos numa indústria de patamar "3.0" não mudarão significativamente em termos de automatização. Poderíamos citar dezenas de produtos e mercados com as mesmas características de uma situação definitiva de uma automatização com máxima eficiência em produtividade e minimização dos custos. Mas as operações periféricas ao núcleo de produção destes produtos podem entrar em rápida convergência para um patamar tecnológico de indústria "4.0".


Expliquemos. Poucos anos atrás, assisti imagens de um grande fabricante de refrigerantes que, destaque-se nos EUA, ainda mantinha o abastecimento da linha de produção quanto a "tampa" das latas feita por um trabalhador, o humano abastecendo os componentes de uma linha automatizada, numa atividade robótica, triste ironia. Alertamos que um raciocínio de redução de custos com manutenção de produtividade pela "permanente oferta da mão de obra" já não se sustenta contra extremos de automatização, e menos se sustentará contra os paradigmas de uma indústria "4.0".


As indústrias tenderão agora, com brutais ganhos de produtividade, a terem de substituir mais e mais estes trabalhadores e técnicas acessórias à automatização por robôs, pelo uso de ferramentas de inteligência artificial na manutenção, por modularidade que permita rápida mudança de variáveis na produção, como por exemplo operação robótica que altere uma matriz ou elastômero na linha de produção automatizada ao extremo de aparelhos de barbear, atendendo à demandas de promoções de grandes eventos ou requisitos de certos grandes distribuidores.


Retornando a um de nossos exemplos, as chapas de vidro continuarão a ser laminadas e cortadas numa linha de produção automatizada, mas a colocação em 'pallets' ou caixas será mais e mais robotizada, o armazenamento nos estoques de trabalho será robotizado, a colocação das cargas nos caminhões será robotizada e em breve até às entregas serão por caminhões robotizados.


Noutro exemplo, a manutenção dos moldes numa linha de produção de embalagens plásticas terá os funcionários substituídos por mecanismos robotizados, com capacidade de análise do problema e aplicação de soluções, escolha de ferramentas adequadas e dispensa de questões de segurança ou ambiente quanto à temperatura ou agentes químicos.


Num exemplo complementar, podemos acrescentar que a fabricação de sabão em pó passará por uma transformação em que as matérias-primas de maior escala chegarão à unidade de produção e serão direcionadas ao armazenamento por esteiras automatizadas, monitoradas por unidades de manutenção robotizadas e qualquer manipulação das embalagens de recebimento, como sacos de produtos químicos, será realizada por braços robotizados e colocação em armazém por empilhadeiras sem condutores. Idem para embalagens. Os demais componentes da formulação igualmente terão sua movimentação, controle de estoque, manipulação e formulações intermediárias, como corantes, aditivos e enzimas, realizados sem o toque de mãos humanas, além de sequer amostragens e controles intermediários de qualidade serem conduzidos por trabalhadores. 


A formulação final, que obtém o produto tal qual é colocado embalado no mercado para o consumo final, é feita no misturador usual, tal como o atual, e nisso a automação se mantém tal qual os métodos atuais se produção, de onde por nossa argumentação eliminamos o conceito de "impressão" (relacionado às mais diversas configurações de impressoras 3D), pois a natureza do produto não o permite, mas observemos que todo o processo perdeu a ação braçal, mesmo em atividades menores, como, nesse exemplo, poderia ser desde o facilmente automatizável simples fechamento de caixas de papelão que formam conjuntos da embalagem individual até a complexa manipulação de aditivos fundamentais para diferenciais de qualidade e eficiência do produto que tradicionalmente requerem a ação de funcionários relativamente qualificados.


Resumindo, não teríamos uma robotização no núcleo do processo produtivo, a conformação do produto em si, mas nos processos periféricos a toda e qualquer forma de produção. Em termos de contabilidade de custos, não necessariamente se atacam os custos de produção, mais diretos, ainda que possam ser afetados, como certos índices de frete e intermediários na produção, mas especialmente em custos que possam ser definidos como indiretos e nas ditas despesas. As nuances podem ser múltiplas e de excelente resultado positivo.


As empresas que não entenderem estas mudanças, não as perceberem por miopia quanto ao cenário tecnológico como um todo que as está cercando, em especial dos concorrentes, enfrentarão em pouco tempo o mais complexos dos desequilíbrios a terem de ser cobertos - em suma por capital, com correlata perda de lucratividade - o equilíbrio econômico, o que permite sustentabilidade no mais longo prazo, de enfrentar o cenário mais amplo não apenas no espaço (o mercado) mas no tempo (sua evolução histórica). Nesse processo de seleção, corrigir essa miopia tecnológica será fundamental para a sobrevivência das empresas.



Recomendação de leitura


Um panorama geral do que seja a Indústria 4.0:


ABC71 - Indústria 4.0 - mkt.abc71.com.br 


Nos nossos arquivos: drive.google.com 


Murr Elektronik - Aplicações da Industria 4.0 - materiais.murrelektronik.com.br 


Nos nossos arquivos: drive.google.com  


A Miopia em Marketing Ambiental


Introdução ao conceito clássico de Miopia em Marketing


Parte I - A transposição da Miopia em Marketing “clássica” para A Miopia em Marketing Ambiental


Parte II - Ameaça de obsolescência no trato do ambiental


Ciclo auto-ilusório da confiança em técnicas e medidas adotadas do trato do ambiental e de questões relacionadas


Parte III - Os perigos permanentes dos combustíveis fósseis 


Automação é risco para países que têm mão de obra barata como maior ativo, diz Harari - valor.globo.com


Mão de obra barata. Ainda mais - www.istoedinheiro.com.br 


Destacamos:

“A automatização é uma maneira de driblar o aumento dos custos trabalhistas na China, onde a companhia mantém 1 milhão de funcionários. De quebra, a robotização do chão de fábrica pode aumentar a eficiência e a competitividade no mercado internacional.” 

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