domingo, 18 de março de 2012

Não, nossa dívida não é igual a dos EUA

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Farei este texto sobre o excelente texto de Francisco Castro - blogdefranciscocastro.blogspot.com.br




depositonaweb.com.br


Você sabe de quanto é e como é composta a dívida pública brasileira?

"O governo deve muito e paga muito por sua dívida [...]

Ao final de 2008, o governo em seus três níveis (União, Estados, Municípios, Distrito Federal e o INSS) tinha uma dívida total de R$ 1,74 trilhão. A dívida líquida (que é a dívida bruta menos o que o governo tem a receber, tem disponível em caixa, aplicado nos bancos e as reservas do Banco Central) era de R$ 1,07 trilhão. Em termos de PIB (Produto Interno Bruto), a dívida bruta era 58,6% e a líquida era 36,0%. A dívida pública do setor público é a soma da dívida interna e da dívida externa. A dívida interna líquida ao final de dezembro de 2008 era de R$ 1,49 trilhão, a diferença entre os valores da dívida líquida e a dívida interna líquida é a dívida externa (lembre que aqui estamos tratando apenas de dívida pública). A dívida pública externa do Brasil é negativa em R$ 419 bilhões, graças ás reservas do Banco central que em reais do final de dezembro último era de cerca de R$ 483 bilhões. Assim, a dívida externa pública há bastante tempo que deixou de ser um problema para as nossas finanças públicas, o nosso grande problema atualmente é a dívida interna líquida que corresponde a cerca de 49% do PIB.

A dívida líquida está distribuída da seguinte forma quanto à participação de cada ente: 71,08% é do governo federal (R$ 736 bilhões), -2,98% do Banco Central (- R$ 32 bilhões - o Banco Central tem muito mais a receber do que ele deve), 33,62% dos governos estaduais (R$ 359,6 bilhões), 5,18% dos municípios (R$ 55 bilhões), -10,11% das estatais federais (- R$ 108,1 bilhões – é esse valor que as estatais federais têm a mais a receber ou em caixa e em bancos em relação à sua dívida total), 2,86% das estatais estaduais (R$ 30,6 bilhões) e 0,35% das estatais municipais (R$ 3,79 bilhões). Em 2008, o setor público brasileiro pagou R$ 167,2 bilhões de juros sobre a dívida interna e recebeu cerca de R$ 4,8 bilhões a título de juros das aplicações no exterior.

A dívida pública [...] "

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germanocwb.blogspot.com


Uma comparação da dívida brasileira com a estadunidense é sob vários ângulos de análise e determinados focos otimistas para o Brasil e catastrófica para os EUA, absurda.

A recente ampliação do limite da dívida do EUA foi inferior à sua inflação no mesmo período em que atingiu seu então teto. Ou seja: o valor em dólares da dívida dos EUA teria necessariamente de ser corrigido.

Isso numa moeda que tem se desvalorizado em relação à outras moedas do undo, tanto por questões de simples mercado quanto por ações do próprio governo, injetando quantias gigantescas de dólares em sua economia.

Lembrando que, no jogo da moeda estadunidense, quem manda em tal jogo é única e exclusivamente o seu governo, diferentemente da união europeia.

Stephen Kanitz tratou em artigo exatamente deste ponto que tem passado desapercebido por quem tem apontado até histericamente que "os EUA estão quebrando".

A Crise Americana e o Prof. Luiz Carlos Bresser Pereira - blog.kanitz.com.br
Por último acrescento que no ano de 2011 crescemos 2,7% [www.bbc.co.uk], numa economia, bem avaliada, de um país ainda muito pobre, com toda a margem de crescimento que suas carências internas permite. Os EUA, uma economia madura, com alta cristalização de suas expansões, cresceu 1,7 % [g1.globo.com], com umas das mais baixas taxas de juros de dívida pública do mundo.

A questão fundamental é que nem mesmo o endividamento de alguém ou alguma instituição qualquer pode ser medido em qualidade em relação às suas receitas, nem ao seu lucro, e sim, ao complexo sistema da relação entre todas as suas variáveis econômicas e financeiras.

Explico com exemplo simplíssimo: você pode ter uma dívida grande em relação às suas receitas, mas em compensação, pode ter ainda seu crédito ampliado pela sua capacidade de mais produzir com isso, considerando a confiabilidade que tem-se em seu futuro e capacidades, fora o subjetivo (na verdade) "caráter".

Eu posso ter endividamento baixo em relação às minhas receitas e formação de reservas (saldos ou "lucro") e não merecer tal aumento de crédito pois não gero perspectivas de um "corpo de futuro".

Assim, não podemos comparar uma economia que vende 4 milhões de unidades em curto período de um só produto como o iPhone 4 [g1.globo.com] em pleno "aperto" de 2011 e com previsões de elevação de vendas previstas do iPod na escala de dezena de milhões de unidades [blogs.estadao.com.br] com uma economia que busca manter nível de emprego com manutenção do nível de compras com expansão de crédito e aumentos de isenções ficais num estado deficitário, e isso, com uma das mais altas taxas de juros do mundo.

Observação: claro que produtos da Apple não são tudo em economia, mas obviamente quem compra celulares e tablets, invariavelmente, compra proporcionalmente desde basal comida até finos vinhos, sapatos e roupas, carros e até casa proporcionalmente ao que consome destes bens do tipo "traquitana eletrônica"* e proporcionalmente ao salário que recebe de uma economia que tais proporcionalidades faz girar.

* Observe-se que um mercado consumidor que apenas troca sua "traquitana" anterior, plenamente funcional e capaz, por outra apenas em função de alguns acréscimos e principalmente pelo novo, não pode ser comparado com um mercado que necessita comprar seus essenciais geladeira e fogão.

Estas diversas coisas, comparações de nosso status com o dos EUA, não podem ser feitas, seja em mercado, seja em economia e obviamente, em nossas dívidas públicas.



Extras

I

Excelente blogagem sobre o que há tempos penso sobre as promessas da OGX.

Fábio Portela L. Almeida; OGX: ouro negro ou ouro dos tolos? - opequenoinvestidor.com.br

Nenhum plano de marketing é no longo prazo, mais esperto ou prudente que o mercado. - istoedinheiro.com.br

O que mais me assusta nesta empresa é sua alternância entre notícias de suas descobertas e até já produção, que em meses, são contraditas por novas expectativas e fatos divergentes do já apresentado.

O que caracteriza a solidez de afirmações, visando captar investimentos, é a constância e regularidade numa curva de crescimento, ainda que com inflexões para a redução de receitas ou mesmo o prejuízo.

Claro que não tardou até notícias surgirem, com resultados que já esperávamos:


II

Para aqueles que acreditam que existe algo tal como um almoço de graça:
Subtítulos: COISA DE FICÇÃO - É irreal a presunção dos governos de possuir superpoderes para inflar o crescimento do PIB com incentivos públicos, sem aumentar a inflação

Comentário meu, no artigo:

O que virá é a velha metáfora da “ressaca”, imagem mais que usada pelos defensores da visão da Escola Austríaca quando tratam dos Keynesianos e seus métodos. Um estado que é deficitário, ao jogar-se num desenvolvimentismo, e fomentar consumo e o correlato emprego com base no crédito, não tardará a chegar aos efeitos perniciosos de suas estratégias já destinadas ao colapso na base.
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quinta-feira, 1 de março de 2012

Inevitabilidade e Inexorabilidade dos Custos

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Os custos que ocorrem probabilisticamente no tempo e os custos que ocorrem invariavelmente num período.

A carga que garantirá o seu faturamento não poderia estar nele? - tribunadomaranhao.com.br


Há custos que são probabilísticos no tempo, ocorrem aleatoriamente, como por exemplo, e a frase se tornou um bordão deste que vos escreve, "lâmpadas queimam". Podem não ocorrer jamais com determinada cadência no tempo, como por exemplo, uma vez ao ano ou ao mês, mas invariavelmente, ocorrem numa média de vezes, ao longo da existência de um empreendimento, e sua distribuição neste tempo pode ser completamente aleatória. Como exemplo, uma companhia aérea pode passar anos sem ter um único acidente aéreo, e perder dois aviões com todos seus passageiros no mesmo ano.

Sempre ocorre o incidente, sempre ocorre o acidente, sempre ocorre o sinistro, sempre existe aquilo que não foi previsto.

Os funcionários mais nevrálgicos por um acaso são todos eternos e imortais, imunes à toda doença e eventos que os impossibilitem do trabalho?

Foi feita provisão para tal? Reservou-se no tempo um capital buscável na forma de "seguro"?

Foi considerando um desvio do lucro primariamente apontado para formação de tal reserva para "imprevistos e outros", com certa liquidez, e tal será agilizável em tempo hábil?

Pois as probabilidades jogam a favor da ocorrência, e a não previdência corre permanentemente a favor do abalo do caixa.

Esta data nunca chegará?

Mas podemos deter o tempo?

O custo que ocorre pelas probabilidades, como por exemplo o caminhão tombado e sua carga acima, por acaso deterá a prestação de equipamento que vencerá? Por acaso não "morderá" o capital reservado, sob estreitas margens, para o pagamento de um aluguel de prédio, fundamental para a operação da empresa?

Os salários poderão ser atrasados sem danos graves, sob n aspectos?

Por acaso o fluxo de caixa é "esticável" no tempo, indefinidamente?

Pode-se operar em pagamentos com D+1 (dia de vencimento com um dia de atraso), depois D+2, até um valor de dias insuportável a ser acrescentado ao dia do vencimento?

Por acaso, um aluguel ou prestação atrasado de 30 dias, não será somado com outro vincendo, em poucas horas?

Voltando a imagem do caminhão tombado acima, ainda que exista pleno seguro para a carga perdida, poderá se repor o atraso na produção?

Ainda que o seguro cubra "lucros cessantes", que incluam o atraso na produção, conseguirá simplesmente valor cobrir o prejuízo de imagem, ainda que inocente, junto aos revendedores e clientes?

Reservas é a única resposta após todos os "nãos" respondidos nas perguntas acima. Ação é o que as geram. Previsão é o que nos prepara para tal. Precaução não é o sempre evitar, mas o estar preparado para o que possa ocorrer, mesmo para as mais imprevisíveis variedades de imprevistos. O que interessa nesta precaução, é o valor da precaução como reserva, e o problema que poderá solucionar.

E tal provisão só nasce da contensão dos desejos de consumo e da permanente vigilância dos desperdícios, na redução de custos, que são o mais direto dos geradores de lucro, enfrentando a competição do mercado.

O lucro, assim, numa primeira visão, é uma meta, mas no tempo, mais e mais mostra-se como o "resíduo" de David Ricardo.

Como sempre repetimos: caixa é fato, lucro é teoria.

Recomendo também a leitura de:

Extras

I

A bolha que julgo que virá a estourar...

Recomendo: Bolhas no horizonte

Quanto mais leio sobre imóveis, e comento sobre tal em meus "papos de cafezinho", mas vejo que nos aproximamos de um "plop!".




  • O buraco da Gafisa - A construtora vale menos e deve mais do que os concorrentes. E também não evitou que os problemas da Tenda arranhassem sua imagem
  • A tenda dos horrores da Gafisa - Demissões, falta de pagamento, uma aquisição desastrada: por que a Gafisa se tornou a empresa mais problemática entre as grandes do setor

Blog que passou a ser de minha seguida leitura:  http://www.bolhaimobiliaria.com/

Na sua página no Facebook, coloquei o seguinte comentário, aqui levemente corrigido e modificado:

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Excelente seu blog. Não sei como passou a existir uma opinião quase epidêmica entre grande número de economistas que não temos um problema, quando em SP, por exemplo, após meses, diversos 'stands' de vendas ainda estão ali, anunciando "80 a 90% de vendidos", e nem sequer uma fundação foi iniciada.

Onde em 6 meses, apartamentos de 49 metros quadrados passaram de 390 para 430 mil reais, em bairro bastante problemático. Onde este extremo valor é apenas sustentado pela "estrutura de lazer que o prédio oferece" (como coisa se no futuro quem o tenha comprou não tenha este custo como sua despesa, correntemente).

Onde investe-se pagando juros altos e tem-se de esticar o recebimento ao mais baixo juro por longuíssimos períodos (um spread invertido que leva ao endividamento inexorável de empresas que operem com capital tomado que não pode levar em conta tal custo).Nota

Pior ainda: onde afirmam que nosso crédito imobiliário é pequeno em relação ao PIB, o que não interessa, pois crédito cedido não é medido na sua recuperação por esta proporção, e sim pela sua qualidade (os N C's de quem trata do assunto).

Parabéns, e continuem profetas do óbvio, como Cassandras a alertar para o eminente desastre. Certamente, salvarão do prejuízo muitos.

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Nota

Acrescento:

1) Construtoras pequenas, como por exemplo, uma que esteja operando em três prédios, tem apenas estes três prédios (uma obviedade) para alavancar um quarto que entre em construção. Uma maior tem, obviamente, mais "graus de liberdade". Noutras palavras, a primeira construtora tem a possibilidade de tomar as entradas (receitas) de um apartamento ou mais da obra 1, e colocar tal capital na execução da obra 2, da obra 1 e da obra 2 direcionar para a obra 3 e das três reunidas mobilizar-se para uma quarta.

Mas mais que este jogo de transferência de recursos, não pode fazer.

Podemos dizer que sua capacidade de captação sobre o próprio estoque (seu realizável) se esgota neste pequeno estoque, a "carga" que pode descarregar sobre cada um de seus produtos é alta, ou possui uma alta densidade de exigências. Já uma empresa com muito mais obras, pode ter, se com 100 unidades em execução, pra uma nova, apenas uma exigência de aproximados 1% sobre seus produtos pra a execução de uma nova obra. Mas percebamos que pouco interesa o tamanho da construtora. Ainda que seja enorme, se sua realização não suprir as demandas que está colocando no jogo, não tardará a se imobilizar, a minha "inoperacionalidade", já em marcha.

O velho "despir um santo para vestir outro", que num momento, com mais santos a vestir, deixa mais de um nu, inexoravelmente.

2) Uma construtora com centenas de imóveis a venda, pode ter uma "venda miraculosa", de um ganhador de grande prêmio de loteria, político corrupto que acabou de ganhar uma enorme propina, bicheiro, traficante boliviano (apelamos, claro, mas o argumento se mantém assim mesmo), até mesmo um honesto ex-proprietário de terras que resolveu mudar de investimentos, que lhe dê um fôlego instantâneo de caixa, comprando a caríssima cobertura, meia dúzia de apartamentos à vista por direto depósito bancário, líquido e imediatamente utilizável no jogo um tanto perigoso que mostramos acima.

Banalmente se entende isso pensando-se em uma lancheria de esquina e uma loja de grande rede de fast food. A pequena e isolada loja jamais terá o empresário que entrará e encomendará uma relativamente cara festa para seu filho, ou o filho de uma estimado empregado. Algo tão fácil de entender quanto, voltando a citar loterias, o senhor aposentado que joga um cartão por semana tem muito menos chances de ganhar um prêmio que o apostador semanal de 200 cartões. Tão simples quanto isso.

Em suma, a velha teoria do golpe um golpe sempre colapsa quando o número de "clientes" tem de ser proibitivamente maior, quando o capital tem de ser proibitivamente maior ou os tempos das operações tem de ser proibitivamente menores (velocidade insustentável). 

Os negócios excelentes são "golpes equilibrados", sempre em fluxo sustentável pelo mercado.

II

Recomendo: Mailson Ferreira Da Nóbrega; As empresas pagam tributos? - www.imil.org.br

mises.org.br


Tema que já tratei, indiretamente, aqui: Falácias de Alices (VI) - Um retorno ao tema do assistencialismo.

De onde agora repito:

Todos querem viver às custas do Estado, mas esquecem que o Estado vive às custas de todos. - Frédéric Bastiat 


E disto tiro: O estado pretende viver à custa de poucos, mal percebendo que destes, não conseguirá mais que pouca coisa, pois repassarão seus fardos aos muitos, que são sempre quem sustentam o estado.

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