terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Falácias de Alices (IV)

_
A falácia do capitalismo como antiecológico


A afirmação das Alices é que o o capitalismo causa e implica necessariamente em poluição e destruição do meio ambiente.

Como coisa que para atender a produção de bens, ou mesmo permitir determinado nível populacional*, e nesta população permitir determinado nível de consumo, os meios de produção num sistema comunista não destruiriam o meio ambiente.

Aliás, a existência humana destrói o ambiente por si, apenas podemos discutir em que nível/escala tal fenômeno ocorre.

*Sem tratar do detalhe que a no passado marxista China já era o país mais populoso do mundo.

Mas no passado, curiosamente, os regimes totalitários com arremedos de sistemas socialistas foram os maiores destruidores de seus ambientes.




Sumgayit, no Azerbaijão, na antiga União Soviética, afetou uma população de 275 mil, com produtos químicos orgânicos, petróleo e metais pesados, incluindo mercúrio, de suas unidades petroquímicas e complexos industriais.



Sumgayit

Sim, pois repetimos, mesmo Alices necessitam polímeros, combustíveis, calefação e até tintas anticorrosivas para seus navios, carros e estruturas, mesmo num cinza mundo sem as burguesas cores consumistas.


Já Linfen, na China, mesmo desde seu período maoísta, afeta uma população de cerca de 3 milhões, com fuligem (pois combustões e seus resíduos sólidos num mundo de Alices devem ser uma fenomenologia química capitalista burguesa), monóxido de carbono (pois as combustões incompletas não reparam nas flâmulas vermelhas dos trabalhadores unidos), óxidos de nitrogênio (pois o básico da química não se importa com mantra de união entre as classes trabalhadoras), dióxido de enxofre (pois o maldito enxofre pouco se importa com os símbolos a serem escolhidos para os trabalhadores das indústrias, do campo e burocratas), compostos orgânicos voláteis (que não se importam com a opinião do comissário do partido designado para a quadra onde fica a fábrica), arsênico e chumbo (pois as estrelas que os produziram e a história da vida ao tratar estes elementos como tóxicos não se preocupou com o materialismo dialético). A fonte da poluição desta região deve-se especialmente à produção de automóveis e às emissões industriais, pois também os trabalhadores mais qualificados no mundo de Alices sempre preferiram melhores acomodações em seu transporte, e mesmo com os párias andando em sujos trens, igualmente precisavam desde tintas até graxa para mantê-los andando.
Esta cidade era o maior centro industrial da extinta União Soviética, com mais de 40 fábricas, destacando-se as de implementos agrícolas (pois Alices também tem de plantar eficientemente). Entre os produtos mais danosos à saúde encontrados em Sumgayit estão borracha sintética (Alices necessitam diversas impermeabilizações), o cloro (Alices também tratam água), o alumínio (também cozinham seus peixes em panelas e constroem aviões), os detergentes (Alices limpam suas panelas e até suas cozinhas) e pesticidas (pois ao que parece, besouros e outros insetos pouco se lixam para o mundo feliz das Alices). Esta cidade apresenta uma das taxas de mortalidade infantil mais altas do planeta e é recorrente o nascimento de crianças com câncer (pois células contaminadas mesmo de Alices tendem a se comportar como bem entendem), deformações e síndrome de Down (pois mutações não se preocupam muito se quem as porta é capitalista selvagem ou comunista de carteirinha).

O lugar é o centro da indústria chinesa de carvão (energia é também, repetimos, necessidade de Alices) e, também, uma das regiões mais populosas do país (Alices também, necessariamente, se reproduzem ao longo do tempo). Os últimos anos fizeram explodir os índices de bronquite, asma, pneumonia e câncer de pulmão (alices respiram, mesmo sob as ordens contrárias do mais tirano dos ditadores). A arsenicose, doença que aflige quem toma a água local (cujo teor de arsênico é considerado irresponsável pela OMS), já é uma epidemia (água tóxica, como a que ocorre também no capitalista e miserável Bangladesh, não é atributo do sistema econômico, e sim, da geologia; já governos irresponsáveis são atributos humanos, e independem do sistema econômico sobre o qual atuam).

A cidade de Taanyng, também na China, principalmente pela mineração e abrigar a maior indústria de chumbo do país (já em atividade na era maoísta, pois Alices podem até não pintar com tóxicas tintas seus bens, mas necessitam de baterias), ocasionou haver 140 mil pessoas afetadas por chumbo e outros metais pesados, com todo o equipamento usado pelos trabalhadores estando obsoleto e não havendo controle sobre a poluição. O ar na região tem 10 vezes mais partículas de chumbo do que a média chinesa, que já não é baixa. Os casos de encefalopatia e envenenamento de crianças por chumbo são os mais comuns na cidade.

Já em Dzerzhinsk, na Rússia, com uma população afetada de 300 mil pessoas, produtos químicos tóxicos, incluindo como gás sarin, além de chumbo e fenóis, relacionados com a indústria de armas químicas, desenvolvida durante a Guerra Fria, mesmo com o fim da União Soviética, fez com que a cidade se mantivesse como uma das principais produtoras de substâncias químicas da Rússia, entre eles uma toxina chamada TEL (tetraethyl lead, chumbo tetraetila), sendo que a isto se soma que mais 300 mil toneladas de lixo radioativo foram enterrados no subsolo da cidade durante os últimos 70 anos. O índice de mortalidade era 260% maior que o de natalidade na região, com expectativa de vida de 42 anos para os homens e 47 para as mulheres, em 2003.



Dzerzhinsk

Também na Rússia, Norilsk, com 134 mil afetados por dióxido de enxofre, níquel, cobre, cobalto, chumbo, selênio, fenóis e sulfeto de hidrogênio, oriundos da mineração, acumulados desde que a cidade foi fundada em 1935 como campo de trabalhos forçados (Ah! a liberdade dos regimes totalitários, fase transitória de toda meta de Alices!) e abriga, atualmente, o maior complexo de processamento de metais pesados do planeta. O resultado é uma população com altos índices de câncer de pulmão, bebês prematuros e com doenças respiratórias crônicas, elevando a níveis alarmantes as taxas de mortalidade.

Poderíamos aqui perfeitamente pular por pura economia de texto o incidente de Chernobyl, Ucrânia, fruto acima de tudo de um desenvolvimentismo irresponsável.

O contraste entre Chernobyl e uma usina nuclear da pequena e rica Bélgica. Deve-se observar a ausência do abrigo blindado típico que guarda o reator e o "ciclo primário". Os soviéticos, em razão de pretenderem construir o mais rapidamente possível seus reatores, simplificaram o abrigo do reator para um prédio menos resistente e não propriamente hermético.


Governos socialistas/comunistas nunca deram muita atenção às preocupações com a poluição ambiental. Isso é devido, principalmente, à falta de opinião pública pressionando por qualidade de vida. A Alemanha Oriental era de níveis de poluição assustadores, levando a depois da reunificação, a Alemanha precisar desativar dezenas de fábricas herdadas simplesmente porque seria economiacamente inviável sua conversão aos níveis "ocidentais" de controle da poluição.

Uma fonte e leitura recomendada:

De onde tiro:

No artigo Environmental disaster in eastern Europe , publicado em 2000 pelo Le monde diplomatique diz o seguinte:

Ao optar pelo desenvolvimento econômico através de uma industrialização a todo pano e agricultura intensiva, a União Soviética e os países da Europa Oriental mostraram pouco interesse pelo meio ambiente. A bacia do mar de Aral foi transformada em uma vasta plantação de algodão, enquanto atividades nucleares se concentraram no mar de Barents, apesar da fragilidade dos ecossistemas locais...

(A crise)
Foi agravada por uma obstinada centralização que ignorou condições locais...

Controle de poluição do ar, tratamento de água e modernização do aparato produtivo foram todos negligenciados. Grandes extensões de terra foram severamente danificadas pela coletivização da agricultura, e o uso maciço de irrigação causou vasta erosão e salinização do solo.

Políticos e cientistas aderiram ao princípio da biosfera “auto-purificável”...

Sobre a estatização como solução para o ambiente, deste texto, também:Ao invés de uma longa teorização, talvez a seguinte brincadeira ajude a entender a questão. Sabe qual é a diferença entre empresas estatais e privadas? O governo só consegue controlar as últimas.


O manejo altamente mecanizado e sustentável das florestas da Finlândia, dentre as maiores fontes de riqueza deste país.


A falácia maior nisto está em que uma economia planificada não pode prescindir de bens, e por menos que estes sejam por indivíduos ou em sua coletividade (como prédios e trens, que são obviamente distintos de roupas e calçados) ainda sim necessita-se estrutura extrativista e industrial par tais demandas serem atendidas.

Se são atingidas, por mais igualitariamente que sejam distribuídas, o seu total produzido, para uma mesma média de atendimento nas massas, exigirá o mesmo total de extração e produção.

O que interessará nisto, não será a distribuição, mas sim o modus como a natureza, nesta extração e processos industriais, é tratada.

Expliquemos isso com um exemplo simplíssimo e bem ao gosto de Alices: a quantidade de couro necessária para produzir 1000 sapatos para 500 pessoas é fundamentalmente a mesma necessária para produzir 499 sapatos para 499 pessoas e mais 501 sapatos para uma única burguesa viciada em sapatos.


Como sempre, Alices consideram que se alguém compra uma grande quantidade de bens, não houve pagamento aos trabalhadores que os produziram, ou que, mais anomalamente, seu valor irá somente para quem controla sua produção, sem passar também riqueza para seus trabalhadores (closet da cantora Mariah Carey)

Claro que aqui, alguma Alice precipitada poderia afirmar que não consideramos a variável ritmo, ou taxa, a velocidade de consumo e produção no tempo. Nisto, concordamos que não é o mesmo alguém que compre 500 sapatos em 50 anos de alguém que os compre a 500 por ano. Mais vacas por menos tempo seriam necessárias para produzir tal couro.** Mas curiosamente, enormes taxas de consumo, como as que se evidenciam nos países mais ricos, levam a um enorme mercado ou de reciclagem ou de bens usados. Bastaria citar as notórias lojas de roupas usadas de New York, mas prefiro dizer que o elevado consumo de automóveis no Brasil nos últimos anos foi que levou exatamente a existir uma cascata de automóveis de inversamente proporcionais idade e preços, comercializados para as parcelas mais pobres da população.

Dizemos sempre: não se pode tratar questões econômicas monolinearmente, muito menos, de maneira simplória.

** Como coisa que vacas para produzir couro fossem, após seu couro ser removido, cremadas e mais nada dela se aproveitasse, como por exemplo a inútil carne, aquela mesma que mais e mais, nos países pobres, tem se destinado aos anteriormente vazios pratos.

Por simples busca de lucros e pressão da sociedade livre e do estado que a representa em nível maior, as empresas tendem a se tornar, como a história do capitalismo evidencia, ecologicamente responsáveis, vide a recuperação das florestas da Suécia e a despoluição do Tâmisa e dos rios da Alemanha, berços da industrialização.

O rio Tâmisa, atualmente.


Na verdade, quem se torna ecologicamente responsável é a sociedade, pouco interessando o sistema de partilha e até mesmo a harmonia na distribuição das riquezas em que opere.

Esta falácia típica das Alices, e hoje muito em moda, pela análise que faz de como o mundo econômico gira (e tem necessariamente de girar) e pelas pseudosoluções que apresenta, me lembra a máxima:

Para todo problema complexo, há uma resposta clara, simples e errada. - H. L. Mencken

Sobre o "capitalismo e sua marcha para a destruição do ambiente", recomendo, mesmo com o esquecimento nas entrelinhas de que não necessariamente mesmo a acumulação de bens é relacionada diretamente com a destruição do ambiente:

Daniel Cohen; A PROSPERIDADE DO VICIO: UMA VIAGEM INQUIETA PELA ECONOMIA

De uma de suas resenhas: Para onde o capitalismo nos conduz? A humanidade pode evitar o colapso ecológico? Narrativa vibrante em que história, política e meio ambiente se fundem para mostrar que o modelo econômico baseado na obsessão pela prosperidade está ultrapassado.

Devo destacar que a prosperidade não é relacionada diretamente com a despreocupação com o ambiente e nem mesmo com sua degradação, pois muito da riqueza do mundo capitalista já pode ser vista hoje sendo oriunda da reciclagem e do manejo ambiental racional (que em termos ambientais é um sinônimo de sustentável).

Claro que as decisões da sustentabilidade passam pela mobilização das massas e sua representatividade política. Aliás, novamente sobre a obra acima:

Os desafios da economia são claramente políticos e Daniel Cohen demonstra isso de forma brilhante. - Le Monde


Antes de tratarmos mais um tanto a falácia da capitalismo como intrinsecamente antiecológico, abordemos com exemplo que julgo didaticamente perfeito, uma questão sobre valor.


A relativa valoração dos bens

Sobre o valor dos bens não depender o trabalho e poder depender também do desejo, sempre considero como exemplo ilustrativo, como mais evidente de que o valor dos bens pode ser expresso pelo desejo de adquiri-lo, e não pelo simples trabalho e nem mesmo pelos matertiais mais o trabalho, pelo caso das revistas em quadrinhos, ou para os mais idosos, "gibis".


Uma revista em quadrinhos, numa banca próxima de sua casa, custa em torno de R$ 5 reais, ou arredondemos a maior, 3 dólares. Mesmo as revistas mais caras, graphic novels, de altíssima qualidade gráfica e encadernação, novas, podem chegar a valer, digamos, R$ 300, ou aproximadamente, coloquemos ainda a maior, US$ 200. Já uma revista rara, peça de colecionador, mesmo que equivalente em qualidade a trivial da banca, hoje em venda, de US$ 3, pode chegar a ser comercializada por milhares de dólares, exatamente pelo desejo de quem a queira possuir, sua estima, a leve a julgar justo pagar este valor.





Um exemplo de negociação de alto valor envolvendo uma trivialidade como revistas em quadrinhos pode ser visto aqui:

NICOLAS CAGE VENDE SUA COLEÇÃO DE QUADRINHOS


O ator Nicolas Cage vendeu sua coleção pessoal de gibis, incluindo uma cópia do primeiro número de 'Superman', de 1938, num leilão, por mais de US$ 1,6 milhão, anunciaram na sexta-feira os organizadores do leilão.

Os 400 gibis da coleção, formada ao longo dos anos por Cage, foram vendidos na noite de quinta-feira a diversos compradores num leilão organizado pela casa Heritage Auctions, de Dallas, no Texas, em conjunto com a Casa da Moeda de Kansas City.

"Ele tinha um ótimo faro para encontrar objetos de qualidade", disse o presidente da Heritage Auctions, James Halperin, falando da coleção de Cage.

A cópia do gibi número um de Action Comics, 1938, trazendo Superman em sua primeira aparição, foi vendida por US$ 86.2 mil - mais de US$ 15 mil acima do valor estimado, disseram os organizadores.

O livro de histórias em quadrinhos Detective número 38, de 1940, trazendo a estréia de Robin para acompanhar Batman, rendeu quase US$ 121 mil.
 



Agora, algumas frases coletadas pela internet, diria de uma semi-Alice, que nos levará a fundir alguns conceitos aqui apresentados, a falácia anteriormente apresentada e o que seja o consumo/consumismo, além de um erro comum sobre o que seja dinheiro:
No fim, os bens e produtos que uma pessoa planeja adquirir usando o dinheiro são apenas materiais supérfluos,...

Observemos que podemos dizer, inclusive dependendo da quantidade, comida e água, por exemplo. Pois é evidente que estadunidenses, canadenses, japoneses e europeus poderiam viver perfeitamente com a quantidade de água bebida pelos etíopes, e com a pouca comida dos sudaneses, no limiar da sobrevivência. Claro que tal seria perfeitamente ecológico (embora as mais nocivas ao ambiente, a longo prazo, tenham se mostrado as populações miseráveis). Mas não forcemos tanto o argumento.

Novamente nosso personagem:

...mesmo que possuam um valor pessoal,..

Toda valoração a um bem, se desejado, é pessoal, vide o exemplo poderoso dos "gibis" acima. Poderia ser pago com trabalho, colheita ou minério extraido por uma Alice com sua picareta, ainda sim, seria valorado pessoal e intransferivelmente. Se vai ser expresso tal valor em um contrato chamado dinheiro, é uma questão posterior.

Dinheiro é um representativo de mútuos contratos e confiança.

E claro que nosso personagem continua seu discurso com uma, na verdade, "pérola":

...supervalorizados pelo poder da demanda.

Pode-se fazer propaganda ad eternum e ad nauseam de um bem ou serviço, se não atender as exatas necessidades e desejos das massas, não gerará riqueza alguma. Também não adianta baixar preços a zero de outros bens e serviços, não gerarão demanda até por "elasticidades", além da óbvia não-necessidade.

Explico: o clássico sal, que não interessando quanto custe, limita-se no seu consumo. Polainas (spats) também, só vendem ao teatro, televisão e cinema. Relhos de conduzir cavalos também são inúteis a um mundo de carros e transporte de massas, como bem apresentado pelo personagem Lawrence Garfield, representado por Danny DeVito, em Com o Dinheiro dos Outros (Other People's Money, 1991), por mais perfeitos que tenham sido produzidos por seu último grande fabricante.

Quote: You know, at one time there must've been dozens of companies making buggy whips. And I'll bet the last company around was the one that made the best goddamn buggy whip you ever saw.




E o fechamento deste "batalhador contra o vil sistema que utiliza-se de dinheiro e gera o consumo":

...Tudo usado apenas para fazer o sistema funcionar.

Não existe atividade humana coletiva sem fatos econômicos. A facilitação das trocas por dinheiro é uma questão posterior a isso.

Sempre devemos proceder devagar com o andor que o santo da Economia além de ser de barro, quando tratado com cuidados simplórios, mostra-se oco. Repetimos: Não trata-se eventos em Economia de forma linear (isso assim resulta naquilo assado), invariavelmente acaba surgindo desde bobagens ingênuas até erros colossais, vide o colapso soviético.

A geração de riqueza a ser potencialmente distribuída está diretamente ligada à iniciativa pessoal e intransferível do enriquecimento (o humano que não se contenta com o que tem), e quem busca atender as necessidades e desejos das massas, invariavelmente gerará riqueza. Por outro lado, se a renúncia a qualquer desejo fosse razoável, invariavelmente, sistema econômico algum seria construível, e riqueza alguma seria gerada.

Portanto, ambição é boa? Sim. Comedida e equilibrada em muitos sentidos, mas excessiva, não podemos afirmar que o será.

Distribuição das riquezas é boa? Sim, mas se exagerada, sem contrapartida de esforço, gera invariavelmente à inatividade, e desta, como para todo sistema, sobre o qual não se atua, tende ao caos.***

Observe-se que nem Marx e outros, com seus devaneios e suas falácias, conseguiu regredir a humanidade a um nível de atividade e organização menor que as mais igualitárias organizações humanas (e nem tanto) que são as tribais, primitivas.

Logo, toda atividade humana visa um determinado nível de progresso, e portanto, necessita da produção de bens e oferta de serviços.

Se vai se chamar a isto de cacique, ou vai chamar de estado, ou noutro campo, vai chamar de índio que faz flechas com excelência, ou vai chamar de grande empresa multinacional, é só uma questão de escala.

*** Claro que um excessiva ambição, ou uma totalização dos bens e serviços harmoniosamente distribuídos entre a população que destrua a natureza (e este destrua é que é a questão) não é uma coisa boa.
A meta sempre deve ser o equilíbrio dos entes já em equilíbrio capital e trabalho com o mais fundamental dos entes, sobre e a partir do qual se processa toda a fenomenologia econômica, que é a natureza.

Em tempo, expliquemos dois pontos:

1) Necessita-se planejamento, por menor que seja, para a compra de qualquer coisa, e mesmo seu consumo.

Aplicar conceito diferenciador, fronteira, entre o desejado e o necessário é uma "falácia de aplicação" do paradoxo sorites (um tratar-se como estritamente qualificável e quantificável algo que é contínuo e "fractal").

Explico: sob determinado nível de aperto financeiro, um pai de família terá de planejar até a quantidade de arroz, por exemplo, a ser comprada, ou mesmo, ser baixada de seu estoque (que em termos mais domésticos pode ser chamado de "dispensa"), ou mesmo de ser plantado e tratado para ser colhido.

Reforçando o argumento e demonstrando onde entra o paradoxo sorites: Arroz é evidentemente necessário, mas quanto? Um carro para entregas é obviamente necessário a um independente florista, mas pode-se afirmar que não o seja a um vendedor? Um carro com capacidade de 400 kg de carga é necessário a determinado negócio, mas pode-se afirmar que um com capacidade de 600 kg, o que permite uma determinada folga, é supérfluo? Tendo-se este carro, não pode-se ir com ele, "superfluamente", a um local de lazer? Neste lugar, não pode-se comer um mais sofisticado risoto, feito com o mesmo necessário arroz?

Pouco interessa, aqui, se tal vai ser comparado a um executivo de Wall Street que comprou um SUV de 300 mil dólares que está apertando sua renda pela demanda de combustível e manutenção que exige.

Exatamente por estes casos não terem intrínseca diferença, contabilmente falando, uma aplicação de sorites  que seja distinto da mesma apresentada sociedade primitiva "onde só se consome o necessário" é falaciosa.



2)A riqueza acumulada é exatamente a disponível para o investimento, e exatamente o SUV caríssimo comprado é o que sustenta a saída da miséria do pai de família que não tem dinheiro para comprar arroz para seus filhos.

Identidades (igualdades) de receitas e custos em Economia mostram que toda argumentação por "não consumo" (uma argumentação "à esquerda"), como se tal fosse um poupador em si da natureza, ou pelo consumo como sustentáculo único do econômico ("à direita"), é uma falácia ou uma simplificação imensamente tola.


De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra. - François Mauriac


EXTRA

A marcha para a inoperacionalidade - casos


No artigo onde tratei da marcha para a inoperacionalidade, deixei de apresentar claros casos, com passos dos fenômenos do fluxo de caixa.

Aqui, mostrarei a partir de uma pequena empresa, comercial, extremamente simplificada, com custos tributários considerados insignificantes e lançáveis nos custos fixos a cada mês, sem perdas em cobranças, etc, como tal processo se dá. Podemos dizer que poderia se tratar de uma loja de doces ou uma tabacaria qualquer.

Caso 1
Mostremos primeiro uma empresa equilibrada e lucrativa, que compra bens a um valor total de 20 mil (o meu "gerador"), acresenta sobre eles uma marcação de 50%, o que lhe leva para um faturamento posível (e no nosso caso igual ao que entra em caixa, o meu "caxeamento") de 30 mil, de onde gera uma contribuição de 10 mil, que debitado de um total de despesas no mês de 9500, resulta em 500 de um lucro, pelo menos num primeiro momento, de óbvios 500.



Notemos que numa situação desta, o ciclo poderia se manter ad eternum, e a cada ano, propiciar 6 mil de acumulação. Uma reserva razoável para um negócio desta escala.


Caso 1a

Evidente que havendo mercado, o negócio modelar acima descrito poderia reciclar seu capital obtido em novas compras, em aumento do disponível para vendas.



Nesta marcha, em poucos meses, certamente, teríamos uma empresa de muito maior porte. Evidente que aqui fizemos uma nova simplificação, considerando, de maneira completamente irreal, que aumentos de vendas manteriam as despesas fixas estáveis. Mesmo para períodos de tempo tão curtos quanto três meses, e numa escala tão pequena de movimentação, tal não se mostra algo mais que uma idealização.
Agora, comecemos a piorar a situação.

Caso 2

Com uma pequena modificação do acima, que poderia ser a simples compra parcelada de um carro, mesmo um veículo relacionado intimamente com a existência da empresa (um carro de entregas pode ser considerado perfeitamente um capital/custo gerador), poderíamos levar, mesmo um valor primariamente considerado como lucro, a zero:



Uma situação destas é ainda sustentável ad eternum, ou até temporária, mas notemos que sumiu uma liquidez, uma formação de reservas, e seria, sempre, um considerar perigoso que o mundo comporte-se idealmente, sem nenhum risco.

Agora, apresentemos o ingênuo erro de alguns:


Caso 3

Digamos que até pode temor, um incauto pequeno empresário compre menos num mês, mas que imprudentemente, não se aperceba que agora, gerará menos contribuição para pagar seus custos mensais, que mantiveram-se constantes, e no outro mês, disporá de menos volume para comprar, e tal ciclo perverso progredirá. Notemos que aqui, fiz uma redução de apenas 6% no volume de compras. Algo tão pouco como em 100 caixas de tabacos variados, ou doces, cortar uma meia dúzia.

Em um ano, a situação torna-se insustentável, e mais nenhuma compra ou o popular "pagamento de contas" é possível.


Se o leitor acha que tal caso não surge em grande escala, percebam que grandes redes de varejo já colapsaram por falta de produtos na prateleira, tentando enfrentar volumes enormes de despesas fixas sobre suas costas, e companhias aéreas já tentaram com menos aviões (aquilo que banalmente se percebe que é onde se colocam passageiros que pagam as passagens) as mesmas estruturas que possuiam para muitas aeronaves. Os casos que apresentamos só aparentam ser simplórios, para serem didáticos, mas mudando-se os zeros e colocando-se outras variáveis, são idênticos mesmo aos de maior escala e complexidade.


Caso 4

Mas digamos que outro empresário similar, proceda, mesmo com compras em volume correto, a descontos exagerados e imprudentes, ou colocação de preços que apenas aparentemente não são vis. O popular "rasgar preço". Observemos que novamente em um ano, a situação torna-se insustentável, e apenas tirei 3% da margem, em "valores grossos", ou os mesmos 6%.



Lembrem-se disso quando propuserem descontos "de apenas 10%" às suas listas de preço.

Evidentemente que descontos geram vendas, mas como tratamos neste artigo, sobre outro ponto, nem sempre preço trará proporcionais e compensadoras maiores vendas. Existe sempre uma margem necessária a qualquer operação comercial, e sempre nesta margem, a partir de um volume comprado/produzido, existem riscos na realização, na busca da contribuição.


Caso 5

Agora, voltemos ao carro comprado parcelado, e digamos que ao invés de ser lançado dentro de um "antigo lucro", um primeiro balanço operativo já garantido como obtido e permanentemente gerado, com plena segurança (em suma, um excedente no caixa), se coloque um adicional de despesas de 100, como por exemplo um modelo mais potente que o necessário, ou com um não tão bem estimado inicialmente custo de impostos, despesas de manutenção e mesmo de simples combustível.



Apenas com 1% a mais de despesas, novamente em um ano, o sistema novamente colapsa.

Notemos que por ajustes dos valores por índices, na verdade todos os casos desastrosos acima são de mesma natureza, matematicamente falando, um desequilíbrio entre o gerador (o que se compra), o gerado (a contribuição possível) e os custos que fluem no tempo.

Um caso que poderia se ainda apresentar, e que deixarei mais detalhadamente para o futuro, é do gerado, do contribuído, num tempo inadequado. Necessitaria se gerar, nos exemplos acima, 9500 em um mês, e por volume de vendas, apenas se gerou 9400. Novamente, tem-se um colapso num determinado tempo.



Hofstadter’s Law

Lembrando a irônica lei de Hofstadter:

É sempre necessário mais tempo que o previsto, mesmo quando se leva em conta a lei de Hofstadter.

Unindo com a máxima popular que tempo é dinheiro. Acrescentando a econômica que dinheiro custa dinheiro no tempo, podemos chegar a:

É sempre necessário  mais tempo e dinheiro que o previsto, mesmo quando se leva em conta que já se considerou folga de tempo e reservas de dinheiro.

Poderia chamar isso de 'corolário de Quiumento a Hofstadter', sem a mínima, por hora, modéstia.

Por isso que em toda operação em negócios, considera-se uma margem de ganhos, folgas de tempo e reservas de caixa, o que chamo "marginalidades" (de margens), e por este mesmo motivo que o caso 2, de uma empresa estritamente equilibrada, é sempre um "andar sobre o fio da navalha".

Note-se que em todos os trágicos casos acima, a perigosa marcha se iniciou, inexoravelmente, na manutenção de um ciclo vicioso, no primeiro mês, nada mais que um primeiro trôpego passo.

A imagem do "andar no fio da navalha", a perigosa operação sempre em margens mínimas.
Na verdade, o governo brasileiro dos últimos 16 anos sempre operou sobre o resultado apertado ou no endividamento (PANORAMA - Blog de MÁRIO ARAÚJO FILHO).

Nenhum comentário:

Postar um comentário