sexta-feira, 11 de março de 2011

Esquerdadas II

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Uma afirmação típica de Alice:

"Se o Brasil tivesse passado por uma experiência comunista no começo da década de 60, hoje ele estaria brigando pelos primeiros lugares na economia mundial, teria autonomia em relação às questões militares e teria um incentivo à educação e à responsabilidade social que não possui hoje!

Resultado: passar por experiências comunistas fazem bem ao país, mesmo que depois voltem ao capitalismo, eles não voltam como párias mundiais, eles voltam marcados no mapa como países importantes!

A história mostra a verdade: seja vc capitalista ou não!" 
 


Se gastos militares, somente, adiantassem alguma coisa em economia...



Curiosamente, todos os países que adotaram o modelo econômico comunista quebraram, se enterraram nas piores situações econômicas e passaram a ser capitalistas.

Com exceções, evidentemente, de potências econômicas e tecnológicas, onde grassa a riqueza e o desenvolvimento em todos os campos, como Cuba e Coreia do Norte.

A pregação da fé tosca e conjunto de meias verdades quando não de mentiras inteiras das Alices é simplesmente irritante. 

Alguns outros exemplos:
 
"...afinal eles ganham muito dinheiro com a desigualdade econômica entre as classes"

"Os ricos adoram os pobre (sic)! Quanto mais pobres existirem no mundo melhor! É por isso que eles nunca colaboram com campanhas de controle de natalidade! Quem os ricos vão explorar se não existirem pobres o suficiente?"

Falacinhas, e não tão pequenas assim. Já as tratei longamente em Para onde vai o lucro?, mas recapitulemos alguns pontos, e com eles, complementemos argumentações que julgo que ficaram pendentes.

Para se gerar riqueza a riqueza precisa circular, não necessariamente ser retirada das classes mais baixas para as mais altas. Tanto isto é uma basófia clara em economia que despreza-se simplesmente (e sem a mínima vergonha) que o volume total de riqueza cresça.

Explico matematicamente. Se mil pobres proletários ganham mil patacas por seu árduo trabalho, e com isto, mesmo na absurda argumentação dos marxistas, permitem que um selvagem capitalista viva nababescamente com um milhão de patacas, ao se dobrar a riqueza global gerada, este poderia ter ganhos de 2 milhões e seus escravizados 2000 mil patacas, sem que para ter-se as malditas dois milhões de patacas, tivessem os infelizes trabalhadores de passar a não ganhar pataca alguma. (Q.E.D.) A afirmação dos marxistas, contabilmente, pode parecer coerente, mas à luz de mínima economia, é uma tolice completa, pois parte de premissas errôneas.

Exemplificando - para não afirmarem as Alices que mantive-me apenas no teórico - tendo-se uma mina, que é produtora do equivalente a 2 milhões de patacas seja do que for (como por exemplo, o cancerígeno carvão dos tempos de Dickens), pela própria argumentação dos marxistas propicia míseras 1000 patacas aos mineiros (que podem, para facilitar nossos cálculos, serem mil), e destes, explorados milhão de patacas ao proprietários. Bastam até pás maiores, vagões maiores, elevadores mais rápidos, explosivos mais potentes, bombas que removam mais água, menos acidentes* e a quantidade de minério em dobrando, propiciar carvão equivalente a 4 milhões de patacas, e todos ganharão mais.


Mesmo com os suspeitos sorrisos, qual dos grupos de trabalhadores será o de melhores condições de trabalho, vida e maior renda? O mineiros da época de Mao ou as pobres exploradas produzindo brinquedos para o vil e capitalista ocidente?

*Curiosamente, com exceção das ridículas pás maiores, exatamente isto que ocorreu na mineração, até sua gigantesca escala de hoje, com paradoxalmente, menos trabalhadores a serem explorados, pois como já vimos, o valor não advém diretamente do trabalho humano (a falácia basal do "valor trabalho"). O que pode ser visto banalmente pela crescente mecanização/automatização, pois se o valor fosse originário somente do trabalho do explorado, a solução para a maior geração de lucro seria a maior contratação de explorados, e não a mecanização. Claro, que aqui, Alices, incluindo Marx, desenvolveram a ideia de uma crescente redução do lucro, o que se faz em pó até pela História, com a multiplicação permanente do tamanho das Economias capitalistas, mesmo partindo dos quadros mais miseráveis e desprovidos de recursos naturais a serem explorados, vide Japão pós-guerra e Coreia.


A miserável Seul.

Mantenhamos nossa linha de discurso...

Mas pensemos assim, e colocando a coisa em períodos longos de tempo, se a classe mais baixa está sendo exaurida, como poderia gerar ainda mais riqueza?

A economia é plenamente geradora de riqueza quando estabelece-se equilíbrio entre os entes capital, trabalho e natureza.

As relações do primeiro com o segundo geram distribuição de renda. Com o terceiro geram crescimento sustentável.

Aqui, Marx e outros estavam errados, só lamento. Mas sustentemos estes pontos:

Massas de trabalhadores explorados (sem remuneração adequada) e concentração de riqueza nas mãos apenas de um grupo, sem mobilidade vertical alguma, levam às revoluções, vide desde a queda da União Soviética até as recentes revoltas nos países árabes. Pouco interessa aqui religião ou o contexto estatizante/liberal. As massas não atendidas nas suas necessidades, no básico, e nos desejos, nos detalhes, não tardarão a tentar tomar o poder.

Natureza explorada ao extremo acaba por se exaurir, mesmo no renovável, vide madeira no Haiti, vide, mais banalmente, petróleo vendido por demais barato na Indonésia (sem correspondente e equilibrada substituição por outra fonte de riqueza).


A desertificação do Haiti, fruto não do rico em florestas Canadá poupar-se e do gigante em consumo de madeira EUA dele extrair uma única tábua, mas causada pela ignorância de seu povo e irresponsabilidade de seus líderes.

A Indonésia de produtor passou a importador, e com isto, não gerou riqueza significativa. O Japão jamais foi produtor, no sentido mais amplo da palavra, e tornou-se em pouco tempo, a segunda economia do planeta, mesmo após a devastação da 2a Guerra Mundial. Em suma, os recursos naturais não são garantia de coisa alguma em Economia.


A maravilhosa distribuição de renda cubana estampada nas habitações de Havana, talvez por não poder vender seus produtos em troca da vil moeda dos EUA.

Como digo: As noções de Alices do que seja a economia pararam nos tempos de Charles Dickens, e o que seja Economia, nunca passou do clássico triunvirato de raciocínios errôneos sobre premissas falsas e conceitos obscuros.

Alices seguidamente afirmam, por exemplo, que ao se gastar dinheiro com, por exemplo, projetos espaciais, ou mais pitorescamente ainda, com caríssimos telescópios, e claro, seus objetos favoritos, especialmente de seus líderes mais destacados, como os caríssimos charutos, os nobres destilados e os mais luxuosos carros, corta-se recursos de atividades voltadas à problemas sociais, ou saúde, ou qualquer coisa do gênero, de necessidade, até concordamos, mais imediata.

Este tipo de argumentação "não gastando nisso, aplicar-se-á naquilo" é o típico de "ARGHumento" infeliz de quem não estudou uma única linha que preste de "Moedas & Bancos", o básico do básico de Economia.

Parece até que ao se "gastar" dinheiro com um Saturno V (ou o modelo mais caro da Mercedez, como os líderes cubanos) e este ir em direção a Lua (ou do palácio da capital para o palácio de campo, no caso da limusine do "comandante"), o dinheiro terá sido queimado debaixo de seus propulsores (ou para acender o caríssimo charuto ou para fazer o potente motor do carro do líder do partido mover-se).


As necessidades básicas do líder cubano e seus companheiros, pois afinal, ele tem de se deslocar confortavelmente.
O dinheiro está lá, nos fornecedores e prestadores de serviço do projeto Apollo (assim como na revendedora de carros alemães, no fabricante de finos charutos e rum), e recirculam na Economia.

Para valor "sumir", ser "gasto", realmente, uma das poucas formas pelo humano é na Guerra e seu gritante desperdício, ou graças "a deus" com as catástrofes. E mesmo assim, a questão não é tão simples, vide a securitização.

Embora, me pareça claro, que poucas coisas geram mais riqueza para determinados setores que a guerra, nem muito menos, gere mais trabalho para as massas, exatamente pois a guerra é o mais insano dos consumismos, assim como duvido que se construa mais em uma cidade do que quando ela é destruída por terremotos, enchentes, etc.

Nem mesmo esta brutal quatidade de querosene, ao ser queimada, deixou de fazer circular riqueza na economia.

O problema é confundir o que seja desperdício e prioridades no gasto público, com "circulação de riqueza" e a sua correlata distribuição de renda.

Portanto, Alices, quando consideram dinheiro como um bem simples, degradável de maneira simplória, como uma laranja, chupável, comível e da qual joga-se fora o inútil bagaço, estatelam-se na lama da própria ignorância e não possuem argumento contábil algum, além de ficarem esperneando em bobagens que podem ser refutadas em dúzia de linhas, e deveriam tomar vergonha na cara e abrir um livro de Economia, o qual pode ser dos bem básicos.

Sobre o clássico papinho "comunistóide" de que as "multis" ou governos impedem a África de enriquecer ou ter "alimentos baratos" (sabe-se lá o que seja esta bobagem), basta parar de dizer tontices até bem intencionadas e entender que não pode haver alimento mais barato que os africanos venham a produzir com seu próprio trabalho.

Tão simples e claro quanto isso, como sempre.

Agora, se não geram riqueza o suficiente para se sustentar, como vão se comportar como um mercado a ser interessante para empresas, exatamente na mesma medida que nenhum presidente de empresa é débil mental de não buscar atender um mercado que pague imediatamente por seus produtos?

Logo, aí reside outra imensa mentira.

A África (ou parte da Ásia) é pobre porque não produz riqueza nem para si, e tanto isto é fato que partes da África produzem riqueza em rendas per capitas mais altas que o Brasil, como aquele país mesmo, por exemplo, em que "Noço Guia" disse que ficou impressionado, pois "nem parecia a África".

Este tipo de argumento é tão idiota que a Coreia, repitamos sempre, paupérrima ainda na Guerra da Coréia e mais miserável ainda na 2a Guerra Mundial, ultrapassou a renda brasileira em um índice de 2, em aproximadamente meio século.

Logo, o problema é interno, pois não se explora quem não possui coisa alguma a ser explorada, nem mesmo, seu trabalho.


Mesmo contabilmente falando, dentro da falácia dos marxistas, o que poderia esta população da Somália propiciar a ser explorado pela gigantesca economia dos EUA, Japão e Europa, além das aceleradas em crescimento outras economias do mundo. Sempre, a justificativa de que o crescimento de uns produz miséria de outros, e apenas disto vive, mostra-se uma tolice (imagem de keilartegia.blogspot.com).


E pouco interessa riqueza mineral ou extrativista, pois se isso somente resolvesse, a Nigéria não seria a enorme catástrofe social que é (e lembremos, mais uma vez, a Indonésia). Logo, o problema não pode ser analisado e tratado monolinearmente, em sim, com diversas dimensões.

Ou seja: o mesmo erro primário de Marx, se perpetuando entre leigos ingênuos que nunca estudaram Economia que preste - economia não é um jogo de soma zero.

Explico com mais detalhes: a Nigéria era grande produtor de café, cacau e madeira. Mal descobriu o petróleo, se atirou com ímpeto e cobiça de toda sua população para explorar esta riqueza. Afundou-se na pior das crises, e nunca mais saiu dela. A Noruega, era rica em madeira, pesca e determinadas indústrias. Ao descobrir o petróleo e gás, tornou-se rica em petróleo e gás, continuando a ser rica em madeira, pesca e nas mesmas e novas indústrias.


Oslo e Lagos, exemplos dos contrastes que o desenvolvimento, em todo seu sentido, propicia.

Qual seria o seu segredo? Aquele capital (embora marxistas pulem este detalhe) que se inclui dentro do que chamamos "desenvolvimento", formação cultural, técnica, e até "bom senso" de sua população e líderes. Por isso, somam, e não trocam, suas fontes de riqueza, e a multiplicam.

Quaisquer respectivas semelhanças e diferenças com nosso Brasil, e seu saltar para um foco no extrativismo mineral, a produção agrícola, a extração do insensado petróleo pré-sal, não foram, neste texto, meras coincidências. O mesmo foco distorcido, por outras vias, que um povo que pretende ter jatos supersônicos para caçar improváveis ofensores, ou submarinos para proteger suas ainda nem extraíveis reservas de riquezas costeiras, e não possui caminhões e estradas para levar água a seus flagelados pelo clima.

Mas tal tema de nossas prioridades distorcidas, já tratei aqui:

O sabiá que quer se tornar harpia

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - I

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - II


Frase de meu orkutiano personagem pregador, "Francisco, O Herege", normalmente envolvido com debates com criacionistas, por pura diversão, que pode, perfeitamente, ser usada para a imagem que se tem hoje, da administração federal brasileira (e talvez o seja ainda por muito tempo):

Vigiai, pois se examinares o fundo do poço, encontrareis a alça de uma alçapão, e subterrâneos terríveis vos serão mostrados.
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Apêndices

Recentemente, assisti um documentário da NatGeo sobre o maglev chinês, que apontava que o custo Shangai-Beijin (um tanto mais de 1000 km) custará 33 bilhões de dólares. O trajeto Shanghai–Hangzhou (uns 170 km) custará 5 bilhões.

Dúvida que me atormenta: como raios nosso trem relativamente convencional, embora chamado de "bala", no infeliz trajeto que terá, custará o valor que está sendo apresentado?

(Coloquei outras questões em Extras 1.)

Variáveis a serem consideradas:

1.Nossa mão de obra não é do mesmo custo da chinesa.
2.Nossos recursos de construção não são os mesmos da China (escala implica em menores custos).
3.Nossas questões de desapropriação não são as mesmas dos chineses (uma das relativas vantagens de estados autoritários neste tipo de obra).

Future Trains – MagLev (National Geographic – MegaStructures)

Uma das coisas que parece se consolidar é o número de estações, que cai na questão que aponto no primeiro artigo em que tratei disto, de que inúmeras cidades não seriam apropriadamente atendidas, e exigiria uma estrutura secundária de transporte, talvez tão cara quanto os atuais ônibus para se deslocar de um ponto a outro, exatamente a ser atendido pelo trem de alta velocidade. Nada mais coerente, portanto, que um trem convencional, que faça o mesmo trajeto dos N ônibus hoje em operação, e a custo menor.

Com excelente infográfico:

Trem-bala prevê sete estações obrigatórias - g1.globo.com

Claro, que exatamente por meu raciocínio ser simples e basear-se em atender a população, e não gerar-lhe mais esforços, não reclamo da questão sozinho:

No caminho do trem-bala, 38 cidades e muita resistência - www.estadao.com.br


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