sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Viscosidade, estagnacão e tristes esperanças


Quando chega-se ao ponto de uma das mais importantes revistas de economia e negócios do país ter a capa simplíssima da Exame, alguma coisa já deve ter sido percebida pelo brasileiro médio.




Como li estes dias de um conhecido em certo blog, “basta andar nas ruas”.


As crescentes dificuldades de se produzir movimentos

Agora vamos as causas estruturais que defino pela analogia com “viscosidade”.

Uma economia é um sistema de múltiplas variáveis, praticamente um sistema multipartículas. Você quando compra um pão, o padeiro quando compra a farinha e paga o gás, a companhia de gás quando paga seus empregados, o agricultor remunerado pelos grãos que processos naturais explorados produz.

Num analogia com líquidos, movimentos, mesmo sutis, podem produzir turbulência num líquido pouco viscoso. Mesmo os menores movimentos exigem esforços intensos num líquido de alta viscosidade, pois a transmissão de energia entre seus componente é sempre dificultosa, detida por atrações mútuas, amarras das forças de interação.

Saiamos da pesada Física.


As pesadas correntes que agora arrastam-se

As populares medidas do período pós-Palocci, leia-se o que chamo de “era Mantega”, como fomento ao consumo pelo crédito, um certo ritmo no MCMV, incentivos a determinados “príncipes da indústria”, intervenção em setores e por fim, contingenciamento de preços controláveis (pulo alguns outros fatores, por motivo de simples foco) chegaram a seu esgotamento.

Desdobremos.

O consumo não é mais sustentável pela renda, aparentando problematicamente entre as massas ser eternamente o valor baixo que evidencia-se.

O fomento deste pelo crédito apenas acrescentou despesas ao consumir, e cobra agora seu preço, sempre crescente com o tempo, como é de sua natureza. Leia-se aqui que somar juros não melhora a renda útil, manobrável da população em seu consumo, apenas a estrangula, de onde só concentra renda em quem cede o crédito original, por exemplo, bancos, e portanto, não é e nunca foi solução para uma distribuição de renda, sequer para o próprio consumo com características sustentáveis.

É com o que brinco usando a expressão “CABÔ-SE!”.

Acredito que cheguei ao ponto fundamental do problema quando apresentei o conceito que defini como “pressão de crédito”, em analogia com a “pressão fiscal”, originalmente de Frank.

Ref.: FRANK, H. J. (1959). Measuring state fax burdens. National Tax Journal,
Massachussets, 12 June.

Deveria acrescentar aqui a questão beirando o proibitivo, quando não o colapso, da alavancagem em nossos bancos públicos, muito acima de qualquer prudência no setor.

Refs. ( e nesse tema qualquer rápida pesquisa produz volume enorme de alertas):

Fernando Ulrich; Bom para alguns, ruim para todos - www.mises.org.br
Rodrigo Constantino;Lucro da Caixa cresce, mas cuidado! A Caixa pode conter um furo no fundo…- veja.abril.com.br
Kátya Desessards, Sandro Schmitz; O Custo da Irresponsabilidade - www.excellencee.com.br


O peso do que já colapsou sobre as costas de muitos

O incremento de programas de habitação - dita popular - é uma (mas jamais única) causa da clara bolha imobiliária que enfrentamos, já tecnicamente rompida desde meados de 2012, e agora em renitente, porém de forma alguma em rota diferente do inexorável colapso, fase que dentro da teorização de bolhas é chamado de “negação” (em palavras simples “nega-se vender mais barato”), produzindo encalhes que por fim farão a quebradeira de muitos, pelos inexoráveis custos no tempo, desde depreciação até tributários.

Não há escape, não há mais saída, apenas a busca de recuperação de capitais colocados em certas rúbricas, e ao final, o que chamo de “ENCOLização” de muitas contrutoras e incorporadoras, pois os crimes em se tratando de finanças estão aí, já expressos em obras mais e mais lentas em sua conclusão, e lógico, os já citados estoques não realizados.

Ref.: ANDREW HARRIS; Some space for bubble theory - www.businessspectator.com.au

Lembrete genérico: lucro contábil é lindo, mas como exemplo, duvido que o dono de uma borracharia consiga alimentar seus filhos sequer pagando a padaria apenas e sempre com pneus. O importante, sempre, é o lucro econômico, o resultado que pode ser com toda liberdade gasto onde quer que se desejar (definição clássica de lucro em Economia, desde os tempos de Adam Smith). Este é um dos dilemas permanentes da área da Controladoria.
Lembrando que triste ilusão que serão "feirões" que resolverão alguma coisa.


Acabou o estoque de iludidos com parcelas que cabiam no orçamento.


Até podem haver quem se iluda com os números, mas não com o volume de capital para a entrada necessária e renda para enfrentar o início do parcelamento (o "depois" é outro problema).


Tristeza maior, tecnicamente falando?


Afastamento das curvas valor de locação e valor de venda, tornando inviável a compra (ainda que desejada, mas nem só de desejo vive o consumo) frente à locação e inviável a compra para investidor pretendendo retorno com aluguéis.

Explico em números e com simples perguntas: Por que me endividaria a 0,6% ao mês num capital de algo que posso alugar por 0,4% do mesmo capital? Por que compraria algo para ter rende de 0,4% ao mês - quando locado - se posso manter o capital me rendendo 0,5%?


Some-se que a valorização já não possui o ritmo de antes, e o tempo não produz um ganho ao investidor mais especulativo.


Em suma, a festa dos imóveis de de pessoas com renda de milhares de reais com “patrimônio em imóveis ainda não pagos de milhão” (completa insanidade) acabou.


Os contos do vigário extensivos e o necessário que virou furto

Diversos “príncipes da indústria” terminaram em páginas que mais parecem notícias policiais de algum jornal de notícias policiais, os “jornais sangrentos” de baixo preço, só que nas notas menores sobre estelionatos, mas com a mais terrível das ironias de apresentarem os golpes números de expressão na economia do país. Sobre tal, sinceramente, coisa alguma há mais para se somar, a não ser o que seja História - e lógico, a administração de miríades até de endividados.

“A história é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo”. - Napoleão
“História é o conjunto de tudo que se deve evitar.” - uma de minhas máximas favoritas, fala de um filme.
Retornando ao que seja lucro, “a felicidade que só ocorre depois de terem acontecido todas as desgraças”, deveria ser considerado, ao menos em valor. primordialmente para a manutenção, emergência e necessários investimentos. Quando acha-se que sempre é um roubo, absurdo por si, e tem de ser contingenciado, e considera-se a partir deste raciocínio obtuso que preços baixos são solução absoluta e perfeita - e claro, agrado inocente das massas votantes - chega-se ao ponto que sem tardar ele mostrará porque tinha de ser computado em valor anteriormente considerado alto.

Complexo?

Simplifiquemos.

Somente com formação de preço justo, que contemple todas as variáveis presentes e futuras, pode-se não exigir adiante ainda mais sacrifícios do mercado que o paga. Mais cedo ou mais tarde, mais demandas terão de ser atendidas, ou terá de se custear a manutenção de demandas que sempre surgem, como “lâmpadas que queimam”, exemplo que uso para o mundo das pequenas empresas.

Ainda difícil de entender?

Sem problemas!

Preço não é um desejo, pois lucro não é um desejo. É uma necessidade.

TEM DE SER COBRADO.

Filosofando, só não poderia ser cobrado em certo nível se tivéssemos absoluto conhecimento de todos os fatos do futuro, e parece que tal não tem-se, embora suspeite que certos membros da equipe do governo julguem que sim.

Para um exemplo máximo, e voltando ao nosso país, vide o caos - e é um caos - que estabeleceu-se no setor elétrico.

Ou alguém acha que os empréstimos que estão sento tomados/cedidos não terão de ser cobertos por alguém, em algum momento, agora com custos de juros, sempre, novamente lembrando, correlatos ao tempo?


As represas prestes a romperem-se

Poderia colocar também que as questões de abastecimento de água, assim como capacidade de reservatórios vs produção de energia, mostram o mesmo comportamento, mas pelo lado de colocar-se em bolsos lucro que ainda deveria ser reservas e investimento.

Contingenciamento de preços só geram pânico após descontingenciados, e formação apressada e até perigosa de novas formas de formar reservas, que entenda-se, é um elemento de aceleração de processo inflacionário por custos.

Não sofremos - ainda - por excesso de meio circulante, mas os exageros de gastos do governo fazem sua parte.

Agora, acrescentemos:

Quando empresas de máquinas pesadas começam a demitir, nem sequer os mecanismos keynesianos de fomento da economia, por obras públicas, estão em andamento no ritmo necessário, e a cascata, o efeito dominó que virá já está estabelecido.


Ref.: Caterpillar vai demitir 750 pessoas até setembro - exame.abril.com.br


Os ilusórios botes salva-vidas
O agronegócio deterá o processo? A mineração?

O primeiro depende de dois fatores, a natureza, que parece não estar de bom humor e em fase de piora, e os modelos climáticos que já estudei são categóricos nisso, o cenário internacional, sempre limitante das exportações, além de sua capacidade limitante final, que é a área (“terra, mercadoria que não se fabrica mais” - Mark Twain).

Ref.: Poucas gotas sobre futuras areias do tempo - medioesustentabilidade.blogspot.com.br

A segunda grande fonte de receitas internacionais depende, cavando-se o buraco, de quem compre o que de lá foi tirado, e pior, pelo preço que está estabelecido.

Como não agrega valor significativamente, e jamais agregará, eu não contaria com tal setor.

Mas todos estes setores dependem de infraestrutura, e aqui surge o conjunto de forças que produz a minha “viscosidade”. Temos estradas? Temos estradas de ferro? Temos hidrovias? Temos portos?

Desculpem-me. Acordemos. Sequer temos refinarias para produzir os combustíveis que necessitamos, tanto que temos de importá-los.

Pelo contingenciamento de preços, liquidamos ou pelo menos abalamos fortemente uma saída em paralelo, ao menos urbana e para os veículos de pequenos porte, poupando processos nas refinarias, que é o etanol. Não podemos contar com o biodiesel, pela sua escala minguada em nossas terras. Não podemos contar com eletricidade, por inúmeros motivos, até em não ter-se trens que a possam usar, nem falemos de novos campos em tecnologia.

Os investimentos internacionais, por estes mesmos motivos, são festa já acabou faz tempo.


A conta da farra é que demorou para chegar, e está chegando em prestações, que por sinal, não são suaves.


O problema gerado, especificamente sobre investimento estrangeiro, entre tantos outros, é que destruiu-se qualquer substrato que propicie baixos custos e lucros altos, e lógico, há uma seleção entre locais do mundo, e não somos mais aptos a obtê-los.


Agora, administre-se necessidade de investimento com nossa minguada capacidade de geração de capital próprio, baixa produtividade, gargalos inúmeros e uma renda que não propicia mercado interno proveitoso, ainda mais, asfixiado com o peso de juros pelo fomento do consumo pelo crédito.



Bom, estabelecido o análogo com líquidos que chegam à estagnação, completemos o motivo do título.


Aquela que por último entrará na caixa de Pandora

Todas as medidas de mesma natureza das já tomadas na “era Mantega” manterão o status das coisas nos mesmos mecanismos, diria até repetitivos.

No panorama político, em Dilma sendo reeleita - e é uma posição política minha que ela tenha de ser! - estará dentro da cova que abriu, e se hoje sangra, sangrará de forma pouquíssimas vezes vista na história da América Latina, e jamais vista na escala econômica, pois o Brasil, neste ponto, é o Brasil, por inúmeras variáveis.

Qualquer outro resultado da eleição jogará a nação num confronto de populismo (pois socialismo jamais houve, sequer em conceitos) contra rígidos ditames econômicos, e cortar na própria carne é extremamente desagradável.

Bom, isto vale também para Dilma...

Em outros termos, arrumar a casa dará muito, muitíssimo trabalho.


“Política é a arte de obter votos dos pobres e dinheiro dos ricos, prometendo a cada grupo defendê-lo contra o outro.” - Oscar Ameringer (1870-1943)



Logo, triste esperança de achar-se que períodos de bonança, ainda que completamente ilusória e efêmera, como a que viveu-se, voltarão. Continuamos desorganizados, pouco produtivos, apenas tendo como alvo de ação o “cavar buraco” e o “esperar chover e fazer sol nas datas certas”. Continuamos pobres, e ficamos perdulários antes de ficarmos remediados, ainda muito distantes de ricos.

Criamos os vícios que agora atam nosso futuro.
A conta da festa chegou.

Resta-nos com muito custo, desatar todos os nós, antes de qualquer novo passo firme e bem direcionado.



"A sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade irá terminar sem igualdade e liberdade" - Milton Friedman

"O estado é a grande ficção através da qual todos tentam viver às custas de todos." - Frédéric Bastiat
“História, em geral, só nos informa que o governo é ruim." - Thomas Jefferson


"Vamos estudar coisas que não existem mais. É preciso entendê-las, mesmo que apenas para evitá-las." - Victor Hugo



Leituras recomendadas


Monica Baumgarten de Bolle; Como fica? - www.galanto.com.br


Extras

1

Sobre o PIB, “vem mais por aí”, e a curva continuará, doze meses por doze meses pela frente, em queda, até a tomada de medidas intensas (ação de poder) e intensivas(volume, escala):

Ref.: Pela 11ª vez seguida, economistas diminuem projeção de crescimento do PIB em 2014 - economia.estadao.com.br


2

Mais e mais estão entendendo tudo que se passou e se passa, e o real cenário que enfrentamos:

O Brasil é um país de miseráveis; as estatísticas do governo são mentirosas, diz historiador - www.folhapolitica.org ou folhapolitica.jusbrasil.com.br


3


Contar com nossa maior empresa* para solucionar qualquer coisa parece não ser por números claros prudente.

*Como se ela, em toda sua grandeza apenas digna em termos nacionais, pudesse ao menos ser comparada em efeitos econômicos à uma cadeia toda de empresas de pequeno e médio porte disseminadas por todo território nacional.

Vejamos:


6 pontos e uma "linha inexplicável" que resumem o balanço trimestral da Petrobras

Analistas veem resultados fracos para a petrolífera, principalmente no segmento de abastecimento; contudo, expectativa fica mudanças na companhia com eleições - www.infomoney.com.br


A Empiricus fez o trabalho de resumir:

“A estatal petrolífera registrou queda de 20% em seu lucro no segundo trimestre, amargando prejuízo de R$ 3,8 bilhões em abastecimento, perda de R$ 8,7 bilhões somente na área em 2014, o que mostra o tamanho do impacto da política de importação de combustíveis.


Com isso, Petrobras queimou R$ 13,4 bilhões de caixa na primeira metade do ano, viu sua dívida líquida crescer 9% em três meses, apesar das captações de dinheiro no mercado, e sua alavancagem atingir níveis preocupantes de 3,9x dívida líquida/ebitda e 40% dívida líquida/patrimônio líquido - beeeem distante das metas de 2,5x e 35% de seu Plano de Negócios e um possível gatilho para a perda de seus ratings.”


4


Sobre a Petrobras somemos:

Após destacar política suja em eleição, FT fala sobre Petrobras: "asfaltada em corrupção" - www.infomoney.com.br


WSJ: otimismo de Lula sobre pré-sal se mantém vivo, mas ainda há desafios para Petrobras - www.infomoney.com.br


Destaco, sobre dois temas que tenho martelado constantemente nos últimos 5 anos, declínio dos campos antigos contra "rampa" de produção dos novos campos de pré-sal e limitações de logística e custos de tecnologia (as limitações da tecnologia “em si”, problema grave do passado, estão com os dias findos):


"A Petrobras, por sua vez, está se empenhando na produção destes campos, já que os campos antigos da produtora de petróleo estão com a produção cada vez menor e, para manter sua meta de produção, não há outra saída.”


"Ninguém no mundo produziu nessas condições", disse Edmundo Marques, ao jornal. Ele é um ex-executivo da Petrobras que hoje é chefe de exploração da petrolífera Ouro Preto Óleo e Gás."

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