sexta-feira, 29 de abril de 2011

Finda um período cinza

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Comentário meu a um artigo de Roberto Freire (Plano geral - http://www.brasileconomico.com.br/), aqui um tanto atrasado, mas com terríveis relações com o que tratarei na parte seguinte:

O "período Lula" se caracterizou por um tripé:

1) Comportamento fluido, abraçando-se com as mesmas elites políticas que sempre o PT condenou.

2) Maquilagem econômica, tentando permanentemente dourar as pílulas, seguindo, na verdade, a mesma cartilha econômica que tanto pregou como nefasta.

3) A destruição total e final de uma "imagem de vestal", tornando os partidos nucleares do governo iguais a tantos outros e com as mesmas práticas. Apenas, como dizia Marx, corrompendo os termos, em que ilegalidades tornaram-se "erros", entre outros.

Sobre este tripé, colocou uma bela cereja do bolo, que é a introdução de um conceito alheio à sociedade brasileira, em que nasce no seio dos menos favorecidos novo preconceito, racial, quando antes, não existia tal separação. Agora, como legado, somos "ricos e pobres", e dentre os pobres "brancos e negros", mais desiguais que antes.


Os pecados escrevem a história, o bem mantém-se em silêncio. - Johann Wolfgang von Goethe



Sinuca de bico nas seis caçapas




(Os que jogam bilhar (dentre os vários) que me perdoem pelo absurdo do título, mas a metáfora é válida.)

O governo se colocou num encadeamento lógico de dificuldades que me parece insolúvel.

1) Se apertar o crédito, reduzirá consumo.
2) Se reduzir consumo, diminuirá emprego..
3) Se não apertar crédito, fomenta inflação.
4) Se não combater inflação,destrói renda.
5) Se não combater inflação e não proporcionar correções de salários e pensões, causará redução do consumo.
5) Se corrigir salários e pensões, causará inflação.
7) Reduzindo consumo, novamente, diminuirá arrecadação.
8) Não pode reduzir arrecadação pois é deficitário.
9) Não pode diminuir taxa de juros dos títulos públicos pois diminui sua atratividade, que é o que cobre seus déficits.

E assim por diante em mais dúzias de fios estrangulantes que lhe amarram numa teia perversa.

Como um "sádico voyerista", conto os dias e as horas para ver o momento de um primeiro tropeço sério nesta rede, e impotente, não encontro solução simples, nem muito menos, por mais complexa que seja, que não exija imensos sacrifícios de todos.

E nisto, de um período cinza, talvez entremos num de tom ainda mais escuro.



Quando o mar está calmo, qualquer um pode ser timoneiro. -  Públio Siro



Extras

1)

Juro que tenho vontade de rir, mas já tratei (ou tentei tratar) o assunto seriamente:
  


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2)

Questões de logística do pré-sal.

Tem-me sido de interesse saber como a poderosa Petrobras tartará de resolver, a custos viáveis, por um lado, e dados determinados limites de orçamento para investimento, por outro, para atender as plataformas da, digamos, região média do pré-sal. O raio de ação dos helicópteros (é quase impraticável a logística de trabalhadores por embarcações para atender plataformas) está pelo limite de 200 km, e haverão plataformas a 300 km da costa. A solução será o uso de embarcações similares aos carriers dos fuzileiros navais dos EUA.



3)

O derramamento da BP no Golfo do México foi exemplar (leia-se, alertas gritantes) para o pré-sal por diversos fatores:

1.Foi a 60 km da costa.
2.Nos primeiros dias, o governo e empresascolocavam 900 navios à disposição do processo.
3.O derrame de emulsificantes, mesmo como procedimento errôneo para a escala do incidente foi feito em escala militar (gerou a emulsificação de uma massa proibitiva e insolucionável de petróleo no mar, quando o ideal seria seu recolhimento, separado da água, na superfície). Mesmo no erro, a demosntração de capacidade de resposta do governo estadunidense ficou clara.
4.Existe hoje o monitoramento de 20 mil trabalhadores pela possível contaminação com aromáticos (tais como o benzeno). Se 20 mil são monitorados, é sinal que foram colocadas 20 mil pessoas nas operações relacionadas com o derrame.

Disto tiro a pergunta direta: conseguiremos implantar esta capacidade de reação para incidentes similares?

4)

Repitamos em outras palavras o anteriormente tratado, pois o que virá a seguir é inacreditável.

Um dilema do tipo "Tostines", e triangular como um "Doritos": o governo, se desejar combater a inflação, aperta o crescimento do PIB. Se desejar manter crescimento, terá de ser tolerante com a inflação. Se for tolerante com a inflação, terá de, para manter capacidade de compra, aquela que permite a manutenção do consumo, manter indexações de salários, que são aqueles índices que mais cedo ou mais tarde, conduzem à pressão inflacionária.

Mas fantasticamente, mesmo com agências controladoras autorizando aumentos acima do que as, por exemplo, distribuidoras de energia elétrica pediram, o PT agora afirma com todas as letras que a inflação é praticamente uma conspiração da oposição.


Em tempo, petistas e demais Alices, aprendam: a economia de um país estar crescendo a valores baixos, ou mesmo estar estagnada (p.ex. os EUA), não significa "declínio", e "parceria com a China" (algo contraditório por si) é algo muito pior para nossa economia que qualquer parceria com país rico.



5)

Interessante é que a promessa de campanha de José Serra, de um salário mínimo de R$ 600, numa inflação de 0,35% ao mês, teria de ser atingido em 46 meses (menos que 4 anos de governo), a partir de um saláriode R$ 510. Numa inflação ao mês de 0,82% ao mês, teria de ser atingido em 20 meses, a partir de um saláriode R$ 510, como o de 01/01/2010. Ou seja, deixaria de ser "uma demagogia", em agosto ou setembro de 2011.

A partir de um salário de R$ 545, para os mesmos 0,82%, deixaria de ser a mesma demagogia em 12 meses, ou já a partir de março ou abril de 2012. O problema é que já estamos com uma inflação média mensal de 0,49% (previsto de 6,02%), e alguns pontos (que incidem sobre os mais pobres), na escala de mais de 1% ao mês - vide transportes, a popular "passagem".

Acredito que não necessito, pelos números acima, tratar do quão pouco demagógico é a afirmação de um aumento para os pensionistas de 10%.


6)

Dívida Interna

Hoje 'recebi' pelo Twitter:
Emissão de títulos para BNDES financiar trem-bala elevou dívida pública para R$ 1,695 trilhão.
Ou seja: o pior dos quadros sobre o pior dos projetos.
Lembrando uma discussão com determinada notória (e nem tanto) Alice:

Gráfico 4 - Evolução do Estoque da DPFe x Reservas Internacionais
http://www.stn.fazenda.gov.br/hp/downloads/Informes_da_Divida/Informe_DPFe.pdf

Tabela 'Evolução dos Principais Indicadores da Dívida Pública Federal'

Estoque da DPF em mercado (R$ bi): 1.600 (em 2009)

http://www.stn.fazenda.gov.br/divida_publica/downloads/Apresentacao_Relatorio_Divida_2010.pdf

Comparado a tais fontes, os bloguinhos "alícicos" e pregação barata não valem coisa alguma.

Mas, a pérola nasce de frases como esta:

"Hoje a relação é de 46%? Antes, em FHC, era de 55%?"

Aprendam a fazer contas, Alices!

Se a dívida cresceu a quase 90% no governo Lula, e o PIB não cresceu nesta monta, como ia ser antes fração maior do PIB?

Apenas se fizerem-se as contas em dólar x real, a cotação da época, mas isto não é feito assim para dívida interna, onde se calcula a proporção pelo endividamento do estado na sua própria moeda.

E aqui, quanto mais valorizado o real em relação ao US$, pior.

Mas há mais questões de "maquilagem":

http://psavioalves.blogspot.com/2009/10/pretendia-neste-post-me-aprofundar-um.html


7)

Outra pérola de Alice:

"Por mim nem existiriam bancos privados,"

Curioso. Já existiram bancos estatais as pencas no Brasil e os resultados foram terríveis. Mas claro que aí, Alices vão fazer brotar argumentos "brilhantes" dizendo que foi "por corrupção".

Então, pelo visto, os bancos estatais de países "comunistas" do passado também teriam de ser bem sucedidos e sabemos que não  foram.

Mas claro que aí, Alices berrarão que jamais houve "comunismo verdadeiro" e sim, "capitalismo de estado".

Ou seja, uma vez Alice, condenada a sofrer de problemas de memória disfarçando suas utopias insustentáveis.


Encolhido está a Alice crente,
que por falácias em desespero,
vomita, arrota títulos e mente,
e no ad hominem em destempero.


Acuada, sofrida, humilhada,
em bretes mais e mais se enfia,
chegando a ser covardia,
ver sua utopia estraçalhada.


Novamente...

Em tempo aprendam de uma vez, Alices, ensinamento profundo do titio Keynes, que vale até para a Coréia do Norte ou Cuba:

O lucro de um banco, sendo acumulação de riqueza, é exatamente o valor a ser colocado para reinvestimento, preferencialmente em novo ciclo de investimentos mais lucrativos e eficientes, e pode ser até o hospital para velhinhas comunistas sem dentes, pouco interessa.

Assim, ser privado ou estatal, em termos de um banco, pouco interfere que tenha de ter lucro, pois somente, mesmo nos mundinhos utópicos e infantis de Alices, se colocará mais riqueza a ser dividida.

Mas como sofrem Alices de problemas graves até de contabilidade, ficam a escrever suas tolices sem fim, pelo visto, pelos séculos, falência após falência de seus modelos em tentativas de aplicação.

Como bem dito por Popper e vários outros (embora não com estes termos): Comunismo não se sustenta nem como hipótese, dadas as vastas e longas experiências.


8)

Poucas coisas lembram mais o comportamento esquizofrênico do que políticas econômicas antagônicas.

Exemplo: liberar dinheiro por meio de um banco público de investimento e enxugar o crédito pormeio de taxas de juros da dívida pública, por meio do banco central.

Para se entender o quanto isso já foi perigoso (e continua sendo), e se repete desde de nosso governo anterior:


João Mellão Neto; Lula e Geisel, iguais? - www.imil.org

Para que a frase abaixo não seja adequada perfeitamente a mim, a solução  é não se executar políticas antagônicas, e o governo conter o crédito e, keynesianamente, só liberar dinheiro em plena crise e baseado em rígida poupança durante este atual período de ciclo - relativamente - virtuoso.

O crítico é um fracassado que nos quer ensinar como se triunfa. - Sofocleto
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