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O Custo Oculto da Euforia Creditícia
Desvendando os Riscos da Economia "Empurrada"
Gemini da Google e Francisco Quiumento
A dinâmica econômica intrinsecamente ligada ao custo dos juros no crédito e no consumo revela uma estratégia por vezes adotada para impulsionar o crescimento: a chamada economia "empurrada". Essa abordagem se fundamenta na premissa de que a redução das taxas de juros e a facilitação do acesso ao crédito podem artificialmente estimular a demanda agregada, incentivando indivíduos e empresas a consumir e investir mais. Em um primeiro momento, essa injeção de liquidez pode gerar um aumento na atividade econômica, criando uma sensação de prosperidade e dinamismo.
No entanto, essa euforia creditícia carrega consigo um espectro de riscos significativos que se manifestam no médio e longo prazo. Um dos perigos mais evidentes reside no endividamento excessivo. Taxas de juros artificialmente baixas podem induzir famílias e empresas a contraírem dívidas que, em um cenário de normalização das taxas ou de choques econômicos, podem se tornar insustentáveis, elevando os níveis de inadimplência e fragilizando o sistema financeiro como um todo.
Ademais, a abundância de crédito barato pode levar a uma alocação ineficiente de capital. Em vez de direcionar recursos para projetos inovadores e setores com potencial de crescimento genuíno, o capital pode ser desviado para investimentos especulativos ou para o consumo de bens supérfluos, comprometendo a produtividade e o desenvolvimento sustentável da economia. A história econômica é repleta de exemplos de bolhas de ativos, inflacionadas por crédito farto, que inevitavelmente estouram, deflagrando crises financeiras com consequências duradouras.
A própria inflação se apresenta como um risco latente em uma economia excessivamente dependente do estímulo creditício. O aumento descontrolado da demanda, alimentado pelo consumo financiado por dívida barata, pode pressionar os preços, corroendo o poder de compra da população e desestabilizando a economia. Além disso, uma economia "empurrada" pelo crédito tende a se tornar mais vulnerável a choques externos, como variações nas taxas de juros internacionais ou crises financeiras globais, que podem expor suas fragilidades estruturais.
Em última análise, o crescimento econômico sustentável não se edifica sobre o mero aumento do consumo financiado por dívida, mas sim sobre ganhos de produtividade, inovação tecnológica e investimento produtivo de longo prazo. A ilusão de prosperidade gerada por uma economia "empurrada" pelo crédito pode mascarar problemas estruturais profundos e acumular riscos que, inevitavelmente, terão que ser enfrentados no futuro. Desvendar esses riscos e buscar um crescimento mais orgânico e resiliente é um desafio crucial para a saúde econômica de qualquer nação.
O Conceito de "Ressaca" (Kater) na Escola Austríaca dos Ciclos Econômicos
Para os economistas da Escola Austríaca de Economia, os ciclos econômicos (booms e busts) não são inerentes ao livre mercado, mas sim o resultado de intervenções no sistema monetário e creditício, geralmente por bancos centrais e governos. A "ressaca" (ou "Kater", em alemão) é a fase recessiva ou de "bust" que ocorre após um período de expansão artificial (o "boom"), sendo um termo central na Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE), desenvolvida principalmente por Ludwig von Mises e F.A. Hayek.
Como funciona a TACE e a "Ressaca":
Manipulação da Taxa de Juros: Tudo começa com a manipulação artificial da taxa de juros pelo banco central, mantendo-a abaixo de sua taxa natural de mercado. Isso geralmente é feito através da expansão da oferta de crédito.
Expansão Artificial do Crédito (Boom): Juros baixos e crédito farto incentivam os empresários a iniciar projetos de investimento que não seriam lucrativos sob as taxas de juros naturais. Há uma "má-alocação" de capital, onde recursos são desviados para investimentos de longo prazo insustentáveis, e também um aumento no consumo, financiado por dívida barata.
Distorção da Estrutura de Produção: A economia começa a "empurrar" investimentos em setores que não possuem a base de poupança real necessária para sustentá-los. Há uma ilusão de que a poupança real aumentou, quando na verdade, é apenas a criação de novo crédito.
A "Ressaca" (Kater): Eventualmente, a verdade econômica se impõe. As taxas de juros precisam subir (seja por decisão do banco central para combater a inflação, ou porque a demanda por fundos reais excede a poupança real disponível). Quando isso acontece, os projetos de investimento que foram iniciados sob a ilusão do crédito barato se mostram inviáveis. As empresas que os iniciaram começam a falir, e os recursos mal alocados precisam ser liquidados e reorientados para usos mais produtivos.
Essa fase de "ressaca" é caracterizada por falências, desemprego, queda na produção e desinvestimento. É dolorosa, mas é vista pelos austríacos como uma correção necessária do mercado, que está "purgando" as más-alocações e retornando a economia a uma estrutura de produção mais sustentável e alinhada com as preferências temporais (poupança real) da sociedade.
É como a ressaca de uma festa: a euforia artificial (o boom) é seguida pela dor (o bust), e o corpo (a economia) precisa de tempo para se recuperar e eliminar os excessos.
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