quinta-feira, 7 de julho de 2016

Reflexões rápidas sobre energia e economia - 1



Sim, a produção do petróleo pré-sal tem batido records. Isso é garantia de sustentabilidade, ou mesmo simples viabilidade no longo prazo?

Como seguidamente cito, “não existe uso mais estúpido para o petróleo (e somaria gás) que queimá-lo” - Jacques Bergier. Mas antes de pararmos completamente de fazer uma coisa estúpida, devemos analisar se o amarrar-se num paradigma de matriz energética já condenado a se tornar obsoleto não é uma coisa de mesmo nível de estupidez.



saiddib.blogspot.com


Lá por 2008, envolvido profissionalmente com uma euforia do petróleo pré-sal, assisti declarações de volume de investimento na casa dos 650 a 850 bilhões de dólares, frotas colossais tanto de transporte como apoio e praticamente  montagem em série de sondas e plataformas. Evidentemente, assistimos hoje, passados apenas oito anos, ao investimento prometido ser irmão de endividamento sufocante da Petrobras. Endividamento esse que não tem na corrupção seu motor, apenas essa se soma dentro dele.

Nesses períodos de “ressaca” da euforia, e aqui o termo inclusive relaciona-se com as lições dos economistas austríacos, depois do simples desprezo de muitas empresas de petróleo pelo pré-sal, e crescentes investimentos destas como empresas de energia numa nova matriz - energia: algo bem mais amplo que petróleo e gás - temos de lamentavelmente assistir loucuras de uma personagem como Marilena Chaui dizer que os objetivos das correntes operações policiais e investigações do Ministério Público são “roubar o pré-sal”.

E o pior que tem gente que continuará gritando que isso é minimamente racional.

Não, “crianças”. Como sempre, bastará oferecermos nossas misérias (algumas oleosas e viscosas) em troca dos próprios equipamentos para produzí-las ou chips para colocar nos carros que os consomem, entre coisas.

Coisas extraídas da terra (ou sua superfície, com sol e chuva) jamais conseguiram enfrentar a geração de valor da tecnologia. Nem nunca o farão.

Nisso, sempre segue-se o discurso “brasilianista” (normalmente um misto pastoso de ufanismo com ‘patriotata’ infantil) de que “temos fronteira agrícola”, “celeiro do mundo”, ou o mais que pegajoso “pátria mãe” (1. como diz minha geração de Porto Alegre, “deus é pai mas a natureza é uma madrasta perversa”; 2 - o que raio é isso?), etc.

Recomendo sempre que peguem um globo e olhem, sem a distorção das projeções cartográficas, o que é a África ou a Ásia. Serve também ver os níveis de produção agrícola do primeiro mundo, aquele lugar desagradável à “planificação” que paga mais por vaca no campo, por exemplo, que nós à crianças autistas, entre outras deficiências.


Simultaneamente com a euforia do pré-sal, existiu a euforia menor do etano (aquilo que preços de gasolina quebraram), a mamona e o biodiesel (aquilo que fora a inviabilidade numa parte recebeu o acréscimo de algo similar com o diesel de petróleo), sem seguir o exemplo notável de como os EUA fizeram, seus esforços por etanol celulósico, as demais gerações de biocombustíveis que estão em andamento, toda a massa em manobra pela biomassa, isso sem falar com o deslocamento da matriz cada vez mais e mais para o elétrico na ponta do consumo - leia-se automóveis. Automóveis esses que aqui enfrentam uma tributação proibitiva e sequer teriam capacidade de produção energética para serem abastecidos.

Tudo, desde o primeiro momento, estava destinado a chegar-se onde se chegou, e ao que parece, nenhuma providência está sendo realmente tomada para que mais e mais amarras nos sejam impostas no futuro.



Notícias relacionadas, cenas de “Bananialand in oil”:



1

Petrobras puts nine shallow-water oil fields up for sale

Petrobras (PBR -6.5%) says it is putting nine small, shallow-water oil fields up for sale, as it continues to chip away at its ~$126B debt load.


The nine fields had an average production of 13K boe/day in 2015, representing just 0.5% of PBR's total production, but the sale is another step forward in its efforts to shed non-core assets as part of its $15B divestment plan.


"The fields are junk," a source tells Reuters, as their age will require substantial investment to maintain commercially viable output, "though almost anybody can run them cheaper than Petrobras." - seekingalpha.com


2

Produção de biodiesel encolhe em maio

Depois de quatro meses seguidos de produção em alta culminando com o melhor resultado em seis meses, as usinas de biodiesel do país deram um passo para trás. Segundo dados divulgados nessa sexta-feira (01) pela ANP, a produção no mês de maio apresentou um recuo de 3% em relação ao ano passado. - www.biodieselbr.com

3

Usina sem licença ambiental manteve produção acima do permitido em maio

Uma usina mato-grossense continua produzindo acima do permitido. Dados divulgados pela ANP nessa sexta-feira (01) mostram que, durante maio, a usina produziu um volume é duas vezes maior do que a capacidade autorizada pela ANP. - www.biodieselbr.com


Obs.: Não existe nada mais capitalista que impedir o aumento de produção ou consumo de algo, não é mesmo?

Ainda mais quando nevrálgico para o desenvolvimento tecnológico e geração de renda para a população.

4

Como se não bastasse...

Petrobras pension fund has $6.8B shortfall
Petrobras (PBR -6.8%) says its pension fund has 22.6B reais ($6.8B) in unfunded liabilities, the latest financial burden for a company already nearly $130B in debt.
PBR says Brazilian law mandates the amount it and the pension fund’s 75K beneficiaries must immediately plan to cover totals 16.1B reais ($4.8B), and that it is responsible for half of the adjusted shortfall, with beneficiaries covering the rest through higher retirement contributions. seekingalpha.com


5


“Uma mudança contábil nas normas IFRS irá obrigar as empresas a contabilizarem como dívida os custos com leasing operacional (espécie de locação financeira), podendo levar a dívida da estatal Petrobras a 1 trilhão de reais em 2019. Atualmente, tais custos são mencionados somente em notas explicativas, o que os “esconde” do balanço.


A nova norma se tornará obrigatória somente em 2019, mas já causa preocupação aos investidores, especialmente pelo fato de se somar à dívida bruta da empresa – atualmente em R$ 506 bilhões – e pela ausência de perspectiva de redução da dívida. A desvalorização do real durante o período pode agravar ainda mais o valor, levando-o a alcançar até 1 trilhão de reais.” - www.ilisp.org


Recomendações de leitura

Ricardo Gallo; A autoimolação da Petrobrás - ricardogallo.ig.com.br


Petrobras: destruição de US$160bilhões em valor de mercado - www.sabe.com.br



Anexos


Oriundos da literatura:

1


É muito natural que aqueles que detém o poder desejem suprimir a livre pesquisa. A busca irrestrita do conhecimento tem uma longa tradição de produzir competição indesejada. Os poderosos querem uma “linha segura de pesquisas”, algo capaz de produzir apenas produtos e idéias que possam ser controlados e, o que é mais importante, que permita que a maior parte dos benefícios produzidos fique em poder dos investidores internos. Infelizmente o universo está cheio de variáveis relativas que não permitem a existência de uma “linha segura de pesquisas”. — Avaliação de Ix, Arquivos da Bene Gesserit - Frank Herbert, Os Hereges de Duna

2


“A burocracia destrói a iniciativa. Não existe coisa alguma que os burocratas odeiem mais do que a inovação, especialmente a inovação que produz resultados melhores do que as velhas rotinas. Os aperfeiçoamentos sempre fazem com que aqueles que se situam no topo da pirâmide pareçam inaptos. Quem é que gosta de parecer inapto?” — Um guia para a Tentativa e o Erro nos Governos, Arquivos da Bene Gesserit  - Frank Herbert, Os Hereges de Duna


Frases

“Não é função de nosso governo impedir que o cidadão cometa um engano; é função do cidadão, impedir que o governo cometa um engano.” - Corte Suprema de Justiça dos Estados Unidos, Robert H. Jackson, 1950.

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