sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

The Problem of Social Cost (O Problema do Custo Social)


Traduzido de: en.wikipedia.org - The Problem of Social Cost 



"The Problem of Social Cost" (“O Problema do Custo Social”, 1960), de Ronald Coase, então membro do corpo docente da Universidade da Virgínia, é um artigo que trata do problema econômico das externalidades. Ele se baseia em uma série de casos jurídicos e estatutos ingleses para ilustrar a crença de Coase de que as regras jurídicas só são justificadas por referência a uma análise de custo-benefício, e que os incômodos que muitas vezes são considerados como sendo culpa de uma das partes são conflitos mais simétricos entre os interesses das duas partes. Se houver custos suficientemente baixos para fazer uma transação, as regras legais seriam irrelevantes para a maximização da produção. Como no mundo real existem custos de negociação e coleta de informações, as regras legais são justificadas na medida de sua capacidade de atribuir direitos ao detentor de direitos mais eficiente.  


Junto com um artigo anterior, "The Nature of the Firm" (“A Natureza da Firma”), "The Problem of Social Cost" foi citado pelo comitê do Nobel quando Coase recebeu o Prêmio Nobel em Ciências Econômicas em 1991. O artigo é fundamental para o campo do Direito e Economia, e se tornou o trabalho mais frequentemente citado em todos os estudos jurídicos. [Coase, 1937] [1]    

 

Resumo


Coase argumentou que, se vivêssemos em um mundo sem custos de transação, as pessoas barganhariam umas com as outras para produzir a distribuição mais eficiente de recursos, independentemente da alocação inicial. Isso é superior à alocação por meio de litígio. [2 pg 44]  Coase usou o exemplo de um caso incômodo chamado Sturges vs Bridgman, onde um doceiro barulhento e um médico silencioso eram vizinhos e foram ao tribunal para ver quem deveria se mudar. [3] Coase disse que independentemente de o juiz ter decidido que o doceiro deve parar de usar seu maquinário ou que o médico deve tolerar isso, eles podem chegar a um acordo mutuamente benéfico sobre quem se muda, que atinge o mesmo resultado da atividade produtiva.


No entanto, muitas realocações de maximização do bem-estar são frequentemente esquecidas devido aos custos de transação envolvidos na negociação. [4] Por exemplo, o fabricante de doces pode ter muitos vizinhos que alegam "incômodo" alguns legítimos e outros não, que a empresa teria de resolver, e alguns dos vizinhos que alegam incômodo podem tentar exigir uma compensação excessiva. Nesses casos, os custos de transação corroem e, em última análise, eclipsam os sinais de preço que teriam levado à distribuição mais eficiente de recursos.


Em casos como esses, com custos de transação potencialmente elevados, a lei deve produzir um resultado semelhante ao que resultaria se os custos de transação fossem eliminados. No entanto, não existe um método de baixo custo para determinar precisamente qual seria esse resultado, por definição. Portanto, Coase argumenta que os tribunais só devem intervir em casos que causam uma quantidade excessiva de incômodo após uma ampla análise com relação ao efeito total de tais intervenções. [2 pg 44]      


Coase estende essa estrutura ao longo de seu desenvolvimento de um teorema funcional relativo às externalidades. Coase argumenta que esses direitos são integrados ao processo de tomada de decisão de um ator por meio de sua função de custo exclusiva. Esses custos não são isolados na natureza, segundo Coase, que concluiu “O custo do exercício de um direito (de usar um fator de produção) é sempre o prejuízo que se sofre em outro lugar.” [6]   


A tese final é que a lei e a regulamentação não são tão importantes ou eficazes para ajudar as pessoas quanto os advogados e planejadores do governo acreditam. [7] Coase e outros como ele queriam uma mudança de abordagem, para colocar o ônus da prova dos efeitos positivos sobre um governo que estava intervindo no mercado, analisando os custos da ação. [8]     


O argumento forma a base do Teorema de Coase conforme nomeado por George Stigler.


Desafios teóricos


Guido Calabresi, em seu livro The Costs of Accidents (“Os Custos de Acidentes”, 1970) [9], argumenta que ainda é eficiente responsabilizar empresas que geram maior riqueza. [10]  


No mundo real, onde as pessoas não podem negociar sem custos, pode haver problemas de ação coletiva daqueles que causaram um incômodo, por exemplo, pelas emissões de fumaça de uma fábrica para muitas fazendas vizinhas e, portanto, reunirem-se para negociar de forma eficaz pode ser difícil contra um único poluidor devido a problemas de coordenação. Se for eficiente para os agricultores pagar à fábrica para reduzir suas emissões, alguns desses agricultores podem adiar o pagamento de sua parte, na esperança de obter uma participação nos resultados obtidos de forma gratuita. A fábrica pode estar em uma posição melhor para saber quais medidas tomar para reduzir os danos e pode ser a evitadora mais barata, ilustrando o argumento de Coase.


Casos e estatutos


Coase usa três exemplos principais em seu artigo para tentar ilustrar seus pontos. O primeiro é um criador de gado fictício e um fazendeiro, mas o segundo é o caso Sturges vs Bridgman [11] e o terceiro é o Railway (Fires) Act 1905. [12] Além desses exemplos principais, os seguintes casos são mencionados.

  • Fontainebleu Hotel Corp. v. Forty-Five Twenty-Five, Inc., 114 So. 2d 357 (1959)

  • Cooke v Forbes (1867–1868) LR 5 Eq 166 [13]

  • Bryant v Lefever (1878–1879) 4 CPD 172, Bramwell LJ and Cotton LJ [14]

  • Bass v Gregory (1890) 25 QBD 481 [15]

  • Attorney General v Doughty (1752) 28 ER 290 [16]

  • Versailles Borough v. McKeesport Coal & Coke Co. (1935) 83 Pitts. Leg. J 379, 385

  • Webb v Bird (1863) 143 ER 332

  • Rushmer v Polsue and Alfieri, Ltd (1906) 1 Ch 234

  • Adams v Ursell (1913) 1 Ch 269, sobre peixe e batatas fritas

  • Andreae v Selfridge and Company Ltd (1938) 1 Ch 1

  • Delta Air Corporation v. Kersey (1942) 193 Ga. 862

  • Thrasher v. City of Atlanta (1934) 178 Ga. 514

  • Georgia Railroad and Banking Co. v. Maddox (1902) 116 Ga. 64

  • Smith v. New England Aircraft Co. (1930) 270 Mass. 511

  • Vaughan v Taff Vale Railway Co. (1858) 3 H and N 743

  • Boulston v Hardy (1597) 77 ER 216

  • Stearn v Prentice Bros Ltd (1919) 1 KB 395

  • Bland v Yates (1913–1914) 58 Sol J 612



Referências


1.Merrill, Thomas W.; Smith, Henry E. (2017). Property: Principles and Policies. University Casebook Series (3rd ed.). St. Paul: Foundation Press. ISBN 978-1-62810-102-7. p. 32.


2.Coase, Ronald (1960), "The Problem of Social Cost" (PDF), Journal of Law and Economics, The University of Chicago Press, Vol. 3 (Oct., 1960): 1–44, doi:10.1086/466560.


3.Sturges v Bridgman (1879) 11 Ch D 852


4.(Coase 1960, p. IV, 7)

 

5.(Coase 1960, p. V, 11)

 

6.(Coase 1960, p. X, 44)

 

7.(Coase 1960, p. V, 9)

 

8.(Coase 1960, p. VIII, 23)

 

9.G. Calabresi, The Cost of Accidents: a legal and economic analysis (1970), Yale University Press. pg 135–403.

 

10.Calabresi, Guido (1968). "Transaction Costs, Resource Allocation and Liability Rules—A Comment". Journal of Law and Economics. 11 (1): 67–73 [p. 71–73]. doi:10.1086/466644.

 

11.(1960) 3 JLE 1, 8-11, 20–21


12.(1960) 3 JLE 1, 30–34


13.(1960) 3 JLE 1, 10–11


14.(1960) 3 JLE 1, 11–12


15.(1960) 3 JLE 1, 14


16.(1960) 3 JLE 1, 20

 

RH Coase, 'The Nature of the Firm' (1937) 16(4) Economica 386–405

 

Sir Alfred Denning, Freedom Under the Law (1949) 71

 

E McGaughey, 'Behavioural Economics and Labour Law' (2014) LSE Legal Studies Working Paper No. 20/2014

 

AC Pigou, The Economics of Welfare (4th ed 1932) 

 

Pierre Schlag, Coase Minus the Coase Theorem – Some Problems with Chicago Transaction Cost Analysis, (2013) 99 Iowa Law Review 175

 

AWB Simpson, '"Coase v. Pigou" Reexamined' (1996) 25(1) The Journal of Legal Studies 53

  

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Uma nova miopia, a tecnológica

 


Resumo


Uma analogia entre a clássica miopia em marketing e uma miopia quanto ao cenário da nova revolução industrial, o conceito de indústria "4.0", alguns exemplos e os problemas decorrentes de não adequação a novos paradigmas.



A agora já clássica miopia em marketing aponta que empresas não percebem as mudanças no ambiente de seus negócios, não percebendo as mudanças de produtos, a mudança de um perfil de preços, a mudança dos desejos de sua praça e, como se vê intensamente hoje, a não percepção da mudança nos canais por onde deve fazer sua promoção. Em mais fatores, poderíamos ampliar estas não percepções da mudança do ambiente, com mais e mais graus nessa miopia.


Tratamos de maneira análoga a miopia em marketing ambiental, onde as empresas não percebem o que chamamos de uma necessidade “V.E.R.B.O.” em seus produtos ― verdes, ecológicos, recicláveis, biológicos e orgânicos ― e mais amplamente, no próprio ambiente de sua existência, com mercado consciente, em suas relações com o estado representando uma população desse mesmo mercado, em sua concorrência com outras empresas de melhor imagem em questões ambientais.


Mas agora a nosso ver surge uma nova variedade de miopia, em que as empresas, apesar de produtos similares e sem modificações fundamentais no futuro mesmo mais distante, sem significativa variação de preço, sem mudança sequer do comportamento de consumo de sua praça e nenhuma mudança nos veículos pelos quais se dá a promoção, enfrentará mudanças de paradigmas de uso de tecnologia nos modos de produção, de atendimento à demanda, de fluidez no atendimento das variedades desejadas pelo mercado.


Entendemos que, por exemplo, uma chapa de vidro continuará sendo produzida pelo processo 'floating', ou ainda a embalagem de detergente continuará a ser produzida por sopro de uma massa de polímero, ou ainda seu conteúdo será produzido por formulação de compostos químicos em bateladas. Estes processos numa indústria de patamar "3.0" não mudarão significativamente em termos de automatização. Poderíamos citar dezenas de produtos e mercados com as mesmas características de uma situação definitiva de uma automatização com máxima eficiência em produtividade e minimização dos custos. Mas as operações periféricas ao núcleo de produção destes produtos podem entrar em rápida convergência para um patamar tecnológico de indústria "4.0".


Expliquemos. Poucos anos atrás, assisti imagens de um grande fabricante de refrigerantes que, destaque-se nos EUA, ainda mantinha o abastecimento da linha de produção quanto a "tampa" das latas feita por um trabalhador, o humano abastecendo os componentes de uma linha automatizada, numa atividade robótica, triste ironia. Alertamos que um raciocínio de redução de custos com manutenção de produtividade pela "permanente oferta da mão de obra" já não se sustenta contra extremos de automatização, e menos se sustentará contra os paradigmas de uma indústria "4.0".


As indústrias tenderão agora, com brutais ganhos de produtividade, a terem de substituir mais e mais estes trabalhadores e técnicas acessórias à automatização por robôs, pelo uso de ferramentas de inteligência artificial na manutenção, por modularidade que permita rápida mudança de variáveis na produção, como por exemplo operação robótica que altere uma matriz ou elastômero na linha de produção automatizada ao extremo de aparelhos de barbear, atendendo à demandas de promoções de grandes eventos ou requisitos de certos grandes distribuidores.


Retornando a um de nossos exemplos, as chapas de vidro continuarão a ser laminadas e cortadas numa linha de produção automatizada, mas a colocação em 'pallets' ou caixas será mais e mais robotizada, o armazenamento nos estoques de trabalho será robotizado, a colocação das cargas nos caminhões será robotizada e em breve até às entregas serão por caminhões robotizados.


Noutro exemplo, a manutenção dos moldes numa linha de produção de embalagens plásticas terá os funcionários substituídos por mecanismos robotizados, com capacidade de análise do problema e aplicação de soluções, escolha de ferramentas adequadas e dispensa de questões de segurança ou ambiente quanto à temperatura ou agentes químicos.


Num exemplo complementar, podemos acrescentar que a fabricação de sabão em pó passará por uma transformação em que as matérias-primas de maior escala chegarão à unidade de produção e serão direcionadas ao armazenamento por esteiras automatizadas, monitoradas por unidades de manutenção robotizadas e qualquer manipulação das embalagens de recebimento, como sacos de produtos químicos, será realizada por braços robotizados e colocação em armazém por empilhadeiras sem condutores. Idem para embalagens. Os demais componentes da formulação igualmente terão sua movimentação, controle de estoque, manipulação e formulações intermediárias, como corantes, aditivos e enzimas, realizados sem o toque de mãos humanas, além de sequer amostragens e controles intermediários de qualidade serem conduzidos por trabalhadores. 


A formulação final, que obtém o produto tal qual é colocado embalado no mercado para o consumo final, é feita no misturador usual, tal como o atual, e nisso a automação se mantém tal qual os métodos atuais se produção, de onde por nossa argumentação eliminamos o conceito de "impressão" (relacionado às mais diversas configurações de impressoras 3D), pois a natureza do produto não o permite, mas observemos que todo o processo perdeu a ação braçal, mesmo em atividades menores, como, nesse exemplo, poderia ser desde o facilmente automatizável simples fechamento de caixas de papelão que formam conjuntos da embalagem individual até a complexa manipulação de aditivos fundamentais para diferenciais de qualidade e eficiência do produto que tradicionalmente requerem a ação de funcionários relativamente qualificados.


Resumindo, não teríamos uma robotização no núcleo do processo produtivo, a conformação do produto em si, mas nos processos periféricos a toda e qualquer forma de produção. Em termos de contabilidade de custos, não necessariamente se atacam os custos de produção, mais diretos, ainda que possam ser afetados, como certos índices de frete e intermediários na produção, mas especialmente em custos que possam ser definidos como indiretos e nas ditas despesas. As nuances podem ser múltiplas e de excelente resultado positivo.


As empresas que não entenderem estas mudanças, não as perceberem por miopia quanto ao cenário tecnológico como um todo que as está cercando, em especial dos concorrentes, enfrentarão em pouco tempo o mais complexos dos desequilíbrios a terem de ser cobertos - em suma por capital, com correlata perda de lucratividade - o equilíbrio econômico, o que permite sustentabilidade no mais longo prazo, de enfrentar o cenário mais amplo não apenas no espaço (o mercado) mas no tempo (sua evolução histórica). Nesse processo de seleção, corrigir essa miopia tecnológica será fundamental para a sobrevivência das empresas.



Recomendação de leitura


Um panorama geral do que seja a Indústria 4.0:


ABC71 - Indústria 4.0 - mkt.abc71.com.br 


Nos nossos arquivos: drive.google.com 


Murr Elektronik - Aplicações da Industria 4.0 - materiais.murrelektronik.com.br 


Nos nossos arquivos: drive.google.com  


A Miopia em Marketing Ambiental


Introdução ao conceito clássico de Miopia em Marketing


Parte I - A transposição da Miopia em Marketing “clássica” para A Miopia em Marketing Ambiental


Parte II - Ameaça de obsolescência no trato do ambiental


Ciclo auto-ilusório da confiança em técnicas e medidas adotadas do trato do ambiental e de questões relacionadas


Parte III - Os perigos permanentes dos combustíveis fósseis 


Automação é risco para países que têm mão de obra barata como maior ativo, diz Harari - valor.globo.com


Mão de obra barata. Ainda mais - www.istoedinheiro.com.br 


Destacamos:

“A automatização é uma maneira de driblar o aumento dos custos trabalhistas na China, onde a companhia mantém 1 milhão de funcionários. De quebra, a robotização do chão de fábrica pode aumentar a eficiência e a competitividade no mercado internacional.” 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Teorema de Coase - 4

 

Uma série dedicada ao teorema de Coase, que relaciona as externalidades à eficiência econômica da alocação de recursos e os custos de transações, e tem implicações do Direito à área ambiental.


Traduzido de: en.wikipedia.org - Coase theorem 



Exemplos


Danos do escoamento de água


Dois proprietários possuem terras na encosta de uma montanha. O terreno do Proprietário A está a montante do Proprietário B e há escoamento significativo e prejudicial do terreno do Proprietário A para o terreno do Proprietário B. Quatro cenários são considerados:


  1. Se houver uma causa de ação (ou seja, B poderia processar A por danos e vencer) e o dano à propriedade for igual a $ 100, enquanto o custo de construção de uma parede para interromper o escoamento for igual a $ 50, a parede provavelmente existirá. O proprietário A gastará $ 50 e construirá o muro para evitar um processo judicial em que B possa reivindicar $ 100 por danos.

  2. Se uma causa de ação existir e o dano for igual a $ 50 enquanto o custo de uma parede for de $ 100, a parede não existirá. O Proprietário B pode processar, ganhar o caso e o tribunal ordenará que o Proprietário A pague B $ 50. Isso é mais barato do que construir a parede. Os tribunais raramente ordenam que as pessoas façam ou não ações: eles preferem recompensas monetárias.

  3. Se a causa da ação não existir e o dano for igual a $ 100 enquanto o custo da parede for igual a $ 50, a parede existirá. Mesmo que B não possa ganhar o processo, ele pagará A $ 50 para construir o muro, porque o muro é menos custoso do que os danos do escoamento.

  4. Se a causa da ação não existir e o dano for igual a $ 50 enquanto a parede custará $ 100, a parede não existirá. B não pode ganhar o processo e as realidades econômicas de tentar construir o muro são proibitivas.


O teorema de Coase considera todos esses quatro resultados lógicos porque os incentivos econômicos serão mais fortes do que os incentivos legais. A análise jurídica pura ou tradicional espera que a parede exista em ambos os cenários em que B tem uma causa de ação e que a parede nunca existirá se B não tiver uma causa de ação.


  1. um Tribunal de Justiça ordena que o proprietário A limite suas operações.

  2. um Tribunal ordena o proprietário A para compensar o proprietário B.

  3. um Tribunal de Justiça paga ao Proprietário A os ganhos que ele obtém ao causar o escoamento.

  4. um Tribunal de Justiça compensa o Proprietário B pelas perdas que ele sofre ao arcar com o escoamento.

  5. o Proprietário A paga ao Proprietário B as perdas que ele fizer ao arcar com o escoamento.

  6. o Proprietário B paga ao Proprietário A os ganhos que ele obtém ao causar o escoamento.


Plantação de pereiras


A família Jones planta pereiras em sua propriedade que é adjacente à família Smith. A família Smith obtém um benefício externo das pereiras da família Jones porque elas pegam todas as peras que caem no chão em seu lado da propriedade. Esta é uma externalidade porque a família Smith não paga à família Jones pela utilidade recebida da coleta das peras caídas e, portanto, não participa da transação de mercado da produção de peras. Isso resulta na produção insuficiente de peras, o que significa que poucas pereiras são plantadas.


Vamos supor o seguinte:  




Soluções possíveis para internalizar a externalidade:


Aplicando o Teorema de Coase, surgem duas soluções possíveis para internalizar essa externalidade. Essas soluções podem ocorrer porque os benefícios externos positivos estão claramente identificados e assumimos que 1) os custos de transação são baixos; 2) os direitos de propriedade estão claramente definidos.


Depois de perceber que a família Smith obtém utilidade das pereiras da família Jones, a família Jones pensa que é injusto que os Smiths obtenham utilidade ao colher as peras que caem de suas pereiras. A primeira opção para eliminar a externalidade poderia ser colocar uma cerca de rede que evitará que as peras caiam no solo da linha lateral da propriedade de Smith, o que diminuirá automaticamente o benefício marginal da família Smith para 0.


A segunda opção para os Jones poderia ser impor um custo à família Smith se eles quiserem continuar a obter a utilidade de suas pereiras. Digamos, se a família Jones tem um MC de $ 25 para cada pereira produzida, isso lhes permite plantar 3 pereiras por ano (MB de Jones = MC). No entanto, se o custo for imposto aos Smiths, a quantidade ideal de pereiras produzidas por ano aumentará para 4 (MB de Jones + MB de Smiths = MC). Ao internalizar a externalidade, tanto a família Smith quanto a família Jones aumentam sua utilidade geral, aumentando a produção de 3 pereiras por ano para 4. $ 5 é o preço máximo que os Smiths estão dispostos a pagar por uma quarta pereira adicional, que implica que seu benefício marginal para plantar uma quinta pereira é 0.


Análise da produção de pereiras da família Jones:



Análise da produção de pereiras da família Jones com externalidade:



Diversos casos tais como esse são apresentados na literatura procurando mostrar o peso das externalidades nas negociações. [Allen & Lueck] [Hubbard et al] [Mahoney] [Moșteanu & Iacob] [Nechyba]   



Exemplo do Sistema de Abastecimento de Água da Dinamarca


Embora o Teorema de Coase permaneça amplamente teórico, existem alguns exemplos reais de barganha Coaseana. Um exemplo Coaseano foram as negociações que ocorreram entre a rede de abastecimento de água e os agricultores na Dinamarca. O sistema de abastecimento de água dinamarquês estava tentando estabelecer “acordos voluntários de cultivo com agricultores dinamarqueses”. [7]  Algumas conclusões principais dessa aplicação do Teorema de Coase foram que os agricultores tentaram receber uma compensação excedente explorando sua vantagem de informação, o que por sua vez pode ter resultado no encerramento das negociações por parte do abastecimento de água. Além disso, como a informação assimétrica é incluída nos custos de transação, ao explorar sua vantagem de informação, os agricultores prolongaram as negociações. Demonstrando assim que o teorema de Coase é muito sensível à suposição de baixos custos de transação.



Referências


Allen, Douglas W.; Lueck, Dean. The Nature of the Farm: Contracts, Risk, and Organization in Agriculture. MIT Press, 2004. - pg 241 - books.google.com.br 


Hubbard, R. Glenn; Garnett, Anne M.; Lewis, Philip; O'Brien, Anthony Patrick. Microeconomics. Pearson Australia, 2014. - pg 456 - books.google.com.br 


Mahoney, Joseph T. Economic Foundations of Strategy. SAGE, 2005. - pg 71 - books.google.com.br 


Moșteanu, Tatiana; Iacob, Mihaela. Principles for Private and Public Internalisation of Externalities. A Synoptic View. - store.ectap.ro 


Nechyba, Thomas. Microeconomics: An Intuitive Approach. Cengage Learning, 2015. - pg 485 - books.google.com.br 


7.Abildtrup, Jens; Frank Jensen; Alex Dubgaard (January 2012). "Does the Coase theorem hold in real markets? An application to the negotiations between waterworks and farmers in Denmark". Journal of Environmental Management. 93 (1): 169–176. Retrieved 10 October 2020.  


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Sebastian Buckup - Como corrigir o problema Godzilla da modernidade

 


Original:


Sebastian Buckup - How to fix modernity’s Godzilla problem - www.weforum.org 


Nos nossos arquivos: docs.google.com  


Sebastian Buckup - www.weforum.org 

Alguma vez você já se perguntou por que as árvores crescem a algumas centenas de metros, mas não a uma milha? Você percebeu que a maioria das empresas pára de crescer com meio trilhão de ativos? Você já se perguntou por que a cidade em que vive é muito mais antiga que o estado que emitiu seu passaporte?


Crescimento e estagnação são tão difusos [NdT: interpenetrantes], tão profundamente enraizados na experiência da vida que dificilmente notamos ― até que algo se rompe. Trump e Brexit tornaram-se sinônimos do imprevisto colapso repentino do status quo, a quebra de algo grande. Mas, para entender o que realmente está acontecendo e o que fazer a respeito, precisamos analisar o feed do Twitter de Trump e as manchetes do caos de Theresa May no Brexit. Uma conversa significativa sobre um mundo em fraturas deve começar com um senso mais profundo de por que as coisas crescem e por que as coisas quebram.


Nós descobrimos o básico no mundo biológico. Todos os seres vivos queimam energia. Ela flui em três tarefas essenciais: crescer, viver (dependendo da complexidade do organismo, isso abrange um espectro de funções básicas de sobrevivência para compor uma sinfonia) e reparar o "desgaste" que ocorre ao longo do caminho. Com o tempo, mais coisas quebram, o que significa que a função de conserto consome mais e mais energia. No momento em que o organismo não consegue acompanhar, morre.


Mas nem todos os organismos são iguais. Como Geoffrey West aponta em seu recente opus magnum, Scale, a velocidade da decadência é principalmente uma função do tamanho. Grandes mamíferos vivem mais que pequenos mamíferos; um economista diria que eles se beneficiam de economias de escala. Biólogos calculam que, em média, todos os mamíferos morrem após 1,5 bilhão de batimentos cardíacos. O que faz a diferença é a freqüência cardíaca. Um elefante só precisa de 30 batimentos por minuto; um mouse precisa de 1.500.


Se a eficiência explica por que as coisas escalam, o que explica por que elas estragam e acabam fracassando? Primeiro, pode haver limites externos para o crescimento. Pegue a baleia azul, o maior animal do mundo. Deve nadar suficientemente rápido a longas distâncias para se abastecer com 1 milhão de calorias de plâncton por dia. A partir da biomecânica da baleia e da densidade do zooplâncton por quilômetro quadrado, pode-se inferir um limite natural ao crescimento. Chame isso de problema do plâncton.


No entanto, existe outra restrição. Na ficção, um lagarto pode se transformar em Godzilla e um macaco em King Kong. A razão pela qual essas criaturas não existem na realidade não são restrições de recursos; é estrutura. Godzilla entraria em colapso sob seu próprio peso: os músculos se romperiam, os ossos se quebrariam e o sistema capilar não conseguiria suprir suas células com oxigênio suficiente. A força cresce com tamanho, mas a uma taxa decrescente. Os elefantes são mais fortes que os humanos e os humanos são mais fortes que as formigas; mas em relação ao tamanho é o oposto. As formigas levantam cinco vezes o peso delas; os humanos levantam muito menos e nenhum elefante jamais levantou um elefante. Chame isso de problema Godzilla.


O domínio da humanidade como espécie resulta de sua capacidade de levar o poder de escala do biológico para o campo social. Desde a Revolução Cognitiva, aproximadamente 70.000 anos atrás, até a Revolução Agrícola, cerca de 10.000 anos atrás, até as Revoluções Industriais de nossa era moderna, cada onda de progresso foi marcada por inovações que nos ajudaram a empurrar essas duas fronteiras. Nossa pegada de energia como criaturas biológicas não mudou muito desde a Revolução Cognitiva; São 90 watts, o equivalente a uma lâmpada. Mas nossa pegada como criaturas sociais mudou drasticamente; em economias ricas, chega a 11.000 watts, o equivalente a uma dúzia de elefantes.


Por outro lado, muito do sofrimento humano e do fraturamento social é uma consequência da humanidade ultrapassar esses limites. Como historiadores de Yuval Harari a Walter Scheidel e, mais recentemente, James C. Scott apontam, a história humana nunca foi uma história direta de progresso. Thomas Hobbes notoriamente descreveu a vida pré-moderna como "desagradável, brutal e curta", mas o passado e o presente são ricos em exemplos da vida moderna, causando sofrimento em grande escala. "Não há documento de civilização que não seja ao mesmo tempo um documento de barbárie", disse Walter Benjamin, o grande filósofo e crítico cultural judeu alemão que cometeu suicídio fugindo da Alemanha nazista. Toda coisa linda e engenhosa que a humanidade já fez tem uma sombra, uma história de opressão. Escala nos dá superpoderes, mas também nos deixa frágeis.


Como resultado da revolução digital, entramos em uma nova era que está testando os limites de escala de maneiras sem precedentes. Fizemos progressos significativos na quantificação de até que ponto a humanidade está crescendo além de suas possibilidades (atualmente precisaríamos de “1,7 planetas” para atender às nossas demandas de recursos). Há menos certeza sobre nossa capacidade de voltar às fronteiras planetárias sem prejudicar o crescimento e o desenvolvimento. Mas há razão para otimismo. Na década de 1960, os pesquisadores alertaram que o crescimento criará uma explosão populacional e fome em massa. Pouco tempo depois, a "revolução verde" impulsionou a agricultura e derrubou a previsão. Isso pode ser o motivo pelo qual os atuais defensores da agenda climática expressam mais confiança na possibilidade de consertar o problema do plâncton ao alavancar o progresso tecnológico. Infelizmente, no entanto, isso não será suficiente, já que muitas das fraturas que vemos hoje têm pouco a ver com a escassez de recursos ― elas são causadas pelo problema de Godzilla.


A expressão física do problema de Godzilla se manifesta na geografia espacial das comunidades urbanas em expansão. O crescimento econômico ao longo do último meio século foi impulsionado por um pequeno número de grandes cidades. Nos Estados Unidos, só a Grande Nova York gerou 12% do crescimento da produção agregada do país entre 1964 e 2009. Mas, como argumentaram os economistas Chang-Tai Hsieh e Enrico Moretti, a má alocação espacial engordou dois terços dos ganhos. Usando dados de 220 áreas metropolitanas, eles descobriram que a escala linear de um modelo industrial suburbano obsoleto reduziu o crescimento agregado em mais da metade. Globalmente, as cidades respondem por 80% do PIB mundial e por 90% de suas patentes, mas um número surpreendente delas é frágil ― o que representa uma ameaça para os cidadãos que eles abrigam e nações que apoiam.


Grande parte dessa fragilidade está ligada à expressão social do problema de Godzilla: A crescente estratificação da sociedade civil ao longo de linhas de classe e identidade. Todas as sociedades modernas precisam lidar com a insegurança que surge da competição de mercado, de um lado, e o desmantelamento de formas tradicionais de pertencimento, de outro. Especialmente nas economias de livre mercado, associações e clubes tradicionalmente desempenharam um papel importante no preenchimento dessa lacuna. Eles ofereciam plataformas onde as pessoas não só podiam expressar queixas, mas também vivenciam alguma forma de socialização, identidade coletiva e senso de controle; as associações são também escolas de democracia e civilidade.


Nas últimas décadas, no entanto, a vida associativa diminuiu em importância. Robert Putnam detalhou para os EUA em seu livro seminal "Boliche sozinho": Participação em uma cidade pública ou reunião escolar: Abaixo de 35%; serviço como oficial de clube ou organização: queda de 42%; serviço em um comitê para uma organização local: queda de 39%, etc. Sua função de integração social foi reduzida também, à medida que as comunidades se tornaram mais segregadas. Cada vez mais famílias estão se mudando para bairros uniformemente afluentes ou uniformemente pobres. "Se somos ricos ou pobres, nossos filhos crescem cada vez mais com crianças como eles que têm pais como nós", concluiu o professor de Harvard em seu último livro.


A vida comunitária está diminuindo em importância por um conjunto complexo de razões. Em bairros afluentes, o mercado se aglomerava. Pessoas ricas pagam pelas coisas que os vizinhos e as famílias costumavam fazer. Nos bairros pobres, a confiança também é uma mercadoria rara: apenas uma em cada quatro pessoas confia muito em seus vizinhos, em comparação com três em cada quatro em áreas ricas. A digitalização onipresente da vida amplifica essas divisões, facilitando a construção de enclaves para pessoas de pensamento semelhante. Como resultado, o indivíduo moderno, confrontado com pressões e mudanças sociais, é frequentemente forçado a depender principalmente de seus próprios recursos. Mesmo aqueles que são remunerados e ancorados encontram sua sujeição à pressão econômica mais difícil de suportar em um clima onde as forças mediadoras e os amortecedores estão ausentes ou seriamente diminuídos. A individualização, em outras palavras, transformou-se de um elemento do processo civilizador em um potencial impulsionador da descivilização.


Dessas fraturas emergem as expressões políticas do problema de Godzilla: Primeiro, apodrecer a raiva e o ressentimento, culminando em expressões anárquicas de individualidade e em buscas hostis por superioridade. Críticos de Rousseau a Camus identificaram o ressentimento como o mal definidor do mundo moderno, onde a insatisfação com o grau de auto-realização disponível colide com elaboradas promessas de possibilidade. Os formuladores de políticas em todo o mundo enfrentam hoje populações crescentes de cidadãos desenraizados, anseio por pertencimento e comunidade, por um lado, e autonomia individual e riqueza por outro.


E, em cada vez mais países, os líderes políticos aprenderam a capitalizar as rachaduras causadas por essas tensões e contradições. Muitos deles estão lançando narrativas individuais de vitimização em narrativas de supremacia coletiva moral, cultural e nacional; a maioria deles procura reavaliar o nacionalismo de estilo antigo para o neoliberalismo, enquanto apenas alguns deles evitam reprimir as minorias e os dissidentes, sufocando a liberdade de expressão ou usando a lei para reprimir seus inimigos.


Como Pankaj Mishra concluiu em seu último inventário da sociedade moderna, “com a vitória de Donald Trump tornou-se impossível negar ou obscurecer o grande abismo… entre uma elite que aproveita os melhores frutos da modernidade, desdenhando antigas verdades e massas desenraizadas, ao encontrar-se enganado pelos mesmos frutos, recua para a supremacia cultural, o populismo e a brutalidade rancorosa ”.


O perturbador sucesso dos novos populistas autoritários é difícil de compreender sem considerar uma segunda expressão política do problema de Godzilla: o liberalismo de identidade. Na fantasia neoliberal do individualismo, somos todos empreendedores do self, resgatando-nos em uma economia dinâmica, alerta e pronto para nos adaptarmos ao rápido progresso tecnológico. Em nossos relacionamentos uns com os outros, evoluímos de cidadãos em comunidades mais ou menos organizadas com instituições de solidariedade coletiva para “contribuintes” e lobistas do self em “mercados políticos”. Ao valorizar grandemente a liberdade individual em detrimento da responsabilidade mútua, liberal líderes conscientes não apenas desencadearam um novo crescimento, mas também transformaram o abismo entre desigualdade material e igualdade política em uma força viciosa: se quisermos aceitar uma decisão que vai contra nós, devemos nos ver como parte de um grupo cuja decisão é essa. Quando perdemos esse consenso, todas as decisões coletivas das quais não nos beneficiamos infringem nossa liberdade e precisam ser combatidas.


Como resultado, surgem fissuras e os grupos se desintegram em unidades cada vez menores e mais homogêneas, com maior probabilidade de suspeitar do processo político e, portanto, mais propensos a usar o poder que adquirem para dominar os outros. Ao permitir a corrosão da identidade política em políticas de identidade, as elites liberais perderam não apenas sua compaixão, mas também sua capacidade de promover maiorias sólidas. Como Mark Lilla coloca: “O liberalismo deixou de ser um projeto político e se transformou em um evangélico; a segunda é sobre falar a verdade ao poder; o primeiro sobre a tomada do poder para defender a verdade. ”


As desigualdades materiais estão jogando nas complexas dimensões física, social e política do problema de Godzilla, mas estão se extraviando sem levar em conta os medos, desejos e ressentimentos que emergem por diferentes razões. As recentes eleições na Europa são reveladoras: a Polônia desfrutou de uma década de notável crescimento econômico, juntamente com um declínio da desigualdade social, mas votou em um partido populista de extrema-direita. O mesmo vale para a Hungria. A Áustria também experimentou um forte impulso nessa direção.


Vários estudos sobre esses resultados eleitorais mostraram que, em contraste com as crenças frequentemente mantidas, a renda e as circunstâncias materiais não são especialmente importantes para a compreensão dos resultados. Em muitas nações ocidentais de hoje, a torta eleitoral é dividida entre aqueles que valorizam a liberdade, a diversidade e a diferença e aqueles que estão em busca de ordem e estabilidade.


O problema de Godzilla representa uma grande ameaça para sociedades avançadas e em rápido desenvolvimento, a par com os inegáveis ​​desafios de recursos devido a centenas de milhões de pessoas que se juntam às fileiras da classe média. Enquanto a agenda política que flui do problema do plâncton está entrelaçada e inseparável de um paradigma de crescimento expansionista, uma agenda que flui do problema de Godzilla traz à tona outra função essencial de todo organismo, não importa se físico ou social: Manutenção e reparo.


A maior falha das modernas sociedades de mercado é que elas canalizam a maior parte de sua energia para o crescimento, esperando que a manutenção cuide de si mesma. Isso é causado tanto pela ganância quanto pela convicção de que a escala nos torna mais fortes e seguros. De fato, as células de um elefante desfrutam de vidas mais longas do que de um rato, mas, quando um elefante morre, muitas células também ficam de barriga para cima. Para o autor e investidor Nassim Taleb, a ilusão “grande é seguro” é como dizer que “as bombas nucleares são mais seguras porque explodem com menos frequência”. O colapso é raramente linear, e é por isso que percebemos isso tarde demais. Perguntado sobre como ele faliu, um personagem de The Sun Also Rises, de Ernest Hemingway, respondeu: “Duas maneiras. Gradualmente e de repente.”


Em um ensaio influente publicado no ano passado, os estudiosos Andrew Russel e Lee Vinsel conclamaram pesquisadores e formuladores de políticas a prestarem mais atenção e reconhecimento ao trabalho de “manutenção” e, desde então, lançaram uma conferência para trazer o trabalho dos “mantenedores” em foco. O ensaio deles exalta o fascínio duradouro por coisas chamativas, brilhantes e triviais na sociedade moderna e invoca falhas de infraestrutura, acidentes de trem, falhas de pontes, inundações urbanas e assim por diante como manifestações e alegorias do sistema político americano quebrado e rede de segurança social desgastada. “Concentrar-se na infraestrutura ou em coisas antigas, existentes, em vez de novas, nos lembra a centralidade do trabalho que vai manter o mundo inteiro funcionando”, concluem os autores.


Um foco renovado no constante processo de entropia e decadência e o trabalho que é necessário para detê-lo é uma abertura promissora não apenas para novos programas de pesquisa, mas também para aqueles que rejeitam a escolha de Hobson entre o neoliberalismo progressista e o novo populismo autoritário. Por mais diferentes que sejam, ambos os movimentos políticos são sobre a desconstrução, sobre derrubar estruturas de hegemonia. E ambos, a seu modo, fecham os olhos para o lado construtivo de nossa herança moderna: ciência, razão, humanismo e princípios universais de liberdade, igualdade e justiça.


A boa notícia: a mudança está em andamento. Embora menos visíveis que os nacionalistas de direita, os novos movimentos políticos invocam o Estado-nação como base para uma comunidade de solidariedade, ao mesmo tempo em que reconhecem que os problemas globais também exigem soluções globais. Quer esses movimentos ― desde o En Marche de Macron até o Podemos na Espanha ou o Movimento Cinco Estrelas da Itália ― resistirão ao teste do tempo, eles demonstram como construir um senso de identidade política que é inclusivo ao invés de adotar categorias de moral, cultural ou supremacia étnica.


A reação ao que Nancy Fraser chamou de “a aliança profana da emancipação com a financeirização” também abriu espaços para um repensar radical de como lidar com a insegurança econômica e a desigualdade. As propostas arrojadas vão desde garantias de emprego a uma renda básica universal até o fechamento do gabinete, a privatização e a comercialização dos bens comuns. Da mesma forma, com iniciativas arrojadas, desde impulsionar a cooperação com países africanos em áreas como a educação ou a economia digital, até intensificar a integração de refugiados, os líderes moderados na Europa recuperaram uma posição num discurso de migração há muito dominado por mudanças radicais. vozes na extrema direita para “fechar os portões”.


Os populistas geralmente confundem o trabalho de manutenção com o retorno de algo ao seu estado original. Mas nos sistemas dinâmicos é muito mais do que consertar o “desgaste”; Trata-se de redesenhar e reconstruir a estrutura de apoio da sociedade. É claro que isso também vale para o mundo físico. Richard Florida, cujo livro sobre a Classe Criativa argumentou que as cidades devem atrair trabalhadores do conhecimento para prosperar, o transformou em um sumo sacerdote do capitalismo do Vale do Silício, admitindo que a exploração de economias digitais altamente agrupadas na velha plataforma do modelo industrial suburbano veio com grandes custos. A Flórida insta os formuladores de políticas a criar novas infraestruturas baseadas em trânsito e sistemas habitacionais mais flexíveis. A Nova Área de Xiongan da China e a Neom da Arábia Saudita vão um passo além. São tentativas ambiciosas de construir cidades inteiramente novas a partir do zero com o objetivo de “crescimento coordenado, inclusivo e sustentável”.


A tecnologia também desempenha um papel importante. Em seu livro de 2013, The End of Power, Moises Naim observou que, embora a tecnologia da informação tenha transformado a forma como as economias geram crescimento, ela não chegou a domínios que lidam com manutenção - política, governo e participação política. Alguns anos depois, a “tecnologia cívica” está começando a decolar. Eles chegam de programas de identidade digital como o Aadhaar, da Índia, que visam ajudar milhões de pessoas privadas de serviços básicos, porque não podem provar quem são, a grandes plataformas de verificação e classificação de crédito, como Lenddo, que visam capacitar economicamente o meio emergente. consumidores de classe. A tecnologia não pode resolver o problema do Godzilla, mas pode ser uma parte fundamental da solução. Sensores, big data, aprendizado de máquina, inteligência artificial e tecnologias de contabilidade digital estão prestes a se tornarem blocos de construção de um novo DNA social e econômico.


Russel e Vinsel relatam em seu ensaio como, com o passar das décadas douradas do pós-Segunda Guerra Mundial, ficou mais difícil associar a inovação ao progresso moral e social. Ao reequilibrar o foco da inovação do crescimento para a manutenção e reparação, uma nova geração de criadores de mudanças na política, na sociedade e nos negócios está mantendo a chave para reverter essa tendência. Afinal, as baleias-azuis não são apenas micróbios em escala; Os carros da Tesla não são apenas grandes carruagens de cavalos; e as cidades não são apenas aldeias medievais ampliadas. Eles são o resultado de soluções engenhosas para o problema de Godzilla.


Ainda o exemplo mais surpreendente de levar a manutenção para o próximo nível é a gente. Para aqueles que estremeceram ao ler que todos os mamíferos morrem em média depois de 1,5 bilhão de batimentos cardíacos, há boas notícias: graças à ciência e à razão, vivemos hoje mais do que nunca; para ser preciso, ganhamos um bilhão de batimentos cardíacos sobre todos os nossos mamíferos. Vamos usá-los com sabedoria.




A partir de uma divulgação em:


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