e o Risco do Crescimento Insustentável do Mercado Financeiro
Gemini da Google e Francisco Quiumento
O debate sobre a saúde da economia global exige que se examine o papel paradoxal da tecnologia digital e o risco representado pela hipertrofia do mercado financeiro. A discussão se articula em torno de uma contradição fundamental: a crescente produtividade no setor real versus a explosão de valor no setor financeiro, que se descola cada vez mais da base material.
1. A Contradição Digital: Onde a Produtividade se Torna um Limite
O economista Yanis Varoufakis, ao tratar do que chama de "Tecnofeudalismo", argumenta que a capacidade da computação e da internet teve um efeito muito mais intenso em hipertrofiar o mercado financeiro do que em impulsionar ganhos de produtividade na indústria.
A evidência reside em um paradoxo da eficiência:
Produtividade Máxima no Setor Real: A produção de bens físicos ("reais") atingiu um patamar de altíssima eficiência, onde, graças ao aperfeiçoamento de maquinário, poucas fábricas conseguem atender a demanda global para produtos essenciais (como exemplificado pelo caso das lâmpadas incandescentes*). A tecnologia na indústria simplificou a produção, mas a lei de mercado impõe que essa crescente produtividade tem permanentemente reduzido os preços e estreitado as lucratividades desses produtos.
Aceleração no Setor Financeiro: Em contraste, a velocidade de transação de títulos, a geração de derivativos (CDOs, CDSs) e a criação de serviços complexos no mercado financeiro foram expandidas exponencialmente pela tecnologia digital.
2. O Sintoma Financeiro: O Parasita "Bombado"
A hipertrofia do mercado financeiro – cujo valor supera o da economia "clássica" – é, antes de tudo, o sintoma de uma crise estrutural na esfera da produção.
Conforme apontado por outro ângulo de análise, a causa reside na crise de superprodução: o capital, com sua produtividade gigantesca e saturado de mercadorias que não encontram novos mercados lucrativos (com lixo até no espaço), é forçado a migrar para onde pode obter valorização mais rápida.
O capital especulativo, que Vladimir Lênin descrevia como "parasitário" em relação à produção, se transformou em um "parasita hipertrofiado". O papel da computação é ser a ferramenta que possibilitou essa mutação, permitindo a criação e o comércio de instrumentos financeiros de complexidade e alavancagem sem precedentes.
O resultado é um risco sistêmico que não diminuiu desde a Crise de 2008 (conforme retratado no filme A Grande Aposta). A tecnologia digital não apenas lubrificou a circulação de capital, mas a transformou em um fim em si mesma, desvinculando o valor financeiro do valor produtivo de forma perigosa.
3. A Perspectiva da Longa Depressão
Para economistas empíricos que aplicam a análise marxista, como Michael Roberts (autor de The Long Depression: Marxism and the Global Crisis of Capitalism), essa hipertrofia financeira é uma das expressões da mais longa depressão da história do capitalismo.
Desde a Crise Financeira Global de 2008, as principais economias têm apresentado crescimento anêmico, baixa taxa de investimento produtivo e estagnação na taxa de lucro. A "Lei da Tendência Decrescente da Taxa de Lucro" – onde a lucratividade do capital produtivo é permanentemente espremida – empurra o excesso de capital para a esfera financeira em busca de retornos especulativos.
Em suma, a instabilidade global reside no fato de que a riqueza está sendo acumulada cada vez mais na forma de capital fictício (alavancagem e derivativos) e rendas da nuvem (controle de plataformas e dados), em vez de ser investida no capital produtivo “material”, palpável. Essa inversão coloca a economia real refém de um sistema financeiro hipertrofiado e especulativo.
Notas
*As lâmpadas incandescentes, no auge do seu uso, eram produzidas na sua faixa mais típica de potência, entre os 25 e 100 Watts, em apenas 6 (seis!) fábricas no mundo inteiro. A capacidade de produção do maquinário era tão alta que bastavam estas estruturas industriais para abastecer o mercado. Isso tinha sido fruto de evolução da produção desde os tempos de Edison, e não propriamente de algum incremento oriundo da informática.
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