terça-feira, 28 de outubro de 2025

Economia, Computação

e o Risco do Crescimento Insustentável do Mercado Financeiro

Gemini da Google e Francisco Quiumento

O debate sobre a saúde da economia global exige que se examine o papel paradoxal da tecnologia digital e o risco representado pela hipertrofia do mercado financeiro. A discussão se articula em torno de uma contradição fundamental: a crescente produtividade no setor real versus a explosão de valor no setor financeiro, que se descola cada vez mais da base material.

1. A Contradição Digital: Onde a Produtividade se Torna um Limite

O economista Yanis Varoufakis, ao tratar do que chama de "Tecnofeudalismo", argumenta que a capacidade da computação e da internet teve um efeito muito mais intenso em hipertrofiar o mercado financeiro do que em impulsionar ganhos de produtividade na indústria.

A evidência reside em um paradoxo da eficiência:

  • Produtividade Máxima no Setor Real: A produção de bens físicos ("reais") atingiu um patamar de altíssima eficiência, onde, graças ao aperfeiçoamento de maquinário, poucas fábricas conseguem atender a demanda global para produtos essenciais (como exemplificado pelo caso das lâmpadas incandescentes*). A tecnologia na indústria simplificou a produção, mas a lei de mercado impõe que essa crescente produtividade tem permanentemente reduzido os preços e estreitado as lucratividades desses produtos.

  • Aceleração no Setor Financeiro: Em contraste, a velocidade de transação de títulos, a geração de derivativos (CDOs, CDSs) e a criação de serviços complexos no mercado financeiro foram expandidas exponencialmente pela tecnologia digital.

2. O Sintoma Financeiro: O Parasita "Bombado"

A hipertrofia do mercado financeiro – cujo valor supera o da economia "clássica" – é, antes de tudo, o sintoma de uma crise estrutural na esfera da produção.

Conforme apontado por outro ângulo de análise, a causa reside na crise de superprodução: o capital, com sua produtividade gigantesca e saturado de mercadorias que não encontram novos mercados lucrativos (com lixo até no espaço), é forçado a migrar para onde pode obter valorização mais rápida.

O capital especulativo, que Vladimir Lênin descrevia como "parasitário" em relação à produção, se transformou em um "parasita hipertrofiado". O papel da computação é ser a ferramenta que possibilitou essa mutação, permitindo a criação e o comércio de instrumentos financeiros de complexidade e alavancagem sem precedentes.

O resultado é um risco sistêmico que não diminuiu desde a Crise de 2008 (conforme retratado no filme A Grande Aposta). A tecnologia digital não apenas lubrificou a circulação de capital, mas a transformou em um fim em si mesma, desvinculando o valor financeiro do valor produtivo de forma perigosa.

3. A Perspectiva da Longa Depressão

Para economistas empíricos que aplicam a análise marxista, como Michael Roberts (autor de The Long Depression: Marxism and the Global Crisis of Capitalism), essa hipertrofia financeira é uma das expressões da mais longa depressão da história do capitalismo.

Desde a Crise Financeira Global de 2008, as principais economias têm apresentado crescimento anêmico, baixa taxa de investimento produtivo e estagnação na taxa de lucro. A "Lei da Tendência Decrescente da Taxa de Lucro" – onde a lucratividade do capital produtivo é permanentemente espremida – empurra o excesso de capital para a esfera financeira em busca de retornos especulativos.

Em suma, a instabilidade global reside no fato de que a riqueza está sendo acumulada cada vez mais na forma de capital fictício (alavancagem e derivativos) e rendas da nuvem (controle de plataformas e dados), em vez de ser investida no capital produtivo “material”, palpável. Essa inversão coloca a economia real refém de um sistema financeiro hipertrofiado e especulativo.

Notas


*As lâmpadas incandescentes, no auge do seu uso, eram produzidas na sua faixa mais típica de potência, entre os 25 e 100 Watts, em apenas 6 (seis!) fábricas no mundo inteiro. A capacidade de produção do maquinário era tão alta que bastavam estas estruturas industriais para abastecer o mercado. Isso tinha sido fruto de evolução da produção desde os tempos de Edison, e não propriamente de algum incremento oriundo da informática. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

A escolha entre os mais necessitados e os aptos

 


Gemini da Google e Francisco Quiumento 

O Dilema Social: Valorizar a Aptidão ou Apoiar a Fragilidade?

A forma como uma sociedade escolhe alocar seus recursos e atenção é um reflexo profundo de seus valores mais intrínsecos. O dilema entre a valorização de indivíduos mais aptos, frequentemente personificados em atletas e esportistas de alto rendimento, e o apoio a cidadãos mais frágeis, como as pessoas com deficiência, revela uma tensão fundamental entre distintas concepções de progresso, sucesso e justiça social.

A valorização de atletas e esportistas se alinha com ideais de excelência, superação de limites, disciplina e representação nacional. O sucesso esportivo é frequentemente associado a qualidades admiráveis, inspirando orgulho coletivo e servindo como uma "vitrine" para o país no cenário internacional. O investimento nesse setor pode gerar retornos em visibilidade, turismo, desenvolvimento de uma indústria esportiva e na promoção de um estilo de vida saudável. A lógica subjacente, muitas vezes, reside na meritocracia e no reconhecimento do talento e esforço individuais levados ao extremo.

Em contrapartida, o apoio às pessoas com deficiência emerge de princípios de inclusão, equidade, direitos humanos e solidariedade. Reconhece-se que esses indivíduos enfrentam barreiras significativas impostas por uma sociedade nem sempre projetada para suas necessidades. O suporte é essencial para garantir sua participação plena e digna em todos os aspectos da vida – educação, emprego, acessibilidade, saúde e lazer. A lógica aqui se baseia na responsabilidade coletiva de assegurar que todos os cidadãos, independentemente de suas limitações, tenham a oportunidade de desenvolver seu potencial e viver com autonomia e respeito.

O ponto de conflito surge inevitavelmente na alocação de recursos finitos. Investir substancialmente no esporte de alto rendimento pode implicar em menos recursos disponíveis para programas de apoio à inclusão de pessoas com deficiência, e vice-versa. Essa escolha, portanto, obriga a sociedade a priorizar diferentes visões sobre o que constitui valor e progresso social.

Perspectivas e Argumentos em Jogo

Diversos argumentos delineiam a complexidade desse dilema:

  • Argumento da "Vitrine" e do "Legado": Defende que o sucesso esportivo de alto nível eleva a imagem internacional do país e inspira a juventude. Investimentos em infraestrutura esportiva, em teoria, podem beneficiar a comunidade em geral a longo prazo, criando espaços para a prática esportiva.

  • Argumento da Justiça Social e Igualdade de Oportunidades: Postula que uma sociedade justa deve, primordialmente, zelar pelo bem-estar e pela inclusão de seus membros mais vulneráveis. O apoio às pessoas com deficiência não é uma questão de caridade, mas um direito fundamental que permite sua plena participação e contribuição social.

  • Argumento Econômico do Longo Prazo: Sugere que investir na inclusão de pessoas com deficiência pode, a longo prazo, trazer benefícios econômicos substanciais, ao integrar um contingente populacional significativo ao mercado de trabalho e reduzir a dependência de sistemas de assistência social.

  • Argumento Ético da Priorização da Necessidade: Uma forte perspectiva ética argumenta que as necessidades básicas e o direito à dignidade das pessoas com deficiência devem, por princípio, ter precedência sobre o desejo de alcançar glória esportiva ou entretenimento.

A Influência da Escassez e da Riqueza Social

A capacidade de uma sociedade em financiar tanto o alto rendimento esportivo quanto o apoio às pessoas com deficiência é intrinsecamente ligada à sua disponibilidade de recursos financeiros, refletida no orçamento público e na riqueza geral. O conceito de escassez é central aqui, pois os recursos são sempre limitados, demandando escolhas e priorizações.

  • Em Sociedades com Menor Riqueza: Nesses contextos, a alocação de recursos se torna um "jogo de soma zero" ainda mais pronunciado. Um orçamento público restrito força decisões difíceis. O patrocínio de atletas de alto rendimento pode ser percebido como um luxo, uma prioridade secundária em comparação com as necessidades básicas da população. De modo similar, o custeio de programas abrangentes para pessoas com deficiência pode ser visto como excessivamente oneroso diante de outras demandas urgentes em saúde, educação ou infraestrutura. Nesses cenários, ambos os grupos podem enfrentar dificuldades de financiamento, com a filantropia e o apoio de ONGs ganhando maior relevância.

  • Em Sociedades com Maior Riqueza: Em economias mais desenvolvidas, a capacidade de alocar recursos para diversas áreas é, teoricamente, maior. Contudo, a escassez persiste; as demandas por recursos públicos e privados sempre superam a oferta. As escolhas sobre a prioridade relativa entre atletas e pessoas com deficiência continuam a ser influenciadas por fatores como a cultura nacional, os valores sociais, a pressão política e a percepção do retorno sobre o investimento. Este último pode ser a imagem nacional e o engajamento público no esporte, ou a inclusão social e a redução da dependência no apoio a pessoas com deficiência.

O Orçamento Público como Espelho de Prioridades

O orçamento público de uma nação é um indicador direto de suas prioridades. A parcela destinada ao esporte e lazer (incluindo alto rendimento) e a destinada à assistência social e saúde (abrangendo o apoio a pessoas com deficiência) revela o peso que o governo e a sociedade atribuem a cada área.

  • Patrocínio dos Aptos (Atletas): O financiamento pode vir de secretarias de esportes, programas de incentivo fiscal a empresas e investimentos em infraestrutura. A justificativa econômica pode incluir o potencial retorno em turismo, marketing nacional e o impacto inspirador do sucesso esportivo.

  • Custeio dos Frágeis (Pessoas com Deficiência): O apoio a pessoas com deficiência geralmente envolve gastos em saúde (reabilitação), educação inclusiva, acessibilidade (urbana e transporte), programas de emprego assistido e benefícios sociais. Esses são vistos como investimentos em direitos humanos e inclusão social, com potenciais benefícios econômicos a longo prazo, dada a maior participação dessas pessoas na sociedade.

A tensão da escassez obriga os tomadores de decisão a fazer escolhas difíceis. A decisão de investir mais em uma área implica um custo de oportunidade – o valor do que se perde ao optar por uma alternativa. No caso em questão, um investimento pesado no esporte de alto rendimento pode significar a renúncia a programas que poderiam melhorar substancialmente a qualidade de vida e as oportunidades de pessoas com deficiência.

Possíveis Caminhos para um Equilíbrio e Considerações Adicionais

Não necessariamente a escolha entre valorizar atletas e apoiar pessoas com deficiência precisa ser mutuamente exclusiva. Muitas sociedades buscam estratégias que equilibrem ambos os objetivos:

  • Alocação Orçamentária Diferenciada: Destinar recursos específicos para cada área, com critérios claros de necessidade e impacto social.

  • Iniciativas de Inclusão no Esporte: Promover o paradesporto, garantindo que pessoas com deficiência também tenham oportunidades de praticar atividades físicas e alcançar o alto rendimento.

  • Parcerias Público-Privadas: Envolver o setor privado no financiamento de ambas as áreas, reconhecendo o valor social e de marketing de cada uma.

  • Conscientização e Mudança Cultural: Promover uma cultura que valorize tanto a excelência quanto a inclusão, reconhecendo as contribuições de todos os cidadãos, independentemente de suas habilidades físicas.

Outras considerações relevantes incluem:

  • Nível de Desenvolvimento da Sociedade: Economias mais desenvolvidas tendem a ter maior capacidade de financiar ambas as áreas de forma mais robusta.

  • Valores Culturais e Sociais: A importância atribuída ao esporte e à inclusão de pessoas com deficiência varia entre as culturas e influencia diretamente as decisões de alocação de recursos.

  • Pressão Política e Advocacy: Grupos de defesa de direitos e organizações esportivas exercem pressão política para garantir o financiamento de suas respectivas áreas.

Conclusão: Buscando um Compromisso Ético e Sustentável

O dilema entre valorizar atletas de alto rendimento e apoiar pessoas com deficiência espelha uma complexa negociação de valores sociais que toda sociedade enfrenta. A forma como essa tensão é gerida revela as prioridades de uma nação e sua concepção de justiça e bem-estar coletivo.

Encontrar um equilíbrio que reconheça o valor do esforço, da superação e da inspiração que o esporte de alto nível proporciona, ao mesmo tempo em que garante a inclusão plena, a dignidade e as oportunidades para todos os seus membros, é um desafio constante. Em um cenário de escassez de recursos, a alocação orçamentária se torna um ato de priorização ética e estratégica, exigindo uma análise profunda do custo de oportunidade e do impacto social de cada decisão. A busca por um modelo que promova a excelência sem negligenciar a solidariedade é o caminho para uma sociedade mais justa e inclusiva. Palavras chave

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quinta-feira, 12 de junho de 2025

A Balança entre Custo e Benefício nos Controles Internos

 Gestão e Comportamento Humano: Os Desafios dos Controles Internos e da Mudança Organizacional


 

Gemini da Google e Francisco Quiumento

Introdução

Gestão e Comportamento Humano em Tempos de Transformação

A complexidade da gestão organizacional no cenário atual desafia empresas a buscarem um equilíbrio delicado entre controle e adaptabilidade. No centro dessa dinâmica, dois pilares se destacam: a eficácia dos controles internos e a capacidade de superar as barreiras culturais que resistem à mudança. Mais do que meras ferramentas operacionais ou normas engessadas, tanto os controles quanto a cultura organizacional são reflexos diretos do comportamento humano e da filosofia de gestão. Eles definem a capacidade de uma empresa proteger seus ativos, garantir a conformidade e, ao mesmo tempo, inovar e prosperar em um ambiente em constante evolução. Entender a intersecção desses elementos é fundamental para qualquer organização que almeje sustentabilidade e sucesso a longo prazo.

Controles Internos: Um Investimento Estratégico, Não um Custo Arbitrário

A premissa de que “o custo dos controles internos de uma empresa não deve ser superior aos benefícios que deles se espera” é mais do que uma máxima; é um princípio fundamental na governança corporativa. Ele estabelece que a implementação e a manutenção de sistemas de controle robustos devem ser vistas como um investimento estratégico, e não apenas como um custo. A sabedoria gerencial reside em estabelecer um sistema cujo custo total seja justificável pelos benefícios tangíveis e intangíveis que ele proporciona.

A variação dessa ideia, que afirma que “o custo dos controles implantados não pode ser superior aos benefícios que eles trazem”, adiciona uma camada crucial de avaliação contínua. Enquanto a primeira frase se refere à expectativa inicial, a segunda exige um monitoramento constante. Ela nos lembra que não basta esperar que os controles sejam benéficos; é preciso verificar se eles realmente entregam os resultados esperados ao longo do tempo. Um controle que parecia justificado no início pode se tornar oneroso e ineficaz se o ambiente de risco mudar ou se sua aplicação gerar mais burocracia do que valor real. Essa perspectiva dinâmica é vital para evitar que os controles se tornem um fardo, em vez de uma salvaguarda.

A Natureza dos Custos e Benefícios nos Controles Internos

Os custos associados aos controles internos são diversos e podem ser categorizados como:

  • Custos Diretos: Gastos facilmente quantificáveis, como salários de pessoal dedicado (auditores, analistas de compliance), aquisição e manutenção de softwares e sistemas de controle, treinamentos especializados e consultorias.

  • Custos Indiretos: Aqueles que não aparecem diretamente na folha de pagamentos, mas que consomem recursos. Incluem o tempo e o esforço de funcionários em outras áreas para cumprir procedimentos, a possível lentidão ou burocracia gerada por controles excessivos e a perda de oportunidades de investir esses recursos em atividades mais diretamente ligadas à geração de receita.

  • Custos Tangíveis: Relacionados a desembolsos monetários, como os mencionados nos custos diretos.

  • Custos Intangíveis: Mais difíceis de mensurar financeiramente, mas com grande impacto. Englobam a potencial redução da agilidade e da inovação devido a processos rígidos, a frustração dos funcionários com burocracias desnecessárias e a percepção de um ambiente de trabalho menos flexível.

Em contrapartida, os benefícios de um sistema de controles internos eficaz são igualmente vastos e multifacetados:

  • Prevenção de Fraudes e Erros: Reduzem significativamente a probabilidade de desvios financeiros, desfalques, erros contábeis e operacionais.

  • Proteção de Ativos: Salvaguardam os bens da empresa contra perdas, roubos, danos ou uso indevido.

  • Conformidade com Leis e Regulamentos: Garantem que a empresa opere dentro da legalidade, evitando multas, sanções e danos reputacionais.

  • Melhoria da Eficiência Operacional: Controles bem definidos e monitorados podem otimizar processos, reduzir desperdícios e aumentar a produtividade.

  • Informações Financeiras Confiáveis: Asseguram a precisão, a integridade e a credibilidade das demonstrações financeiras divulgadas a investidores e outras partes interessadas.

  • Melhor "Tom no Topo" e Cultura Ética: Um sistema de controles robusto, impulsionado pela alta gerência, fomenta uma cultura de integridade e responsabilidade em toda a organização.

  • Reputação e Confiança dos Stakeholders: Uma empresa com controles sólidos tende a desfrutar de maior credibilidade junto a investidores, clientes, fornecedores e ao mercado em geral.

  • Melhor Gestão de Riscos: São parte intrínseca da gestão de riscos, auxiliando na identificação, avaliação e mitigação de ameaças aos objetivos da empresa.

Filosofias de Controle: Confiança versus Ceticismo

A profundidade da discussão sobre controles se intensifica ao confrontarmos a frase “Os sistemas de controle devem ser rígidos e jamais podem partir do princípio geral de que todos são honestos até prova em contrário.” Essa perspectiva revela uma filosofia subjacente que pressupõe uma desconfiança fundamental na natureza humana.

Essa visão se alinha à máxima de Thomas Hobbes, “O homem é o lobo do homem” (Homo homini lupus), que postula que, sem uma autoridade coercitiva, os seres humanos são inerentemente egoístas e competitivos. Se essa premissa for a base para a criação de sistemas de controle, a rigidez e a não presunção de honestidade se tornam imperativas para proteger a organização. O foco se desloca para a prevenção de desvios e a detecção precoce de irregularidades, mesmo que isso signifique um ambiente de maior desconfiança.

No entanto, um sistema de controles ideal busca um equilíbrio. Embora seja prudente incorporar mecanismos robustos para mitigar riscos e prevenir fraudes, partir de uma premissa de desconfiança generalizada pode ser contraproducente. Controles excessivamente rígidos e burocráticos podem gerar um ambiente de trabalho tóxico, corroer a confiança, minar a moral dos funcionários e, paradoxalmente, reduzir a eficiência e a colaboração.

Um sistema eficaz é proporcional aos riscos identificados. Áreas de alto risco, naturalmente, exigem controles mais estritos. Contudo, em contextos de menor risco, onde a confiança histórica e os valores da empresa são fortes, uma abordagem mais flexível pode ser mais benéfica. Acredita-se que a complexidade da natureza humana permite tanto a cooperação quanto a competição, a honestidade quanto a desonestidade. Portanto, um sistema de controle bem desenhado combina fortes mecanismos de prevenção e detecção com a promoção de uma cultura organizacional que valoriza a ética e a integridade, incentivando a responsabilidade e a boa-fé.

A Cultura Organizacional: A Inércia Mais Difícil de Quebrar

Além dos controles formais, as empresas enfrentam uma barreira muitas vezes invisível, mas poderosa: a cultura organizacional, que se manifesta em frases como “sempre fizemos dessa forma” ou “será que vale a pena?”. Essa cultura representa a inércia e a resistência à mudança que podem sufocar a inovação e comprometer a adaptabilidade.

As Vozes da Resistência à Mudança

A expressão “sempre fizemos dessa forma” é a personificação da tradição e da inércia. Ela reflete um apego ao status quo e uma relutância em questionar práticas estabelecidas. Essa mentalidade pode surgir de:

  • Medo do Desconhecido: A mudança intrinsecamente envolve incerteza, gerando ansiedade e resistência.

  • Apego ao Passado: O sucesso (real ou percebido) de métodos antigos cria uma falsa sensação de que são as únicas ou as melhores formas de operar.

  • Comodismo: Sair da zona de conforto e investir em novos processos exige esforço, o que nem sempre é bem-vindo.

  • Falta de Percepção da Necessidade: Se os resultados atuais são considerados "suficientemente bons", pode haver uma cegueira para oportunidades de melhoria ou para ameaças futuras.

Por outro lado, a pergunta “será que vale a pena?” expressa o ceticismo e uma avaliação (muitas vezes superficial) do custo-benefício percebido da mudança. Essa dúvida pode ter suas raízes em:

  • Falta de Clareza sobre os Benefícios: Se os resultados esperados da mudança não são bem comunicados ou compreendidos, o valor percebido diminui.

  • Foco nos Custos Imediatos: A mudança geralmente exige investimentos de tempo, dinheiro e esforço no curto prazo, enquanto os benefícios podem ser de longo prazo, gerando relutância.

  • Experiências Passadas Negativas: Tentativas anteriores de mudança que falharam ou trouxeram consequências indesejadas podem criar uma postura defensiva na organização.

  • Resistência Individual: Funcionários que se sentem ameaçados (por receio de perder status ou emprego) podem questionar ativamente o valor de novas iniciativas.

A Força da Barreira Combinada

A cultura organizacional manifesta sua força máxima na combinação dessas duas mentalidades. O "sempre fizemos assim" oferece uma defesa passiva, enquanto o "será que vale a pena?" apresenta um questionamento ativo. Juntas, elas criam uma inércia poderosa que impede a inovação, aprimora a adaptabilidade e, em última instância, pode comprometer a competitividade e a longevidade da organização.

Superar essa barreira exige que a liderança atue de forma decisiva e inspiradora. É crucial articular a necessidade da mudança com clareza, demonstrar os benefícios de forma tangível, envolver os funcionários no processo, celebrar cada pequena vitória e estar disposta a desafiar o status quo de forma consistente e persuasiva.

Conclusão: Navegando Rumo à Sustentabilidade Organizacional

A gestão eficaz de uma empresa é um intrincado balé entre a disciplina dos controles internos e a fluidez da adaptabilidade cultural. Os controles são a espinha dorsal que garante a integridade, a conformidade e a eficiência, mas devem ser desenhados com a sabedoria de que seu custo jamais pode superar o benefício que realmente trazem. Isso exige uma avaliação contínua e uma calibração fina, evitando tanto a ingenuidade de uma confiança cega quanto a paralisia de uma desconfiança excessiva.

Paralelamente, a cultura organizacional, com seus hábitos e questionamentos sobre o valor da mudança, representa o maior desafio à inovação. Superar o "sempre fizemos dessa forma" e o "será que vale a pena?" não é apenas uma questão de imposição, mas de engajamento, comunicação clara e demonstração tangível de valor.

Em última análise, a sustentabilidade e o sucesso de uma organização dependem de sua capacidade de integrar controles inteligentes e adaptáveis com uma cultura que não apenas tolera, mas abraça a mudança. A gestão moderna exige um olhar estratégico e holístico que compreenda tanto a racionalidade econômica quanto a complexidade do comportamento humano, garantindo que a empresa não apenas sobreviva, mas prospere em um mundo em constante transformação. 


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