quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Percepções de um colapso de dívida - JAN/2021

 Primeiramente, três notícias fundamentais para o tema:


1


Ministério da Economia baixa para R$ 831,8 bi projeção de rombo nas contas do governo em 2020


Governo divulgou nesta terça-feira novo balanço sobre os gastos para combater a pandemia de Covid-19 e os efeitos na economia. Em novembro, a estimativa para o déficit nas contas do governo foi de R$ 844 bilhões.


Alexandro Martello, G1 — 22/12/2020 


https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/12/22/ministerio-da-economia-baixa-para-r-8318-bi-projecao-de-rombo-nas-contas-do-governo-em-2020.ghtml


2


Endividamento do governo para financiar déficit cresce 3,22% em novembro e alcança R$ 4,7 tri


Informação foi divulgada pelo Tesouro Nacional. No mês passado, país emitiu R$ 158,8 bilhões em papéis, volume alto para padrões históricos.


Alexandro Martello, G1 — 23/12/2020


https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/12/23/divida-publica-sobe-322percent-em-novembro-e-alcanca-r-478-trilhoes.ghtml 


Destaquemos:

“O governo espera crescimento da dívida pública neste ano. No começo de 2020, a programação do Tesouro Nacional indicava que a dívida poderia chegar a R$ 4,75 trilhões até dezembro.


O valor foi revisado em agosto, e o teto previsto da dívida subiu para R$ 4,9 trilhões. A explicação é que o “impacto da pandemia (COVID-19) ampliou significativamente os gastos públicos, aumentando a necessidade de financiamento do governo”.”


3


Dívida pública que vence em 2021 já chega a R$ 1,31 tri


ESTADÃO CONTEÚDO - Idiana Tomazelli - 01/2021


https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2021/01/divida-publica-que-vence-em-2021-ja-chega-a-r-131-tri-ckjeh0n9l000h01ii79ncyhiv.html 



Somemos um detalhe constante noutra notícia:

Governo reduz projeção da dívida pública para 91% do PIB em 2020


O governo reduziu a previsão de dívida pública 


https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/12/governo-reduz-projecao-da-divida-publica-para-91-do-pib-em-2020.shtml 


Dado fundamental: Temos que o PIB do Brasil encontra-se pelos R$ 7,4 trilhões (2019).


https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php 



Nossas observações


O déficit federal já ronda os 11,4% do PIB. Mais uma vez, o crescimento da dívida mantém-se acima do crescimento da economia (o que se agrava, obviamente, com um PIB recessivo), o que mais cedo ou mais tarde implicará em insustentabilidade da dívida, um dos muitos “efeito tesoura” e “espirais destrutivas” que estudo, especialmente, na escala micro. [Nota 1] Mudar o número de zeros aqui em coisa alguma altera o problema.


Seguidamente, quanto ao volume de dívida sobre o PIB, ouço a comparação com dívidas de países desenvolvidos / industrializados, como destacadamente o Japão (já pela faixa dos 223% do PIB). [Nota 2]


https://www.ceicdata.com/pt/indicator/japan/government-debt--of-nominal-gdp 


Repitamos, como sempre: Jamais podemos comparar a dívida do Japão com a da “Banânia”.


Alguns dos motivos:


O perfil de pagamento dela no tempo é longuíssimo.


Eles estão há anos no que se chama em Macroeconomia "armadilha de liquidez". Mesmo com juros baixos, a sua previdente população continua poupando.


Esta poupança enorme se expressa exatamente nas titularidades do estado.[Nota 3]


Nosso caso é mais "colocar ponta na ponta" (velha frase que uso no ramo), tanto que sequer atingimos equilíbrio operacional.


Eles tem muito cuidado com isso, ao ponto de no fundo estarem em equilíbrio financeiro.


Nem falemos da questão do PIB per capita. Na verdade, o peso dessa dívida no tempo, mesmo se exigisse da população, seria relativamente pequeno (analogia da pressão fiscal de Frank).


Mapas comparativos podem mostrar os pesos proporcionais das dívidas: Nota 4


https://exame.com/economia/mapa-coloca-os-paises-com-o-tamanho-de-suas-dividas/




Notas


1. Aqui, “efeito tesoura” é praticamente um expressão minha, um jargão, para lembrar o cruzamento de duas curvas, uma curva da geração de caixa e lucro com uma curva de carga de dívida e acréscimo de juros e serviços, e não o verdadeiramente chamado efeito tesoura:

“Conforme visto anteriormente, o Saldo de Tesouraria (T) tem seu comportamento definido pelo resultado do confronto entre as fontes de longo prazo disponíveis do Capital de Giro (CDG) e a necessidade operacional de recursos da Necessidade de Capital de Giro (NCG).


O Efeito tesoura acontece quando a empresa não consegue aumentar o CDG no mesmo ritmo de aumento da NCG.”


https://www.modelo-fleuriet.com/conceitos-avancado/o-efeito-tesoura/


Nos nossos arquivos: Modelo Fleuriet - O Efeito Tesoura


Ou, noutras palavras:

“Pode-se dizer que efeito tesoura é quando o saldo tesouraria fica negativo, formando assim um gráfico onde as curvas do CDGP (Capital de Giro Próprio) e NLCDG (Necessidade Líquida de Capital de Giro) se cruzam.”


https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_tesoura 


Para um primeiro ponto de minhas leituras sobre “espirais destrutivas”:


“Espiral da morte” em custos - https://sites.google.com/site/scientiaestpotentiaplus/-espiral-da-morte-em-custos 


2.Algumas notícias mais antigas para reforçar esse ponto:


2017


Em 2017, PIB cresce 1,3% e chega a R$ 6,583 trilhões


https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/25921-em-2017-pib-cresce-1-3-e-chega-a-r-6-583-trilhoes#:~:text=Em%202017%2C%20o%20Produto%20Interno,R%24%2031%20833%2C50


Dívida pública sobe 14,3% em 2017, para R$ 3,55 trilhões, e bate recorde


Segundo o Tesouro Nacional, dos R$ 447,15 bilhões de aumento da dívida, R$ 328,14 bilhões se referem a despesas com pagamento de juros.


https://g1.globo.com/economia/noticia/divida-publica-sobe-143-em-2017-para-r-355-trilhoes-e-bate-recorde.ghtml 


2018


Em 2018, PIB cresce 1,8% e chega a R$ 7,0 trilhões


https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/29375-em-2018-pib-cresce-1-8-e-chega-a-r-7-0-trilhoes#:~:text=O%20Produto%20Interno%20Bruto%20(PIB,8%25%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%202017. 


Dívida pública pode ficar próxima de R$ 4 trilhões em 2018, diz Tesouro


Previsão foi divulgada nesta quinta (25) pela Secretaria do Tesouro Nacional. Em 2017, a dívida pública atingiu recorde de R$ 3,55 trilhões, alta de 14,3%.


https://g1.globo.com/economia/noticia/divida-publica-pode-subir-mais-de-r-400-bilhoes-em-2018-para-quase-r-4-trilhoes.ghtml 


3.Recomendo, nesse campo, a leitura de literatura em Macroeconomia, e sugiro DORNBUSCH, Rudiger; FISCHER, Stanley; STARTZ, Richard. Macroeconomia. 10a edição São Paulo: McGraw-hill, 2009.



https://www.suno.com.br/artigos/armadilha-de-liquidez/ 


https://pt.wikipedia.org/wiki/Armadilha_de_liquidez 


Obs.: Para variar, o artigo em inglês é esmagadoramente mais completo e detalhado.


4.Nesse artigo, é conveniente observar uma tabela com a distribuição de um endividamento geral no Japão, que pode servir de base para o imenso problema da China, ou mesmo o nosso.


Composição da dívida

Em relação ao PIB

Governo

234%

Empresas

101%

Famílias

65%




Extras

Uma passagem de “Fundação“, de Isaac Asimov:


“- Atua o senhor como agente de outrem?
- Não me encontro a soldo de qualquer homem ou potência, senhor advogado.
- Age então desinteressadamente? Serve à Ciência?
- Exato.
- Vejamos então: pode o futuro ser alterado, Dr. Seldon?
- A resposta é óbvia. Este Tribunal pode ir pelos ares dentro das próximas horas ou pode não ir. Se o fosse o futuro seria alterado, por pouco, mas sem dúvida alterado.
- O senhor esgrime com palavras. Pode a história da raça humana ser alterada em sua totalidade?
- Sim.

 - Facilmente?

 - Não. Com muitas dificuldades.
- Porquê?
- A trajetória de um planeta contém uma inércia enorme. Para ser alterada deve deparar-se com algo com uma inércia proporcional. Deve haver o mesmo número de pessoas, ou se o número for menor, dar-lhe um longo prazo para a alteração. Compreende? “

Os mais altos iniciados entenderão a metáfora para a situação brasileira.


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