quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Pregações, Piketty e piquetes - 3



Pois amanhã nós poderemos, até de maneira muito pior, passarmos pelo mesmo.


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Basta rápida leitura em textos do moço para percebermos que se trata de “mais do mesmo”.





Thomas Piketty: Uma dívida deve sempre ser paga?


Alemanha e França, que reestruturaram suas dívidas após a guerra, explicam hoje ao sul da Europa que as dívidas públicas devem ser pagas até o último euro.


Thomas Piketty - Libération


“Para alguns, a resposta é óbvia: dívidas devem sempre ser reembolsadas, não havendo alternativas à penitência, especialmente quando gravadas no mármore dos tratados europeus. No entanto, basta olhar para a história das dívidas públicas, assunto fascinante e injustamente negligenciado, para notar que as coisas são bem mais complexas.”


É de se perguntar quando exatamente que ficou estabelecido que “dívidas devem sempre ser reembolsadas”, quando muitas vezes vê-se, desde negócios pequenos até relações entre países, o interesse em perdoar dívidas e estabelecerem-se outras recompensas, como a clássica participação na posse dos ativos, ou dos lucros, mas aguardemos os “mais complexas”.

“Primeira boa notícia: houve, no passado, dívidas públicas maiores que as de hoje e, de diversas maneiras, sempre foi possível superá-las. Podemos distinguir, de um lado, o método lento, que visa a acumular pacientemente excedentes orçamentários para, gradualmente, pagar os juros e o principal da dívida. Por outro lado, há uma série de métodos que visam a acelerar o processo: inflação, impostos excepcionais, ou anulação pura e simples.”

O lamentável é que inflação, exatamente para os mais pobres, não estabelece-se como qualquer forma de quitação de algum débito, a não ser para estados devedores, e com o sacrifício - redundância, lamento - da população.


“Um caso particularmente interessante é o da Alemanha e da França em 1945, quando os dois países encontram-se com dívidas públicas da ordem de dois anos de produto interno bruto (200% do PIB), ou seja, níveis maiores de endividamento do que os da Grécia ou da Itália hoje. No início dos anos 1950, porém, aquela dívida havia caído para menos de 30% do PIB. Evidentemente, uma redução tão rápida jamais teria sido possível com o acúmulo de excedentes orçamentários. Ambos os países utilizaram, em vez disso, todo o conjunto de métodos rápidos. A inflação, muito alta dos dois lados do Reno entre 1945 e 1950, desempenha o papel central. Com a liberação, a França também institui um imposto excepcional sobre o capital privado, de até 25% sobre os grandes patrimônios, e de até 100% sobre os maiores casos de enriquecimento ocorridos entre 1940 e 1945.”

Alemanha e França passaram pela catástrofe da 2a Guerra Mundial. Foi o que se passou com a Itália ou a Grécia nos últimos anos?
Não entendo esse moço. Primeiro, ele coloca inflação como solução, depois trata de perdão de dívidas e adiante coloca imposto sobre capital privado (e há outro realmente sobre o qual se colocar por fim  imposto?) e associa isso com, por exemplo, até ações sobre empresas que até usaram mão-de-obra de campos de concentração.

É o samba do keynesiano louco… E olhe que nem os keynesianos afirmam isso!
“Os dois países também utilizam diversas formas de “reestruturação da dívida”, nome técnico dado pelo mercado para a anulação pura e simples da totalidade ou de parte da dívida (também chamada, de forma mais prosaica, de haircut). Como, por exemplo, nos famosos acordos de Londres de 1953, quando foi anulada a maior parte da dívida externa alemã. Foram estes métodos rápidos de redução da dívida – incluindo a inflação – que permitiram à França e à Alemanha iniciar a reconstrução e retomar o crescimento no pós-guerra, sem o fardo da dívida. Foi assim que estes dois países puderam, nos anos 1950 e 1960, investir em infraestrutura pública, educação e desenvolvimento. E são estes mesmos dois países que explicam hoje ao sul da Europa que as dívidas públicas devem ser pagas até o último euro, sem inflação e sem medidas excepcionais.”

Novamente, Alemanha devastada na escala de cidades inteiras pelas forças aéreas, especialmente dos EUA e da Grã-Bretanha, mais um tanto por terra, comparado com países que explodiram seus orçamentos até com pensões para falsos cegos e outros falsos deficientes.

Nota: Para os que ficaram um tanto perdidos com o final deste parágrafo:

Moradores de ilha grega fingiam ser cegos para ganhar benefícios - g1.globo.com


“Atualmente, a Grécia estaria com um leve superávit primário: os gregos pagam um pouco mais de impostos do que recebem em gastos públicos. De acordo com os acordos europeus de 2012, a Grécia deverá destinar um enorme superávit de 4% do PIB ao longo de décadas para pagar suas dívidas. Trata-se de uma estratégia absurda, que a França e a Alemanha nunca aplicaram a si mesmas.”

Exatamente o volume de pagamento de dívida é a base para obter-se mais crédito, de onde existe um retorno do pago em benefício da própria economia grega.

Mas desejando que ela continue a tentar sustentar o insustentável sem a menor responsabilidade, bom proveito!


“Nesta amnésia histórica extraordinária, a Alemanha tem, obviamente, uma enorme responsabilidade. Mas suas decisões nunca teriam sido adotadas sem a aprovação da França. Os sucessivos governos franceses, de direita e depois de esquerda, provaram-se incapazes de reconhecer a complexidade da situação e propor uma refundação democrática verdadeira da Europa.”

Não existe uma discussão “democracia vs não-democracia” aqui. O que existe é uma discussão econômica. A Grécia seguiu um caminho de colapso, e tal não tem relação com o enorme exercício de devastação que são as guerras. Trata-se de simples “gastar mais que se tem”.


“Com seu egoísmo míope, Alemanha e França maltratam o sul da Europa e, dessa forma, maltratam a si mesmas. Com dívidas públicas se aproximando de 100% do PIB, inflação zero e baixo crescimento, os dois países também levarão décadas para recuperar a capacidade de agir e investir no futuro. O mais absurdo é que, em 2015, as dívidas europeias são essencialmente dívidas internas, assim como em 1945. As detenções cruzadas entre os países atingiram de fato proporções inéditas: os poupadores dos bancos franceses detêm uma parte das dívidas alemã e italiana, e as instituições financeiras alemãs e italianas possuem uma boa parte da dívida francesa, e assim por diante. Mas se considerarmos a área do euro como um todo, nós possuímos a nós mesmos. E mais: os ativos financeiros detidos por nós fora da zona euro são maiores do que detidos pelo resto do mundo na zona euro.”

Eu não entendo como pode alguém com formação em Economia, sabendo que dívidas internas implicam em poupança de populações, relacionar o que ocorreu na Alemanha e França com suas dívidas (e destacadamente o caso alemão), com a insanidade do que ocorreu na Grécia.

Pior ainda uma mistura do que sejam titularidades externas a Zona do Euro, como até o envolvimento dos as hipotecas nos EUA, com a questão de colocar as contas do estado grego nos eixos.


“Mais do que continuar a reembolsar nossas dívidas a nós mesmos durante décadas, depende apenas de nós começarmos a nos organizar de forma diferente.”


Ele que explique - acredito que deve - aos idosos e aposentados franceses, por exemplo, porque devem continuar a sustentar aposentadorias impagáveis e um estado inchado como o que abraçam os gregos com sua capacidade de poupança, e não recebendo juros disso, ainda se manterem felizes, sendo que ao que parece não está Atenas (entre outras) em ruínas por bombardeios, a indústria grega em ferros retorcidos e até as habitações dos gregos em suas turísticas ilhas transformadas apenas em montes de entulho.

Os gregos que gerem sua riqueza, e os franceses - e obviamente os alemães - que exijam ganhos por isso, e honra aos seus créditos.


2


COm a palavra, alguém imensamente mais capacitado do que eu para tratar das afirmações de Piketty, em especial, nas questões econômicas brasileiras.


Por que Piketty não estudou o Brasil? - mansueto.wordpress.com


“Há como tornar o sistema tributário no Brasil mais progressivo? Acho difícil dado o nosso elevado nível de arrecadação e a estrutura do mercado de trabalho. Por exemplo, a renda mediana anual de um trabalhador nos EUA é de US$ 27 mil e a faixa de isenção do imposto de renda por lá é de US$ 9.000, 33% da renda mediana.


No Brasil, a nossa renda mediana mensal no mercado de trabalho é de mais ou menos R$ 1.200 e a nossa faixa de isenção do imposto de renda é perto de R$ 1.800; 50% acima da renda mediana. Se fôssemos replicar a estrutura do imposto de renda nos EUA, a faixa de isenção deveria ser de R$ 400 – o que seria evidentemente um absurdo dado que o salário mínimo Brasil é de R$ 724 e, assim, não é possível tributar uma renda menor do que o mínimo. Mas mesmo que começássemos a tributar quem ganha R$ 800, ainda assim seria um absurdo.”


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Uma coletânea de alguns sobre Piketty do Mises Brasil:


O que houve com os ricaços da década de 1980?; segunda-feira, 7 abr 2014


Algumas frases aterradoras contidas no livro de Thomas Piketty; sexta-feira, 30 maio 2014


As “descobertas” de Piketty estão invertidas; George Reisman, sexta-feira, 27 jun 2014


Thomas Piketty e seus dados improváveis; Hunter Lewis, sexta-feira, 28 nov 2014


Um breve comentário sobre Thomas Piketty; Thomas DiLorenzo, domingo, 4 jan 2015


A moral de Piketty - por alguém que realmente leu todo o livro; João César de Melo, sexta-feira, 16 jan 2015 - www.mises.org.br - 2009
Os três principais erros de Piketty; Juan Ramón Rallo, quarta-feira, 21 jan 2015


Piketty está errado: mercados não concentram riqueza; Louis Rouanet, segunda-feira, 14 dez 2015 - www.mises.org.br


Até mesmo o “Pokémon Go” refuta Thomas Piketty; Juan Ramón Rallo, sexta-feira, 5 ago 2016 - www.mises.org.br - 2483


Uma coletânea desses artigos pode ser encontrada em nossas arquivos em:

Mises sobre Piketty - 1 - docs.google.com

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