segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Idéias "brilhantes" III - Metrôs para a Copa


(Simplesmente não resisti colar esta imagem nesta blogagem.)

Recentemente, em visita à Porto Alegre, cidade que habito/habitei desde 1969, o que já é um bocado de experiência, assisti aos desabafos de políticos e jornalistas sobre o abandono do projeto de um metrô "para a Copa do Mundo" para esta cidade. Ouvi toda a "grita" (em gíria da minha geração para a situação) sobre o abandono da obra por não se poder ser realizada "a tempo" da Copa (segundo consta, o motivo principal desta brilhante decisão).

Analisemos alguns pontos:

1.Se um necessário metrô para Porto Alegre não começar a ser construido AGORA, começará QUANDO?

2.A Copa ao que me parece, passará, como parece evidente que passou para Montevideu (e pelo visto, há mais de 50 anos). Mas tal como Montevideu, Porto Alegre continuará lá, e crescendo, e tal como hoje, com mais habitantes que Montevideu.

3.Se é necessário HOJE um metrô para Porto Alegre, o que se dirá daqui a 10 anos, e aqui, pouco interessa mais carros, ou nenhum carro, por mudança completa dos paradigmas de transporte individual e coletivo em nossas cidades. Se tornará necessário um metrô, e isto é o que interessa.

Note-se que podemos substituir Porto Alegre por qualquer cidade, nos argumentos acima, e o problema continuará. Nem tratemos de discutir casos muito mais graves, como São Paulo, que apresenta um metrô que é fração mesmo de cidades de não mais alto padrão econômico, como a Cidade do México, e muito menos que metrópoles globais, ou mesmo cidades menores que ela de países mais ricos, como Paris ou Londres. Posso pular também outras cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte.

Por outro lado, decide-se somar (ou seria socar) ônibus ou estreitar avenidas (pois é isso que feito, por fim) para colocar corredores exclusivos para ônibus aproveitando somente ÁREA e não o pouco explorado VOLUME das cidades. Nem se faz necessário tratar das questões ambientais.

Aqui, trato de uma questão mais "macro": se não forem iniciadas HOJE expansões da infra-estrutura brasileira em TODOS os modais, seja ferroviário, seja transporte urbano, sejam estradas "de rodagem" mesmo, sejam portos, qualquer ilusão de crescimento sustentado por longo período será mais cedo ou mais tarde estrangulado por inúmeros gargalos, independentemente de uma Copa, uma Olimpíada ou seja lá que evento global for.

Observemos o que me parece uma banal verdade que obras de infraestrutura são feitas para a economia, e não para um evento.

A questão é tão grave que hoje, na maior metrópole do país, há uma fração significativa de trabalhadores que chegam a gastar 4 horas em deslocamento, e paradoxalmente, seu próprio deslocamento causa este desperdício, pois transporte goza de determinados sinergismos. Tal tempo, que é mercadoria de estoque limitado e fluxo inflexível gera custos, e tais tem de ser cobertos, ou encarecendo proibitivamente as mercadorias brasileiras, esmagando sua competitividade, ou reduzindo a já estrangulada renda do trabalhador brasileiro, em duas frentes, de seus próprios custos no deslocamento e dos preços do que consome. E tal questão não será minimizada por uma ou várias Copas.

Assim, voltando a nos concentrar num metrô, e este nem necessita ser o de Porto Alegre, repito e deixo bem claro, a data na qual tem de ser iniciada sua construção já passou, e agora, pouco interessa qual cidade brasileira vai estar coberta de obras, mesmo se tiverem de fazer grandes desvios belos ônibus de seleções de futebol.

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