terça-feira, 21 de julho de 2015

Rascunhos de um eventual Hayekiano - I


0

Os titios austríacos da Economia, chatos como sempre, estão prestes a ensinar uma lição inesquecível à China, e ao mundo por tabela.


1

Turbulências e colapsos

ou...

Dos sistemas, seus comportamentos, seus pontos críticos de comportamento e daquilo que a todo brasileiro pode gravemente afetar

É da natureza de sistemas complexos em seu comportamento, quando certas variáveis ultrapassam certos valores, passarem a comportar-se de maneira completamente diferente, o que poderíamos chamar de “maneira anômala”. Anômala, aqui, claramente é um julgamento que fazemos do sistema, pois evidentemente, trata-se ainda do mesmo sistema.

Como exemplos, podemos ver a Mecânica dos Fluidos, com o exemplo doméstico de ao abrirmos levemente uma torneira, termos um “fio de água”. Com mais abertura, temos um fio de diâmetro maior, e ao mais e mais abrirmos, temos diâmetros maiores, até o momento que repentinamente, o fio de água deixa de ser harmonioso, no jargão “laminar”, e passamos a ter um fluxo turbulento, com movimentos repentinos e aleatórios para os lados.

Uma estrutura, como um pilar ou um viga, ao ser feito um pequeno buraco nele, como o caso de uma perfuração para colocação de uma bucha com parafuso, evidentemente não faz desabar um prédio, assim como uma colisão de um veículo que arranca um naco de um viaduto, seja no pilar ou na viga, mas a partir de certo dano, como a abertura de uma passagem numa parede estrutural ou uma grave colisão com grandes danos, faz colapsar um viaduto ou um prédio inteiro. O mundo das demolições por implosão vive desse tipo de comportamento no tempo.



( Imagem: noticias.r7.com )

O exemplo recente da colisão de uma caçamba em São Paulo que não pode ser removida até a escora do trecho de uma ponte ilustra a coisa perfeitamente.

O termo adequado e sempre presente, desde a Resistência dos Materiais aos mais amplos campos da Engenharia, é - como associado ao termo “fratura” - “catastrófico(a)”.

Um caso que sempre me atraiu foi a ebulição, como vemos numa “leiteira” contendo água posta para a fervura. Quando alcança-se a temperatura de ebulição, formam-se “focos de ebulição”, de onde brotam suavemente bolhas de vapor, e elevando-se a quantidade de calor com o aumento da chama, ou adiante pelo próprio tempo, a ebulição torna-se violenta.

No biológico, um formigueiro tem seu comportamento harmonioso claro, como no desfolhar de uma árvore e abastecimento do fungo que alimenta a colônia e sua manutenção. Basta chutá-lo ou o primeiro tamanduá e o pânico e o caos se instala. A Economia e a Política tem íntima relação com esse exemplo.

Assim, há variáveis que se atingidas em certo valor, fazem o sistema chegar em determinada marcha  um ponto sem retorno, e energias “gerais” passam a dominar o sistema numa direção específica de um comportamento que pode ser adequado ou não ao desejado.

Pois bem…

Um sistema complexo como o econômico, para uma variável como a massa de desempregados, que de certa maneira tem no deficit que são sustentáveis pelo PIB per capita - claramente do conjunto da população em si - até certo ponto não geram modificações catastróficas no estado do sistema, sequer realmente o modificam além de certo comportamento, como, por exemplo, um certo volume de fechamento de lojas de vestuário, ou restaurantes de certa faixa de preço, ou mesmo nesses, a mais limitada redução do consumo de pratos de certo valor ou vendas de peças de vestuário acima de certa faixa.

Mesmo com claras manipulações e maquilagem de certos números, como é óbvio há tempos pela massa de seguro desemprego, pelo volume de bolsas, pela massa de recém saídos do período de estudos e não colocados no mercado de trabalho, e pelo peculiar volume que aponto de aposentados que teriam pela simples renda de estar trabalhando para complementá-la, o volume de desempregados pode atingir certo valor que será como o chute no formigueiro ou o citado tamanduá.

Tenho contato com economistas que apontam que esse número - mesmo para os parâmetros e proporções que o governo apresenta em suas claras maquilagens - situa-se na faixa de 9 a 10%.

Com certa marcha que temos visto nas últimas semanas, podemos estar chegando ao ponto em que o sistema chegará ao exemplificado acima “ponto sem retorno”, com sua nova energia e dinâmicas próprias, e o problema não será propriamente a troca do filé pela carne de segunda, ou o abandono da compra da calça mais cara da coleção pela de menor preço, nem sequer o fechamento de um volume de lojas ou restaurante até o sistema se estabilizar.

Como bem citado na abertura do filme Seabiscuit (2003), a Crise de 29 é seguidamente tratada como se fosse um fenômeno imediato, repentino, implosivo, mas foi um processo contínuo, constante, no qual mais e mais a situação se agravava, como - exemplifico eu - um primeiro dominó que inicialmente começa a derrubar uma fila “linear”, um dominó por vez na sequência, mas pode num adequado arranjo, prosseguir com a derrubada de fileiras de centenas deles, simultaneamente.

O problema que já temos poderá passar a ser, como mostra a História, muito mais grave.


2


O ânimo dos taberneiros e padeiros

Assisti o Canal Livre da Band nesse domingo, com entrevista com o economista Paulo Rabelo de Castro.



( A parte final contém a questão que especificamente quero abordar. )

A análise do cenário brasileiro atual foi muito interessante, que convenhamos, é tema relativamente simples de se fazer e encontra vasto volume de material a ser referenciado desde os fenômenos do desenvolvimentismo dos militares (recentemente repetido) até o estado emissor de moeda sem lastro algum, gerando absurda liquidez e hiperinflação dos anos 80 (em parte repetido) até o inchaço da máquina pública em atividade meio (coisa, na escala feita, recente), etc.

O discurso de “baixa de juros!”, recentemente também praticamente gritado por Ciro Gomes, tanto no mundo privado quanto no mundo estatal me parece a mesma desconexão com os reais fatores que produzem nossas elevadas taxas, e infelizmente, sem levar em consideração a quantidade de problemas, especialmente no sustento “dinâmico” (disso que está já em andamento) do estado deficitário que temos, e como de costume, sem tratar-se de como isso será feito.



Os discursos sobre produtividade e infraestrutura, sem a enormidade (escala) e profundidade (qualidade) de projeto que são necessárias me parecem inúteis, e cai-se no velho dilema entre o que diferencia no fundo economistas de administradores: economistas são os colossos da análise das origens da miséria, mas não são mestres da geração de riqueza. Como gosto de dizer, não foram economistas que permitiram aos EUA na 2a Guerra Mundial construirem navios em ritmos de semanas, e colocarem 10 milhões de homens armados em duas frentes, mas administradores.

Mas retornemos a algo muito, muito antigo. Lá em Adam Smith aprendeu a humanidade que não são as boas intenções e até algo que possa ser dito como “amor pelo outro” que faz os taberneiros e padeiros atenderem bem seus clientes e entregarem seus produtos e serviços, nem sequer apenas o desejo e necessidade dos consumidores, mas sim, o desejo dos taberneiros e padeiros pelo que está no bolso dos consumidores.

Imagem: www.czech-tourist-service.eu




A coisa é mais que clara, cristalina e por muitíssimo tempo na espécie humana ainda, imutável.

Por isso, tenho de perguntar do que adiante conclamar os empresários para que se motivem, se:

1) Tem o peso do estado em sua carga tributária nas costas - e o tendo que repassar à exausta (esforço para finalmente a pagar) e asfixiada (sofrendo com uma pressão do crédito que para sua renda mostrou-se insuportável) população.

2) Grande parte da economia brasileira entrelaça-se com o estado, que ao que até é apresentado, perdeu mais uma década, senão mais.

3) Grande parte do que possa ser gerador de produtividade, como a logística e infraestrutura - como a energia, um tanto nos seus limites - depende da ação e controle do estado.

Poderia enumerar mais alguns pontos, mas julgo que por simples agradabilidade mínima do texto esses bastam.

Um acréscimo: lá em Keynes, de grandes soluções mas altos preços posteriores, aprende-se que o estado, nas crises, tem de se sacrificar, o que como já aponto como o “pseudokeynesianismo” do período Mantega, não ocorreu, e agora, parece que não pode ocorrer por diversas variáveis sem altíssimo preço, mesmo para os parâmetros do preço que sempre se paga.

Não, os taberneiros e padeiros vão continuar esperando mais movimento em seus salões, exatamente como estes estão, talvez até com menos cadeiras, esperando o “grande prestador de serviço da população” mover-se mais pela racionalidade do que por resquícios de ideologias utópicas falidas, que inclui aquilo que entre alguns recebe o termo totalitarismo tardio.


3


“A minha empresa”

Lá por 2009, ouvi “um tanto tenso” os desabafos de certo advogado, membro de certo partido, sobre a venda de uma certa empresa de determinado muito necessário setor para um grupo estrangeiro, incluindo a pérola “mais uma empresa que deixa Campinas”.

Primeiro deixemos bem claro que a empresa em questão não deixaria Campinas.

Deixaria, isso sim, o controle que estava nas mãos de não muito competentes sócios, não muito afeitos a pagar seus débitos.

Claro que podemos alegar que havendo melhoria de produtividade, isso pode implicar em demissões.

Por outro lado, a continuar como estava, implicaria provavelmente adiante em muitas - todas - demissões.

Também podemos alegar impostos não pagos para o município (e qualquer outra estrutura do estado).

Existe um apego quase patológico do brasileiro por “minha posse”, “meu controle”, e que muitas vezes se traduz com o muito mais doentio “de minha cidade”, como aqui vemos, e por fim, o “mas é patrimônio do povo!”.


www.lukasmoraes.com.br

Poderia dizer que é um comportamento “apego a castelos de areia”.

O mesmo povo que tem de cobrir os rombos, os déficits, a constante renúncia fiscal, as necessidades de suplementação de caixa do simples erro à incapacidade de investimento.

Os simples números já não justificam esses juízos, os claros resultados já tornam errôneo o raciocínio, e aquilo que é definido num nível qualquer de um berrado e incensado “nosso” já é um conceito mais que obscuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário