sábado, 31 de maio de 2014

Mais médicos. Será?

Algumas contas simples, números claros e um fundamental fato.


O Brasil tem aproximadamente 400 mil médicos, o que para uma população de 201 milhões de habitantes, resulta numa taxa de aproximadamente 2 médicos por mil habitantes (mpmh). Destaquemos que a média mundial é 1,4 , de onde já se percebe que o problema, até por nossa posição em IDH, não é de forma alguma apenas a quantidade de médicos.
As prefeituras tem feito requisições no total de quase 15,5 mil médicos, o que dá 2,8 médicos para cada um dos 5570 municípios brasileiros.

O programa Mais Médicos não pode contar com médicos nacionais, pois apenas seria um deslocamento de médicos, uma distribuição, não um incremento destes.

Mesmo com todos estes médicos sendo incrementados, o máximo que conseguiríamos seria mudar a taxa  para 2,07 mpmh, um incremento de pouco menos de 3,9%.

O máximo de médicos cubanos que são previstos serem incluídos são quatro mil, que propiciariam um primeiro patamar de 2,01 mpmh.

Uma meta do governo é 2,5 mpmh, numa diferença de 0,51 mpmh do valor atual, que implicaria na contratação (formação aqui pouco interessa) de 102500 médicos.

O governo tem uma meta de formação de médicos (antes disto, de vagas em medicina) de 11 mil até 2017, que considerando-se uma média de 5500 (a metade do proposto) pelos próximos 7 ano (a duração do curso) implicaria no máximo em 38500 médicos, desconsiderando a não distribuição nas regiões carentes, e talvez imensamente mais o atendimento em grandes centros urbanos, que já contam com seus problemas. Desconsideremos aqui que médicos se aposentam, e como todo humano, morre, pois a diferença que mostra-se não significativa assim como está já nos basta.

Mas observemos um curioso fato, ocorrido há alguns anos atrás:

PL 65/2003. Autor: Deputado Arlindo Chinaglia, do PT/SP.

Emenda: Proíbe a criação de novos cursos médicos e a ampliação de vagas nos cursos existentes, nos próximos dez anos e dá outras providências.

Os dois primeiros artigos já apresentam o que viria nos anos a seguir:

O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º Fica vedada a criação de novos cursos médicos nos dez anos seguintes à
promulgação desta Lei.

Art. 2º Fica vedada a ampliação de vagas nos cursos médicos existentes nos dez
anos seguintes à promulgação desta Lei.

Mas é praticamente um ponto pacífico entre profissionais de saúde que o problema não é o número de médicos, independente da incapacidade deste programa e seus pretendidos números apresentar sequer uma solução para as metas do governo nestes números simples.

O problema de porquê os médicos não vão para o interior, e nem falemos dos mais remotos grotões deste país, já foi respondido para mim lá no início dos anos 80 por um médico:

-Como que vou querer ir para o interior? Para ter de suturar com o dedo?

Referências

1. Brasil tem dois médicos para cada mil habitantes - www.estadao.com.br


2. Demografia Médica - www.cremesp.org.br

3. População brasileira ultrapassa marca de 200 milhões, diz IBGE - g1.globo.com

4. Médicos estrangeiros seguem sem previsão para começar a atuar no AM - g1.globo.com

5. PROJETO DE LEI N° , DE 2003 ( Do Sr. Arlindo Chinaglia) - www.camara.gov.br

6. Tainah Medeiros; O PROBLEMA DA MÁ DISTRIBUIÇÃO DOS MÉDICOS NO BRASIL - drauziovarella.com.br

7. Marco Aurélio Smith Filgueiras; A solução não é formar mais médicos - www.crmpb.cfm.org.br

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