domingo, 16 de novembro de 2025

Alguns fatores pouco tratados - 5

Os Terrores do Humano e a Paralisia Econômica

Introdução

A vida humana é uma tapeçaria de incertezas: a doença, o envelhecimento, a ameaça da violência e a sombra da arbitrariedade estatal. Longe de serem meros dramas pessoais, esses "terrores do humano" são forças econômicas potentes, capazes de impor uma paralisia sistêmica ou, no mínimo, um aumento da "viscosidade" nos processos econômicos. Ao tornar os fluxos de capital, trabalho e informação mais lentos e custosos, esses medos se traduzem em barreiras concretas ao desenvolvimento e à prosperidade.

Este ensaio, o quinto de nossa série, explora como o medo e a incerteza gerados por esses terrores se manifestam como custos invisíveis na economia. Analisaremos três dimensões: o custo demográfico imposto pela doença e pelo envelhecimento, o custo da insegurança gerado pela violência e pela ação injusta do Estado, e o custo do pessimismo que transforma o cenário econômico em um deserto árido. O objetivo é demonstrar que a superação desses terrores não é apenas um imperativo social, mas uma condição sine qua non para a fluidez e o dinamismo econômico.



1. O Peso da Mortalidade: Sobrecarga Fiscal e a Curva do Envelhecimento

O envelhecimento populacional e o aumento da demanda por saúde, impulsionados pelo medo e pela necessidade de proteção, geram uma sobrecarga fiscal inevitável sobre a população economicamente ativa. Além disso, o aumento da poupança precaucional e a redução da produtividade da força de trabalho contribuem para a "viscosidade", estrangulando o consumo e o investimento de risco necessário para o dinamismo.

A doença e o envelhecimento impõem um dos maiores desafios à sustentabilidade fiscal moderna. O medo da contingência da saúde, em sociedades onde o sistema de bem-estar é centralizado, exige uma expansão constante dos gastos públicos. Isso se traduz em uma pressão insustentável sobre a carga tributária da população produtiva. O alto custo marginal de manter a saúde de uma população em envelhecimento desvia recursos que poderiam ser investidos em Capital Humano e infraestrutura, aumentando a "viscosidade" dos orçamentos públicos.

No nível individual, o temor de não ter recursos para a velhice ou para a doença leva ao fenômeno da poupança precaucional. Indivíduos e famílias optam por acumular ativos de baixo risco em vez de investir em consumo ou empreendimentos inovadores e de alto retorno. Essa retração no risco e no consumo, embora racional para o indivíduo, torna o mercado mais lento e previsível, atuando como um freio ao dinamismo. A incerteza da vida se manifesta como uma viscosidade financeira, onde o capital se move lentamente para fora do risco.

O envelhecimento e a doença impactam diretamente a Produtividade Total dos Fatores (PTF). Com uma proporção maior da população fora da força de trabalho ou com problemas de saúde crônicos, a PTF enfrenta uma queda estrutural. O capital humano é subutilizado, e a produtividade média diminui, contribuindo para a percepção de um 'cenário econômico árido'. A doença, física ou mental, se torna uma externalidade negativa que esvazia o potencial de crescimento do país.

2. O Prêmio do Risco e a Viscosidade Jurídica: O Custo de Transação da Insegurança

A violência urbana e a ação injusta do Estado combinam-se para elevar o custo de transação em toda a economia. A insegurança física exige desvio de capital para segurança privada, e a arbitrariedade estatal (corrupção e instabilidade regulatória) aumenta o prêmio de risco sobre o investimento, sufocando o crédito, desestimulando a formação de capital e, assim, criando uma "viscosidade" estrutural.

A violência, um dos terrores mais palpáveis, gera um custo econômico de defesa que é um imposto invisível sobre a produtividade. Empresas e indivíduos são forçados a desviar capital para segurança privada, em vez de investir em inovação ou expansão. Esse capital desviado é um custo de oportunidade irrecuperável que não contribui para a Produtividade Total dos Fatores (PTF). Além disso, a simples ameaça da violência restringe a mobilidade da força de trabalho e o horário de funcionamento do comércio, literalmente freado a velocidade da circulação de bens e serviços.

A 'ação injusta do estado', que pode se manifestar como corrupção, expropriação ou instabilidade regulatória, é ainda mais nefasta. Ela eleva dramaticamente o custo de transação jurídica. Cada contrato, licença ou investimento deve embutir um prêmio de risco político e regulatório. Por que investir em um projeto de longo prazo se as regras podem mudar arbitrariamente ou se o aparato estatal pode atuar como um predador? Esse ambiente hostil estrangula o crédito e o investimento estrangeiro, aumentando a 'viscosidade' dos fluxos de capital e exigindo a criação de complexas estruturas de proteção que apenas adensam a burocracia e a lentidão dos negócios.

A corrupção é a materialização da injustiça estatal: um imposto não oficial sobre a transação econômica. Ela não apenas desvia recursos, mas também introduz uma variável aleatória na decisão de investimento. O empresário não sabe mais se o sucesso do seu negócio dependerá da qualidade do seu produto ou da sua capacidade de navegar pela rede de subornos e favores. Essa imprevisibilidade é a própria definição de viscosidade e paralisia, pois a única certeza que resta é que a incerteza será precificada no custo de tudo, empobrecendo toda a cadeia de valor.

3. A Profecia Autorrealizável: Pessimismo Estrutural e a Paralisia do Empreendedorismo

A convergência dos custos demográficos (Seção I) e dos custos de transação (Seção II) gera a percepção de um "cenário econômico árido". Esse pessimismo estrutural funciona como uma profecia autorrealizável, estrangulando as expectativas de retorno, paralisando a inovação e o empreendedorismo, e transformando a "viscosidade" em estagnação crônica.

A percepção de que a violência, a doença e a arbitrariedade estatal são incontroláveis e onipresentes move o sentimento de mercado do otimismo para o pessimismo estrutural. Em economia, as expectativas de futuro são cruciais, pois investimentos são, por definição, apostas no futuro. O 'cenário econômico árido' não é apenas a ausência de recursos, mas a ausência de expectativas de retorno. O capital humano, mesmo que abundante, hesita em ser convertido em capital produtivo. O pessimismo, assim, se comporta como um fator de produção negativo, que desincentiva a criação de valor.

A inovação e o empreendedorismo são, por natureza, atos de alto risco. No entanto, quando os riscos de mercado (falhar ou ter concorrência) são somados a riscos de violência, doença e expropriação (os terrores do humano), o risco total se torna proibitivo. O empreendedorismo é estrangulado na sua origem. Por que investir em P&D ou em um novo modelo de negócio se a maior parte do retorno será consumida por custos de segurança, impostos para financiar o sistema de saúde insustentável, ou extorquida pela corrupção? A 'viscosidade' aqui é a paralisia na alocação de recursos para o futuro.

O cenário árido é o resultado final de uma sociedade que falhou em seus pilares: ela não soube impulsionar seu capital humano, permitiu que a ideologia acrítica tomasse decisões, abriu caminho para a tirania e se entregou à passividade mística. O custo dos terrores do humano é, portanto, a confirmação de que a estagnação é o preço pago pela ausência de racionalidade e autonomia. A 'viscosidade' torna-se a estagnação, e a falta de fluidez se torna a negação do crescimento.

Conclusão: Removendo a Viscosidade: O Imperativo da Racionalidade e da Segurança

A jornada por nossos cinco ensaios revela que a prosperidade é um estado de baixa entropia — uma fluidez constante de ideias, capital e esforço. O quinto ensaio demonstrou que essa fluidez é constantemente minada pelos "terrores do humano": a doença, o envelhecimento, a violência e a arbitrariedade estatal. Longe de serem meros incidentes sociais, esses terrores se traduzem em custos econômicos mensuráveis que culminam na paralisia e na "viscosidade" do sistema.

A sobrecarga fiscal gerada pelo custo demográfico, somada à inflação do custo de transação pela insegurança jurídica e violência, corrói a base da riqueza. O resultado final é o cenário econômico árido: uma profecia autorrealizável onde o pessimismo e a falta de expectativas estrangulam a inovação e o empreendedorismo.

A lição final é que a remoção dessa viscosidade é um imperativo tão fundamental quanto investir em Capital Humano ou combater a ideologia. Exige uma ação racional e coordenada: a construção de um ambiente de segurança jurídica e física que reduza o prêmio de risco, o saneamento fiscal para aliviar a sobrecarga da população produtiva, e, acima de tudo, o compromisso com a previsibilidade e a justiça no papel do Estado.

A liberdade econômica não floresce na ausência de regulamentação, mas na ausência de arbítrio. Superar os terrores do humano é, em essência, o ato de restaurar a fluidez para que a ação soberana do indivíduo – em vez do medo – possa finalmente ditar o ritmo do progresso.

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