quinta-feira, 12 de junho de 2014

Estratégias para o etanol



Devemos ter em mente que o mercado para o etanol como combustível para automotores existe apenas no Brasil e nos EUA. Os demais países do mundo o utilizam apenas embrionariamente (um caso destacado é a Suécia, que usou inicialmente o caríssimo etanol derivado de uvas, importado da França, substituindo parte do combustível usado no transporte público, subsidiado pela tributação de suas populações urbanas).[1][2][3]


O consumo do etanol como combustível tende a desenvolver-se em outros países na medida que governos optarem pela adição do etanol à gasolina. Nesta aplicação, o potencial de volume de consumo, exatamente por ser proporcional a uma fração significativa do atualmente enorme consumo de gasolina no transporte urbano, aplicando-se eficientes medidas estratégicas.


Um perfil do futuro espectro de consumo de combustíveis para o transporte movido por motores à explosão na União Europeia.[1]


Somente com a medida do presidente George Bush para que os EUA tomassem como meta um corte de 20% do consumo de petróleo projetado para a próxima década, em tal objetivo ser atingido, representaria uma demanda adicional de 130 bilhões de litros de etanol por ano, da qual os EUA produzem apenas 18 bilhões de litros, com a produção brasileira então em volume próximo deste valor, sendo que o restante do mundo é responsável por produzir em torno de 15 bilhões de litros, elevando o total mundial para um valor de 51 bilhões de litros por ano, valor que enfrentaria uma demanda possível 2,5 vezes maior apenas nos EUA.[9]


Para dados mais completos e questões específicas:[4][5][6]




(1) Nos EUA, a mistura de 5,5% em toda a gasolina significa consumo de 30 bilhões de litros de álcool/ano.


Obs.: Para estes dados em planilha, acesse: docs.google.com


Disto resulta, até por motivos estratégicos de cada nação, que os possíveis consumidores de etanol, globalmente, só decidirão pela adição do etanol à gasolina com a certeza de que a oferta, produção, apresente-se com regularidade, com confiabilidade e diversificação por parte dos produtores. Numa situação de que os dois únicos produtores sejam o Brasil e EUA, nenhum país adotará o etanol extensivamente em sua matriz energética, como combustível líquido. No continente sulamericano, Colômbia, Peru, Venezuela e Paraguai aderiram ao uso do álcool combustível.[7]


Disto resulta  o interesse do Brasil no que pode ser chamado de uma ‘globalização do etanol’ como combustível para motores de veículos, requerendo sua padronização e regularização como commodity, sua cotação em bolsas internacionais, com cotações globais, e, sobretudo, embora paradoxalmente, a difusão de sua produção por vários países.


Um acordo de cooperação na área de biocombustíveis, entre Brasil e EUA, é apresentado como envolvendo três importantes pontos:[6]


  • a cooperação para produção de etanol em terceiros países;
  • o trabalho conjunto para melhorar as condições de acesso aos mercados e à produção internacional de países da América Latina e Caribe
  • transferência de tecnologia na área de produção, armazenamento e transporte de etanol.


Deste quadro, apresenta-se que em etanol o Brasil pode apresentar ganhos em todas as frentes, por similaridade, e relacionamento, com sua afirmação como o maior exportador mundial de açúcar, combinando suas excelentes condições climáticas para o cultivo da cana com a tecnologia em seu cultivo e processamento em açúcar, condições que seriam transmissíveis a uma posição como grande exportador de etanol. Aproveitando uma globalização do etanol, poderia exportar sua bagagem tecnológica, tanto no cultivo da cana quanto nas usinas, podendo exportar inclusive as próprias usinas.


Porém, este quadro de oportunidades enfrenta a concorrência imediata da estrutura de fermentação e destilação por parte dos EUA, não tão diversas das de cana nestas etapas, e os investimentos extensivos na pesquisa de produção do etanol a partir de outras fontes, especialmente o celulósico. Nessa atividade, os investimentos dos EUA já alcançaram, nos últimos seis anos, US$ 1,6 bilhão, contra estimados US$ 50 milhões brasileiros.[8]


Já países próximos, como Colômbia e Peru já estão produzindo cana e implantando suas destilarias, sendo que no Peru, uma empresa estadunidense está construindo uma destilaria de grande porte para exportação direto aos EUA, com pretensões de o fazer via duto através do Pacífico, além de investir em cogeração de energia elétrica dentro dos mesmos projetos conjuntos.[10][11][12] Deve-se destacar que muitos países da América Latina já possuem acordos de livre comércio com os EUA e não pagam a sobretaxa sobre o etanol paga pelo Brasil.[6]

Referências


1. Jonas Hofstedt; Ethanol – an excellent fuel for sustainable urban transport -
2. Ethanol-powered buses advance in Sweden, strengthen idea of sustainable urban transport -
3. Biofuel in Sweden - en.wikipedia.org
4. EIA/DOE, Comissão Europeia, FO Licht, Copersucar.
5.  Laura Tetti; PESPECTIVAS DOS MERCADOS TRADICIONAIS DOS PRODUTOS DA CANA-DE-AÇÚCAR; Novembro de 2005 - www.google.com.br
6. LUIZ CARLOS OLIVEIRA LIMA; NELZA JOSÉ MARIA CURAMBIÇUA; ANDRÉ LUIZ MIRANDA SILVA ZOPELARI; ETANOL: INSTITUIÇÕES, MERCADO GLOBAL E COMPETITIVIDADE.; UFRRJ, SEROPÉDICA, RJ, BRASIL. - www.sober.org.br
7. Agroanalysis; Panorama Internacional, fevereiro de 2007, p.36.
8. GAZETA MERCANTIL. Entrevista, 12 de março de 2007, A-6
9. Domestic policy of the George W. Bush administration - en.wikipedia.org
10. Brasil e EUA, a globalização do etanol - g1.globo.com
11. Ethanol Project - maple-energy.com
12. Maple Energy brings 37MW ethanol and electricity power plant project online in Peru - www.renewableenergyfocus.com


Leitura recomendada

  • O Mercado Internacional de Etanol: que papel cabe ao Brasil? - ictsd.org
  • Sérgio Rangel Figueira, Heloisa Lee Burnquist; PROGRAMAS PARA ÁLCOOL COMBUSTÍVEL  NOS ESTADOS UNIDOS E POSSIBILIDADES DE EXPORTAÇÃO DO BRASIL - www.ambiente.sp.gov.br


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