domingo, 25 de outubro de 2009

Idéas "brilhantes" II - Roletas russas



Há anos atrás, em fervorosa e desagradável discussão com certas pessoas, em questão importante inclusive na minha vida, além de ser uma questão de negócios, logo dinheiro, cunhei a seguinte frase, que coloco em cada momento adequado, em qualquer discussão, sobre qualquer assunto, quando detecto que a quase patologia que ela mostra surge, em meio às variáveis em análise:

Tem gente mais preocupada se a sela do jóquei está macia e esquece que o cavalo está com a pata quebrada.

Devomos, em qualquer atividade, em especial as relacionadas, em suma, com dinheiro, em focar-se nos problemas principais, os mais nevrálgicos.

Nesta questão. assisti ao longo de mais de vinte anos a empresários e profissionais diversos discutirem horas sobre uma conta mensal de motoboy de não mais de R$ 1000 e não perder quinze minutos discutindo sobre o valor de um frete semanal de R$ 2000 com uma transportadora. Assisti horas de negociação sobre etiquetas de 3 centavos e não metade do tempo sobre o custo de uma matéria prima de R$ 5 na mesma unidade de produto. Exemplos poderia citar até esta blogagem ocupar horas de sua leitura. Logo, sejamos coerentes.

Aqui, para melhor ilustrar e tornar o texto mais leve, vale a pena também citar a Lei de Murphy, em seu campo chamado "Reuniologia":

Lei de Old e Khan

A eficiência de uma reunião é inversamente proporcional ao número de participantes e ao tempo gasto nas deliberações.

Que sempre cito modificada em:

A duração de uma reunião é inversamente proporcional à sua importância.

Pelo motivo mais profundo do argumento aqui colocado, nem tão nas entrelinhas, mantenho o foco de todo meu trabalho em preços e custos, área que muito me rendeu, a conceituação permanentemente em observação do que chamo de custo gerador, do que inclui-se dentro do conceito de fatores geradores, na dificuldade, de fornecedores nevrálgicos, no levantamento de custos, dos custos predominantes, percentualmente significativos, na formação de preço, da fusão de valores necessários, antes dos desejados, da preponderância do financeiro sobre o marketing puro. Em outras mais resumidas palavras, que a melhor maneira de se fazer um negócio muitas vezes é não fazê-lo.

Seguir em caminho contrário, como gosto de dizer, é jogar roleta russa com o tambor do revólver com apenas uma câmara vazia. Para revólver de 6 tiros, troca-se uma probabilidade, a grosso modo falando*, de 1/6 por uma de 5/6 de enfiar-se uma bala na cabeça. Ou seja, é a opção probabilisticamente mais favorável de se cometer erro grave, quano não um desastre completo.

*Meu lado engenheiro e minha paixão por Física me obriga a ser exato, e considerar variáveis envolvidas que à primeira vista pareçam totalmente despezíveis, outro de meus problemas com inúmeros administradores. Sempre deve-se considerar a tendência dos sistemas ao caos, os erros do humano, ou como falo em outras palavras em especial em levantamento de custos: lâmpadas queimam, logo, o mundo não é ideal, mas real.

Agora, uma nota: no Rio Grande do Sul, chamamos catracas, como as de ônibus, ou de portas de empresas, de "roletas".



Como exemplo do contrário, são simplesmente hilárias brilhantes iniciativas de em país que possui escolas que nem teto possuem, pretender-se controlar a presença de estudantes em escolas com roletas eletrônicas, como foi pretendido pelo então Ministro da Educação, Tarso Genro, e pelo visto, perpetuada recentemente por seu sucessor:

CAUSA OPERÁRIA NOTÍCIAS online

Note-se que até a "extrema esquerda" concorda comigo. Logo, quando visões de mundo completamente antagônicas concordam, é bem provável, senão certo, que alguém contrário a ambos esteja errado.

De maneira mais sutil em termos estatísticos e probabilísticos, e muito do que seja Economia, com letra maiúscula, implica em distribuições de riqueza gerada, e nesta, pagamento de salários. Claro que aqui refiro-me aos sofridos professores, que invariavelmente, em lento mas inexorável processo, por serem fatores nevrálgicos em educação, tenderão os melhores a buscar melhores (mais rentáveis ao menos) profissões, nem mesmo carreiras, e restarão os piores, que se sujeitam a valores vis, e as piores condições, com ou sem catracas para controlar presença de quem seja.

Para encerrar esta, é conveniente esquecer-se momentaneamente a sela do jóquei, e tratar da saúde do cavalo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Idéias "brilhantes" I - Trem bala fazendo goma

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Os governos brasileiros primam por terem idéias que sarcasticamente chamaria "brilhantes". E aqui, o "brasileiros" significa qualquer nível de governo sobre solo brasileiro.

Dentre diversas coisas que os dois últimos governos federais tem tido como destacados projetos, alguns casos merecem molduras.


Trem "Bala"

Nada mais perfeito que ligar quaisquer duas das maiores cidades brasileiras por meio de trem, sendo que numa primeira etapa, ligar dentre estas, as duas dentro da chamada "região metropolitana estendida": São Paulo, chave para todo o desenvolvimento brasileiro, e Campinas, cidade que conhecendo bem, sei que será por muitos anos chave para o crescimento econômico do Brasil, seja pela posição, seja pela área, seja pelo parque educacional e de pesquisa, seja pelo parque industrial e tecnológico, seja por seu aeroporto (e nenhuma das cidades entre elas é menos importante).

Como já disse, gosto de números e cálculos simples. Campinas dista de São Paulo 90 km. Mas façamos 120 km, para efeito de desvios e manobras, para o deslocamento de um trem entre elas.

Para esta distância, considerando 4 paradas intermediárias, e aqui não quero saber se serão a grande e importante Jundiaí ou as pequenas Caieiras ou Cajamar, entre as quais o trem teria uma velocidade média de apenas 150 km/h (o antigo trem entre estas cidades alcançava 100 km/h, e qualquer trem alcança hoje esta velocidade). O trem faria aceleração e desacelerações de 10 km a velocidades médias de 75 km/h (na verdade, faz em menos). O que proponho é um modelo harmonioso de paradas. Um raciocínio de trem metropolitano, não um raciocínio de "trem bala".

Os tempos resultariam no seguinte:



Notemos que o tempo total seria de pouco mais de uma hora e meia, com pequenos problemas, especialmente de embarque e desembarque entre as cidades.
Agora coloquemos dados similares para um trem de alta velocidade ("bala") com até algumas vantagens nas paradas e reduzindo a distância, pelo traçado mais retilíneo:




Notemos que com tal conjunto de vantagens, ainda sim a redução teórica de tempo se daria de 92 para 35 minutos. Pode parecer muito, mas em termos de custo é completamente inviável, pois em função de uma redução de pouco menos de uma hora, ao invés de um preço de passagem próxima a de uma passagem de ônibus (hoje na faixa de 20 reais) passa-se a exigir-se uma passagem na faixa de uma passagem de avião nas melhores ofertas (só para se ter idéia, uma passagem Porto Alegre-Campinas pode ser comprada na faixa de 69 a 100 reais, e para uma distância de mais de 800 km, e um tempo de viagem de pouco mais de uma hora).

Mesmo fazendo uma ligação Campinas-São Paulo diretamente, por trem "bala" e esquecendo completamente as cidades intermediárias e sua importância em recursos humanos para a economia da região (lembrando, finalidade exata de um trem de alta velocidade, que não é adequado à cargas, a não ser a custo elevadísssimo com enormes problemas de logística), o tempo da viagem propriamente dita pode ser calculado em apenas 20 minutos. E não traria grande vantagem ao modelo de trem mais convencional.

Fazendo o mesmo cálculo para uma ligação direta por trem "bala" entre São Paulo e Rio, e considerando um distância de 400 km, obtem-se pouco mais de 80 minutos. Nenhuma vantagem em tempo frente ao transporte aéreo, e nada possível ainda em termos de custo para um grande volume de usuários que mesmo com passagens a menos de 50 reais nas ofertas mais agressivas do transporte aéreo abandona o transporte rodoviário, e não abandonaria quando em viagens emergenciais, sem ofertas promocionais, por simples renda.

Nem tratamos aqui de questões de topografia, curvas extremamente limitadas ou projetos de remodelações urbanas, em túneis mais longos que linhas de metrô através de cidades que nem metrô possuam.

Assim, o que recomendo é o modelo norteamericano de trens de relativamente alta velocidade (100 a 150km/h), mas que aproveite as relíquias da malha ferroviária anterior, não necessite nem curvas de grandes raios, nem túneis insanamente longos sob áreas urbanas, não sofra com variações de altitudes que chegam a até 800 metros (as quais já são por si inadequadas para trens de alta velocidade), nem desapropriações inexecutáveis a custo e prazos razoáveis (com os eternos conflitos de indenizações, ainda mais na lerda/sobrecarregada justiça brasileira).


E cá entre nós: não temos nem malha significativa para carga, e queremos ter malha de trens de alta velocidade para passageiros?



Anexos

           O trem bala no Brasil é inviável não só pelo custo, mas também pela infra- estrutura de um modo geral. As estações, os trilhos, os fios, ... (página expirada)
          Onde destacamos:

Os professores chamam a atenção para a ocupação atual da ponte aérea Rio-São Paulo, um dos corredores nacionais mais rentáveis de transporte de passageiros: 57%. "Obviamente, algumas companhias conseguem a totalidade em alguns horários, mas não todo o tempo. Tomando isso como referência, uma taxa de mais de 90% não nos parece viável, mesmo com uma taxa de eficiência bem alta, a não ser que fosse elevado o valor da tarifa. Mas aí o projeto perderia em competitividade de preços."

          Onde destacamos:

Os professores do Ibmec-RJ fizeram uma simulação para uma taxa de ocupação do trem-bala entre 40% e 50%. "A tarifa que se precisaria cobrar para garantir a rentabilidade seria próxima a R$ 1 por quilômetro, o dobro do que está sendo pedido", diz Ozório. Ele lembra que isso determinaria uma passagem final em torno de R$ 400. "Seria R$ 100 a mais do que a tarifa média da ponte aérea, o que criaria outra dificuldade de competitividade."

Três slogans emitidos por mim no Twitter: 

  • País que tem peste de pobre não pode ter ainda trem de rico.
  • País que tem pobre no hospital no chão e não em maca não pode ter ainda trem de rico.
  • País que tem esgoto no meio da rua onde pobre mora não pode ter ainda trem de rico.

Extras

1) Relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União aponta como impossível estabelecer-se quanto custará o projeto entre São Paulo e Rio, devido a estudos geológicos para a obra apresentarem-se insuficientes, com a realização de apenas 4,4% da quantidade mínima de sondagens necessárias às estimativas para o custo da obra.

Custo do trem-bala é imprevisível, diz TCU; Folha de São Paulo

2) A construção de linhas de transmissão de energia elétrica não foi prevista no estudo para a aprovação da viabilidade do trem-bala, propiciando com isto um corte no custo de pelo menos R$ 1 bilhão, em um total de R$ 33,1 bilhões. Tal questão foi apontada por um dos grupos interessados no projeto durante os recentes pedidos de esclarecimento ao edital.

Soma-se à falta de linhas de transmissão de energia  a questão apontada por estudo de Marcos Mendes, consultor legislativo do Senado, mostrando que foi excluída a reserva de contingência do projeto, que em projetos de grande porte, podem representar até 30% do valor do projeto.

Dimmi Amora; Edital omite custo de energia do trem-bala; Folha de São Paulo

Tais fatos me levaram a acrescentar outro aforismo no Twitter:
  • A velocidade teórica do pretendido trem bala só é superada pela sua produção de micos.
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Tais

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - II


Algumas notas iniciais

Todos que me conhecem sabem de duas coisas sobre minha visão em economia:

Não acredito que sem a modificação dos indivíduos, se modifique o todo (e isto já poderia ser acrescentado às minhas "confissões").

Não gosto de intervenção e participação alguma além da execução da lei e de investimentos temporários, em épocas de crise, do estado no mercado.

Aqui, poderia escrever também: todos sabem do quanto odeio a participação do estado na economia.

Mas explico mais detalhadamente, afirmando que o estado pode investir em infraestrutura em toda e principalmente na maior escala, mas imediatamente deve vender tais ativos, recapitalizar-se e "reciclar" tal volume de investimento, ou formar reservas. Pensar o oposto conduz ao nosso passado, onde o governo brasileiro tinha até fábricas de zíperes.

Antes de continuar, lembrando um amigo meu, Jorge, um representante de calçados, já falecido, num papo de bar, e duas de suas muitas frases lapidares:

-O brasileiro para aprender que lugar de papel amassado é no lixo, vai levar 30 anos. (Ele falou esta frase em 1989, e ao que parece, pouco mudou.)

-O estado não tem de sair da economia, tem de sair do governo. (Discordo completamente, e vou muito mais longe e fundo, mas a ironia continua válida).


Um pouco de História

No histórico do Brasil, no equipar de suas forças armadas, já passamos por períodos de possuir excelentes fábricas de blindados, como a Engesa, fabricante dos bem sucedidos Cascavel, um carro de reconhecimento mecanizado, Urutu, um veículo blindado para transporte de tropas e o de certa maneira amaldiçoado pelo contexto carro de combate pesado ("tanque") Osório.

Ainda sobrevivente do período é a Avibras, fabricante do lançador de misseis terra-terra Astros II - aqui, na Wikipédia - que encontra similar no norteamericano M270.

O Urutu (ou modernizado, ou similar) seria extremamente útil nos nossos conflitos urbanos, especialmente quando o exército tiver de apoiar as polícias militares porque nossas guardas municipais (e não só elas) fizerem alguma bobagem, ou quando os traficantes de drogas/milícias desejarem estabelecer subestados/estados alternativos, como seguidamente vemos no Rio, nos quais veículos com peças de artilharia são inadequados e um tanto perigosos, e se impedidos de serem periogosos, completamente inúteis e de uma intimidação desagradável aos olhos do mundo e antes disso completamente desnecessária.

O Cascavel (ou modernizado, ou similar, novamente) seria extremamente útil, aí sim, em missões de reconhecimento, e na destruição de bases, laboratórios e pistas de pouso de traficantes, em especial na savana amazonense, em apoio às atividades da polícia federal ou das estaduais.

O Osório (idem) seria a última linha de defesa, pois ao que parece, não temos pretensões de atacar nossos simpáticos vizinhos Uruguai, Argentina e Paraguai (talvez a não ser no desejo de alguns após determinadas partidas de futebol), os únicos terrenos nos quais tal tipo de veículo seria útil.

Alerto que os parágrafos acima continham um tanto de sarcasmo, pois determinadas idéias de nossa doutrina de defesa nacional beiram a loucura, e antes destas aplicações bélicas, nosso exército necessita de caminhões para levar desde água até medicamentos em catástrofes.

Devemos lembrar que há antecedentes de tentativas de implementação da industrialização de blindados brasileiros, exatamente adequados às nossas necessidades, como o Tamoyo, com os critérios que aqui defendo de alto índice de nacionalização, ausência de importações e compatibilidade com os outros equipamentos já existentes.



Nota importante: Na verdade, no passado recente já foi incapaz de levar água em regiões sob seca, de onde deve-se perguntar como faria para em tempo de guerra, pois se não é capaz de levar água, não é capaz de levar coisa alguma para tropas em ação.

Sem verba, Exército deixa de levar água para vítimas da seca; Outubro de 2007

Sem verba, Exército deixa de levar água para vítimas da seca; Outubro de 2009

(Notem a repetição da manchete.)

PI: Exército aguarda verba para levar carros-pipa a 58 cidades; Setembro de 2009.

Qualquer idiota é um estrategista, o problema é logística. - Eisenhower

Sem falar apenas em logística e intendência, o exército e as demais forças armadas brasileiras precisam até padronizar seus fuzis.

O exemplo a ser seguido, maximizando os recursos e minimizando os custos, é o do exército soviético na 2a Guerra Mundial, com filosofia "uma arma pessoal, um tanque, um avião" de Stalin e seus subordinados, em contraste com o caos de fabricantes, peças, calibres e modelos dos alemães. Por exemplo muito adequado, a razão deste problema alemão estava, antes de tudo, numa necessidade inicial do partido nazista de agradar a inúmeros industriais alemães.

Entendam os responsáveis pela defesa de nosso país que equipamentos militares não são linhas de veículos de um fabricante de automóveis, e mesmo nestes, a minimização de plataformas e a padronização de componentes hoje é um foco em administração de alto nível.

Armas e PIB

Tratemos também de lembrar que o desenvolvimento de armas também levou Israel, por exemplo, a ter um PIB da ordem de 232 bilhões, enquanto a poderosa Arábia Saudita, com suas imensas reservas de petróleo, possui um PIB de 396 bilhões e nenhuma indústria significativa.

Ou seja, com imensos recursos minerais, o país mais rico da região possui PIB apenas 1,7 vezes maior que outro industrial e agrícola, mas com uma população mais de 3 vezes maior (24,7 contra 7,4 milhões), logo, renda mais baixa.

Um exemplo de veículo pesado desenvolvido especificamente para o território israelense e exclusivamente por sua indústria é o Merkava. Deve-se destacar também a enorme variedade de equipamentos militares e munições desenvolvidas pela IMI (Israel Military Industries Ltd.), então Israel é um exemplo a ser seguido, não só em iniciativa, quanto em método.

Consequências do desenvolvimento de armas

Devemos observar que o desenvolvimento de equipamento militar, levando ao desenvolvimento de materiais, leva ao desenvolvimento de, entre outros, equipamentos, materiais e tecnologias para atividades em ambientes extremos, entre eles, o de prospecção de petróleo.

Logo, os países industrializados, por tal motivo, são aptos a desenvolver as mesmas tecnologias que a muito custo e de maneira bastante independente desenvolvemos.

Mas também o desenvolvimento de equipamentos militares poderia se beneficiar do desenvolvimento da indústria de equipamentos de petróleo (e inclusive, em paralelo, da indústria naval) e produzir um sinergismo com esta.

Assim, neste jogo, não pode-se perder, mas claro que tal tem um custo.

Este custo, sob qualquer análise, é coberto a médio e longo prazo pela geração de empregos e pelo imenso volume de profissionais "chão de fábrica" especializados que formaríamos: soldadores, lixadores, torneiros, especialistas nas áreas de fundição, montadores, etc. Uma diferença contábil ainda em aberto seria e deve ser sempre coberta por uma cota de sacrifício do estado, pois esta é sua finalidade ultima em economia.

Devemos também, voltando à questão da proteção de nossas reservas marítimas, nos lembrar quais sejam nossas real e legalmente.

Explico.

Observações sobre algumas questões legais

As águas territoriais brasileiras são de 200 milhas. Uma plataforma holandesa, por exemplo, situada a 201 milhas do litoralk brasileiro, explorando o pré-sal não estará de forma alguma violando nosso território. O estado brasileiro é proprietário de todos os recursos minerais sob nosso território "da superfície até o cenro da Terra" (em contraste com outros países, onde seria o proprietário do terreno, como os EUA ou a Malásia) e pouco interessa nesta argumentação (tanto num caso quanto noutro) se o recurso mineral flui ou não (aqui, recomendo assistir o excelente filme Sangue Negro, There Will Be Blood de 2007). A posição de nossa hipotética plataforma holandesa seria legal, e qualquer ação brasileira sobre esta plataforma seria ilegal.

Afirmar que a plataforma holandesa "suga" nossas reservas seria o mesmo que afirmar que uma plataforma brasileira situada a 199 milhas "suga" reservas que sejam internacionais.

O que garante com segurança nossas reservas marítimas é a capacitação tecnológica única da Petrobrás para águas profundas, e cá entre nós basta isso. Para extrações em águas internacionais, provavelmente seria desenvolvidos recursos idênticos aos da Petrobrás, que não são coisa alguma transcendentes aos recursos de outros países, obviamente com destaque para os altamente industrializados.

E aqui devo destacar que exatamente a clareza e correção deste argumento está em que a Petrobrás depende de fornecimento de equipamentos, materiais e componentes externos aos parque industrial brasileiro, exatamente por nossa incapacidade de produzí-los.

Nestas prospecções e extrações em águas internacionais a Petrobrás seria chamada como parceira, mas antes, esperemos pela viabilidade, que até agora, tem-se mostrado um enorme problema, ainda mais com reservas significativas de mais baixo custo espalhadas pelo mundo, e sempre contndo com um horizonte possível de um abandono da extração massiva de combustíveis fósseis devido ao efeito estufa e a redução dos custos de outras alternativas.

Portanto, o nosso, e o também não nosso petróleo pré-sal está seguro sob quilômetros de rochas, e não serão forças armadas que irão tirá-lo de lá, nem utilmente protegê-lo.

Finalizando

Mas chega de falar em equipamento militar e foquemo-nos em economia, e o estado nesta, neste campo. Defendo com unhas e dentes que o governo brasileiro deveria ter dado integral apoio não aos empresários e investidores da Engesa, mas ao conjunto de recursos tecnológicos, materiais e humanos desta empresa (sem falar em diversas outras), em suma, sua capacidade, em todos os sentidos.

Toda atividade de desenvolvimento militar permeia a sociedade com inúmeros avanços: metais, materiais diversos, eletrônica, software de computadores. Seria, portanto, vital a longo prazo a preservação deste conhecimento e formação contínua de profissionais (ou nossos dirigentes acham que bancadas de universidades formam engenheiros plenamente em qualquer campo? Idem para formação técnica média).

Portanto, voltando à minha repulsa pelo estado na economia, corrijamo-nos: depende.

Agora, depois do leite derramado, temos de "comprar leite no exterior", e pouco gerará de sólido e futuro em nosso país tal iniciativa, e o custo disto será o mesmo ou maior, e os resultados em qualidade e eficiência, um tanto discutíveis (sem falar de zero de empregos em produção direta e sistemistas).

Logo, a marcha para o insano continua, e ainda não aprendeu-se que lugar de papel amassado é no lixo, e cá entre nós, discordando de determinadas nuances da economia libertária (com a qual inclusive em boa parte concordo), prefiro torneiros mecânicos e soldadores bem empregados que catadores de papel no aspecto gerar renda para suas famílias e para pagar impostos para o estado que quer (e tem de) se armar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Doutrina militar brasileira - marcha para o insano - I

Alguns fatos recentes me espantam.

Um país que tem um volume enorme de pobres, que possui problemas de contrabando de carros roubados, drogas e descaminhos variados em suas fronteiras, que tem de patrulhar suas águas costeiras até para questões ecológicas, parte para dois sonhos exóticos, para não chamá-los de delirantes:

1-Ter submarino nuclear (se não, mais de um) somado à uma frota de submarino de patrulha.

2-Ter aviões caça de interceptação supersônica (ponto que já tratamos) somado à compra de relativamente grande número de helicópteros.
Analisemos este primeiro projeto do ponto de vista econômico e militar, e ainda demos algumas pinceladas sobre a compra de helicópteros.

Segundo citações do próprio governo federal, os contratos referentes à compra de helicópteros e submarinos alcançarão R$ 22,5 bilhões, ou US$ 12,5 bilhões na cotação de hoje. O número por si só já é um problema, mas ainda mais quando percebe-se que é aproximadamente 0,63 % de nosso PIB de US$ 1,981 trihões.

Embora possa parecer uma porcentagem insignificante, mesmo esquecendo as prioridades que nosso governo tem em outros campos e mesmo com manutenções mínimas de nossas insignificantes forças armadas*, seria o mesmo que os EUA gastarem quase 16% de seu colossal orçamento militar com apenas dois tipos de equipamento.

*Sim, são insignificantes para nosso território e população, basta ver os EUA, Canadá, China, Índia, Austrália e Rússia, países que apresentariam um espectro completo destes dois ítens, e ainda mais variado PIB.

Falando-se em Rússia, o delírio armamentista soviético sem correspondente geração de riqueza tem muito a nos ensinar, a começar, entendendo todo o implicado e representado na foto abaixo.



Alega-se também que tal aquisição mobilizaria 44.800 trabalhadores e mobilizaria os setores naval, químico, elétrico, eletrônico, metalúrgico, de telecomunicações, mecânica pesada, motores, informática, construção civil, transporte, tecnologia de informática, armamentos e munição.

1o) Como coisa que este número fosse mais que 0,39 % da massa de desempregados de 11,454 milhões da nação (aqui, o termo nação é perfeito, para lembrar que um país com seu povo habitante assim se chama).

Logo, não parece que 0,39 % de solução temporária seja motivo para 0,63 % de problemas.

2o) Como coisa também que o que apresentaremos somente para a marinha a seguir, e ainda mais o que pretendemos apresentar para as forças terrestres, sem falar no já tratado para nossas forças aéreas, e somemos aqui os helicópteros não fosse mobilizar os setores naval, todos em conjunto não fossem mobilizar o setor químico (pois quem fabrica explosivos fabrica tintas, corantes, plásticos e fármacos) e a lista se repetiria banalmente pela lista toda apresentada por nosso Ministro da Defesa, pois parece-me mais que claro que ao se produzir coisas aqui, e ao mesmo custo global aproximado, e de mesma natureza, se obteria os mesmo resultados.

Mas com uma pequena mas vital diferença.

Ao se mobilizar a produção mais pulverizada de equipamentos simples e necessários imediatamente, também formamos parque industrial para abastecer outros países (muito mais numerosos) que destes equipamentos simples necessitem, e permanentemente.

Assim, mais uma vez, relembro por meio deste exemplo macro o que deve-se lembrar no dia a dia, tanto de empresas ou instituições quanto de nossas vidas pessoais, e destes, também em governos. Algumas perguntas sempre devem ser feitas: -para que serve? -quanto trará de retorno? -podemos comprar? -não existe alternativa melhor?

Este texto, a partir deste ponto, lembrando nosso anterior, poderia se chamar "a garoupa que pretende se tornar tubarão".

Mas mais que tudo, esta argumentação de que nosso país necessita de submarinos é simplesmente ridícula e a analisaremos, e assim demonstraremos.

Seria extremamente mais útil, aliás, útil, nada mais, a construção de algumas poucas fragatas, algumas corvetas e para diferenciar uma escala menor, muito mais necessária, uma grande quantidade de barcos de patrulha, de preferência, com boa velocidade.

Não esqueçamos de navios de reabastecimento e navios hospital.

Nossos problemas são muito mais de barcos trazendo maconha enlatada e descaminhos diversos, sem falar de contrabando de armas que com uma marinha como a dos EUA, que por sinal, nem deveria ser colocada como problema, pois insolúvel, e o então simplesmente ridículo argumento de proteger nossas reservas de petróleo teria algum mínimo nexo.

Explico melhor em poucas palavras: Se os EUA quiserem tomar conta pela força de nossas reservas, o fariam mesmo se nossa marinha crescesse até o tamanho da marinha inglesa, e pouco interessaria se um, dois ou todos nossos novos submarinos fossem nucleares.

Os números simples e claros estão no meu artigo Poder militar dos EUA.

Mas não temos de nos preocupar com nações ricas, pois estas considerariam muito mais proveitoso (e barato) apenas comprar nossas reservas, e não tomá-las. Nações mais pobres (e convenhamos, tirando em renda per capita, a China já o deixou de ser há muito) seriam mais perigosas.

Aliás, em função de comprar nossas reservas, e ao que parece é isso que queremos fazer com estas, vender, poderíamos terceirizar nossa defesa, em razão exatamente de parcerias de defesa, como o fazem Arábia Saudita, em destaque, e diversos outros países do Oriente Médio.

Mas também convenhamos, ninguém nunca atacou reservas sob o solo, quanto o mais, reservas sob o mar, e muito menos, quando a principal e quase monopolista empresa em tecnologia de exploração de petróleo nestas condições seja do país a ser atacado.

E antes de nos preocuparmos com tal bobagem, tratemos de tirar o petróleo dali, viavelmente, e isto já é assunto para outro artigo.